O COMPORTAMENTO INFORMACIONAL E A APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR

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1 III SBA Simpósio Baiano de Arquivologia 26 a 28 de outubro de 2011 Salvador Bahia Políticas arquivísticas na Bahia e no Brasil O COMPORTAMENTO INFORMACIONAL E A APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR Poline Fernandes Thomaz Graduanda em Arquivologia, bolsista de Iniciação Científica do CNPq / aluna da Universidade Estadual de Londrina, poli_arq@hotmail.com Linete Bartalo Doutora em Educação, professora adjunta do Departamento de Ciência da Informação Universidade Estadual de Londrina e atua nos cursos de Arquivologia, Biblioteconomia e Mestrado Profissional em Gestão da Informação, linete@uel.br Resumo: Com o objetivo de analisar a relação existente entre a competência informacional e a aprendizagem de alunos de dois cursos de graduação de uma universidade pública foi desenvolvida esta pesquisa como trabalho de iniciação científica. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário em escala Likert de 0 a 5 pontos que investigou a percepção dos participantes quanto ao reconhecimento de suas necessidades de informação, os sentimentos que afloram quando buscam as informações, traçou as formas de busca da informação, além de verificar o uso da informação e a percepção da satisfação das necessidades informacionais ao realizarem seus trabalhos acadêmicos. Participaram desta pesquisa 58 alunos da terceira série dos cursos de Arquivologia e de Ciência da computação da Universidade Estadual de Londrina, sendo 29 do curso de Arquivologia e 29 do curso de Ciência da Computação. O grau de frequência com que os alunos percebem que necessitam de informações além daquelas disponibilizadas pelo professor pode ser considerado alto, pois numa escala de 0 a 5 pontos a média dos participantes do curso de Arquivologia foi 4,34 e de Ciência da Computação 4,31. Para estudar, os participantes buscam a informação, em primeiro lugar, na Internet. O sentimento de competência para a busca de informação apresentou uma média de 3,02 para os participantes do curso de Arquivologia e de 3,53 para os de Ciência da Computação. Os resultados encontrados permitem afirmar que os dois grupos de participantes utilizam as informações que conseguem por intermédio de suas buscas de forma semelhante, pois a média de ambos são bastante próximas (Arquivologia m=3,67 e Ciência da Computação m=3,63). Os participantes da pesquisa acreditam que aprendem mediante suas buscas e usos de informação. Palavras-chave: Competência Informacional; Aprendizagem no ensino superior; Comportamento informacional.

2 1 INTRODUÇÃO Atualmente, o modelo tradicional de ensino deixou de ser apropriado devido às demandas por aprendizagem terem se expandido e as pesquisas científicas se desenvolvido resultando na explosão informacional. Por este motivo, as pessoas estão buscando aprender mais a cada dia pela exigência imposta pela sociedade da informação. Assim, no paradigma tradicional de educação O ensino era de massa, o aluno era padrão, o professor era quem organizava e distribuía informações e tarefas, a sala de aula era só o local de assistir a aula, os conceitos de aula, de desempenho, de professor, de aluno, não eram questionados, simplesmente do professor esperava-se que desse aula e do aluno disciplina, obediência e passividade. O ritmo e o fluxo de interações, fundamentais aos processos de aprendizagem, eram majoritariamente controlados pelo professor, que posteriormente deveria prestar contas à coordenação e direção (BARTALO, 2006, p ). A pesquisa que aqui se relata visou analisar a relação existente entre a competência informacional e a aprendizagem de alunos de dois cursos de graduação de áreas diferentes, Arquivologia e Ciência da Computação, o que possibilitou evidenciar o perfil informacional dos mesmos. Os objetivos específicos foram: 1) verificar a percepção dos participantes quanto ao reconhecimento de suas necessidades de informação; 2)traçar as formas de busca da informação; 3) descobrir quais são os sentimentos que os alunos têm quando buscam as informações; 4) verificar o uso da informação; 5) levantar as competências informacionais dos participantes nas buscas das informações; 6) conhecer a percepção da satisfação das necessidades informacionais; 7)verificar se os alunos do curso de arquivologia e ciência da computação estão aprendendo a partir de suas atividades acadêmicas. O comportamento informacional do aluno de graduação tem como foco o processo de busca e uso da informação para a elaboração dos trabalhos acadêmicos, nas formas de estudo para as avaliações, nas estratégias individuais de abordagem ao estudo, enfim, para a aprendizagem ao longo da trajetória acadêmica. Desse modo, é importante ressaltar que a informação é fundamental para que a aprendizagem se realize uma vez que o aluno tem melhor compreensão a respeito do assunto e desenvolve suas estratégias para aprender. 2 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL: Necessidade, busca e uso da Informação As pesquisas na área de comportamento informacional tem como objetivo identificar e discutir modelos de comportamento informacional nos diversos campos do saber envolvendo as atividades que tem a informação como elemento principal. Assim, o comportamento informacional dos alunos compõe-se pelas necessidades de informação, busca, acesso e utilização de informação. Comportamento informacional é todo comportamento humano relacionado às fontes e canais de informação, incluindo a busca ativa e passiva de informação e o uso da informação. Isso inclui a comunicação pessoal e presencial, assim como a recepção passiva de informação, como a que é transmitida ao público quando este assiste aos comerciais da televisão sem qualquer intenção específica em relação à informação fornecida (WILSON, 2000, p.49).

3 Os estudos de usuários da informação, tradicionalmente, investigavam os documentos solicitados pelos usuários; descobriam os hábitos e o modo da busca da informação; a sua utilização. Assim, os usuários eram estudados da perspectiva dos sistemas de informação. Atualmente, os estudos de usuários da informação partem da perspectiva do indivíduo ou do grupo que usa a informação e leva em consideração os aspectos individuais e grupais de necessidades, busca e uso da informação ancoradas nos objetivos desses indivíduos e/ou grupos. Sendo assim, hoje, estuda-se o comportamento informacional e as competências informacionais necessárias ao alcance daqueles objetivos. Esta pesquisa configura-se na perspectiva dos estudos contemporâneos que tem como foco o usuário da informação em seu ambiente, no caso, o acadêmico e procura entender seu comportamento informacional (necessidades, busca e uso da informação) contextualizado ao mesmo, além de considerar os fatores sócio-psicológicos. As necessidades de informações surgem quando o aluno não consegue dar continuidade em uma atividade e precisa de novas informações para dar sentido em um problema. Neste primeiro momento, o aluno não consegue expressar o que está faltando em conseqüência do vazio que sente, podendo ter um sentimento de insegurança e confusão. Assim, quando o aluno consegue identificar em si uma necessidade informacional desencadeia uma busca por informações para preencher o vazio que está sentindo, tendo como propósito preencher este vazio. Nessa perspectiva, a necessidade surge da falta de sentido percebida nas situações enfrentadas, causando uma lacuna de sentido que se busca preencher com o uso de informações (MIRANDA, 2006, p.103). Sendo assim, o aluno busca informação com o objetivo de solucionar um problema. Desse modo, é importante destacar que o comportamento de busca da informação é influenciado pelo ambiente que o aluno vive e o ajuda a solucionar os problemas do dia a dia e tomar decisões diante de uma situação. A informação está presente em todas as atividades do aluno e é essencial para ajuda-lo a dar continuidade em seus trabalhos acadêmicos, como também de pesquisa científica. Assim, quando o aluno não conhece um assunto busca informações com a intenção de dar continuidade em suas atividades acadêmicas gerando conhecimento e construindo significados para o seu desenvolvimento. A busca de informação é, então, o processo pelo qual o indivíduo procura informações de modo a mudar seu estado de conhecimento. Durante a busca de informação, manifestam-se alguns comportamentos típicos, entre os quais identificar e selecionar as fontes; articular um questionário, uma pergunta ou um tópico; extrair a informação; avaliar a informação; e estender, modificar ou repetir a busca (CHOO, 2006, p. 84). Para acessar as informações o aluno manifesta vários comportamentos como identificar e escolher as fontes, formular uma pergunta, mudar ou refazer a busca. Neste sentido, a busca é importante para o processo de aprendizagem uma vez que o aluno constrói conhecimento e cria significado a partir de novas informações sendo essenciais no processo de mudança do seu estado de conhecimento. A maneira como os alunos buscam as informações e o ambiente que vivem determinam o uso da informação. Desta maneira, o uso da informação se realiza no momento em que a informação se torna útil para um grupo de pessoas e desempenha um papel importante na solução dos problemas. O uso da informação é situacional. O meio social ou profissional ao qual o indivíduo pertence, a estrutura dos problemas enfrentados pelo grupo, o ambiente onde os grupos vivem ou trabalham e o modo de resolver os problemas tudo isso se 3

4 combina para estabelecer um contexto para o uso da informação (CHOO, 2006, p. 111). O ambiente que o aluno vive, influencia o comportamento de uso da informação, portanto, isso depende de como ele resolve os problemas do dia a dia. Desse modo, quando o aluno usa as informações muda seu estado de conhecimento de modo que consegue solucionar um problema, responder uma pergunta e tomar decisões. Em suma, o aluno usa as informações para criar significados no seu meio; preencher o vazio que esta sentindo e desenvolver novas competências, entre outras. 3 COMPETÊNCIA INFORMACIONAL O aluno competente desenvolve habilidades que facilitam a busca e o uso da informação. Quando o aluno começa sua busca cria critérios para selecionar, acessar e em seguida avaliar as informações, por fim, ele usa as informações de acordo com os objetivos propostos. É importante destacar que na educação superior alguns alunos sentem dificuldade de desenvolver suas competências informacionais. Nessa perspectiva Cavalcante (2006, p.52) ressalta que muitos entram e saem de um curso superior com pouco ou nenhum conhecimento sobre competência no uso eficaz da informação para o desenvolvimento profissional. Em alguns casos, este fator vai contribuir para o abandono ou trancamento, número de anos no curso além da média, dificuldades de integração, descontentamento com a área que escolheu ou falta de oportunidades no mercado de trabalho. Devido alguns alunos não desenvolverem suas competências informacionais na educação superior eles têm dificuldades de dar continuidade no curso que escolheram. 4 CONTORNOS METODOLÓGICOS Participaram desta pesquisa 58 alunos sendo 29 alunos da terceira série do curso de Arquivologia e 29 também da terceira série do curso de Ciência da Computação da Universidade Estadual de Londrina. A terceira série foi escolhida por presumir-se que estando na metade do curso superior, o aluno já tenha estabelecido suas próprias formas de busca e uso da informação para desenvolver seus trabalhos acadêmicos. Todos os participantes responderam a um questionário com 27 questões em escala likert de 0 a 5 pontos, onde 0 representa nada característico no comportamento e 5 totalmente característico, sendo que as posições intermediárias (1, 2, 3 e 4) são graus entre estes dois extremos. As questões do questionário identificaram as necessidades informacionais, as formas de busca e uso da informação e as competências informacionais dos participantes, além de levantar o grau de percepção que eles têm de suas competências informacionais e investigar qual o relacionamento dessas competências com a satisfação de suas necessidades informacionais acadêmicas e sua aprendizagem. A aplicação do questionário foi realizada em sala de aula para ambas as turmas separadamente e os alunos que responderam ao questionário assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Os dados coletados por meio do questionário foram tabulados no Programa Excel e analisados de acordo com os objetivos propostos para este estudo. 5 RESULTADOS 4

5 Os participantes do curso de Arquivologia têm idades que variam de 19 a 50 anos, com uma média de 29 anos e os de Ciência da Computação tem idades que variam de 19 a 25 anos, com uma média de 21 anos, sendo que 69% dos alunos de Arquivologia são mulheres e 31% homens e os de Ciência da Computação, 17% são mulheres e 83% são homens. Entre os alunos do curso de Arquivologia, apenas dois cursaram o ensino médio em escolas particulares enquanto que no curso de Ciência da Computação foram nove. Os resultados, apresentados na Tabela 1, demonstram que os participantes, de um modo geral, tem uma média semelhante e equilibrada em todos os aspectos investigados neste estudo. Tabela 1 - Médias dos Aspectos da Competência Informacional dos Participantes (N=58) Aspectos da Competência Informacional Reconhecimento das Necessidades Sentimentos de Competên- Percepção da Satisfação das Necessi- Percep- Cursos Formas de cia na dades ção da Informacionais Busca da Busca da Uso da Informa- Aprendi- Informação Informação Informação cionais zagem Arquivologia - n= 29 4,34 2,42 3,02 3,67 3,60 3,89 Ciência da Computação - n=29 4,31 2,51 3,53 3,63 3,72 3,68 No aspecto reconhecimento das necessidades informacionais, o comportamento dos alunos é bastante frequente uma vez que numa escala de 0 a 5 pontos os alunos do curso de Ciência da Computação tiveram uma média de 4,31 e os do curso de Arquivologia uma média de 4,34. Esse percentual indica que esses alunos reconhecem quando tem uma necessidade de informação, seja para resolver um problema ou realizar uma atividade proposta pelo professor. No geral, os participantes possuem uma habilidade maior para reconhecer suas necessidades informacionais do que para criar estratégias de busca da informação (m=2,42 para os alunos do curso de Arquivologia e m=2,51 para os alunos de Ciência da Computação). No que diz respeito aos sentimentos de competência que afloram durante o processo de busca da informação, os alunos do curso de Arquivologia (m=3,02) têm uma média ligeiramente abaixo da média dos participantes do curso de Ciência da Computação (m=3,53). Isto pode significar que os alunos de Ciência da Computação sentem-se mais competentes para buscar informações necessárias ao desenvolvimento de seus trabalhos acadêmicos e para estudarem para as provas. A respeito do aspecto uso da informação, os resultados encontrados permitem afirmar que os dois grupos de participantes utilizam as informações que conseguem por intermédio de suas buscas de forma semelhante, pois a média de ambos são bastante próximas (Arquivologia m=3,67 e Ciência da Computação m=3,63) o que significa que a frequência de comportamento é moderada. No aspecto percepção da satisfação das necessidades informacionais as médias dos dois grupos de participantes são bastante semelhantes (Arquivologia m=3,60 e Ciência da Computação m=3,72) sendo um comportamento de frequência moderado já que a média encontra-se numa posição intermediária entre o mínimo (0-nada característico) e o máximo (5-totalmente característico) que poderia ser obtido. Isto significa que os participantes 5

6 encontram-se medianamente satisfeitos com sua competência informacional no que tange à satisfação de suas necessidades informacionais. No aspecto percepção da aprendizagem as médias encontradas para os alunos dos dois cursos (Arquivologia m=3,89 e Ciência da Computação m=3,68) encontram-se numa posição intermediária, podendo-se afirmar que os participantes percebem que estão aprendendo influenciados pela sua competência informacional. 5 CONCLUSÃO A relação entre a competência que o aluno de graduação possui e sua aprendizagem é tema de investigação de educadores preocupados com a formação acadêmica e que buscam nos resultados destas investigações novas formas de melhorar a aprendizagem, visando a uma formação mais adequada às demandas contemporâneas. O aluno que tem competência informacional tem capacidade de perceber quando tem uma necessidade de informação, buscar, avaliar e usar as informações, de modo, que seu aprendizado se desenvolva de forma global e assim aprenda a aprender e aprenda ao longo da vida. Assim, o aluno competente tem acesso rápido às informações e resolve os problemas com facilidade. Com isso tem oportunidade de utilizar as informações de modo que seu conhecimento se amplie e em decorrência, a aprendizagem seja mais eficiente. REFERÊNCIAS BARTALO, Linete. Mensuração de estratégias de estudo e aprendizagem de alunos universitários : learning and study strategies inventory (LASSI) adaptação e validação para o Brasil. Marília: UNESP, Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho", Marília, CAVALCANTE, Lídia Eugenia. Políticas de formação para a competência informacional: o papal das universidades. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação: Nova Série, São Paulo, v.2, n.2, p.47-62, dez CHOO, Chun Wei. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São Paulo: Editora Senac São Paulo, MIRANDA, Silvâna. Como as necessidades de informação podem se relacionar com as competências informacionais. Ciência da Informação. Brasília, v.35, n.3, set/dez Disponível em: < Acesso em: 30 ago WILSON, Thomas Daniel. Human information behavior. Informing Science, v.3, n.2,p , Disponível em: Acesso em: 23 jun