REGISTROS HISTÓRICOS, HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: um estudo historiográfico do Alto Sertão da Bahia no período colonial



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Transcrição:

1537 REGISTROS HISTÓRICOS, HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: um estudo historiográfico do Alto Sertão da Bahia no período colonial SOUZA JÚNIOR, Tadeu Baliza de 1 ; NEVES, Erivaldo Fagundes 2 1. Bolsista PROBIC, Graduando em Licenciatura em História, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: tadeubaliza@hotmail.com 2. Orientador, Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: erivaldo@uefs.br PALAVRAS-CHAVE: história, historiografia, Alto Sertão da Bahia INTRODUÇÃO O Projeto de Historiografia Brasileira possibilita investigar a historiografia de um recorte sertanejo, pois durante muito tempo a historiografia baiana limitou-se a Salvador e Recôncavo, em detrimento dos sertões. A criação de universidades pelo interior da Bahia permitiu o advento de novos pesquisadores, preocupados com pesquisas históricas de suas respectivas regiões. Desse modo, os recursos da História Regional e Local permitem averiguar os escritos historiográficos sobre regiões como o Alto Sertão da Bahia, objeto desta pesquisa. Para Neves (2002: 45): A História Regional e Local consiste numa proposta de estudo de atividades de determinado grupo social historicamente constituído, conectado numa base territorial com vínculos de afinidades, como manifestações culturais, organização comunitária, práticas econômicas, identificando-se suas interações internas e articulações exteriores e mantendo-se a perspectiva da totalidade histórica. Este estudo historiográfico regionalizado do Alto Sertão da Bahia abre a perspectiva de comparação com estudos similares de outras regiões, e desta forma perceber como, no período colonial, que é o recorte temporal da pesquisa, a região se articulava com outros espaços internos da capitania da Bahia e também com outras regiões do Brasil, e até em âmbito externo, na perspectiva da totalidade histórica, especialmente pelo aspecto econômico. Foram feitas leituras de autores expoentes que escreveram sobre o Alto Sertão da Bahia no período colonial, que contempla desde os cronistas, sendo Antonil um dos que possibilitaram a pesquisa do período, apesar de tratar sobre o sertão subitamente, mas os seus roteiros se constituíram fundamentais para análises de autores posteriores de temáticas similares. A denúncia de Antonil sobre as opulências brasileiras no período colonial tornou o livro Cultura e opulência do Brasil um clássico sobre o período.

1538 A pesquisa histórica no Brasil foi iniciada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, instituído em 1838, e impulsionou-se com os estudos de pesquisadores como Capistrano de Abreu, autor do livro Capítulos de História Colonial, pioneiro na investigação sobre os sertões com instrumental analítico da história. Doravante se inicia uma trajetória de nomes do pensamento brasileiro que abordou sobre o interior brasileiro, entre eles sobressaíram, no início do século XX, Basílio de Magalhães autor do livro Expansão Geográfica do Brasil Colonial e Urbino Viana autor do livro Bandeiras e Sertanistas Baianos com enfoques sobre o sertão baiano; o primeiro debruçou num grande acervo documental e disseminação de temáticas como: bandeirantismo, devassamento e ocupação dos sertões, etc; já o segundo usa a metodologia de roteiros entre eles segue a indicação de Capistrano de Abreu de utilizar o roteiro de Antonil. Erivaldo Fagundes Neves, autor de Estrutura fundiária e dinâmica mercantil: Alto Sertão da Bahia, séculos XVIII-XIX e Uma comunidade sertaneja: da sesmaria ao minifúndio (um estudo de história regional e local), que são seus livros principais, mostra pistas fundamentais sobre o Alto Sertão da Bahia no período colonial, pesquisas que contrariam as publicações sobre a História da Bahia, visto que contribui para a historiografia brasileira difundindo a História Regional e Local, diferente do estudo que contempla somente Salvador e Recôncavo Baiano. O autor teve um contato com grande acervo documental de fontes primárias e a utilização também da metodologia da História Agrária. O contato com a Historiografia Brasileira faz perceber o não isolamento sertanejo, haja vista que existia comunicação do sertão baiano com outros espaços não somente interno, mas também externo à capitania da Bahia; sobretudo é percebido na análise da criação de gado e da mineração; o primeiro sendo uma rede de comunicações, implementada pelos indivíduos que conduziam as boiadas articulando sertões longínquos com a região litorânea; o segundo foi essencial para a sedentarização das pessoas próximas a região de Rio de Contas e Jacobina que emergiu povoações, houve migrações não só internamente da capitania da Bahia, mas também de outras capitanias para as minas; estimulando a cobiça e o enriquecimento rápido e da mesma forma conflitos entre os grupos sociais. MATERIAL, MÉTODO OU METODOLGIA Nesta pesquisa tenta-se analisar apenas obras selecionadas sobre o Alto Sertão da Bahia, inclusive com os recursos da História Comparativa, confrontando estudos historiográficos e, sobretudo, caracterização de estilos, métodos e fontes exploradas pelos autores. É um trabalho que abrange os estudos que abordam o Alto Sertão da Bahia no

1539 período colonial, desde os cronistas destacando-se Antonil aos consagrados na lida com o sertão, de modo mais geral ou mais específico, dos quais, o pioneiro é Capistrano de Abreu e segue com os que escreveram nas primeiras décadas do século XX, tal como Basílio de Magalhães e Urbino Viana, até os de destaque no final do século XX e início do XXI, entre eles Erivaldo Fagundes Neves. A utilização de um roteiro de análise historiográfica de texto histórico auxiliou o desenrolar da pesquisa, pois ajudou a delimitar aspectos a serem abordados, e a desvendar novos escritos historiográfico sobre o Alto Sertão da Bahia e outras regiões no período colonial. O olhar interdisciplinar é outra maneira de desenvolver a pesquisa. A cada leitura pontos importantes são levantados com o intuito de melhor definir o objeto de estudo. Nas leituras indicadas notam-se os referenciais teórico-metodológicos empregados pelos autores na tentativa de resolução das problemáticas, e da utilização de documentações diversas. Percebem-se as dificuldades encontradas pelos autores através de dados imprecisos. Alguns textos foram corrigidos e ampliados com estudos ulteriores, ocorrendo avanços nas interpretações. As análises críticas posteriores contribuíram para o melhoramento dos textos, através de novas ponderações sobre eles. Apesar do surgimento de novos paradigmas interpretativos com trabalhos sucessivos encarregados na mesma temática os textos básicos permanecem referentes. RESULTADO E/OU DISCUSSÃO Durante os doze meses do estágio houve certo avanço na pesquisa, pois a experiência com o estudo historiográfico foi crescendo. No início as dificuldades foram muitas até pela falta de costume em lidar com análise de textos. Não obstante, com o decorrer das leituras e uso da metodologia, um roteiro de análise historiográfica facilitou um pouco mais a compreensão, mas as dificuldades ainda permaneceram. A cada contato com os textos são observados os métodos utilizados pelos autores na produção das narrativas históricas. Observa-se nos estudos que cada autor usa referenciais teórico-metodológicos específicos na elaboração dos seus escritos historiográficos, e se apropriam em fontes de acordo com os interesses. Neste estudo procura-se articular as obras e os autores analisados com os respectivos tempos e lugares das suas elaborações, comparadas com outras fontes e, sempre que possível, com a identificação dos caminhos epistemológicos trilhados pelos autores, seus estilos narrativos, perspectivas interpretativas, embasamentos metodológicos, contribuições dos

1540 estudos ao conhecimento do tema, repercussão acadêmica e social do texto estudado no seu tempo e posteriormente, e as formas de abordagem historiográfica. Os textos teóricos conceituam o campo da historiografia como ramo legítimo do conhecimento histórico, uma representação do passado. O cruzamento de leituras de textos historiográficos com outras está sendo relevante para o projeto, que abarca tanto o conceitual que facilita o exercício da hermenêutica, quanto o empírico que são as anotações acerca das questões principais que foram propostas no objetivo da pesquisa. O recorte espaço-temporal é outro fator que também ajuda na análise, pois permite estreitar a problemática para que não se estenda demais nos estudos. Pois a finalidade é o contato com escritos historiográficos sobre o Alto Sertão da Bahia no período colonial, visto que a leitura é direcionada para este caminho, e ajuda o pesquisador a não fugir do tema. Em Um Sertão Chamado Brasil: intelectuais e representação geográfica da identidade nacional, Nísia Trindade Lima afirma que a região amazônica, Mato Grosso, entre outras regiões fazem parte do sertão brasileiro, de modo que sertão não é somente a região semiárida. Por isso a necessidade de delimitar o recorte espacial da pesquisa que é o Alto Sertão da Bahia. Conquanto sem balizas exatas, versa Neves (2005: 19/20): embora haja quem entenda o Alto Sertão da Bahia como uma região que estenda seus limites ao sul, por parte do atual Estado de Minas e, ao norte, para além da Chapada Diamantina, abrange o território angulado pelos rios Verde e São Francisco, onde se estende a Serra Geral, extensão da cordilheira do Espinhaço, inclusive os vales das rãs, Santana, Santa Rita, Santo Onofre e Paramirim, da bacia sanfranciscana, e São João, do Antônio, Gavião e Brumado, tributários do Rio de Contas. Já a problematização configura na defesa do não isolamento sertanejo, pois foi identificada nos textos historiográficos uma rede de comunicação do Alto Sertão da Bahia, enfim do sertão baiano com outros espaços não somente da capitania da Bahia, mas também de outras regiões, no caso de produtos tal como meio de sola e algodão do sertão baiano que chegavam até a Europa, sendo um modo de alcançar a totalidade histórica; e também salientar as incumbências que eram delegadas aos indivíduos para que isso fosse possível, uma vez que cada um com sua função desde as mais simples até as mais complexas para cumprir a finalidade que era a chegada dos produtos do Alto Sertão da Bahia ao mercado europeu. CONSIDERAÇÕES FINAIS As leituras e a utilização de um roteiro de análise de textos históricos foram fundamentais para que se percebesse um problema que pode não ser original, mas através dos textos lidos constatou-se a integração do sertanejo com outros grupos sociais. Desse modo, desde Antonil até obras contemporâneas se constata a interação do sertão baiano com outras

1541 regiões, de modo que, a criação de gado e a mineração, fizeram com que surgissem povoamentos e que formaram as comunidades sertanejas. O período da pesquisa é outro elemento importante, pois não é comum nos meios acadêmicos mais recentes trabalhos sobre o Brasil colônia, os pesquisadores estão muito ligados à História Imediata; e, além disso, esse é um trabalho historiográfico que possibilita um debruçar nos escritos históricos, identificando tipologias, estilos, metodologias e as fontes utilizadas pelos autores. A disciplina Historiografia Brasileira é optativa no Curso de Licenciatura em História. Deveria ser obrigatória, porque reforça a formação acadêmica. Para se tornar um bom historiador necessita conhecer o que se escreveu sobre as ações humanas. É interessante como cronologicamente um autor vai citando o anterior, por ter as mesmas perspectivas temáticas. Os autores apontam uma gama de opções de chegar à pesquisa histórica, sendo possível essa verificação nas análises das narrativas e na preocupação de verificar o tempo e o lugar dos fatos narrados, pois a crítica ao documento depende do olhar e da subjetividade de cada indivíduo. REFERÊNCIAS ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial (1500-1800). 6. ed. (1. ed. 1949). ANTONIL, André João (Giovanni Antônio Andreoni). Cultura e opulência do Brasil. 3 ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da USP, 1982. 1 ed. 1711. EPPLE, Angelika; MALERBA; Jurandir. A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006. LIMA, Nísia Verônica Trindade. Um sertão chamado Brasil: intelectuais e representação geográfica da identidade nacional. Rio de Janeiro, RJ: IUPERJ: Revan, 1999. MAGALHÃES, Basílio de. Expansão geográfica do Brasil colonial. 4. Ed. São Paulo: Comp. Ed. Nacional, Brasília: INL, 1978. NEVES, Erivaldo Fagundes. Historia Regional e Local: fragmentação e recomposição da historia da modernidade. Salvador: EDUFBA; Feira de Santana: UEFS, 2002. NEVES, Erivaldo Fagundes. Estrutura fundiária e dinâmica mercantil: Alto Sertão da Bahia, séculos XVIII-XIX. Salvador: EDUFBA; Feira de Santana: UEFS, 2005. NEVES, Erivaldo Fagundes. Uma comunidade sertaneja: da sesmaria ao minifúndio (um estudo de história regional e local). 2. ed. rev. e ampl. Salvador: EDUFBA; Feira de Santana: UEFS, 2008. NEVES, Erivaldo Fagundes. Perspectivas historiográficas baianas: esboço preliminar de elaborações recentes e tendências hodiernas da escrita da História na Bahia. In: OLIVEIRA, A. M. C. dos; REIS, I. F. dos C.. Historia Regional e Local: discussões e práticas. Salvador: Quarteto, 2010, p. 93-118.

1542 REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 9. Ed. ampliada. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2007. VIANA, Urbino. Bandeiras e sertanistas baianos. São Paulo: Comp. Ed. Nacional, 1935.