Exmº Sr. Director das Relações Internacionais da Associación de la Magistratura



Documentos relacionados
INTERVENÇÃO DE SUA EXCELÊNCIA O MINISTRO DAS OBRAS PÚBLICAS, TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES. Eng. Mário Lino. Cerimónia de Abertura do WTPF-09

DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA O PRIMEIRO-MINISTROMINISTRO DR. RUI MARIA DE ARAÚJO POR OCASIÃO DO 15º ANIVERSÁRIO DA POLÍCIA NACIONAL DE TIMOR-LESTE

APRESENTAÇÃO DA MONOGRAFIA

SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA E DA DEFESA NACIONAL. Tomada de posse dos órgãos sociais do Centro de Estudos EuroDefense-Portugal

Colóquio anual sobre Direito do Trabalho Outubro/2009 Despedimento para a Reestruturação (da empresa) Intervenção em mesa redonda

CÁTEDRA DE PORTUGUÊS LÍNGUA SEGUNDA E ESTRANGEIRA. FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS (UEM) e INSTITUTO CAMÕES

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE PORTUGAL 5º CICLO CRIMINALIDADE FINANCEIRA E INVESTIGAÇÕES FINANCEIRAS

LONDRES Reunião do GAC: Processos Políticos da ICANN

Ministério do Interior, aprimorando estratégias para o reforço da paz, segurança e tranquilidade públicas

Senhor Presidente e Senhores Juízes do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, Senhores Juízes Conselheiros do Supremo Tribunal Administrativo,

Exmos. Senhores Membros do Governo (Sr. Ministro da Saúde - Prof. Correia de Campos e Sr. Secretário de Estado da Saúde -Dr.

Discurso de Sua Excelência o Governador do Banco de Cabo Verde, no acto de abertura do XIII Encontro de Recursos Humanos dos Bancos Centrais dos

Excelências, Senhores Convidados, nacionais e estrangeiros, Senhores Congressistas, Carlos Colegas, Minhas Senhoras e meus Senhores,

Procriação Medicamente Assistida: Presente e Futuro Questões emergentes nos contextos científico, ético, social e legal

Sessão Solene de abertura do Ano Judicial Supremo Tribunal de Justiça 8 de outubro de 2015

DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA, O PRIMEIRO MINISTRO

MINISTÉRIO DA HOTELARIA E TURISMO

Senhor Dr. João Amaral Tomaz, em representação do Senhor Governador do Banco de Portugal,

PROTOCOLO DE COLABORAÇÃO. Entre O INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO. e O SINDICATO DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA

o Maria Hermínia Cabral o Sérgio Guimarães o Pedro Krupenski

Vítor Caldeira. Presidente do Tribunal de Contas Europeu

NORMAS INTERNACIONAIS DO TRABALHO Convenção (n.º 102) relativa à segurança social (norma mínima), 1952

3 de Julho 2007 Centro Cultural de Belém, Lisboa

Na entrega dos diplomas de mestrado no Lubango (Angola)

PEDRAS BRANCAS usadas para indicar a inocência das pessoas ilegitimamente acusadas de crimes.

39º Aniversário da Universidade de Aveiro 17 de Dezembro de 2012

TRIBUNAL DE APELAÇÃO NACIONAL da FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE AUTOMOBILISMO E KARTING

DECLARAÇÃO POLÍTICA DESAFIOS DO FUTURO NO MAR DOS AÇORES BERTO MESSIAS LIDER PARLAMENTAR DO PS AÇORES

cm ii COMiSSÃO NACIONAL DE ELEIÇÕES ATA N. 230/XIV

visão global do mundo dos negócios

ÍNDICE: Janeiro de 2009

Planejamento Estratégico

ignorado, como, muito mais grave ainda, considerado procedimento Desde o dito português de que entre marido e mulher não metas a

RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE ENFERMAGEM DA FAMÍLIA

Mensagem do. 1º de Dezembro de Por S.A.R. O Duque de Bragança

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

PARECER N.º 26/CITE/2006

Estudo PARTNER. Foi convidado a participar neste estudo porque tem uma relação em que é o parceiro VIH positivo.

Recomendação n.º 8 /B/2004 [art.º 20.º, n.º 1, alínea b), da Lei n.º 9/91, de 9 de Abril]

ASSEMBLEIA NACIONAL GABINETE DO PRESIDENTE

Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara dos Deputados Senhoras e Senhores Deputados.

Só em circunstâncias muito excepcionais pode o advogado ser autorizado a revelar factos sujeitos a sigilo profissional.

Gostaria igualmente de felicitar Sua Excelência o Embaixador William John Ashe, pela forma como conduziu os trabalhos da sessão precedente.

Senhor Presidente da Assembleia Senhoras e senhores Deputados Senhoras e senhores membros do Governo

1. Tradicionalmente, a primeira missão do movimento associativo é a de defender os

TIPOS DE REUNIÕES. Mariangela de Paiva Oliveira. As pessoas se encontram em diferentes âmbitos:

DISCURSO DO SR. PRESIDENTE DA UNIÃO DAS MUTUALIDADES PORTUGUESAS, DR. LUÍS ALBERTO DE SÁ E SILVA

Intervenção do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Dr. Fernando Gomes

ESPAÇO(S) E COMPROMISSOS DA PROFISSÃO

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

D SCUR CU S R O O DE D SUA U A EXCE

2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono - 2.º CIHEL

Decreto-Lei n.º Convenção para a cobrança de alimentos no estrangeiro, concluída em Nova Iorque em 20 de Junho de 1956

CONSULTA Nº 3.188/2011

Ética no exercício da Profissão

Formação Profissional dos Assistentes Técnicos no Centro Hospitalar do Porto, e.p.e. Oferta/Procura e Feed-back

Díli, Timor-Leste. 14 a 17 de abril de 2015 SEMINÁRIO. «Plano Estratégico de Cooperação Multilateral no Domínio da Educação da CPLP ( )»

BANCO DE BOAS PRÁTICAS DE GESTÃO

5 Considerações finais

Por Uma Questão de Igualdade

NERSANT Torres Novas. Apresentação e assinatura do contrato e-pme. Tópicos de intervenção

MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

DISCURSO DE ENCERRAMENTO DO III SEMINÁRIO DA OISC CPLP HOTEL PESTANA, 12 DE JUNHO DE 2013, MERITÍSSIMO JUIZ CONSELHEIRO DR.

PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO. entre a PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA, OPTIMUS COMUNICAÇÕES, S.A., PT COMUNICAÇÕES, S.A.,

PROGRAMA DE INTRODUÇÃO AO DIREITO

INTERVENÇÃO DO SENHOR SECRETÁRIO DE ESTADO DO TURISMO NO SEMINÁRIO DA APAVT: QUAL O VALOR DA SUA AGÊNCIA DE VIAGENS?

ATA DA SESSÃO ORDINÁRIA DO DIA 09 DE JUNHO DE 2014 Às vinte horas do dia nove de junho de dois mil e quatorze, na sede da Câmara Municipal, reuniu-se

Discurso do Comissário Hahn, Lisboa, 11/4/2014. Senhor Presidente, senhor Primeiro-Ministro, senhores Ministros, caros amigos,

EMBAIXADA DA REPÚBLICA DE ANGOLA NO ESTADO DE ISRAEL GABINETE DO EMBAIXADOR

Excelentíssimo Senhor Presidente, Sras. Deputadas e Srs.

INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Jefferson Aparecido Dias *

CMCA Conselho Mundial das Casas dos Açores. Ata do 3º dia de Reunião do CMCA 2011

Cursos de Doutoramento

Os Atletas e os Medicamentos Perguntas e Respostas

Desafio para a família

NOTA INTRODUTÓRIA. Urgência/Emergência pág. 1 de 6

IV Fórum do Sector Segurador e Fundos de Pensões. Lisboa, 15 de Abril de 2009

Promover a saúde Pública. Ciclo de Vida dos Medicamentos

REGULAMENTO GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS - EMPRESAS DO GRUPO METALCON -

DILMA MARIA DE ANDRADE. Título: A Família, seus valores e Counseling

A Volta à Europa dos Economistas Progressistas Conferência de Lisboa Futuro do Euro Explosão ou reconfiguração

CASAMENTOS FORÇADOS. Amnistia Internacional. Plano de Aula SOBRE ESTE PLANO DE AULA CONTEÚDO OBJETIVOS: MATERIAIS NECESSÁRIOS.

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de assinatura de atos e declaração à imprensa

Ministério da Administração do Território

Tomada de posse do Novo Presidente do Instituto de Seguros de Portugal. Intervenção do Ministro de Estado e das Finanças. - 2 de Outubro de

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: UM DESAFIO PARA A IGUALDADE E AUTONOMIA

Ficha Técnica: Design e Impressão Mediana Global Communication

CONFERÊNCIA DOS MINISTROS DO TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL E DOS ASSUNTOS SOCIAIS DA CPLP

Manual dos Responsáveis

A MOTIVAÇÃO DOS ALUNOS EM SALA DE AULA NA DISCIPLINA DE PORTUGUÊS

CIMEIRA DE PARIS DE DEZEMBRO DE 1974: UM MARCO NA HISTÓRIA DAS COMUNIDADES

PROJETO DE LEI (Do Sr. Dep. Chico Lopes)

Transcrição:

Exmº Sr. Presidente da ASJP, Conselheiro Mouraz Lopes Exmº Sr. Director das Relações Internacionais da Associación de la Magistratura de Espanha, Dr. Francisco Silla Sanchis Exm.ºs Conferencistas Exm.ºs Srs. Juízes Ilustres Convidados Excelências 1- Antes de tudo o mais quero manifestar ao Sr. Conselheiro Mouraz Lopes e aos restantes Ilustres Membros da mesa o imenso prazer que temos em acolher neste Salão Nobre do Tribunal da Relação do Porto esta sessão solene e pública de lançamento de um número especial da Revista Julgar e o subsequente Debate Público sobre o Consentimento Informado, tema este que, sem dúvida alguma, se reveste de uma enorme actualidade e importância. Aos Senhores Drs. Joaquim Correia Gomes e José Igreja Matos, Desembargadores nesta Relação do Porto, manifesto o meu reconhecimento pelo empenho e diligência demonstrada, em que este evento tivesse lugar neste nosso Tribunal. Dirijo igualmente o meu agradecimento e uma especial saudação aos Ilustres Convidados e Colegas que, com a sua presença, enobrecem este encontro. A todos dirijo uma saudação muito especial.

2- Excelências A Revista Julgar, e através dela a Associação Sindical dos Juízes Portugueses, em boa hora decidiu levar ao conhecimento de todos e lançar em debate o Consentimento Informado no âmbito da relação clínica, tanto ao nível do direito, como da ética assistencial. Estamos perante uma matéria que se encontra na ordem do dia do debate público sendo evidentes a sua importância não só para as classes profissionais directamente envolvidas mas também para toda a comunidade. O Número Especial da Revista Julgar, cuja sessão de lançamento hoje aqui nos reúne, conta com a colaboração de especialistas de renome e de inegável qualidade cientifica das mais variadas áreas. Da Medicina ao Direito, da Magistratura ao mundo Académico são várias as visões que nos são apresentadas sobre o Consentimento Informado. Numa sociedade em constante mudança, uma sociedade que se encontra em crise, social, económica, da Justiça, uma crise também de valores o tema que dá corpo ao número especial o Consentimento Informado é, sem qualquer dúvida, matéria de inegável relevância. A importância do tema do Consentimento Informado não é só para a classe médica ou do direito, pois sendo e reflectindo o consentimento esclarecido uma das formas de respeito pelo principio da autonomia do sujeito, esta é, sem qualquer dúvida, uma matéria actual, do interesse de toda a comunidade e amplamente discutida. A importância crescente que vem sendo dada a esta matéria, reflecte, por um lado, uma maior consciencialização dos cidadãos nos seus direitos e, por outro, a crise de valores que a própria sociedade atravessa.

Cada vez mais os cidadãos em geral e os doentes em particular tomaram consciência dos seus direitos, designadamente do seu direito à informação e ao consentimento esclarecido, direitos estes que encontram o seu reverso no dever dos médicos em prestarem os esclarecimentos adequados e de solicitarem aquele consentimento. Tais deveres e direitos estão, aliás, consagrados no Código Deontológico da Ordem dos Médicos (veja-se os artigos 44, 45 e 50). A importância da questão que hoje aqui nos reúne encontra eco não só na legislação constitucional portuguesa, como se poderá ver no artigo do Sr. Desembargador Joaquim Gomes (Constituição e Consentimento Informado em Portugal), na lei ordinária civil (arts. 70 e 340 do Código Civil) e criminal (cfr. os arts. 149, 150, 156 e 157 todos do Código Penal) mas também em diversos tratados internacionais. São inúmeros os problemas e as questões que se colocam, principalmente aos directamente implicados. Como é manifesto não pretendemos analisar tais questões. Apenas deixamos algumas interrogações. Como podemos e devemos articular o princípio do consentimento informado ou esclarecido com a responsabilidade médica? Quais são as boas práticas médicas? Certamente que o Prof. Rui Nunes (consentimento informado e boa prática médica) nos indicará muitos dos caminhos a seguir Os médicos têm ou não o direito de prescreverem o que entendem ser o melhor e mais adequado para o doente? Dúvidas não existem que os médicos devem transmitir aos doentes toda a informação necessária quanto aos tratamentos propostos, as alternativas existentes e os

riscos e benefícios de uns e outros, pois só dessa forma o doente poderá decidir em consciência quanto à opção a tomar. Mas como deve o médico obter o termo de consentimento livre e esclarecido? Quando é que se pode afirmar que a conduta do médico se alicerçou no consentimento informado do doente? E será que a assinatura pelo doente do TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) desresponsabiliza o médico pela sua conduta ou pelos resultados danosos que dela resultem? Como articular o consentimento informado com a medicina defensiva? Como conjugar o principio do consentimento esclarecido com o direito dos doentes «à não informação»? È necessário estudar, debater e compreender esta problemática. Por isso, é de toda a oportunidade e interesse a realização deste evento. O lançamento desta obra e o debate que ela origina, de que esta sessão pública é imagem, teve presente esta relevância e a necessidade de debater os problemas que são colocados. Como já referi, a obra hoje apresentada conta com a participação de representantes de prestigiadas Universidades de Portugal (a Universidade do Porto e de Coimbra), de Espanha (a Universidade da Corunha e do País Basco) de Itália (a Universitá di Salerno) e da Austrália (University of Tasmânia) bem como de Ilustres Magistrados. Todas estas entidades e personalidades têm uma enorme responsabilidade no melhoramento da qualidade da Justiça que efectivamente é prestada, procurando novas respostas e novas soluções para os concretos casos com que a sociedade se depara e que se colocam em última linha nos Tribunais.

Formulo votos para que ao longo desta sessão e com o debate que certamente terá lugar se consigam encontrar soluções para alguns dos graves problemas e desafios colocados pelo «Consentimento Informado». Desejo que esta Sessão possa contribuir para um melhor conhecimento desta matéria. Termino formulando votos de sucesso para este evento, para que possa contribuir para um melhor conhecimento e compreensão da questão do «Consentimento Informado». Obrigado a todos pela vossa presença. Porto, 2014/07/10