Exmº Sr. Presidente da ASJP, Conselheiro Mouraz Lopes Exmº Sr. Director das Relações Internacionais da Associación de la Magistratura de Espanha, Dr. Francisco Silla Sanchis Exm.ºs Conferencistas Exm.ºs Srs. Juízes Ilustres Convidados Excelências 1- Antes de tudo o mais quero manifestar ao Sr. Conselheiro Mouraz Lopes e aos restantes Ilustres Membros da mesa o imenso prazer que temos em acolher neste Salão Nobre do Tribunal da Relação do Porto esta sessão solene e pública de lançamento de um número especial da Revista Julgar e o subsequente Debate Público sobre o Consentimento Informado, tema este que, sem dúvida alguma, se reveste de uma enorme actualidade e importância. Aos Senhores Drs. Joaquim Correia Gomes e José Igreja Matos, Desembargadores nesta Relação do Porto, manifesto o meu reconhecimento pelo empenho e diligência demonstrada, em que este evento tivesse lugar neste nosso Tribunal. Dirijo igualmente o meu agradecimento e uma especial saudação aos Ilustres Convidados e Colegas que, com a sua presença, enobrecem este encontro. A todos dirijo uma saudação muito especial.
2- Excelências A Revista Julgar, e através dela a Associação Sindical dos Juízes Portugueses, em boa hora decidiu levar ao conhecimento de todos e lançar em debate o Consentimento Informado no âmbito da relação clínica, tanto ao nível do direito, como da ética assistencial. Estamos perante uma matéria que se encontra na ordem do dia do debate público sendo evidentes a sua importância não só para as classes profissionais directamente envolvidas mas também para toda a comunidade. O Número Especial da Revista Julgar, cuja sessão de lançamento hoje aqui nos reúne, conta com a colaboração de especialistas de renome e de inegável qualidade cientifica das mais variadas áreas. Da Medicina ao Direito, da Magistratura ao mundo Académico são várias as visões que nos são apresentadas sobre o Consentimento Informado. Numa sociedade em constante mudança, uma sociedade que se encontra em crise, social, económica, da Justiça, uma crise também de valores o tema que dá corpo ao número especial o Consentimento Informado é, sem qualquer dúvida, matéria de inegável relevância. A importância do tema do Consentimento Informado não é só para a classe médica ou do direito, pois sendo e reflectindo o consentimento esclarecido uma das formas de respeito pelo principio da autonomia do sujeito, esta é, sem qualquer dúvida, uma matéria actual, do interesse de toda a comunidade e amplamente discutida. A importância crescente que vem sendo dada a esta matéria, reflecte, por um lado, uma maior consciencialização dos cidadãos nos seus direitos e, por outro, a crise de valores que a própria sociedade atravessa.
Cada vez mais os cidadãos em geral e os doentes em particular tomaram consciência dos seus direitos, designadamente do seu direito à informação e ao consentimento esclarecido, direitos estes que encontram o seu reverso no dever dos médicos em prestarem os esclarecimentos adequados e de solicitarem aquele consentimento. Tais deveres e direitos estão, aliás, consagrados no Código Deontológico da Ordem dos Médicos (veja-se os artigos 44, 45 e 50). A importância da questão que hoje aqui nos reúne encontra eco não só na legislação constitucional portuguesa, como se poderá ver no artigo do Sr. Desembargador Joaquim Gomes (Constituição e Consentimento Informado em Portugal), na lei ordinária civil (arts. 70 e 340 do Código Civil) e criminal (cfr. os arts. 149, 150, 156 e 157 todos do Código Penal) mas também em diversos tratados internacionais. São inúmeros os problemas e as questões que se colocam, principalmente aos directamente implicados. Como é manifesto não pretendemos analisar tais questões. Apenas deixamos algumas interrogações. Como podemos e devemos articular o princípio do consentimento informado ou esclarecido com a responsabilidade médica? Quais são as boas práticas médicas? Certamente que o Prof. Rui Nunes (consentimento informado e boa prática médica) nos indicará muitos dos caminhos a seguir Os médicos têm ou não o direito de prescreverem o que entendem ser o melhor e mais adequado para o doente? Dúvidas não existem que os médicos devem transmitir aos doentes toda a informação necessária quanto aos tratamentos propostos, as alternativas existentes e os
riscos e benefícios de uns e outros, pois só dessa forma o doente poderá decidir em consciência quanto à opção a tomar. Mas como deve o médico obter o termo de consentimento livre e esclarecido? Quando é que se pode afirmar que a conduta do médico se alicerçou no consentimento informado do doente? E será que a assinatura pelo doente do TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) desresponsabiliza o médico pela sua conduta ou pelos resultados danosos que dela resultem? Como articular o consentimento informado com a medicina defensiva? Como conjugar o principio do consentimento esclarecido com o direito dos doentes «à não informação»? È necessário estudar, debater e compreender esta problemática. Por isso, é de toda a oportunidade e interesse a realização deste evento. O lançamento desta obra e o debate que ela origina, de que esta sessão pública é imagem, teve presente esta relevância e a necessidade de debater os problemas que são colocados. Como já referi, a obra hoje apresentada conta com a participação de representantes de prestigiadas Universidades de Portugal (a Universidade do Porto e de Coimbra), de Espanha (a Universidade da Corunha e do País Basco) de Itália (a Universitá di Salerno) e da Austrália (University of Tasmânia) bem como de Ilustres Magistrados. Todas estas entidades e personalidades têm uma enorme responsabilidade no melhoramento da qualidade da Justiça que efectivamente é prestada, procurando novas respostas e novas soluções para os concretos casos com que a sociedade se depara e que se colocam em última linha nos Tribunais.
Formulo votos para que ao longo desta sessão e com o debate que certamente terá lugar se consigam encontrar soluções para alguns dos graves problemas e desafios colocados pelo «Consentimento Informado». Desejo que esta Sessão possa contribuir para um melhor conhecimento desta matéria. Termino formulando votos de sucesso para este evento, para que possa contribuir para um melhor conhecimento e compreensão da questão do «Consentimento Informado». Obrigado a todos pela vossa presença. Porto, 2014/07/10