3 Contextualização do mercado 3.1. A cadeia de suprimentos do setor de exploração e produção de Petróleo A produção brasileira de petróleo registrou crescimento substancial nos últimos anos. Em 2007, o país atingiu a autossuficiência volumétrica, e, em 2011, foram produzidos aproximadamente 768 milhões de barris de petróleo e 24 bilhões de metros cúbicos de gás natural (ANP, 2012). Para que a atividade de Exploração e Produção de petróleo e gás natural em alto mar seja possível, é necessária uma alta abrangência da cadeia de suprimentos do setor, com diversos players atuando no fornecimento de equipamentos e serviços para os diferentes processos envolvidos nestas atividades. A cadeia de E&P pode ser estruturada, com base no ciclo de vida de um campo petrolífero, em exploração, desenvolvimento e produção (BNDES, 2009). Cada estágio do ciclo de vida possui objetivos específicos: Na fase de Exploração, os principais objetivos estão relacionados à identificação e quantificação de novas reservas de petróleo e gás, englobando as seguintes atividades: o Garantir acesso a reservas por meio de negociações com entes públicos ou privados; o Analisar a geologia dos subsolos; o Identificar potenciais reservatórios de petróleo e gás; o Confirmar a existência do reservatório. Na fase de Desenvolvimento, o foco está centrado no planejamento dos recursos necessários para a fase seguinte (Produção), com o objetivo de maximizar a rentabilidade do projeto. Envolve as seguintes atividades: o Avaliação da extensão, do potencial de produção e da viabilidade econômica da reserva;
69 o Investigação das características do subsolo, identificando aspectos que possam afetar a produção; o Avaliar os cenários de produção; o Planejamento operacional para maximizar a explotação, analisando a localização das perfurações e as especificações da infraestrutura que será utilizada; o Mobilização da infraestrutura de produção. Na fase de Produção, o objetivo do operador é a extração de petróleo e gás de tal forma que seja possível maximizar a vida útil do campo de produção. Suas atividades mais importantes são: o Extrair petróleo e gás utilizando diferentes técnicas de recuperação; o Manter níveis de produção da reserva otimizados; o Encerrar as atividades de produção (ex.: desativação de infraestrutura e descarte de resíduos tóxicos). A Figura 10 (ONIP, 2010) apresenta os principais processos envolvidos nesta atividade: Figura 10 - Principais processos da atividade de E&P Fonte: ONIP, 2010, pág.67.
70 Pela classificação do BNDES (2009), os principais participantes da cadeia são classificados em oito categorias, tendo como base de segmentação o propósito de utilização dos serviços e equipamentos: Informação de reservatórios: identificação de potenciais reservatórios; Contratos de perfuração: perfuração de poços; Serviços de perfuração e equipamentos associados: atividades e equipamentos de suporte à perfuração, medição e registro; Revestimento e completação de poços: preparo de poços para a produção; Infraestrutura: desenho, construção, montagem e instalação de infraestrutura destinada à produção; Produção e manutenção: operação e suporte da infraestrutura de produção; Desativação: encerramento da produção de um poço; Apoio logístico: transportes de insumos, equipamentos e pessoas. O segmento de apoio logístico está presente em todas as fases do chamado Upstream (atividades envolvendo a Exploração, Desenvolvimento e Produção de um campo de petróleo) e será apresentado de forma mais aprofundada na próxima sessão, permitindo uma maior compreensão de seu papel na cadeia produtiva de Petróleo & Gás Natural. 3.2. Segmento de Apoio Logístico Offshore De acordo com estudo do BNDES (2009), os serviços de apoio logístico offshore podem ser classificados em apoio marítimo e apoio aéreo, onde: Apoio marítimo: compreende os serviços prestados por empresas com ativos de infraestrutura fixos, como é o caso das bases de apoio logístico (terminais portuários especializados), portos e armazéns e, ativos de infraestrutura móveis, compreendidos pelos diferentes tipos de embarcações envolvidos no apoio logístico offshore. A navegação de apoio offshore fornece o apoio logístico às unidades de exploração e produção de petróleo, sendo o principal modal utilizado, levando às
71 unidades de exploração e produção os insumos necessários à operação destas; Apoio aéreo: contempla a logística realizada por helicópteros, predominantemente no transporte de passageiros das plataformas para o continente (e vice-versa). A importância deste setor é descrita por CARDOSO (2004): O cumprimento dos prazos dos projetos de poços depende muito da eficiência logística de Apoio. O valor de afretamento de uma sonda pode chegar a US$ 500 mil por dia. Sem contar que cada sonda exploratória já está comprometida com um cronograma anual, ou seja, ao final de uma campanha, já existe outra campanha exploratória definida em outra localidade e assim por diante. O faturamento global do segmento de apoio logístico totalizou US$8,4 bilhões em 2007, conforme apresentado no Quadro 11 com cerca de 60% das receitas originadas pelo subsegmento de apoio marítimo e 40% de serviços aéreos, e uma taxa de crescimento de 11% ao ano no período compreendido entre os anos de 1999 e 2007 (BNDES, 2009). Quadro 11 - Composição das receitas do segmento de apoio logístico Fonte: BNDES, 2009, pág. 166. Infelizmente não foi possível identificar dados de faturamento do mercado brasileiro, com o objetivo de demonstrar o crescimento observado nos últimos anos, sobretudo devido ao vertiginoso crescimento das operações de exploração e produção em território brasileiro.
72 De qualquer forma, é possível apresentar os seguintes dados mercadológicos: Quantidade de embarcações de apoio offshore: de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (ABEAM, 2012), existem 124 empresas brasileiras autorizadas pela ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), das quais 50 operando de forma efetiva no mercado de apoio marítimo, que conta com 414 embarcações, sendo 188 de bandeira brasileira e 226 de bandeira estrangeira. O Gráfico 1 (ABEAM, 2012) apresenta a evolução histórica da frota de apoio marítimo e a projeção até o ano de 2020. N DE EMBARCAÇÕES 800 700 686 600 500 400 427 414 386 300 200 100 0 300 254 250 226 205 168 188 158 188 148 165 130 173 110 125 110 105 91 88 91 120 13 47 95 44 43 48 60 83 74 013 1975 1980 1985 1990 1995 2002 2005 2008 2009 2011 2012 2020 Brasileiras Estrangeiras TOTAL Gráfico 1 - Frota de Apoio Marítimo (1975-2020) Fonte: ABEAM, 2012. As principais empresas atuantes no mercado brasileiro são (em ordem alfabética): Astromarítima, Bourbon, CBO, Deepsea Supply, Edison Chouest, Farstad, Hornbeck, Maersk, Norskan Offshore, Swire Pacific, Tidewater e Wilson Sons Ultratug Offshore. Quantidade de bases de apoio logístico offshore: as principais bases de apoio logístico offshore existentes no mercado estão localizadas ao longo da região Sudeste do Brasil, principalmente na Baía de Guanabara, localização estratégica para atendimento às Bacias de Campos e Santos. Dois são os modelos básicos de bases de apoio existentes:
73 o Bases de Apoio Petrobras: o modelo da Petrobras é o de operação de bases próprias por operadores logísticos especializados, mediante licitação. No Estado do Rio de Janeiro, a Petrobras possui operações em Imbetiba (Macaé) e no Porto público do Rio de Janeiro. o Bases de Apoio não Petrobras: bases de apoio logístico para suporte as operações das OCs. No Estado do Rio de Janeiro, três são as bases de apoio: Brasco, Briclog e Nitshore. Com vistas ao crescimento do mercado das petroleiras e de empresas de serviço, novos investimentos foram anunciados para os próximos anos: o Porto do Açu (São João da Barra/RJ) empresa: LLX o Itapemirim (ES) empresa: Chouest o Itapemirim (ES) empresa: Itaoca Offshore o Barra do Furado (RJ) empresa: BR Offshore Quantidade de helicópteros voltados para o apoio logístico offshore: o táxi aéreo é um serviço fundamental para a indústria petrolífera, que conta com a sua frota de helicópteros como parte indispensável de sua estrutura de logística. De acordo com o SNETA Sindicato Nacional das empresas de táxi aéreo, 100% do transporte de passageiros às plataformas é feito com a utilização de helicópteros, totalizando mais de 1 milhão de passageiros por ano. Atualmente 160 helicópteros de médio e grande porte são dedicados às operações offshore. Estima-se que a frota total em 2020 será de 271 helicópteros, com cerca de 2,5 milhões de passageiros por ano. Neste setor, atuam empresas como AEROLEO, BHS, LIDER, OMINI e SENIOR. Como observado, a demanda por serviços apresentará um aumento significativo nos próximos anos, devido às necessidades de transporte de passageiros e cargas para as atividades de Exploração e Produção offshore, principalmente devido ao crescimento esperado das operações na região do présal.
74 Nesse contexto, a agilidade e a interconexão das operações tornam-se o motor da atividade econômica contemporânea e, a flexibilidade da coordenação da cadeia logística de um produto como o petróleo demanda um desenvolvimento contínuo dos prestadores de serviços logísticos, aumentando cada vez mais o nível de especialização (BRAGA, 2004).