Artigo de Pesquisa considerações sobre o planejamento e confecção de facetas diretas em resina composta Renata Corrêa Pascotto*, Margareth Calvo Pessuti Nunes**, Guilherme Boselli*** Resumo A realização de facetas vestibulares diretas em resina composta tem sido uma alternativa rotineiramente utilizada na clínica odontológica quando há a necessidade de se restaurar dentes anteriores com alteração de cor ou forma anatômica. Além de representarem um recurso valioso dentro da Odontologia estética, uma vez que requerem um preparo conservador, apresentam menor custo quando comparadas às técnicas indiretas, estando assim ao alcance de todos os profissionais da área odontológica. A realização de uma faceta direta em resina composta requer do profissional que pretende executá-la o conhecimento das propriedades mecânicas e ópticas dos compósitos bem como das técnicas restauradoras atualmente disponíveis. Além disso, é fundamental que se tenha habilidade manual e familiaridade com os detalhes anatômicos específicos da superfície vestibular dos dentes anteriores a fim de que eles possam ser reproduzidos com naturalidade na restauração. O objetivo do presente trabalho é discutir aspectos importantes no planejamento bem como na técnica de preparo e confecção das facetas diretas em resina composta procurando orientar o clínico na decisão e realização dessa modalidade de tratamento restaurador. Palavras-chave: Resina composta. Faceta laminada. Microscópio operatório * Professora adjunto na área de Dentística da Universidade Estadual de Maringá. ** Professora adjunto na área de Dentística da Universidade Estadual de Maringá e Centro Universitário de Maringá (CESUMAR). *** Cirurgião-Dentista graduado pela Universidade Estadual de Maringá. 50 R Dental Press Estét, Maringá, v. 4, n. 4, p. 50-60, out./nov./dez. 2007
Renata Corrêa Pascotto, Margareth Calvo Pessuti Nunes, Guilherme Boselli INTRODUÇÃO A confecção de facetas diretas em resina composta consiste na aplicação estratificada desse material sobre a superfície vestibular dos dentes a fim de favorecer a estética 7. Como indicação geral pode-se dizer que uma faceta direta em resina composta deverá ser planejada naqueles casos onde 2/3 ou mais da estrutura vestibular esteja comprometida por alteração de cor, tamanho, forma e/ou textura, alterações essas impossíveis de seres corrigidas por técnicas mais conservativas como: restaurações convencionais, clareamento dental e microabrasão 4,14 (Fig.1A, 1B). É importante definir quando deve ser realizado um procedimento desta natureza, pois pode ser menos invasivo que a confecção de uma coroa protética, mas é sem dúvida, menos conservativo que um clareamento ou que uma restauração convencional de classe IV ou classe V, por exemplo. Logo, é necessário que o operador verifique se realmente há a possibilidade e a necessidade da realização de tal procedimento. Apesar de todo o aperfeiçoamento tecnológico, nenhum material restaurador disponível atualmente substitui em condições de igualdade a estrutura dentária natural. Além disso, as restaurações sofrem envelhecimento em função das condições inóspitas do meio bucal que levam a necessidade de substituições freqüentes tornando a estrutura dentária remanescente cada vez mais debilitada e susceptível à fratura. Dessa forma, torna-se oportuno discutir aspectos importantes no planejamento restaurador, bem como durante a técnica de preparo e confecção das facetas diretas em resina composta, a fim de orientar o clínico na decisão e realização dessa modalidade de tratamento restaurador, tão amplamente realizada na rotina dos consultórios odontológicos. Figura 1A - Aspecto clínico inicial do dente 21 escurecido após traumatismo que levou à fratura coronária e necessidade de tratamento endodôntico. Figura 1B - Imagem observada no microscópio operatório (8X). Observar a riqueza de detalhes da anatomia do dente 11. Planejamento e confecção Com a evolução tecnológica alcançada pelas resinas compostas, especialmente com relação às propriedades mecânicas e ópticas, as facetas vestibulares diretas têm sido cada vez mais empregadas na clínica odontológica quando há a necessidade de se restaurar dentes anteriores com alteração de cor ou forma anatômica. R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008 51
considerações sobre o planejamento e confecção de facetas diretas em resina composta As facetas diretas requerem do operador uma boa experiência clínica e conhecimento quanto às diferentes marcas de resina composta existentes no mercado, bem como as técnicas de estratificação. Além disso, são inadequadas para dentes muito escurecidos, uma vez que é difícil a execução de uma faceta direta que possibilite a reprodução adequada da cor sem que a tonalidade do fundo interfira e prejudique na aparência estética final da restauração 1,15. Todos os compósitos em pequena espessura permitem, em maior ou menor grau, a passagem da luz através deles (translucidez). Para minimizar o efeito do fundo escuro na aparência final da restauração, o profissional poderá utilizar-se de vários recursos, como por exemplo: a) aumento intencional da espessura do compósito, resultando em um sobrecontorno da restauração; b) aprofundamento do preparo; c) emprego de opacificadores em associação com as alternativas descritas acima 1 ; d) uso de agentes clareadores localmente antes da realização do preparo. Esta última alternativa apresenta resultados muito satisfatórios, quando associada com a técnica de facetas diretas, uma vez que uma das maiores dificuldades na realização desse procedimento é o mascaramento (quando necessário) das estruturas remanescentes pigmentadas. O agente clareador pode ser aplicado intra-câmara pulpar e/ou externamente a coroa dentária. Independente da técnica utilizada é recomendado que se aguarde no mínimo 15 dias após o término do tratamento para a realização dos procedimentos restauradores adesivos6. Esse tempo é necessário para que ocorra a remoção de todos os resíduos do gel clareador da estrutura dentária, evitando assim a diminuição na resistência adesiva 6,16. Dependendo da cor e da intensidade de escurecimento do dente, um ou mais corantes ou agentes opacificadores poderão ser utilizados para mascarar o fundo do preparo, uma vez que esses materiais podem ser aplicados em uma fina película sem interferir de maneira significativa na espessura final da restauração 7. Por outro lado, a aplicação de pigmentos opacos para mascarar um elevado grau de escurecimento é problemática, pois, pode-se, por meio desse procedimento, causar uma opacificação excessiva, obtendo-se no final um aspecto demasiadamente artificial 15. É importante avaliar os contatos oclusais existentes em máxima intercuspidação habitual e nos movimentos excursivos, tanto em lateralidade quanto em protrusão, especialmente nos casos em que houver necessidade de recobrimento incisal com resina composta, para restituir a guia anterior 9. Outro aspecto que precisa ser analisado é o posicionamento dos dentes. Para isso, é recomendável a obtenção de um modelo de estudo que permita o planejamento do caso principalmente quando houver falta ou excesso de espaço, vestibularização acentuada de um ou mais elementos, discrepância de alinhamento e inclinação dentária entre outras anomalias 15. O profissional não deve desconsiderar a influência que o contorno gengival tem na dimensão da coroa dental e na harmonia do sorriso, em especial naqueles pacientes que apresentam uma linha do sorriso alta. Quando houver uma discrepância na proporção altura/largura da coroa clínica em função de um excesso de tecido gengival e/ou ósseo, provocando um sorriso gengival pode-se indicar uma cirurgia plástica periodontal a fim de restabelecer o equilíbrio dento-facial 8. Antes de iniciar o preparo propriamente dito, deve-se observar o dente em diferentes ângulos, inserindo um fundo escuro na face lingual 52 R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008
Renata Corrêa Pascotto, Margareth Calvo Pessuti Nunes, Guilherme Boselli dos incisivos a fim de favorecer a visualização da opalescência do esmalte, das cores, dos graus de saturação, de opacidade e translucidez da estrutura dentária. Um ambiente iluminado impropriamente certamente trará dificuldades para a seleção correta da cor 15. As lâmpadas chamadas de luz do dia apresentam uma temperatura elevada, acima de 5000 K, sendo mais apropriadas para se fazer a determinação da cor. Uma lâmpada que pode ser escolhida para a iluminação do consultório é a Phillips Super 8415. A obtenção de um campo de trabalho seco e livre de umidade é fundamental durante a execução de facetas diretas de resina composta, e essa condição pode ser obtida com o isolamento absoluto do campo operatório utilizando dique de borracha e grampo de retração gengival 212 ou com o isolamento relativo com o uso de fio retrator (Fig. 8), posicionado no sulco gengival, afastador de lábios, roletes de algodão, gaze e um sugador potente 1,7. Em trabalhos onde se busca excelência de resultados e onde a precisão é determinante para o sucesso do tratamento, como é o caso das facetas diretas, é muito importante que o profissional trabalhe em condições ótimas de iluminação e visualização. Esses dois aspectos são privilegiados quando se faz uso da magnificação proporcionada pela microscopia operatória 3,13. O microscópio operatório proporciona aumentos variados de 3 a 20X (dependendo do modelo e configuração) e uma iluminação que ultrapassa os 80.000 lux. Além disso, proporcionam conforto visual durante o trabalho, uma vez que os olhos ficam relaxados e orientados de forma paralela e não convergente, como quando são usadas as lupas. Outro aspecto importante durante a fase de preparo da estrutura dentária, é que a magnificação oferecida pelo microscópio operatório nos possibilita uma observação e distinção ótima das estruturas anatômicas dentais 12 (Fig. 1B). Com tal discernimento, os preparos podem ser realizados de forma minimamente invasiva preservando estrutura dentária sadia. Além disso, favorece em muito o acabamento e polimento cervical, o que é extremamente importante para a saúde gengival. Preparo dentário A confecção da canaleta cervical é realizada com a ponta diamantada 1014, que apresenta um diâmetro de 1,6mm. Em muitos casos, a margem deverá ser estendida subgengivalmente em até 0,5mm. Independente da sua localização (sub ou supra-gengival), o acabamento do término cervical, deverá ser preferencialmente em chanfrado 1 (Fig. 2). As canaletas vestibulares podem ser realizadas de duas maneiras: confeccionando sulcos horizontais com as pontas diamantadas em forma de roda (4141 e 4142), ou verticais acompanhando as inclinações no sentido do longo eixo da coroa. Neste caso, utiliza-se uma ponta diamantada tronco-cônica de extremo arredondado como a de número 2135 (Fig. 3). As canaletas devem ser realizadas inicialmente na metade da face vestibular (técnica da silhueta) (Fig. 4). No preparo para faceta, desde que não haja alterações de cor mais significativas, indica-se um desgaste de 0,5 mm na região cervical e de 0,8 mm no terço médio-incisal. Sendo assim, procura-se trabalhar com a metade da ponta ativa 2135 a qual apresenta um diâmetro máximo de 1,6mm 15. Realiza-se em seguida a união das canaletas desgastando-se a estrutura dentária adjacente às mesmas 8. A técnica da silhueta permite nesta R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008 53
considerações sobre o planejamento e confecção de facetas diretas em resina composta Figura 2 - Confecção da canaleta cervical no dente 21 em alta rotação com ponta diamantada 1014. Figura 3 - Confecção de canaleta de orientação vestibular com ponta diamantada 2135. Figura 4 - Canaletas de orientação vestibulares realizadas na metade mesial. Figura 5 - Aspectos vestibular e incisal do hemi-preparo confeccionado, permitindo verificar e adequar se necessária a profundidade do desgaste requerido para a confecção da faceta direta. Figura 6 - Aspectos vestibular e incisal do preparo finalizado, onde observa-se a pequena espessura de estrutura dental removida, término cervical em chanfrado e a manutenção dos contato proximais. 54 R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008
Renata Corrêa Pascotto, Margareth Calvo Pessuti Nunes, Guilherme Boselli Figura 7 - Imagem do término cervical observada com 12,5X no microscópio operatório. Notar o posicionamento correto do zênite gengival. Figura 8 - Fio de retração (Ultrapack #000 Ultradent) posicionado no sulco gengival promovendo isolamento relativo e afastamento gengival. etapa, a análise do desgaste realizado pela comparação com a metade ainda intacta, permitindo eventuais correções (Fig. 5). O término do preparo na região interproximal em dentes com pequena ou nenhuma alteração de cor, deverá geralmente, ficar aquém da área de contato no sentido vestíbulo-lingual1 (Fig. 6, 7). Na margem incisal, sempre que possível deve-se procurar realizar o preparo por vestibular, tipo janela 7. No entanto, quando o recobrimento da borda incisal estiver indicado, o profissional pode confeccionar um desgaste nessa área de aproximadamente 1,5mm de profundidade, com a ponta diamantada 4138. Técnica restauradora Para o condicionamento ácido, deve-se proteger as superfícies contíguas dos dentes vizinhos com uma tira de poliéster, evitando a possibilidade de aderência do adesivo e/ ou da resina composta no dente vizinho e auxiliando a obtenção do ponto de contato proximal e o adequado acabamento e polimento dessa área8. Inicialmente faz-se a aplicação do ácido fosfórico a 37% por 15 segundos apenas nas margens de esmalte e, então, na dentina por mais 15 segundos, permanecendo por um total de 30 segundos de esmalte e 15 segundos na dentina, seguido de lavagem com spray ar/ água pelo mesmo tempo do condicionamento10. Logo após deve-se secar com cuidado a superfície dentária, em especial quando a dentina estiver exposta (Fig. 9). A aplicação e polimerização do sistema adesivo deverá ser realizada seguindo-se as recomendações do fabricante para o seu uso adequado 1. Terminada a fase de preparo as atenções voltam-se a aplicação dos opacificadores, das resinas compostas e dos caracterizadores (corantes) selecionados para o caso. Esse planejamento visual das cores deve ser realizado de forma criteriosa e preferencialmente em observações feitas em consultas anteriores (fase de planejamento), trazendo tranqüilidade e poupando tempo clínico no dia do procedimento restaurador. Uma ótima alternativa é a confecção de um mapa cromático baseado nas características dos dentes adjacentes 1,2. Para tal, o clínico deve sempre que possível R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008 55
considerações sobre o planejamento e confecção de facetas diretas em resina composta Figura 9 - Condicionamento ácido e aplicação do adesivo. Notar o uso da matriz de poliéster protegendo os dentes vizinhos. fazer uso de escalas de cores próprias de cada marca comercial, ou realizar a manobra simples de colocar pequenos incrementos de resina composta sobre a estrutura dentária e polimerizá-los, para selecionar os compósitos que irá utilizar. Isso porque existem diferenças nas características visuais entre as escalas cerâmicas (tipo VITA) e as propriedades ópticas das resinas compostas. A próxima etapa é avaliar a necessidade da utilização de agentes opacificadores. Todas as resinas compostas, em maior ou menor grau, apresentam translucidez, o que pode levar a uma restauração final acinzentada quando o fundo estiver escurecido. Os opacificadores, as tintas e as resinas opacas têm altíssimo valor (luminosidade) e mesmo em finas camadas são efetivos, portanto devem ser utilizados com cautela já que em quantidade excessiva podem criar uma restauração com características artificiais. Um agente opacificador deverá após a sua aplicação bloquear no máximo 50% da cor do fundo (Fig. 10), uma vez que os outros 50% serão mascarados com as camadas de compósitos de dentina e esmalte que serão aplicados subseqüentemente. Isso é importante para que a restauração reproduza as características de translucidez da estrutura dentária natural. Sua aplicação poder ser feita utilizando-se um microbrush assim como a remoção de possíveis excessos, e sua polimerização deve sempre seguir a recomendações do fabricante sendo na maioria das vezes mais demorada (em torno de 60 segundos). Os dentes naturais são policromáticos. Geralmente apresentam uma saturação maior da cor no terço cervical que vai gradativamente diminuindo até o terço incisal. No caso da realização de facetas diretas onde toda a face vestibular do dente foi preparada, o clínico deve estar atento a reprodução desta característica, utilizando-se de resinas com diferentes saturações. Pode-se ainda fazer uso de corantes especiais (ocre, laranja, amarelo, etc.) para definir melhor a coloração degrade presente nos dentes naturais. A inserção dos incrementos de resinas de diferentes graus de saturação, deve sempre ser feita de forma que eles sejam mais espessos na região cervical e acabem e zero quando forem se aproximando da região incisal, onde devem ser definidos os mamelos. Os incrementos podem ser inseridos e polimerizados um a um, ou 56 R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008
Renata Corrêa Pascotto, Margareth Calvo Pessuti Nunes, Guilherme Boselli Figura 10 - Aplicação do agente opacificador (Monopaque Ivoclar). Figura 11 - Aplicação do agente opacificador (Monopaque Ivoclar). R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008 57
considerações sobre o planejamento e confecção de facetas diretas em resina composta inseridos de forma contínua e polimerizados posteriormente tentando então mesclá-los de forma mais natural. Para qualquer que seja a forma escolhida aconselha-se o uso de um pincel de boa qualidade preferencialmente com pêlos de camelo ou marta para a acomodação dos incrementos (Fig. 11). É importante também que nesta fase que o operador tente visualizar a espessura de resina referente à dentina que está sendo colocada e tenha em mente que ainda será necessária uma última camada referente ao esmalte. Essa análise pode ser feita com auxílio de um espelho posicionado por incisal. Isto evita um sobrecontorno dessa camada e auxilia na reprodução da anatomia dentinária, o que também influenciará no resultado óptico final da restauração. O terço incisal representa um dos maiores desafios restauradores. Por se tratar de uma área muito rica em detalhes, geralmente requer uma caracterização especial. A reprodução dessa área começa ainda na fase de inserção das resinas referentes à dentina quando são definidos os mamelos dentinários. A área opalescente que forma uma transparência na região entre os mamelos e a borda incisal e que se estende até as faces proximais, deve ser reproduzida com o auxílio de corantes nas tonalidades azul ou cinza e não com resinas compostas transparentes de efeito como é realizado nos caso de restaurações de classe IV ou de fratura. Nesses casos não existe um anteparo opaco, de tal forma que a luz pode atravessar esses compósitos conseguindo o efeito opalescente (Fig. 12). O efeito de halo opaco presente no limite incisal pode ser reproduzido com o uso de corantes na cor branca ou utilizando-se resina composta opaca disposta em um pequeno filete. A camada de resina composta referente ao esmalte vem logo a seguir, e deve sempre que possível ser colocada de forma única e distribuída com o uso de um pincel, com movimentos de cervical para incisal onde serão retirados os possíveis excessos. Há de se verificar também a necessidade de utilizar compósitos com propriedades fluorescentes para esta camada. Essas resinas reproduzem a capacidade (que no dente natural cabe a dentina) de absorção da energia luminosa (ondas curtas invisíveis) e difusão da mesma em um espectro visível 17. Esse efeito é notado comumente sob luz negra, comumente encontrada em casas noturnas. A fluorescência natural dos dentes lhes confere nesse tipo de iluminação uma coloração branca azulada. Por outro lado as resinas que não possuem essa característica apresentam-se escuras. Nos casos onde os dentes adjacentes ao facetado apresentam uma superfície extremamente lisa ou brilhosa, o operador pode ainda lançar mão de uma última camada de resina composta de micropartículas recobrindo toda a superfície da restauração. Esses compósitos apresentam alta capacidade de polimento, mas em contra partida baixa resistência mecânica e, portanto o seu uso é recomendado em finas camadas, que terminam em zero na borda incisal (Fig. 13). Um acabamento mais grosseiro pode ser realizado ainda na sessão restauradora, principalmente da área cervical utilizando lâminas de bisturi (Fig. 14). Quando possível, o acabamento e polimento final devem ser realizados em outra sessão clínica. Tal atitude permite que o profissional esteja mais descansado com relação à visualização da restauração em todos os seus aspectos. A fase de polimento é extremamente importante. É nela que o profissional procurará reproduzir as características superficiais que confe- 58 R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008
Renata Corrêa Pascotto, Margareth Calvo Pessuti Nunes, Guilherme Boselli Figura 12 - A caracterização da região incisal pode ser realizada utilizando corantes nas cores azul e cinza. Figura 13 - Camada de resina composta referente ao esmalte. Essa camada deve ser aplicada em um único incremento evitando o aparecimento de emendas. Figura 14 - Remoção de excessos de resina na região cervical com auxílio de um afastador de gengiva e lâmina de bisturi n 12. Figura 15 - Utilização de grafite para evidenciar as características de textura superficial do dente 11 e transferência das mesmas para o dente 21. rem ao dente aspectos de naturalidade. Para tal existem inúmeros materiais, sendo aconselhável a utilização daqueles com os quais o clínico esteja mais familiarizado. A textura superficial do esmalte tem, entre outras funções, a de manter o molhamento, já que consegue reter por mais tempo a saliva sobre a superfície dentária. Além disso, pode interferir na coloração do dente principalmente no que se refere ao valor (luminosidade). A sua reprodução deve começar com a observação minuciosa dos dentes adjacentes ao facetado1, principalmente o seu homólogo no hemi-arco oposto (Fig. 3). Quando essas referências não estiverem disponíveis, como nos casos onde são realizadas múltiplas facetas, pode-se criar a textura superficial. Para isso algumas características devem ser observadas. A observação e correlação da idade do paciente com suas características dentais são importantíssimas quando se busca naturalidade ao final da restauração. Durante toda vida os dentes são expostos a várias situações que com o passar do tempo modificam seu formato anatômico, suas R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008 59
considerações sobre o planejamento e confecção de facetas diretas em resina composta Figura 16 - Reprodução da textura superficial finalizada com o auxílio de uma ponta diamantada 2135 acionada em baixa rotação. características ópticas e sua textura de superfície. Dentes jovens têm uma anatomia rica, com lóbulos e mamelos incisais pronunciados, apresentam o esmalte ainda pouco translúcido (alto valor) e com características de superfície como os sulcos horizontais e verticais ainda praticamente intocados. Com o passar dos anos, essas características sofrem modificações decorrentes das funções habituais de mastigação e escovação, de forma que os dentes passam a apresentar características de envelhecimento como: facetas de desgaste incisais, coloração mais saturada decorrente do aumento de translucidez (baixo valor) do esmalte e uma superfície polida e em grande parte das vezes sem características de anatomia secundária como sulcos ou periquimácias. Apesar de inevitáveis, essas modificações ocorrem em diferentes graus em cada indivíduo, portanto entre os dois extremos de idade dental as diferenças são incontáveis, e o clínico deve, além de conhecimento, ter bom senso ao finalizar suas restaurações mantendo a individualidade de cada sorriso. Para a confecção da textura do esmalte é importante e conveniente que o profissional siga uma seqüência lógica de procedimentos, o que lhe poupará tempo e trabalho. A percepção da textura é o primeiro passo e pode ser realizada com o auxílio de grafite ou papel carbono. Esse dois materiais quando esfregados contra a superfície dentária evidenciam as características de relevo da estrutura natural, como os lóbulos de desenvolvimento, as características das áreas planas, as linhas de 60 R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008
Renata Corrêa Pascotto, Margareth Calvo Pessuti Nunes, Guilherme Boselli Figura 17 - Comparativo do caso, antes e depois da realização da faceta direta em resina composta. Notar o brilho superficial obtido após o procedimento de polimento. Figura 18 - Vista frontal e lateral após 45 dias do caso realizado reflexão da luz e o posicionamento bem como a profundidade dos sulcos horizontais e verticais (Fig. 15). Depois de analisadas as características dos dentes adjacentes, faz-se a transferência delas para a restauração. Inicialmente realiza-se a demarcação com grafite de onde serão posicionadas as linhas de brilho. São elas que delimitarão a área plana da superfície da restauração e o seu posicionamento deve ser simétrico ao dente homólogo, principalmente nos incisivos centrais. A reprodução dos sulcos de desenvolvimento é realizada da mesma maneira. Após a sua demarcação, são realizados os desgastes com o auxílio de pontas diamantadas para acabamento (granulação fina) ou borrachas abrasivas. Os sulcos horizontais referentes às periquimáceas devem ser demarcados em forma de linhas concêntricas (linhas de Retzius), com o auxílio de pontas diamantadas com maior granulação de forma suave (Fig. 16). O polimento final deve ser cuidadoso de forma a evidenciar, e não apagar a textura criada. Nesta etapa pode-se utilizar discos de feltro e pastas diamantadas para realçar o brilho (Fig. 17). R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008 61
considerações sobre o planejamento e confecção de facetas diretas em resina composta Figura 18 - Vista frontal do sorriso do paciente. Conclusões As facetas diretas em resina composta representam um recurso valioso dentro da Odontologia estética, pois necessitam de pouco ou até mesmo nenhum desgaste da estrutura dentária; apresentam menor custo comparativamente às técnicas indiretas; são facilmente reparadas, quando necessário, estando ao alcance de todos os profissionais, clínicos ou especialistas. Existem porém, situações que limitam a sua utilização como a presença de oclusão desfavorável (topo-a topo), hábitos parafuncionais, presença de hábitos bucais que causem estresse excessivo sobre as restaurações (roer unha ou morder lápis), enfraquecimento demasiado das estruturas dentárias ou dentes muito escuros. A l é m disso, é fundamental que o profissional tenha conhecimento dos materiais e técnicas restauradoras atualmente disponíveis, bem como destreza manual a fim de reproduzir adequadamente os aspectos anatômicos tão importantes para proporcionar naturalidade a restauração. Assim é fundamental para o sucesso clínico a longo prazo, que durante a etapa de planejamento restaurador o profissional avalie cautelosamente todas as condições presentes, utilizando-se de exames complementares ao exame clínico como radiografias e modelos de estudo a fim de assegurar a correta indicação e confecção das facetas diretas em resina composta. 62 R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008
Renata Corrêa Pascotto, Margareth Calvo Pessuti Nunes, Guilherme Boselli considerations about planning and confeccion of direct composite laminate venners Abstract The realization of the direct composite laminate veneers has been an alternative often used in dental clinic when there is necessary to restore teeth with alteration of color or anatomical form. Besides they represent a valuable resource inside of the aesthetic Dentistry, once they request a conservative preparation, present smaller cost when compared to the indirect techniques, being on the reach of entire professionals of Dental area, the accomplishment of a direct laminate veneer in composite resin requests of the professional that intends to execute it the knowledge of the mechanical and KEY WORDS: Composite resin. Laminate veneers. Operative microscope. optical properties of the composites as well as the restorative techniques now available. Besides, it is fundamental that it is had manual ability and familiarity with the specific anatomical details of the buccal surface of the anterior teeth so that they can reproduced it naturally in the restoration. The objective of the present work is to discuss important aspects in the planning as well as the preparation technique and making of the direct facets in composed resin trying to guide the clinician in the decision and accomplishment of that modality of restoring treatment. Referências 1. BARATIERI, L. N. et al. Estética: restaurações adesivas diretas em dentes anteriores fraturados. 2. ed. São Paulo: Ed. Santos, 1998. 2. BARATIERI, L. N. et al. Composite restorations in anterior teeth: fundamental and possibilities. São Paulo: Quintessence, 2005. 3. BAUMANN, R. R. How may the dentist benefit from the operating microscope? Quintessence Int., Berlin, v. 5, p. 178, May 1977. 4. BUSATO, A. L. S. et al. Dentística: restauração em dentes anteriores. São Paulo: Artes Médicas, 1997. 5. CARVALHO, R. M. Adesivos dentinários fundamentos para aplicação clínica. Rev. Dent. Rest., [s.l.], v. 1, no. 2, p. 2-96. 6. CAVALLI, V. et al. The effect of elapsed time following bleaching on enamel bond strength resin composite. Oper. Dent., Seattle, v. 26, no. 6, p. 579-602, 2001. 7. CONCEIÇÃO, E. M. Dentística: saúde e estética. São Paulo: Artes Médicas, 2000. 8. GALAN, J. R. Dentística restauradora: o essencial para o clínico. São Paulo: Ed. Santos, 1998. 9. GOLDSTEIN, R. E. A estética em Odontologia. 2. ed. São Paulo: Ed. Santos, 2000. 10. IORIO, P. A. C. Dentística clínica adesiva e estética, São Paulo: Ed. Santos, 1999. 11. MONDELLI, J. et al. Dentística procedimentos pré clínicos. São Paulo: Ed. Santos, 2002. 12. PASCOTTO, R. C. Odontologia estética: o estado da arte. 1. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2004. cap. 20, p. 487-506. 13. SHEETS, C. G.; PAQUETTE, J. M.; HATAKE, K. The clinical microscope in an esthetic restorative practice. J. Esthet. Rest. Dent., Hamilton, v.13, no. 3, p.187-200, 2001. 14. SILVA E SOUZA J. R. M. H.; CARVALHO, R. M.; MONDELLI, R. F. L. Odontologia estética fundamentos e aplicação clínicas restaurações com resina composta. São Paulo: Ed. Santos, 2000. 15. SILVA E SOUZA JÚNIOR, M. H.; SILVA, C. M.; ARAÚJO, J. L. N. Facetas vestibulares de resina composta. Rev. Biodonto, Bauru, v.1, n. 4, p. 96-98, 2003. 16. VAN DER VYVER, P. J; LEWIS, S. B.; MARAIS, J. T. The effect of bleaching agent on composite/enamel bonding. J. Dent. Assoc., S. Afr., Cape Town, v. 52, no.10, p. 601-603, 1997. 17. VANINI, L. Light and color in anterior composite restorations. Pract.. Periodont. Aesthet. Dent., Mahwah, v. 8, p. 673-682, 1996. Endereço para correspondência Xxxxxxxx Xxxxxxxx Av. Xxxxxxx, XXX CEP: xx.xxx-xxx - Xxxxxx - Xxxxxxx / XX E-mail: xxxxxxxxxx@xxxxxxxx.xxx.xx FALTA ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA R Dental Press Estét, Maringá, v. X, n. X, p. XX-XX, xxx./xxx./xxx. 2008 63