Gestão Pedagógica capa Por Carolina Mainardes carolina@humanaeditorial.com.br Fazer mais pelo próximo Como projetos de voluntariado nas escolas estão estimulando estudantes a se envolverem em ações que promovem a solidariedade e o compromisso social Ações de voluntariado engrandecem a vida, não apenas de quem as recebe, mas também de quem as realiza. Essa é a conclusão ao ouvir as histórias sobre os projetos desenvolvidos em escolas que optaram por fazer mais do que simples iniciativas assistencialistas. Elas arregaçaram as mangas e criaram projetos estimulantes e envolventes, com resultados animadores. Ao apontar a importância do ato de fazer mais pelo próximo, de se importar com o outro e de fazer a diferença no mundo, as instituições de ensino vão além da formação para o conhecimento curricular e engajam-se na formação integral do aluno. É fundamental valorizar escolas que compreendam a importância da formação cidadã de seus jovens, estabelecimentos de ensino que valorizem a aprendizagem fora do ambiente da sala de aula, ressalta André Russo, jornalista da Rádio Bandeirantes e coordenador do Prêmio Escola Voluntária uma promoção da Rádio Bandeirantes em parceria com a Fundação Itaú Social. O prêmio teve sua 12ª edição em 2012 e, desde sua criação, aproximadamente cinco mil instituições de ensino participaram. Os aspectos principais dos projetos vencedores, segundo Russo, são o planejamento e a clareza das ações, o volume de participação dos estudantes, a autonomia dos jovens na realização das tarefas e o fato de ser uma iniciativa voluntária. Sem dúvida, a capacidade de relacionar conteúdos disciplinares com a ação não é uma regra, a real perspectiva de o projeto perdurar a depender de sua característica, e a capacidade de execução das ações por parte dos alunos são características comuns entre os projetos premiados, comenta o coordenador. Na Escola Internacional de Alphaville, em Barueri (SP), o projeto Janelas para o Futuro segundo lugar no 12º Prêmio Escola Voluntária torna evidente o protagonismo dos alunos no desenvolvimento das ações. Estudantes voluntários da oitava série e do ensino médio transformam-se em alunos educadores e dividem seus conhecimentos em áreas diversas com jovens oriundos de famílias de baixa renda que vivem na região do entorno da instituição. Semanalmente, trinta alunos educadores participam da ação chamada de intercâmbio de conhecimentos, visões de mundo e aprendizados com 128 jovens de escolas públicas, ONGs e instituições de amparo ao menor. As atividades são realizadas na própria escola internacional e vão de aulas de Inglês e Espanhol a teatro, natação, esgrima, atualidades e empreendedorismo. É uma troca. Não há um benefício acadêmico, o ganho é pessoal. O aluno [da escola internacional] que participa tem um crescimento muito grande por estar contribuindo para um mundo melhor. Fazer um trabalho voluntário é obrigação de todo cidadão e, além disso, faz bem à gente, ao outro e ao País, diz Marilda Bardal, coorde- 22 GESTÃO Educacional Para assinar: www.gestaoeducacional.com.br
nadora de Relações Institucionais e Internacionais do colégio. Segundo ela, o trabalho voluntário está no DNA da escola. Além dos benefícios obtidos na preparação os alunos têm que consolidar seu conhecimento para poder passá-lo para outro, Marilda elenca outras habilidades desenvolvidas a partir da experiência: responsabilidade, compromisso, liderança, solidariedade, respeito às diferenças. São muitos os valores adquiridos. Por outro lado, os adolescentes que fazem parte do público atendido pelas ações do projeto desenvolvem o potencial artístico e aptidões para uma futura carreira profissional. São adolescentes que vêm em busca de conhecimento, comenta a coordenadora. Ela conta que vários deles estão conseguindo o primeiro emprego por frequentar as aulas de idiomas, atualidades e empreendedorismo. O projeto busca integrar jovens de diferentes realidades socioeconômicas para que o aluno exercite sua cidadania por meio de ações que contribuam para a construção de um mundo mais justo, sustentável e solidário, disseminando os princípios da Cultura de Paz e Não- Violência, completa Marilda. A aluna Stephanie Cukier, de 17 anos, que terminou o 3º ano do É responsabilidade da EScola fazer com que OS alunos conheçam outras realidades ensino médio em 2012, participou do projeto dando aulas de teatro e Inglês. Acho importante fazer parte de um projeto social. Muita gente precisa do conhecimento que recebemos na Escola Internacional de Alphaville. São pessoas que não têm a mesma oportunidade que nós, então abrimos a janela deles para o futuro. Me sinto bem com isso, afirma. Gabriela Rocha, de 17 anos, que também concluiu o 3º ano no ano passado, participou da iniciativa como professora de teatro e fala sobre o projeto com entusiasmo: as aulas são muito dinâmicas e sempre estávamos trabalhando juntos. Eles eram bem mais tímidos e não gostavam de fazer cena de palco. Depois, houve uma relação de confiança. Na despedida, foi triste, eu chorei. Ela comenta que no início havia 12 inscritos para as aulas e, em três semanas, o número saltou para 40. Marilda acredita que a ação de voluntariado difere da caridade. O trabalho voluntário é muito ligado à cidadania e à solidariedade. É algo que vai fazer diferença para o outro, no sentido de proporcionar ferramentas para que ele se coloque em pé de igualdade com aquele que recebe educação de alta qualidade, ressalta. O sucesso do projeto o interesse dos alunos para serem voluntários é cada vez maior fez com que a escola pla- Para assinar: www.gestaoeducacional.com.br GESTÃO Educacional 23
Marilda Bardal, coordenadora de Relações Institucionais e Internacionais da Escola Internacional de Alphaville: o aluno que participa tem um crescimento muito grande por estar contribuindo para um mundo melhor Irmã Vaneide, coordenadora do projeto Sion Solidário, do Colégio Sion do Rio de Janeiro: é uma rede grande de ganhos com o voluntariado, a gente não só ajuda, mas também recebe Ana Maria Vitale, coordenadora de Língua Portuguesa do Colégio Visconde de Porto Seguro de Valinhos: as crianças desenvolvem noções de solidariedade, respeito e acessibilidade Denise Tonglet Gatti, orientadora educacional do ensino médio do Colégio Visconde de Porto Seguro Morumbi: os alunos tiram a atenção deles mesmos e começam a exercitar o olhar para o outro Fotos: Divulgação nejasse ampliá-lo neste ano, com a inclusão de ações nas áreas de música e um projeto na área de leitura. DOAR-SE No Colégio Sion, do Rio de Janeiro, uma ação que teve início em 2012 também vem rendendo frutos. O projeto Sion Solidário menção honrosa no 12º Prêmio Escola Voluntária nasceu com o objetivo de ajudar uma instituição da comunidade onde está localizado o colégio, que fica em Cosme Velho. Como conta a coordenadora do projeto, Irmã Vaneide, a Obra Social Cristo Redentor Creche Santana, que fica em Laranjeiras, foi a instituição escolhida. Ficamos sabendo que a creche enfrentava dificuldades e então resolvemos agir envolvendo nossos alunos e professores com ações de voluntariado e a alegria de doar-se ao próximo, explica a coordenadora. O projeto contempla várias ações: em uma visita semanal dos alunos do 9º ano do Sion à creche, são desenvolvidas atividades como contação de histórias, pintura e atividades culturais. Os alunos [do Sion] destacam a importância da leitura e, ao mesmo tempo, de alimentar os sonhos, comenta irmã Vaneide. Como muitas das crianças atendidas pela creche vivem em regiões sem saneamento básico, os estudantes montam kits de higiene pessoal para falar sobre noções de higiene e saúde. O colégio periodicamente também abre as portas aos alunos da creche quando acontece o lanche partilhado em que cada estudante do Sion leva um lanche duplo, para dividir com o coleguinha da creche, assim como há atividades nos laboratórios, nos diversos espaços da escola (como a horta, as áreas com animais e o parquinho), apresentações culturais e de filmes. É muito grande o envolvimento de todos; as crianças e as famílias vêm sendo incentivadas a atos de solidariedade, conta a Irmã Vaneide. Também são realizadas oficinas de formação para as professoras da creche, que entram em contato com novas práticas de educação. A coordenadora do projeto acredita que o ato solidário voluntário ajuda na formação da personalidade, do caráter, do compromisso social, da formação da cidadania e ainda na melhora do relacionamento entre alunos e professores. É uma rede grande de ganhos com o voluntariado, a gente não só ajuda, mas também recebe. Temos vibrado muito com o retorno desse projeto, da alegria de doar-se e de transformar a realidade do outro, enfatiza. A diretora da creche, Maria Helena Rodrigues Henrique Ferreira, também fala com entusiasmo da experiência. É uma troca, uma renovação em termos do trabalho das educadoras, uma outra visão da didática, comenta. A relação dos alunos é destacada: os dois acabam ganhando. São momentos de prazer e aprendizado, a gente vê a felicidade das crianças compartilhando o lanche, se divertindo nos brinquedos diferentes, é uma troca muito grande. Ela acredita que é responsabilidade da escola desenvolver conceitos de solidariedade e fazer com que os alunos conheçam outras realidades. Eles estão fazendo alguma coisa, se sentindo úteis, e isso é muito gratificante para as duas partes, observa. O projeto também prevê a doação de alimentos e de artigos de higiene e limpeza, arrecadados em eventos beneficentes organizados pelo colégio, como o Arraial Solidário, com intensa participação de alunos, pais e professores. Os alunos estão muito mais integra- 24 GESTÃO Educacional Para assinar: www.gestaoeducacional.com.br
dos, dispostos a colaborar em tudo. A maioria das ações surge de ideias deles, revela Irmã Vaneide. Daqui pra frente, segundo ela, a meta é continuar e fazer cada vez mais. [O projeto] não tinha tanta pretensão, mas foi um crescendo, envolvendo alunos, pais, professores. É uma troca muito sincera e fiel, e pela criatividade e empolgação, tenho certeza que o projeto vai continuar, ressalta a coordenadora. Irmã Vaneide acrescenta que a valorização da pessoa humana é estimulada ainda nas aulas de Ensino Religioso, Filosofia e Sociologia, na orientação educacional e no contato diário entre professores e alunos. Olhar para O OUTRO A via de mão dupla quem se doa também recebe é unânime nas ações de voluntariado. No Colégio Visconde de Porto Seguro, unidade de Valinhos (SP), um dos projetos de voluntariado é a parceria com o Centro Cultural Louis Braille, de Campinas (SP), que vem envolvendo alunos e seus familiares, professores e demais participantes. Para alguns alunos, é a primeira vez que entram em contato com pessoas com deficiência visual. Tudo começou com a leitura do livro A menina que fez a América, de Ilka Brunhilde Laurito (Editora FTD), conta Ana Maria Arruda Dias Vitale, professora e coordenadora de Língua Portuguesa do nível II. Em um dos capítulos, a protagonista da história conhece uma pessoa com deficiência visual. A partir da análise do livro, ampliamos a parceria com o Centro Louis Braille, que sempre teve uma ligação com o colégio, completa a coordenadora. O trabalho, que culmina com a doação de materiais para o centro, como CDs e papel sulfite, passa por etapas que permitem uma aproximação maior entre os alunos e a clientela atendida. Representantes do Centro Braille ministram palestras para os alunos do colégio, para falar sobre o trabalho desenvolvido, os cuidados com a visão e a rotina das pessoas com deficiência visual. Neste ano, conforme Ana Maria, o palestrante foi o Roberto, que ficou cego do dia para a noite, já adulto, por conta de um problema de saúde. Esse contato é muito marcante, as crianças ficam apaixonadas, observa a coordenadora. A aluna Maria Fernanda Santos Betanho, de 10 anos, ficou encantada com a palestra: foi muito legal e importante para nós, pois mostrou como devemos tratar um cego quando o encontramos na rua, como devemos fazer para nos prevenir da cegueira, etc. Mas o mais legal foi ver o Roberto feliz e vivendo uma vida normal. O entusiasmo contagia a família e, segundo Ana Maria, as doações crescem muito após a palestra e muitos pais e irmãos dos alunos passam a ser voluntários do centro. Por meio desse projeto, criamos interesse nas crianças pelas questões do dia a dia do deficiente visual; elas passam a prestar atenção nesses detalhes e desenvolvem noções de solidariedade, respeito e acessibilidade, comenta Ana Maria. O envolvimento vem sendo grande, o que leva a escola a planejar o incremento do projeto a cada ano. No Colégio Visconde de Porto Seguro, unidade Morumbi, em São Paulo (SP), outro projeto trabalha questões de voluntariado com os estudantes: é o Quem se importa. Segundo Denise Tonglet Gatti, orientadora educacional do ensino médio, a iniciativa surgiu a partir do filme de mesmo nome, dirigido por Mara Mourão. Denise aproveitou a mensagem do longa-metragem, apresentado aos alunos na atividade denomi- Saiba mais sobre o Prêmio Escola Voluntária O Prêmio Escola Voluntária visa divulgar, incentivar e premiar instituições de ensino responsáveis por projetos sociais que incentivem o trabalho voluntário entre os seus alunos. O trabalho voluntário deve ter a participação de alunos do 9º ano do ensino fundamental e/ ou ensino médio. Podem concorrer ao Prêmio Escola Voluntária todas as escolas de ensino fundamental e/ ou médio, da rede pública ou privada, que realizem trabalho social em prol da comunidade (com a participação de alunos das séries já citadas). A inscrição poderá ser realizada pela internet, por meio do site www.escolavoluntaria.com.br ou, ainda, pelo correio. Fonte: André Russo, jornalista da Rádio Bandeirantes e coordenador do Prêmio Escola Voluntária Mais informações sobre o Prêmio Escola Voluntária podem ser obtidas no site www.escolavoluntaria. com.br nada cine-debate inclusive com a participação da diretora do filme, e o desenvolvimento das atividades de orientação profissional, com a turma do segundo ano do ensino médio, para propor aos alunos olharem para o mundo e para o outro, de forma fraterna e aberta. A ação ganhou caráter interdiscipli- Para assinar: www.gestaoeducacional.com.br GESTÃO Educacional 25
nar antes mesmo da apresentação do filme, com a integração das disciplinas de Línguas Estrangeiras Inglês, Alemão e Espanhol. Foram feitas várias atividades, como produção de curtas-metragens e de textos. Tudo isso para ir sensibilizando os alunos para que começassem a abrir os olhos para as necessidades que o mundo apresenta e aí fazer com que pensassem: o que eu quero, o que o mundo espera de mim, explica a orientadora. O projeto resultou em ações como a campanha de arrecadação de lacres de latas de refrigerante para a compra de cadeiras de rodas, em parceria com o Rotary Club de Santos (SP), e o projeto de inclusão digital para pais de alunos bolsistas, oriundos de famílias carentes. Neste último, os alunos do ensino médio do colégio se candidataram para dar aulas aos pais, orientados pela equipe de Tecnologia Educacional. Os alunos também fazem arrecadação de brinquedos novos e usados e eles mesmos consertam os brinquedos quando é necessário. Eles tiram a atenção Na Escola Internacional de Alphaville, os estudantes se transformam em alunos educadores para ensinar crianças e adolescentes que vivem nas comunidades do entorno da instituição No Colégio Sion do Rio de Janeiro, alunos participam de ações voluntárias que beneficiam as crianças da creche Santana, com atividades sobre noções de higiene e lanche compartilhado 26 GESTÃO Educacional Para assinar: www.gestaoeducacional.com.br
deles mesmos e começam a olhar em frente e exercitar o olhar para o outro. E eles aprendem a partir de experiências e de ações. Além de despertar vocações, o projeto ainda desenvolve o [lado] humano, considera Denise. Ela ainda completa: a gente só adquire sabedoria quando o aprendizado passa pelo coração e resulta em ações. Para 2013, a expectativa é de aprimorar as ações externas o que implica certa logística, comenta a orientadora para atividades que os próprios alunos sugeriram em asilos, hospitais, entidades assistenciais. G +PARA LER A menina que fez a América Autora: Ilka Brunhilde Laurito Editora FTD +PARA ASSISTIR Quem se importa Direção: Mara Mourão www.quemseimporta.com.br No Colégio Visconde de Porto Seguro de Valinhos, alunos acompanham palestras de pessoas com deficiência visual do Centro Cultural Louis Braille para depois colaborarem com a instituição Alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro de São Paulo (Morumbi) preparam e até consertam brinquedos para doação, arrecadados entre os estudantes Para assinar: www.gestaoeducacional.com.br GESTÃO Educacional 27