Papo com a Especialista Silvie Cristina (Facebook) - Que expectativas posso ter com relação à inclusão da minha filha portadora da Síndrome de Down na Educação Infantil em escola pública? Quando colocamos uma criança em uma escola, quer seja pública ou não, independente de ser portadora ou não de uma determinada Síndrome, existe ansiedade por parte dos pais em querer sempre o melhor para seu (ua) filho (a), isto é natural porque demonstram o amor que existe por aquela criança. Nesse sentido, todos os cuidados que devem existir para as crianças devem ser avaliados pelos pais. É necessário que os pais visitem a instituição de ensino, verifiquem a rotina das crianças nesta escola. Conheça o trabalho pedagógico dos professores, analise as condições físicas (sala de aula, banheiros, refeitório, parque) da instituição. E caso seu filho(a) necessite de alguma alteração na estrutura física ou mesmo de mais um profissional para auxiliar o professor no período em que a criança permanecer na educação infantil, os pais ou responsáveis devem pedir por escrito para que todas as providências necessárias sejam efetuadas, para acolher esta criança portadora de Síndrome de Down. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96, Capítulo V, dispõe nos artigos 58, 59 e 60 toda a regulamentação para crianças portadoras de necessidades especiais. É necessário conhecer todos os direitos que as crianças com necessidades especiais possuem garantidos em lei, para fazer valer todos os recursos necessários que garantam o processo de ensino e aprendizagem das crianças, com qualquer tipo de síndrome. Silvie Cristina (Facebook) - Tenho dúvidas com relação aos novos modelos de alfabetização. A forma antiga não era mais eficiente? Meu filho está no 4 ano e não consegue fazer letra cursiva, até onde eu posso cobrá-lo sabendo que existem muitas pessoas que só usam letra de forma? A apropriação da leitura e escrita é um processo complexo e multifacetado, que envolve tanto o domínio do sistema alfabético ortográfico quanto à compreensão e o uso da língua escrita em práticas sociais diversificadas. Alfabetização, portanto, é um processo específico e de extrema relevância de apropriação do sistema de escrita, pois a aprendizagem dos princípios alfabético e ortográfico é que permite ao indivíduo ler e escrever com autonomia.
Existem vários modelos de alfabetização. O modelo silábico, por exemplo, está baseado na concepção de Ensino dita como Tradicional, no qual primeiro são ensinadas as vogais (a-e-i-o-u-ão) e depois as sílabas (ba-be-bi-bo-bu-bão) em uma ordem alfabética. Depois das sílabas se ensinam pequenas frases e, assim sucessivamente, até pequenos textos. Existem até hoje cartilhas que ensinam desta forma. Neste modelo as crianças aprendem a letra de forma e cursiva, mas utiliza somente à cursiva. Este modelo utiliza-se de partes (famílias silábicas e pequenas frases) para o todo (texto propriamente dito). Existem algumas críticas por parte dos pesquisadores na área da educação quanto à utilização deste modelo na atualidade. As pesquisas indicam que, por meio deste modelo, as crianças aprendem técnicas de decifração do código escrito e são capazes de ler palavras e textos simples e curtos, mas não são capazes de utilizar a língua escrita em situações sociais que requerem competências e habilidades mais complexas. Ou seja, as crianças leem e escrevem, mas quando precisam buscar significados para aquilo que estão lendo e escrevendo, elas não conseguem, porque não aprenderam a lógica para este tipo de situação. Por que se dá isto? Vou dar um exemplo. Na lição da família silábica do b, em algumas cartilhas existem frases isoladas e desconectadas da realidade das crianças, do tipo: O bebê é babão ; A babá é boa ; etc. Outro modelo de alfabetização utilizado atualmente em algumas escolas está relacionado com a Pedagogia Construtivista, na qual são ensinados textos. Estes são apresentados pelo professor e, no trabalho de análise linguística, é que o estudo vai sendo feito, analisando o texto em suas partes para depois, chegar ao estudo da palavra, dos padrões silábicos e das letras. O processo aqui é o inverso do citado anteriormente, pois se entende que o texto além de ter uma função social é a única instância de sentido da língua. Não existe um consenso entre os especialistas para afirmar qual é o melhor método de alfabetização para cada criança, isso seria impossível, cabe aos pais se informarem, junto às escolas, qual teoria da educação permeia o trabalho docente. Estas informações devem estar contidas no Projeto Pedagógico da Escola, e a partir da concepção de educação que rege a família, escolher qual método será melhor para o filho.
O método de alfabetização Construtivista utiliza-se da letra de forma maiúscula. Existe uma lógica para isso, conforme explicarei a seguir. Devido ao seu formato bem distinto, a letra de imprensa maiúscula evita os equívocos comumente cometidos pela criança quando da leitura com letras de imprensa minúsculas. A letra cursiva é ainda mais complexa, pois para as crianças que estão aprendendo o processo de leitura e escrita, fica difícil compreender onde começa e onde termina uma palavra e se inicia a outra. Exigir que a criança inicie seu processo de aquisição da escrita com a letra cursiva é multiplicar por dois a dificuldade de se alfabetizar. Além da necessidade de aprender as convenções próprias dessa forma de se escrever graficamente, ela também precisa possuir razoável coordenação motora. Apesar de tudo o que disse anteriormente, é relevante salientar que todos os tipos de letras serão apresentados para a criança. Afinal, todos os tipos de letras circulam nos meios de comunicação, mas no modelo construtivista se trabalhará, inicialmente, com caixa alta. O uso da caixa alta tem a pretensão de acelerar o domínio do jogo da escrita. A partir do entendimento, pela criança, de como se dá essa combinação automaticamente, as próprias crianças insistirão para escrever com a letra cursiva, é um processo que deve acontecer naturalmente e não deve ser forçado, nem pelos pais e nem pela escola. Todo período de transição na vida pode causar algum desconforto e as crianças podem misturar as letras de forma e cursiva, pois isto também é muito normal. Aqui o trabalho do professor é essencial e, com o tempo, acontecerá à superação dessa dificuldade. Atividades com textos significativos, para as crianças, auxiliam nesta transição, porém, cobrar qualquer criança forçando-a num tipo de escrita cursiva ou letra de forma maiúscula, em vez de auxiliar o processo, pode até mesmo atrapalhar. Pais e professores têm de realizar um mesmo tipo de conduta para que ajudem as crianças nesse processo e não atrapalhe ainda mais. Não pode acontecer um tipo de educação na escola e outro em casa, ambos precisam possuir a mesma conduta, um diálogo entre a escola e a família é essencial neste processo de transição para as crianças.
Suzana Arruda (Facebook) - Olá o que posso fazer pra desenvolver em minha filha o hábito pelos estudos? Hábito é um comportamento que uma determinada pessoa aprende e repete frequentemente, sem pensar como deve executá-lo. Como toda aprendizagem, torna-se necessário conversar com a criança sobre a importância do estudo, como este pode ajudá-la a interagir com outras pessoas. Sem que a criança se conscientize da importância do ato de estudar para o seu dia a dia, nenhum hábito se instala. Hoje em dia, muitas crianças têm acesso a várias informações por possuírem computadores em casa com Internet, isto ajuda e dificulta o hábito de estudar, porque muitas dizem: Para que eu preciso estudar, se eu entro no GOOGLE e lá tem tudo? Escuto essa queixa frequentemente por parte dos jovens. Competir com a tecnologia não é tarefa fácil nos dias atuais, porém, a criança precisa entender a diferença entre informações e conhecimento. Durante o dia eu tenho milhares de informações que podem ou não se transformar em conhecimento, depende de como é utilizado. Quando eu aprendo algo, eu realmente consigo aplicar no meu dia a dia. Muito se aprende também pelo exemplo. Pais, vocês leem e estudam na frente dos seus filhos, para que eles percebam a necessidade de se estudar, ou vocês falam para eles que precisam estudar, mas suas ações no cotidiano familiar são outras. Se a criança perceber que existe uma contradição entre a fala e a ação, ela pode não dar credibilidade a fala. Todo hábito precisa ser repetido para se instaurar, e é necessário ter muita paciência para que ele se instaure. O problema também é percebido quando os pais se cansam de falar com seus filhos e começam a ameaçar ou até mesmo chantagear. Isto não é bom! Pelo contrário, você está ensinando o hábito de ser chantagista e ameaçador. O hábito é aprendido, por isso é necessário repetição e modelos para que ele se efetive.
Adriana Soares (Facebook) - Boa tarde, tenho um filho de 1 ano de idade e minha dúvida é como saber qual é o momento certo de deixar a babá e colocar a criança na escolinha? Em termos legais, dos 0 aos 3 anos de idade não existe nenhuma obrigação de se matricular a criança em uma instituição de educação infantil. Porém, foi promulgada, em novembro de 2009, a Emenda Constitucional nº 59, que, entre outras coisas, alterou o art. 208 da Constituição Federal, tornando obrigatória a educação básica dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade. Com essa alteração, a Constituição passou a determinar a idade que a criança é obrigada a ingressar na educação básica. Cabe aos pais, a obrigatoriedade de matricularem seus filhos com 4 e 5 anos na educação infantil. Portanto, neste sentido, dou uma sugestão aos pais: que ingressem seus filhos na educação infantil por volta dos dois anos e meio. É nesta idade que ocorre a explosão linguística, e isso favorece a interação entre os coetâneos e entre estes e os adultos. Taynara Magalhães (Twitter) - Existe uma maneira correta de dizer não às crianças? Sim, existe. Quando falamos sim ou não às crianças, precisamos explicar o porquê do não ou o porquê do sim. A criança precisa entender a lógica que está na atitude de um adulto dizer sim ou não, e esta lógica só é passada quando dizemos a verdade. Os limites sem proibição precisam ser muito bem explicados, a criança de hoje não aceita, o porquê sim e pronto! Ela testa o adulto até entender o porquê do sim ou o porquê do não. Para convencê-la, os adultos precisam ser coerentes com a resposta a ser dada. Com as diferentes formas de informação tecnológica que a criança está exposta atualmente, muitas vezes, ela já sabe o porquê das coisas que pergunta e, simplesmente, testa o adulto para saber o que ele vai responder. Não podemos deixar as crianças fazerem tudo o que querem na hora que querem, muitos nãos também são educativos, desde que compreendidos pela criança. Exemplo, uma criança pequena não pode manusear uma faca pontuda, mas o adulto não pode dizer simplesmente você não pode usar e pronto. O adulto deve explicar o porquê de a criança não poder usar este instrumento quando são pequenas, mas também, deve dizer que quando forem adultos
poderão utilizá-la, pois suas mãos já são maiores e os riscos de se machucarem são menores. O maior problema que vejo nisto é quando os pais não têm paciência de explicar para os pequenos os porquês do não e os porquês do sim. As crianças precisam de atenção e paciência na fase dos porquês, que todos nós adultos já passamos um dia.