Assunto: Fibromialgia Nº: 45/DGCG DATA: 09/09/05. Administrações Regionais de Saúde e Médicos dos Serviços Prestadores de Cuidados de Saúde



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Transcrição:

Ministério da Saúde Direcção-Geral da Saúde Circular Informativa Assunto: Fibromialgia Nº: 45/DGCG DATA: 09/09/05 Para: Contacto na DGS: Administrações Regionais de Saúde e Médicos dos Serviços Prestadores de Cuidados de Saúde Divisão das Doenças Genéticas, Crónicas e Geriátricas Através da Circular Informativa nº 27, emitida pela Direcção-Geral da Saúde em 3 de Junho de 2003, reconheceu-se a Fibromialgia como uma afecção a considerar para efeitos de certificação de incapacidade temporária, a ser feita nos moldes habituais por atestado médico ou certificado médico emitido pelos Serviços de Saúde. A Circular Normativa nº 12, emitida pela Direcção-Geral da Saúde em 3 de Julho de 2004, divulgou o Programa Nacional Contra as Doenças Reumáticas, aprovado por despacho de Sua Excelência o Senhor Ministro da Saúde de 26.03.2004 e integrado no Plano Nacional de Saúde, onde se inclui uma referência à Fibromialgia, cuja definição, diagnóstico, prevenção, tratamento e acompanhamento, agora se recordam. Definição A Fibromialgia (FM) é uma Doença Reumática de causa desconhecida e natureza funcional, que origina dores generalizadas nos tecidos moles, sejam músculos, ligamentos ou tendões, mas não afecta as articulações ou os ossos. A dor causada pela FM é acompanhada de alterações quantitativas e qualitativas do sono, fadiga, cefaleias e alterações cognitivas, por exemplo perda de memória e dificuldade de concentração, parestesias/disestesias, irritabilidade e, em cerca de 1/3 dos casos, depressão. A FM atinge cerca de 2% da população adulta. As mulheres são 5 a 9 vezes mais afectadas do que os homens; inicia-se entre os 20 e os 50 anos.

As crianças e jovens também podem sofrer de FM; em idade escolar a frequência é igual em ambos os sexos. Prevenção O conhecimento dos sinais de alerta torna possível a intervenção precoce e as prevenções secundária e terciária, evitando o agravamento da FM e o desenvolvimento de complicações. O êxito destas acções depende, contudo, dos profissionais dos cuidados primários de saúde conhecerem e valorizarem os factores que se associam, precedem e acompanham esta entidade, bem como os que agravam o seu prognóstico. São conhecidos os factores de risco associados a estados de dor crónica generalizada: a) sexo feminino; b) idade entre 40 e 60 anos; c) baixo rendimento económico; d) baixo nível educacional; e) divorciados/separados. Estão identificadas as características da personalidade pró-dolorosa: a) trabalhadores dedicados; b) indivíduos com actividade excessiva; c) perfeccionismo compulsivo; d) incapacidade para o relaxamento e o desfrute da vida; e) negação de conflitos emocionais e interpessoais; f) incapacidade para lidar com situações hostis; g) necessidade de carinho; h) dependência de tipo infantil. Estão tipificados os sinais de alerta para o desenvolvimento da FM: a) história familiar da doença; 2

b) síndrome dolorosa prévia; c) preocupação com o prognóstico de outras doenças coexistentes; d) traumatismo vertebral, especialmente cervical; e) incapacidade para lidar com adversidades; f) história de depressão/ansiedade; g) sintomas persistentes de virose ; h) alterações do sono; i) disfunção emocional significativa; j) dor relacionada com a prática da profissão. As profissões que exigem a manutenção prolongada na mesma postura, movimentos repetitivos e elevação frequente ou mantida dos membros superiores são consideradas facilitadoras do eclodir da doença. Diagnóstico O diagnóstico da FM é essencialmente clínico, servindo os exames auxiliares de diagnóstico para excluir outras doenças que se lhe podem assemelhar, nomeadamente doença reumática inflamatória, disfunção tiroideia e algumas patologias musculares. O diagnóstico baseia-se na presença de: a) dor musculoesquelética generalizada, ou seja, abaixo e acima da cintura e nas metades esquerda e direita do corpo; b) dor com mais de três meses de duração; c) existência de pontos dolorosos à pressão digital em áreas simétricas do corpo e com localização bem estabelecida. Embora seja necessária a presença de pelo menos 11 pontos dolorosos, em 18 possíveis, para classificar esta síndrome, aquele número pode não ser necessário para estabelecer o diagnóstico. 3

Tratamento A FM deve ser diagnosticada e tratada nos Cuidados de Saúde Primários. Após o diagnóstico, uma explicação sobre a natureza da doença é crucial para o seu bom tratamento. O doente deve, também, ser informado sobre os seus factores de alívio, de agravamento, e sobre o habitual bom prognóstico da doença. O doente deve, ainda, ser aconselhado sobre estilos de vida, prática e tipo de exercício e atitudes de relaxamento. Os fármacos utilizados com mais eficácia são analgésicos, anti-depressivos tricíclicos e inibidores selectivos de recaptação da serotonina, relaxantes musculares e indutores do sono. É recomendada a prática regular de exercício físico. Outras formas terapêuticas, bem como a intervenção da reumatologia, psiquiatria e outras especialidades médicas ou de outros profissionais de saúde não médicos, são necessárias com alguma frequência. Acompanhamento A FM não causa deformações ou incapacidade física permanentes, mas muitos doentes são intolerantes à medicação e, dos que a toleram, menos de 50% apresentam melhorias significativas. (Ver Referenciação). Em centros especializados a taxa de sucesso terapêutico chega a atingir 60%. Os doentes sofrendo de FM devem ser periodicamente avaliados, quer sobre a evolução das queixas, quer acerca de eventuais efeitos adversos da terapêutica. Não existem critérios de remissão da doença mas, tendo em conta os objectivos do tratamento, a dor deve ser avaliada com instrumentos de medida validados. É essencial a comparação sistemática dos seguintes parâmetros em relação às avaliações anteriores: a) nível de actividade; b) perfeccionismo; c) assertividade; 4

d) capacidade de lidar com as dificuldades e o stress; e) sensibilidade à dor; f) depressão; g) alterações do sono; h) ansiedade/angústia. Para alguns destes pontos pode ser importante obter informação junto dos conviventes directos do doente. A periodicidade do acompanhamento depende da gravidade da FM e das características das patologias associadas. A experiência evidencia que, em geral, o doente reformado antecipadamente devido à FM, piora posteriormente por se criarem condições para uma menor actividade física, redução de ambientes distractivos, sentimentos de inutilidade e agravamento da depressão. Referenciação Em cerca de 60 a 70% dos doentes com FM verifica-se ineficácia terapêutica e/ou intolerância medicamentosa, por vezes importante. Nestes casos, está indicada a referenciação a Reumatologia para reavaliação e eventual orientação terapêutica. O Director-Geral da Saúde Francisco George A presente Circular revoga a Circular Informativa nº 27/DGCG de 03/06/2003 5