1.1. REDE SOCIAL EM PROL DA SOLIDARIEDADE Cidadania: Um Imperativo A cidadania tende a incluir a diferença, para que esta não se transforme em exclusão. Hoje, entender como se dá a construção da cidadania implica necessariamente a análise dos processos de constituição de sujeitos sociais que se formam nas mediações, nas práticas de intercâmbio, nas alianças, nas redes de informações em projectos sociais cuja diversidade traduzem relações de justiça e participação social. A cidadania no mundo contemporâneo prescinde da exigência dos vínculos comunitários tradicionais. Trata-se de um conceito complexo, porque apela à participação fora de contextos necessariamente comunitários e porque, agindo na esfera da liberdade, supõe uma visão social participada. A parceria visa a organização de um conjunto de parceiros, de natureza distinta, em torno de uma agenda comum, onde são negociados interesses, objectivos e estratégias de acção, mediante o compromisso e a responsabilização dos diferentes agentes e através da partilha de riscos e benefícios. A ideia de comunidade presente na cidadania moderna é de tipo ideal e temático. A concepção de participação reenvia para um consenso mínimo em torno de valores centrados no ser humano. Isto sob o pano de fundo de uma real fragmentação dos vínculos tradicionais e a afirmação emergente da diferença de posição ou posicionamento como elemento constituinte do próprio processo de socialização. O modelo de cidadania no mundo contemporâneo não se pode reduzir à simples ideia de recepção mecânica de direitos garantidos por via externa. A cidadania é, assim, simultaneamente inclusiva e exclusiva. Onde, por inclusão, se entende consenso mínimo em torno de valores de tipo social, e onde, por exclusão, se entende direito à afirmação da diferença. Inclusão significa consenso social, logo, simples adesão de princípio. Exclusão significa afirmação da diferença no interior do universo múltiplo de programas que cabem no máximo denominador comum dos princípios objecto de consenso. Isto, naturalmente, no interior da cultura sociológica. 8
Planeamento Estratégico: Uma Necessidade Modificar, melhorar e fortalecer O planeamento das várias estratégias e políticas para combater a pobreza e a exclusão social, que poderão responder de forma mais eficaz às peculiaridades da fenomenologia da privação, é condição sine qua non para uma intervenção eficaz. Assim, importa, essencialmente: Expandir o conhecimento, elevar padrões e promover a cooperação intelectual, a fim de facilitar transformações sociais alinhadas segundo valores universais de justiça, liberdade e dignidade humana. Criar objectivos voluntaristas de combate à exclusão social, nas suas diferentes formas, visando segmentos do tecido social que se encontrem numa situação de particular desfavorecimento relativamente às possibilidades de inserção no mercado de trabalho. A visão estratégica que preside à definição de objectivos de desenvolvimento económico-social tem subjacente a necessidade de promoção da democracia, dos padrões de convivência cívica e da protecção dos cidadãos. Desenvolvimento Social: Um Desafio Nada é permanente, senão a mudança Heráclito O paradigma de Desenvolvimento sofre mudanças significativas nos últimos anos. Do Desenvolvimento enquanto sinónimo de crescimento económico, passou-se a uma imagem de Desenvolvimento Integrado (social, local e humano). Neste contexto, o Desenvolvimento Local emerge enquanto um processo de valorização dos recursos endógenos e de dinamização das populações e dos stake-holders (actores sociais locais). O grau de satisfação das diferentes necessidades dos cidadãos é um bom indicador do nível de Desenvolvimento Local e este passa, entre outros factores, pela expansão e melhoria da qualidade de respostas e dos equipamentos sociais existentes, que constituem um dos principais meios através dos quais são satisfeitas muitas das necessidades das pessoas, das famílias e das comunidades. Assim, a Rede Social surge com a grande finalidade de fazer face à exclusão social, através da renovação e inovação da intervenção social e das políticas sociais. Nesse sentido, o conceito de exclusão social é definido, não apenas numa lógica de privação ou falta de recursos, mas sobretudo enquanto o não exercício da cidadania por 9
parte dos indivíduos, ou seja, o não acesso a um conjunto de sistemas sociais básicos e total ausência de poder para uma participação plena na sociedade. Segundo Amaro (s/d), a exclusão social exprime-se, pois, num conjunto de dimensões principais do quotidiano real dos indivíduos, ao nível: do ser, ou seja da personalidade, da dignidade e da auto-estima e do autoreconhecimento individual; do estar, ou seja das redes de pertença social, desde a família, às redes de vizinhança, aos grupos de convívio e de interacção social e à sociedade mais geral; do fazer, ou seja das tarefas realizadas e socialmente reconhecidas, quer sob a forma de emprego remunerado (uma vez que a forma dominante de reconhecimento social assenta na possibilidade de se auferir um rendimento traduzível em poder de compra e em estatuto de consumidor), quer sob a forma de trabalho voluntário não remunerado; do criar, ou seja da capacidade de empreender, de assumir iniciativas, de definir e concretizar projectos, de inventar e criar acções, quaisquer que elas sejam; do saber, ou seja do acesso à informação (escolar ou não; formal ou informal), necessária à tomada fundamentada de decisões, e da capacidade crítica face à sociedade e ao ambiente envolvente; do ter, ou seja do rendimento, do poder de compra, do acesso a níveis de consumo médios da sociedade, da capacidade aquisitiva (incluindo a capacidade de estabelecer prioridades de aquisição e consumo). A exclusão social é, portanto, uma situação de não realização de algumas ou de todas estas dimensões. É o não ser, o não estar, o não fazer, o não criar, o não saber e/ou o não ter. Exige, por isso, uma intervenção multi-dimensional, assente na devolução àqueles cidadãos do poder para uma participação plena na sociedade ( empowerment ), para que tenham condições do pleno exercício da cidadania. Se, como se viu, os factores económicos podem ser decisivos na explicação de grande parte das situações de exclusão social, consequentemente também a dimensão económica da integração assume importância crucial, quer na perspectiva da inserção (processo assumido pelos indivíduos e famílias), quer na da inclusão (mudança da sociedade que reforça e abre as oportunidades que oferece aos seus membros, se torna mais democrática e equitativa e viabiliza a cidadania de forma generalizada). 10
Definição de Objectivos: Um Rumo Um Caminho para uma sociedade mais justa O Programa Rede Social tem como finalidade combater a pobreza e a exclusão social numa perspectiva de promoção do desenvolvimento social. Objectivos Gerais - Mobilizar os actores locais no sentido de potenciar o processo de desenvolvimento integrado e sustentável - Afirmar as organizações locais enquanto elementos fundamentais na promoção do progresso social, na obtenção de melhores padrões de vida e protagonistas na defesa dos direitos humanos e das liberdades fundamentais - Dinamizar recursos e projectos de acordo com as necessidades locais - Promover o cidadão enquanto sujeito activo de transformação social - Reduzir as variáveis potenciadoras de desvalorização do indivíduo - Valorizar as funções sociais do indivíduo - Desenvolver de estratégias eficientes e capacitadas para a melhoria das condições de vida e de bem estar nos cidadãos - Promover a integração da dimensão da igualdade de género em todas as políticas e acções Mainstreaming - Consolidar um espírito de parceria numa perspectiva de dinamização de projectos de desenvolvimento social local Objectivos Específicos - Induzir o diagnóstico e o planeamento participados - Promover a coordenação das intervenções ao nível concelhio e de freguesia 11
- Procurar soluções para os problemas das famílias e pessoas em situação de pobreza e de exclusão social - Formar e qualificar agentes envolvidos nos processos de desenvolvimento local, no âmbito da Rede Social - Potenciar e divulgar o conhecimento sobre as realidades concelhias. 12