Integrando a TV Escola com a Internet através de atividades escolares



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Transcrição:

Integrando a TV Escola com a Internet através de atividades escolares Anna Friedericka Schwarzelmüller Departamento de Ciência da Computação - Universidade Federal da Bahia (UFBA) Campus de Ondina, Salvador - Ba - Brazil frieda@ufba.br Abstract. The development of a collaborative environment is presented to facilitate the creation and usage of a digital collection of TV Escola s video tapes as support of information for learning activities mediated by the Internet. The use of this environment, establishes a methodology that makes possible the integration of the informational material made available by TV Escola, with Internet, which facilitates the access to the information, supplying intelligent technologies that facilitate the processing of ideas. These resources are joined in an innovative attempt, as a way to help educators to experiment new forms of teaching and learning, taking the new technologies as their own. Resumo. Apresenta-se o desenvolvimento de um ambiente colaborativo que se propõe a facilitar a criação e a utilização de um acervo digital de vídeos da TV Escola, como suporte de informação para atividades de aprendizagem mediadas pela Internet. O uso do ambiente estabelece uma metodologia que possibilita a integração do material informacional disponibilizado pela TV Escola, com a Internet, o que facilita o acesso às informações, fornecendo tecnologias inteligentes que facilitam o processamento de idéias. Estes recursos estão unidos numa tentativa inovadora, como uma maneira de ajudar os educadores a experimentarem novas formas de ensinar e aprender, apropriando-se das novas tecnologias. 1. Introdução O mundo contemporâneo apresenta-se imerso em um ambiente onde a multimídia, com imagens e sons dos mais variados tipos, é responsável pela disseminação de grandes quantidades de informação. Assim, a imagem se torna uma forma de comunicação extremamente relevante no contexto da sociedade atual, utilizada massivamente na publicidade, na televisão, em revistas, a fim de comunicar fatos, idéias e conceitos. A comunicação de informação multimídia amplia o processo cognitivo que constrói o conhecimento no indivíduo. O Brasil é um dos grandes consumidores da imagem televisiva. Através da televisão, diariamente, milhões de brasileiros recebem uma grande quantidade de informação audiovisual, o que tem influenciado significativamente o desenvolvimento da sociedade e da população brasileiras. Algumas experiências com a Internet, na implementação de sistemas didáticos, têm comprovado que esta mídia, minimamente, traz facilidades de aprendizado a um público maior, podendo diminuir diferenças regionais e quebrando o ciclo de isolamento dos núcleos educacionais e científicos. Acredita-se que com a Internet, cujos recursos favorecem a interação e a autonomia de decisões, modalidades de utilização de

audiovisuais podem ser exploradas de forma combinada, ampliando as possibilidades, muito além da simples unidirecionalidade da televisão. Diante desse contexto, a escola é constantemente solicitada a se adequar à influência da mídia audiovisual, com suas imagens dinâmicas. No cotidiano fora da escola, professores e alunos vivem e atuam na realidade das tecnologias avançadas, em que a máquina modifica e até substitui as tarefas humanas, mas não conseguem introduzir essas novidades na escola. O que acontece por razões diversas, sendo a mais decisiva: o despreparo dos educadores para a utilização dos recursos audiovisuais. Percebendo que esses recursos constituem componente essencial para a exploração de novas possibilidades pedagógicas, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) lançou, em março de 1996, o Programa TV Escola, importante iniciativa para capacitação continuada dos professores da rede pública, com capacidade para contribuir para a melhoria do trabalho em sala de aula, driblando as dificuldades estruturais encontradas na escola pública brasileira. O Programa foi criado com o objetivo de ser mais uma estratégia para reduzir as taxas de repetência e evasão; motivar professores, alunos e comunidade escolar; incentivar atitudes autônomas como base para aprendizagem e desenvolvimento permanentes (BRASIL, 2002). No ano 2000, o Instituto de Matemática da UFBA recebeu um kit do programa, composto de: antena parabólica, receptor de sinal, televisor com controle remoto e tela de 20 polegadas, videocassete com quatro cabeças e controle remoto, além de 10 unidades de fita VHS. Foram distribuídos em todo Brasil, para as escolas com mais de 100 alunos, um total de 57.395 kits, com um aporte financeiro da ordem de 99 milhões de reais (BRASIL, 2002). Em 2002, o kit ainda não havia sido utilizado. Por esta razão, esta autora resolve propor uma disciplina, optativa para a graduação, intitulada Integrando a TV Escola com a Internet através de projetos escolares. Para subsidiar o trabalho da disciplina, uma atividade de extensão no Programa ACC 1 da UFBA, foi feita uma pequena pesquisa em algumas das principais escolas estaduais de ensino médio de Salvador, quando se comprova que 83,33% das escolas pesquisadas possui o kit TV Escola, mas apenas 6,66% usa o kit, de maneira esporádica, por iniciativa exclusiva do professor. Constata-se também que a utilização das novas tecnologias como auxiliares no processo ensino-aprendizagem e a apropriação do Programa TV Escola ocorrem de forma isolada, por iniciativa de alguns professores que já admitem o alcance estratégico na utilização dessas ferramentas para a melhoria da qualidade do ensino. Isto significa que não existe a incorporação do Programa no projeto pedagógico da escola, na direção de uma apropriação significativa visando um trabalho interdisciplinar, como preconiza o MEC. Considerando que a exclusão no Brasil já atingiu níveis muito altos, é necessário despender esforços para evitar que novas formas contribuam com o aumento das estatísticas da exclusão social, e que o tamanho das desigualdades influencie a irreversibilidade do processo. E se a tecnologia e os materiais que privilegiam novas leituras do mundo já estão na escola, não utilizá-los em prol do processo de ensinoaprendizagem e da inclusão é agir na contramão da cidadania, não colaborando para a 1 Atividade Curricular em Comunidade faz parte do Programa de Extensão da UFBA.

inclusão digital de uma parcela importante da sociedade, que ao sair da escola tem grande dificuldade em alcançar uma colocação digna no mercado de trabalho. A situação encontrada também contribui para questionar os altos gastos públicos na compra de equipamentos que não são utilizados em benefício da sociedade. Sabe-se que as tecnologias intelectuais atuam sobre o sistema cognitivo humano acrescentando não apenas informações ao estoque cognitivo, mas também novos processos. Assim, o uso da tecnologia, além de enriquecer o processo ensinoaprendizagem, propicia o desenvolvimento integral do aluno, valorizando seu comportamento emocional, crítico e imaginário. Como se exige competência na utilização fluente das novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC s) para a inserção do cidadão no mercado de trabalho, e as tecnologias de comunicação estão se desenvolvendo tão rapidamente e convergindo para facilitar a transferência de streaming 2 através dos canais de banda larga, torna-se interessante a tentativa de unir televisão e informática, para alcançar uma maior amplitude no processo de disseminação das informações da TV Escola. 2. A proposta do sistema Diante da constatação de que o Programa TV Escola não obtém a aceitação desejada nas escolas públicas de Salvador, e percebendo-se as dificuldades que o cidadão enfrenta em relação ao uso das tecnologias de informação (TI s), sugere-se um modelo que potencialize a disseminação da informação de maneira mais efetiva, eficiente e simplificada, que reforce a necessidade de uma educação para o uso da tecnologia, e que colabore com a descentralização do espaço de aprendizagem, contribuindo com a inclusão digital a partir do espaço escolar. Assim, resolve-se desenvolver um sistema baseado na Internet, que favoreça o objetivo de ajudar os educadores a experimentarem novas formas de ensinar e aprender, para auxiliarem seus alunos a se apropriarem das novas tecnologias, preparando-se para participar das transformações sociais e dos avanços tecnológicos contemporâneos. Idéia que converge para a concepção de José Manuel Moran (2000, p. 57), quando afirma que: Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação,... que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender. O ambiente INTER-TV, proposto neste trabalho, foi estruturado com o objetivo de possibilitar ao professor o desenvolvimento de atividades de aprendizagem com a utilização dos vídeos do programa TV Escola. É um ambiente colaborativo que se propõe a construir um acervo digital de vídeos da TV Escola, a ser explorado como suporte de informação para atividades educativas mediadas pela Internet, estabelecendo 2 Na tecnologia streaming, áudio ou vídeo, recebido pela Internet é imediatamente apresentado ao usuário à medida que vai sendo recebido. Não há necessidade de baixar o arquivo previamente, como no download.

uma metodologia que possibilita a integração do amplo e rico material informacional didático disponibilizado pela TV Escola, com as NTIC s, que além de facilitar o acesso às informações, fornece também uma gama de serviços e tecnologias inteligentes que facilitam o processamento de idéias. Além de ser uma proposta que proporciona a integração de tecnologias e de mídias, ela promove a inclusão digital na medida em que estimula a obtenção da competência tecnológica audiovisual, para leitura e interpretação de mensagens vinculadas a imagens e também a competência informacional, ou habilidade de uso do pensamento crítico para localizar, avaliar e usar a informação, no espaço digital. Assim, foram definidos os objetivos específicos do sistema: explorar as potencialidades da Internet no suporte a atividades de aprendizagem; elaborar uma ferramenta de autoria para produção de materiais multimídia; modelar um ambiente para produção de um acervo de materiais didáticos digitais; auxiliar no desenvolvimento de atividades de aprendizagem que colaboram para uma postura reflexiva e crítica frente a informação multimídia comunicada; fornecer subsídios para sua utilização. Figura 1. A arquitetura do ambiente 3. Aspectos Principais do Desenvolvimento O desenvolvimento do sistema, cuja arquitetura está mostrada na Figura 1, privilegia aspectos importantes de armazenamento e organização dos dados, uma vez que num ambiente distribuído como a web, é necessário que o sistema administre o fornecimento do material requisitado de forma eficiente. Essa eficiência é importante devido ao grande volume de dados de mídia contínua, e ao grande número de usuários desejando

utilizar esses dados, simultaneamente ou não, o que pode sobrecarregar o sistema ocasionalmente, tornando o acesso lento ou mesmo impossível. O acervo de vídeos, no formato digital, deve fornecer suporte para operações como armazenagem, consulta e recuperação, necessárias à elaboração de atividades de aprendizagem. Associado o cada vídeo deve existir um conjunto de informações referentes ao conteúdo do mesmo, visando auxiliar o processo de produção das atividades. A utilização de técnicas avançadas de pesquisa em conteúdos audiovisuais auxilia no processo de recuperação dos vídeos. Atenção especial é dada ao desenvolvimento da interface do usuário, que se preocupa em explorar características que encorajam o aluno a formar relacionamentos entre seu conhecimento e as novas informações que lhe são apresentadas, o que facilita a criação de novas estruturas no sistema cognitivo do aluno. Existem 3 níveis de acesso aos recursos do ambiente. Os usuários são identificados pelo servidor HTTP através do módulo de identificação e classificados em uma das categorias: administrador, aluno ou professor. Fonte: http://www.tvescola.ufba.br/acc/) Figura 2. A tela principal do ambiente O ambiente (http://www.tvescola.ufba.br/acc/) apresenta 4 áreas distintas na tela, 3 delas compostas de links, e a área central que é o espaço onde são apresentados os conteúdos. Os 3 tipos diferentes de links são: LINKS GERAIS estão localizados na parte superior da tela (Home, Quem Somos, O Projeto, A UFBA, Dúvidas, Sugestões, Login Professor), e pelos nomes dos links facilmente se deduz a que tipo de informação ele conduzirá o usuário; LINKS DE PROJETO são aqueles situados à esquerda da tela (Apresentação, Arquivos, Vídeos, Atividades, Passo a Passo) e dizem respeito a informações de um projeto de atividades, relativas aos vídeos da TV Escola; LINKS DE COLABORAÇÃO os que levam às ferramentas colaborativas

disponíveis (Fórum, Chat, Agenda, Anotações, Links interessantes, Ajuda especializada). O sistema oferece funções normais de edição de textos, de comunicação síncrona e assíncrona, de busca por palavras-chave dos vídeos cadastrados e, como se privilegia espaços e ferramentas de colaboração, as funções mais relevantes, que enfatizam a disseminação da informação de forma colaborativa são: Inserção do resumo - oferece ao professor a possibilidade de inserir o resumo do vídeo, estabelecendo palavras-chave importantes para o processo de busca do vídeo. Ao escrever o resumo, o professor já estabelece uma análise crítica das informações que o vídeo tenta disseminar, contextualizando-o ao currículo da sua turma, apontando sugestões de utilização para atividades em sala de aula. Com este ato, o professor inicia uma cadeia colaborativa de disseminação dos conteúdos do Programa TV Escola, agregando valor às informações que compõem o vídeo. Ajuda especializada - fornece a possibilidade de troca de informações com especialistas, de diversas áreas de conhecimento e de tecnologias, que se cadastram voluntariamente para atender as necessidades de professores e alunos, tanto no que diz respeito a questões técnicas, quanto didáticas ou de conteúdo. Esta funcionalidade é obtida da customização do freeware Rau-Tu da Unicamp (UNIVERSIDADE..., 2002). Construção de documentos hipermídia - possibilita ao professor a oportunidade de construir material didático com recursos hipermídia, sugerindo a utilização de elementos estratégicos para compor o documento hipermidiático, como o uso de buscas, simuladores, inserção de sons, gráficos, vídeos, imagens. O produto final desse processo é um documento que pode ser publicado na web. Construção de mapas conceituais - oferece ao aluno a possibilidade de apresentar o conhecimento adquirido através de uma representação gráfica (um mapa), onde as informações vão sendo acrescentadas e ligadas da forma como, aparentemente, estão associadas na mente do aprendiz. Ao construir o mapa conceitual, o aluno está reproduzindo o conhecimento adquirido e reforçando aquele aprendizado. Esta função é obtida a partir do software livre CMAP 3, que produz um mapa publicável na web. 4. Considerações Finais Algumas mudanças que a era da informação digital vem provocando na sociedade são irreversíveis. Se os meios educacionais não se adaptam a utilização da tecnologia tornar-se-ão obsoletos, na medida em que não apresentam uma realidade adequada ao cotidiano dos estudantes e não satisfazem suas necessidades de saber para a vida. Este estudo não apenas possibilitou a especificação de um ambiente com características adequadas à produção, armazenamento e acesso a materiais didáticos, como também a identificação de novas formas de utilização de recursos audiovisuais interativos, que podem acrescentar qualidade ao processo de ensino-aprendizagem. O sistema foi avaliado em um colégio onde o projeto ACC foi implantado. Na 3 Software disponível para download em http://cmap.ihmc.us/download/.

Figura 3 pode-se observar o gráfico que mostra de forma conjunta, a classificação dada pelos professores para as características do ambiente. Somando-se apenas as duas primeiras colunas (ÓTIMA e BOA) do gráfico, observa-se que: 80% dos professores considera que o ambiente é de fácil utilização e possui uma interface amigável; 60% acredita que o ambiente oferece facilidades para a elaboração de atividades de aprendizagem. Características do ambiente 80 % de professores 60 40 20 0 ÓTIMA BOA REGULAR RUIM Facilidade de utilização Interface amigável Facilidade para elaborar tarefas Fonte: SCHWARZELMÜLLER, 2004 Figura 3. Sobre as características do ambiente INTER-TV A Figura 4 apresenta como os professores relacionam a utilização do ambiente INTER-TV com a sua capacidade de aprendizagem e a de seus alunos. A utilização do ambiente e a cognição % de professores 70 60 50 40 30 20 10 0 maior acesso ao conhecimento Internet favorece a aprendizagem relacionamento capacidade de aprendizagem ampliada Fonte: SCHWARZELMÜLLER, 2004 Figura 4. Sobre as possibilidades cognitivas do ambiente INTER-TV O gráfico mostra que: 62% dos professores considera que a utilização do ambiente amplia o acesso ao conhecimento, para eles e seus alunos; 55% acredita que o uso da Internet favorece o processo de aprendizagem porque amplia a quantidade de informação à disposição do aluno;

apenas 30% considera que o uso do sistema modifica seu relacionamento com os alunos, considerando que as possibilidades de colaboração e de aquisição de conhecimentos são recíprocas. A baixa percentagem é esperada, uma vez que a cultura escolar ainda é a do modelo oralista em que o fluxo de informação é unidirecional; 53% considera que a capacidade de aprender dos alunos é ampliada. Os resultados alcançados nessa avaliação demonstram que o uso do ambiente INTER-TV traz novas possibilidades didáticas, dinamizando o uso do Programa TV Escola e oportunizando a troca de experiências e informações entre os professores, com a participação ativa dos alunos nas atividades desenvolvidas. Isto leva a concluir que usar o ambiente com seus recursos de integração de mídias é uma maneira de agregar valor ao processo de disseminação da informação veiculada pela TV Escola. Estes recursos estão unidos numa tentativa inovadora que promove a apropriação das tecnologias e contribui para que as escolas ultrapassem o estágio atual de insegurança e falta de domínio com relação às linguagens digital e audiovisual, preparando-se para participar das necessárias transformações sociais que levam ao desenvolvimento auto-sustentável, fundado no uso ético dos avanços tecnológicos. Na medida em que os professores se qualificam para o uso das tecnologias no currículo da escola de ensino médio, acredita-se que um sistema como o INTER-TV pode contribuir para a incorporação do Programa TV Escola no projeto pedagógico do ensino médio, de uma forma mais acessível e simplificada para o uso das TI s. Referências Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. TV Escola. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/seed/tvescola>. Acesso em: 11 jan. 2002. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Relatório TV Escola 1996 2002. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/seed/tvescola/default.shtm>. Acesso em: 12 jul. 2003. Moran, J. M. et all. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000. Schwarzelmüller, Anna F. TV escola e Internet: integração de mídias e disseminação de Informação. Dissertação (mestrado) Universidade Federal da Bahia, Instituto de Ciência da Informação, 2004. Universidade Estadual de Campinas. RAU-TU: sistema colaborativo de perguntas e respostas. Disponível em: <http://www.rau-tu.unicamp.br/>. Acesso em: 12 ago. 2002.