O EDUCADOR E A CRIATIVIDADE NO ENFRENTAMENTO ÀS DROGAS NA ADOLESCÊNCIA



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Transcrição:

O EDUCADOR E A CRIATIVIDADE NO ENFRENTAMENTO ÀS DROGAS NA ADOLESCÊNCIA Resumo Tatiane Delurdes de Lima 1 - UFPR Araci Asinelli-Luz 2 - UFPR Grupo de Trabalho Educação e Direitos Humanos Agência Financiadora: não contou com financiamento Esta experiência no campo da Pedagogia Social ocorreu em ambientes de vivência/convivência de adolescentes em situação de vulnerabilidade pessoal e social, em bairro de município da Região Metropolitana Norte de Curitiba, com índice considerável de violências, entre elas, o consumo e o tráfico de drogas. O relato de experiência centra-se na arte enquanto forma de expressão da criatividade e de ideias, sentimentos e emoções como fatores no trabalho de prevenção do abuso de drogas. Teve como objetivo envolver a comunidade, junto com os adolescentes, nas ações desenvolvidas no CRAS e no CEU, oportunizando a tomada de consciência para a preservação do patrimônio público, do pertencimento ao espaço coletivo e o incentivo ao protagonismo juvenil. A atuação profissional no campo social pelo incentivo à arte foca a prevenção no fazer humano e propicia novos olhares sobre o abuso de drogas na adolescência. Pretendeu-se incentivar o diálogo como canal da criatividade e da imaginação como ferramentas fundamentais para a prevenção e a construção cidadã. A experiência propiciou trocas, percepção de realidades, a relevância da cultura local e possibilidades de desenvolver ações no atendimento das demandas, fortalecendo os vínculos e a auto-estima. Houve o envolvimento dos adolescentes e da comunidade com as atividades artísticas onde a educadora social oportunizou o despertar do interesse pela vivência da arte, aprendizagem de técnicas e alternativas de geração de renda, para possibilidades de crescimento pessoal e social, promovendo fatores de proteção em contraposição aos fatores de risco em relação ao uso, abuso e tráfico de drogas. A experiência teve como base teórica autores como Vygotsky (1995, 1996); Azevedo, Fernandez e Pescarolo (2012); Schenker e Minayo (2005). Destaca-se, no campo da prevenção a relevância do trabalho do educador social e sua influência na adolescência em cenários onde a droga participa como coadjuvante nas violências que envolvem os/as adolescentes. Palavras-chave: Adolescente. Educador Social. Prevenção. Drogas. Arte. 1 Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Educadora Social na Prefeitura de Campo Largo. E-mail: tati_lima08@homtmail.com. 2 Doutora em Educação, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: araciasinelli@hotmail.com. ISSN 2176-1396

25646 Introdução No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, declara que todo indivíduo entre doze e dezoito anos incompletos de idade é considerado adolescente, pessoa em estágio peculiar de desenvolvimento. A adolescência é caracterizada como uma etapa de transformações, mudanças, crescimento e alcance de novas relações sociais. É nesse âmbito que o adolescente inicia um período de transição, tanto em aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais, constituindo-se de uma longa e complexa construção (VYGOTSKY, 1996). Para auxiliar nesse desenvolvimento integral do adolescente, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), fazem-se necessárias políticas públicas que promovam a proteção e amparo a esses sujeitos, permitindo-lhes que seus direitos fundamentais sejam assegurados, assim como as de qualquer outro ser humano. Embora existam documentos que assegurem os princípios básicos para a vivência plena na adolescência, ainda há situações onde alguns adolescentes não possuem todos os seus direitos garantidos, tanto pela existência do preconceito, quanto pela negligência familiar, da sociedade e do poder público. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2013), grande parte da violência praticada contra os adolescentes e jovens advém de causas externas, na qual fere o direito pela vida e pela interação na sociedade. Diante desse destaque, a violência psicológica, sexual, moral e física perante o adolescente, mobiliza reflexões e estudos sobre as possibilidades de soluções para essas problemáticas que envolvem seu contexto social, não apenas no meio familiar, mas também da escola e da comunidade em que está inserida. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar PeNSE realizada no ano de 2012, apresenta que a situação da violência na adolescência se agrava com o contato do adolescente com as drogas, em que, segundo indicadores do IBGE (2013), houve um aumento significativo no consumo de drogas ilícitas entre o público adolescente nos anos de 2009 a 2012 3. Com esses apontamentos, há a necessidade de observar e analisar as problemáticas que envolvem o adolescente em seu meio, buscando na família, nos profissionais escolares e não escolares, o auxílio para o enfrentamento do abuso de drogas nesta etapa da vida, fortalecendo 3 A PeNSE 2009 identificou que a experimentação de drogas ilícitas foi de 8,7% para o conjunto dos alunos pesquisados nas Capitais. Em 2012, a proporção para este indicador, entre os adolescentes que frequentavam o 9º ano em escolas das Capitais do País, foi de 9,9%, representando um ligeiro aumento em relação ao resultado observado há três anos atrás (BRASIL, 2013, p. 63).

25647 parcerias com o poder privado e público, oportunizando modificar esse cenário de violação de direitos. Além dos agentes que atuam dentro da escola, cotidianamente, também há a possibilidade de envolver o educador social, que oferece ações de prevenção por meio da construção de vínculos afetivos com crianças e adolescentes fora do âmbito escolar, atuando em comunidades com maiores índices de vulnerabilidade e riscos sociais ou em outro espaço que necessite desses atendimentos. O educador social poderá auxiliar no seu desenvolvimento, contribuindo concretamente para as possibilidades de construção da qualidade de vida e a garantia dos direitos fundamentais. Por meio do diálogo, do incentivo à liberdade de expressão, da criatividade, atividade artística, percepção da realidade, consolidação da cultura local, a subjetividade será construída a partir das trocas sociais e assim, promover benefícios para o adolescente e seus familiares. Assim, o presente texto é um relato de experiência de uma educadora social, formada em Pedagogia, que apresenta a influência da arte na adolescência e no trabalho de prevenção do abuso de drogas por meio de algumas ações baseadas nas interações sociais. Uma realidade: os adolescentes, as drogas e o meio social Em cidade da Região Metropolitana Norte de Curitiba há o trabalho de educadores socais em um bairro considerado como o de maior índice de vulnerabilidade e risco pessoal e social, na qual o abuso de drogas e o tráfico estão presentes no cotidiano da comunidade. Há no território mencionado, dois equipamentos públicos que promovem ações preventivas em parcerias com escolas municipais e estaduais, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Artes e Esportes Unificado (CEU), que oferecem atividades diversificadas para toda a comunidade, por meio de grupos de convivência e fortalecimento de vínculos. Nesse espaço, o trabalho dos educadores sociais está voltado para a mediação no processo de transição de ideias, sentimentos e condutas, no fortalecimento de vínculos com a família e a comunidade por meio da apropriação da cultura local e das influências externas, da construção do pensamento e de expressões, de forma que os adolescentes criem e consolidem sua identidade, oportunizando a consciência de pertença ao grupo. O cenário que envolve esses profissionais e os adolescentes é de um contexto onde o tráfico de drogas conduz a rotina de maior parte do bairro, envolvendo não apenas adultos, mas também crianças e jovens.

25648 No entorno dos equipamentos públicos não havia cuidado com os espaços públicos, a comunidade não se sentia pertencente a eles e, logo, não contribuíam para manter o ambiente limpo e agradável. Também, onde havia paredes brancas, tornavam-se lugar de expressão e comunicação dos envolvidos com o tráfico de drogas, como um quadro atrativo de notícias e informações específicas a esse contexto. Em agosto de 2014, uma das alternativas encontradas pela educadora social foi buscar meios de incentivar o protagonismo dos adolescentes em paralelo com novas medidas de construção de identidade do território. Azevedo, Fernandez e Pescarolo (2012) descrevem o protagonismo juvenil como a consciência dos adolescentes em promover a construção das suas próprias histórias, isso por meio da interação com os adultos e na relação entre pares, tornando-os capazes de participar das decisões sociais. Com um trabalho de resgate da cultura local e da expressão de ideias, houve, por parte dos adolescentes, em comum acordo com os educadores sociais, a proposta de transformar os ambientes físicos externos do CRAS e do CEU em ambientes de interações por meio de técnicas artísticas de grafitagem e pintura simples. No processo de construção, os adolescentes receberam novas responsabilidades, tanto na perspectiva de preparação das artes, quanto do compromisso em conjunto da vizinhança de manter os espaços preservados. Ao longo do tempo, estudos, frustrações e reflexões ocorreram, tanto pelo resgate de memórias familiares e de infância, quanto pela perda de amigos vítimas de violência e de tráfico de drogas. Assim, surgiu dos adolescentes maiores necessidades de fortalecer a identidade social, econômica e política da região. Devido a todas as influências em que estavam envolvidos, muitos desses sujeitos encontravam dificuldades em participar das atividades, uma vez que precisavam se ausentar para vender ou fazer uso de drogas. O tráfico nessa região estava cada vez mais presente na adolescência, pois em suas construções de interesses e comportamentos, buscavam a inserção em grupos sociais por meio desses fatores de risco, tornando-se, nesse aspecto, vulneráveis à exposição a outras problemáticas como, por exemplo, a exploração sexual e outras formas de violência. Nesta complexidade do envolvimento com as drogas, o adolescente estabelece a relação entre o biológico, o psicológico e o social, buscando nesse campo de risco a formação para a sua personalidade e identidade grupal e/ou econômica (ANDRADE; BASSIT, 1995). Eles se encontram na vivência de experimentações e organizações de seus fatores de desejo e, ao mesmo tempo, no fortalecimento de relações sociais, tornando-se, provavelmente, vulneráveis ao tráfico e consumo de substâncias psicoativas.

25649 Autores como Schenker e Minayo (2005, p. 714) salientam que o uso ocasional de droga por adolescentes pode ser entendido como manifestação de uma experimentação apropriada para sua etapa de desenvolvimento e busca de direção para a vida. Diante dessa problemática, para possibilitar estratégias de ações preventivas ao uso de drogas e conjuntamente para a melhoria da qualidade de vida dos adolescentes, fez-se necessário a construção consciente no espaço em que estavam inseridos, a importância da promoção de formação pessoal e profissional, bem como o exercício do diálogo, a fim de estimular o protagonismo juvenil e o desenvolvimento pessoal e social dos adolescentes, envolvendo não apenas a família e a escola, mas todos os indivíduos que estabeleciam relações com a adolescência. A conversa informal, nesse âmbito, tornou-se uma das primeiras mediações da educadora social, estabelecendo ligações entre o que ela possuía de conhecimento, de vivência com o conhecimento novo, científico e mais elaborado. Usufruindo do diálogo horizontal, a profissional promoveu o auxílio na sistematização do processo, na organização dos materiais concretos (construídos individualmente e pelo grupo) e, principalmente, na mediação das relações que são internalizadas no contexto em que estão envolvidos. Além do diálogo, houve a observação da realidade da comunidade, a escuta das necessidades e das condutas culturais, características da região, como por exemplo, o costume de soltar pipas e os jogos de futebol que envolviam grande parte dos moradores. Com esses conhecimentos, buscou-se alinhar em conjunto com o canal da criatividade, da imaginação, da arte, da maneira como eles se expressam e se afirmavam como um grupo social. É neste processo de desenvolvimento do pensamento na adolescência que a cultura, as relações sociais e o contato com o universo artístico/criativo tornaram-se fundamentais para a formação de novas concepções, opiniões e princípios. Com técnicas básicas de pinturas, tintas e muita criatividade, aproveitou-se o caminho da expressão para a criação e o fortalecimento de vínculos, estimulando os adolescentes para a promoção criativa, imaginária, com ligação entre seus conceitos internos e externos, apresentando trocas positivas, mesmo em um contexto voltado para as violências, para a pobreza e para o universo das drogas. Por meio do incentivo à criatividade, imaginação, a liberdade de expressão, ao diálogo, à observação, a reflexão e às experiências cotidianas, houve a construção de desenhos relacionados ao respeito, à liberdade de expressão e os jogos e brincadeiras significativos para a comunidade, contribuindo para o a modificação física do meio em que estavam inseridos. Com todas essas práticas, os adolescentes foram incentivados à promoção

25650 da auto-observação e à autopercepção, iniciando um processo de discernimento e de escolhas com reflexões mais complexas. Figura 1: ilustração criada pelo adolescente K.D.R. durante as atividades artísticas. Fonte: as autoras. Com maior consciência das suas ações e influências, promoveu-se a compreensão sobre a realidade que estavam inseridos e capacidade de distinguir as oportunidades que a vida estava apresentando a eles. Com as mediações, alguns adolescentes decidiram seguir outros caminhos, como por exemplo, voltar a frequentar a escola e passar menos tempo ocioso na rua. Outro jovem com grandes habilidades artísticas, com o passar do tempo tornouse tatuador na cidade, garantindo sua renda mensal por meio da arte e longe do tráfico de drogas. O exercício da docência pela arte trouxe, no entanto, algumas dificuldades relacionadas à precariedade de materiais para a criação das pinturas e quanto à fragilidade de formação (falta de documentos norteadores para a efetivação do trabalho). Ainda, houve dificuldade para atender as demandas que surgiam no grupo de adolescentes, como por exemplo, a discussão sobre a morte de alguns jovens decorrentes do tráfico e as problemáticas que os adolescentes enfrentavam relacionadas ao preconceito e à falta de oportunidades.

25651 Mesmo com os entraves aparentes, a educadora buscou alternativas de sua formação em processo para promover reflexões sobre o contesto em que estavam inseridos, encontrando nas habilidades de cada adolescente as motivações e incentivos para a continuação dos desafios diários. Neste relato de experiência pode-se conhecer o trabalho da educadora social no enfrentamento dos fatores de riscos na adolescência, principalmente ao que diz respeito às drogas, pois, por meio da sua influência positiva é que possibilitou aos adolescentes a iniciativa de se expressarem, de promover o diálogo, de interagir, produzir e refletir sobre o seu papel na comunidade, uma vez que eles estavam envolvidos em um universo onde influenciam e eram influenciados. É nessa reflexão sobre o trabalho do educador social em geral que Vygotsky apresenta a importância da mediação nas relações sociais, bem como nas expressões de dúvidas e angústias. A realidade e o meio social são fatores que influenciam no processo de desenvolvimento do sujeito: com a função de formação de conceitos o adolescente adquire também o conteúdo totalmente novo por sua estrutura, pelo modo de sistematizar, pela amplitude e pela profundidade dos aspectos da realidade que reflete (VYGOTSKY, 1996, p. 74). A arte possibilitou que os adolescentes desenvolvessem novos olhares sobre as obras (musicais, visuais, táteis), provocando a reflexão por meio das suas emoções e de sua trajetória cultural/histórica/social. Essa percepção foi além das orientações e ideais propostos, pois, perpetuou em um olhar mais íntimo, aproximando sentimentos e vivências. Com ferramentas e métodos não finalizados, na prática diária, houve muitas trocas de experiências, a observação das realidades possibilitou novos olhares acerca das problemáticas do grupo, percebendo outras possibilidades de desenvolver ações de enfrentamento das demandas e necessidades individualmente apontadas, fortalecendo os vínculos e a autoestima. É nesse universo da criatividade que se estabeleceu envolvimento com a atividade artística, onde a profissional da Educação Social ofereceu outras direções para os adolescentes, despertando o interesse pelo ensino da arte, aprimoramento de técnicas e alternativas de geração de renda, para que possibilitasse a sobrevivência junto à sua família e não no envolvimento com o vício e a ilegalidade (tráfico). Por isso, a educadora social, enquanto mediadora, possibilitou aos adolescentes momentos que permitissem a observação, a reflexão e a construção crítica, para que, utilizando suas opiniões, conseguissem elaborar a consciência de suas realidades e das

25652 influências positivas e negativas que os envolviam, como por exemplo, o abuso de drogas e do tráfico. Considerações Finais A fase da adolescência é caracterizada por ser uma etapa da vida humana repleta de transformações biológicas, psicológicas, sociais, que afirmam a importância da mediação e da interação social para o desenvolvimento pleno do indivíduo. Mesmo com direitos fundamentais assegurados por lei (Estatuto da Criança e do Adolescente, por exemplo), ainda há adolescentes que se encontram em risco e vulnerabilidade social, expostos à violência, ao uso de drogas, ao tráfico, à exploração e ao abuso sexual e trabalho infantil. Por isso, nesta fase de mudanças, esse sujeito possui a necessidade de assegurar suas condutas e comportamentos, estabelecendo ligações com suas estruturas históricas e culturais com as influências do meio em que está inserido. Este adolescente ainda não adquire a clareza sobre os seus interesses, pois, há fatores que o influenciam em seu desenvolvimento como: as novas responsabilidades, outras oportunidades, surgimento das frustrações e o aprofundamento das suas reflexões, originando assim maiores necessidades de fortalecer a identidade social, econômica e política. Nessas tentativas de estabelecer vínculos sociais o adolescente obterá fortes influências, tanto positivas, quanto negativas, como por exemplo, o caso da oferta da inserção no tráfico ou no uso de drogas. Por isso, para que se obtenha um trabalho eficiente, precisa-se da organização de ações em conjunto com a família, a escola e a comunidade como um todo, promovendo atenção integral aos adolescentes, ouvindo suas angústias, fortalecendo seus ideais, apresentando-os na sociedade como indivíduos com grande potencial e competência. Além do espaço escolar, a Educação Social, também poderá auxiliar nas ações, oportunizando a construção de vínculos afetivos na atuação em comunidades com maiores índices de vulnerabilidade e riscos sociais ou em outros espaços que necessitarem de atendimentos especializados, voltados ao serviço de convivência e fortalecimento de vínculos. Em todos esses espaços torna-se essencial o estímulo ao diálogo, à observação da realidade dos adolescentes, à criação, oportunizando que esses sujeitos se consolidem em grupos sociais a fim da construção da sua identidade, tanto pessoal, quanto social. A arte por

25653 sua vez, possibilita o desenvolvimento de reflexões sobre a trajetória cultural e histórica, promovendo um olhar mais íntimo de observação e de aproximação com os sentimentos. Diante disso, é que o educador social desenvolverá com a atividade artística a oferta de outras perspectivas de comportamentos, voltando-se para a educação, técnicas e habilidades artesanais, possibilidade de geração de renda, ocasionando o estímulo da promoção criativa, imaginária, apresentando então trocas positivas, incentivando novos horizontes junto à família, mesmo em um território de riscos e vulnerabilidades sociais, tanto relacionados à violência, quanto para negligência e o universo das drogas. Este estímulo da reflexão e da criatividade, segundo Vygotsky (1996), auxilia nos processos de reestruturação do pensamento, onde há o estabelecimento de relações entre a realidade interna do sujeito com a realidade externa, tornando-se um processo longo e complexo. Por isso é que esse contato com a cultura, história e experiências diárias fortalecem a formação de novos conceitos, oportunizando novas condutas e atividades intelectuais. Diante destas influências positivas que o educador social poderá promover ao adolescente, novos conteúdos que poderão estabelecer relações com as suas condutas e a construção da sua personalidade, contribuindo para a formação de novos olhares e perspectivas de vida e de mudança. Haverá o incentivo para a observação e percepção das próprias ações e pensamentos, oportunizando que o indivíduo obtenha maior consciência de suas ações e conhecimento das influências em que está sujeito, contribuindo para que possua maiores oportunidades de distinguir as demandas positivas e negativas das suas relações sociais, como no caso da oferta das drogas ou o discernimento dos seus riscos. Como todas essas reflexões, salientam-se a importância do suporte teórico para a efetivação do trabalho do educador social, tanto para a troca de informações entre os adolescentes, quanto para o auxílio no enfrentamento de conflitos, possibilitando que esse profissional contribua nas construções das opiniões do adolescente, da sua criticidade, das construções de visão de mundo, do protagonismo juvenil, da autonomia, destacando principalmente que o diálogo, a cultura e a interação social como construção do ser humano: a palavra social aplicada à nossa disciplina tem grande importância. Primeiro, no sentido mais amplo significa que todo o cultural é social. Justamente a cultura é um produto da vida social e da atividade social do ser humano; por isso, a própria colocação do problema do desenvolvimento cultural nos leva diretamente ao plano social do desenvolvimento (VYGOTSKI, 1995, p. 151).

25654 Além do trabalho profissional, a sociedade também necessita da reflexão sobre os conceitos básicos da adolescência, percebendo que os adolescentes são cidadãos e que possuem seus direitos fundamentais assegurados por lei. Por isso, salienta-se a importância da criação e fortalecimento de oportunidades de formação acadêmica, de geração de empregos (aprendizes) e de maiores espaços na sociedade. Com maior clareza e respeito sobre esta etapa crucial da vida humana, os adolescentes precisam ser reconhecidos como sujeitos pensantes e com grandes capacidades psíquicas, criativas e críticas, tornando-se agentes de transformação. Portanto, torna-se relevante o conhecimento desta fase, a consolidação de ações embasadas em estudos, para o fortalecimento de vínculos afetivos, destacando as habilidades, especificidades e direitos de cada indivíduo em conjunto com a família, escola, comunidade e demais atuantes da área. Não há previsões que tudo dará certo ou que nada será alcançado, porque se trata de trabalhar com seres humanos, que são pensantes e imprevisíveis. Mas, mesmo assim, se houver compromisso e dedicação, a transmissão dos valores acontecerá de forma clara e objetiva. REFERÊNCIAS ANDRADE, Arthur Guerra de; BASSIT, Ana Zahira. Avaliação de programas de prevenção de drogas. 1. ed. São Paulo, Faculdade de Medicina de São Paulo: 1995. AZEVEDO, Mariana Corrêa de; FERNANDEZ, Soledad; PESCAROLLO, Joyce Kelly. Plá, por um lugar adolescente: material para educadores. 1. ed. Curitiba: Parabolé, 2012. BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Distrito Federal, 1996. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 14 jul. 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar Pense 2012. In: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: IBGE, 2013. Disponível em:<http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4440719/4115227/pense_2012.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2015. SCHENKER, Miriam; MINAYO, Maria Cecília de Souza. Fatores de risco e proteção para o uso de drogas na adolescência. Ciência e Saúde Coletiva [online], v.10, n. 3, ISSN 1678-4561, 2009. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1413-81232005000300027>. Acesso em: 10 jul. 2015.

25655 VYGOTSKY. Lev Semenóvich. Desarrollo de lós Intereses em La edad de Transición. In: VYGOTSKY, Lev Semenóvich. Obras Escogidas - Tomo IV. Madrid: Centro de Publicaciones Del Vysor Aprendizaje y Ministerio de Cultura Y Ciencia, 1996. cap. 9. VYGOTSKY. Lev Semenóvich. Historia Del Desarrollo de lãs Funciones Psíquicas Superiores. In: Obras Escogidas - Tomo III. Madrid: Centro de Publicaciones Del Vysor Aprendizaje y Ministerio de Cultura Y Ciencia, 1995. cap 1.