Autismo Inclusão Trabalho 2015 A PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO O PAPEL DA FAMÍLIA Catarina Quintas 16 outubro 2015 Projeto co-financiado pelo Programa de Financiamento a Projetos pelo INR.I.P
Sou a mãe do Nuno, um jovem de 25 anos com perturbação do espetro do autismo Vou compartilhar as minhas experiências no meu papel de mãe Relatar o percurso que fizemos na preparação do futuro do meu filho para a vida ativa Este percurso tornou-se um caso de sucesso, exemplar e de esperança para muitas famílias que se deparam com a problemática do autismo.
À medida que o Nuno foi crescendo, fomos-lhe oferecendo as ferramentas que seriam importantes e necessárias na sua vida futura Ferramentas que lhe deram a autonomia, a chave principal para a inclusão e integração na vida ativa Destaco 3 contextos que foram fundamentais: Contexto familiar Contexto social Contexto escolar
Contexto familiar Organizar o seu mundo: saber onde ficam os seus objetos pessoais, a escova de dentes, o pente, o copo, a toalha de banho; Estabelecer regras: saber que no seio da família, existem objetos e espaços que são de uso exclusivo de cada membro, respeitar os horários estabelecidos, seja para as refeições, dormir ou levantar; Participar nas atividades e obrigações domésticas: pôr e levantar a mesa, levar o lixo ao caixote;
Cuidar do seu espaço: fazer a cama, limpar o pó e aspirar o quarto, passar uma peça de roupa a ferro; Preparar refeições básicas: fazer uma omeleta, arroz branco, esparguete, fritar batatas, grelhar um bife, seguir os passos de uma receita para a confeção de um bolo simples; Advertir sobre o cuidado a ter com a segurança da casa: trancar as portas, fechar as janelas sempre que nenhum membro da família se encontre em casa; Cativar para participar em atividades domésticas que envolvam a família: cuidar do espaço que circunda a casa, jardinar, regar, varrer; Valorizar e elogiar
Contexto social Transmitir as regras principais que regem a vida em sociedade:saber dizer bom dia, obrigado, por favor, desculpa e dá-me licença. Saber esperar pela sua vez para pedir ou obter algo; Quando possível e oportuno, uma deslocação a uma repartição ou serviços públicos: pôr a par do motivo que nos leva ao local; Advertir da existência de setas ou de um placar a indicar o caminho a seguir ou a cor da senha respetiva e saber esperar pela vez de ser chamado;
Usar transportes públicos: saber como identificar os autocarros que servem a área de residência, através dos números. Advertir que é preciso comprar o bilhete logo à entrada ou validar o passe. Para desembarcar, é preciso tocar a campainha para o autocarro parar; Regras e o cuidado na circulação de peões: saber identificar uma passadeira e atravessar sempre e unicamente na passadeira, saber identificar as cores que se apresentam num semáforo e os símbolos que permitem a passagem ou não dos peões; A relação com a vizinhança: fazer saber da situação e na medida do possível advertir sobre possíveis incómodos ou situações que possam parecer de má conduta. Delinear estratégias para as prevenir;
Tomar a mesma atitude em relação aos companheiros ou pares de brincadeiras. Pedir-lhes que relatem à mãe, qualquer situação, atitudes ou comportamentos desajustados; Fazer recados à mãe: articular com o merceeiro da rua ou do bairro, idas às compras na mercearia. Numa primeira fase, levar consigo uma lista de compras ou escrever no telemóvel, indicar o valor que leva; Numa etapa mais avançada, fazer recados que impliquem distancias maiores e o uso de vários transportes públicos ex. autocarro, barco e metro. Ter consigo um telemóvel para ir informando a mãe da sua localização.
Contexto escolar Uma preparação antecipada para a transição: diálogos frequentes entre a família, escola e instituição que o acompanha na procura de estratégias e o encaminhamento para uma Instituição de Formação Profissional. O cuidado dos intervenientes, nomeadamente escola e família, instituição ou técnicos que fazem o acompanhamento na observação das áreas onde as competências são mais evidentes. Sempre que possível, optar por uma instituição na área de residência ou o mais perto possível; A deslocação do professor juntamente com o encarregado de educação à Instituição escolhida para se inteirarem das ofertas disponíveis;
Dar a conhecer ao seu filho os planos que estão a ser elaborados para o seu futuro, bem como ouvir a sua opinião sobre os mesmos; Programar algumas idas do professor e aluno à Instituição para conhecer o espaço e o local que irá frequentar, ao longo da sua formação profissional; Acompanhar o processo de formação, bem como estar a par dos resultados; Coordenar e preparar com a Instituição de formação o passo seguinte que será do Estágio Profissional e o local onde se irá realizar; A nomeação pela parte da entidade formadora de um tutor para acompanhar a integração e adaptação no local de trabalho;
Findo o estágio profissional, para que tudo fique perfeito, uma colocação... e o contrato de trabalho! Para terminar, gostava de referir que estes passos e recomendações, de maneira nenhuma, são a receita infalível para o sucesso. E que foram em muito, acrescidos de persistência, paciência, carinho e muito amor. O Nuno é um caso de sucesso sim, que em muito o deve à APPDA-Lisboa, ao Centro de Desenvolvimento do Hospital Garcia de Horta, à Escola Básica e Integrada da Charneca de Caparica, Fundação Liga e à Empresa Repsol, sua empregadora.