A produção de leituras da obra A maior flor do mundo
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- Paulo Gabriel Brezinski Cruz
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1 Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educação Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG - Centro Pedagógico Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) A produção de leituras da obra A maior flor do mundo Resumo Analise da Silva, Profa Dra da Faculdade de Educação da UFMG Maria Elisa de Araújo Grossi, Centro Pedagógico (CP/UFMG) Clarissa Juliana de O. Silva, UFMG, Bolsista Cynthia Souza Ramos, UFMG, Bolsista Maria José Viana Fernandes, UFMG, Bolsista VâniaVieira Orquiza, UFMG, Bolsista Jeanne de Oliveira Ramos, UFMG, Bolsista Apresentamos Projeto de Ensino de Literatura desenvolvido numa turma de segundo ano do Primeiro Ciclo do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (CP/UFMG) no ano de O Projeto de Ensino está vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e contou com a participação de cinco estudantes de licenciatura do Curso de Pedagogia, que estão se preparando para o exercício da docência. Como parte do processo de formação, elas acompanharam a aula de Língua Portuguesa da turma do Centro Pedagógico, duas vezes na semana. A partir desse acompanhamento, foi possível perceber que pensar sobre a tarefa da escola no trabalho com Literatura não é tarefa simples. Outro problema encontrado na escola em relação ao trabalho com textos literários é a utilização massiva de fragmentos das obras, prática recorrente encontrada nos livros didáticos. O objetivo geral deste trabalho foi proporcionar a leitura de uma mesma obra literária por alunos de sete anos do CP/UFMG e por leitores adultos, educandos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em processo de alfabetização, em uma turma no canteiro de obras do Estádio Governador Magalhães Pinto ( Mineirão ), da Escola Municipal Dom Orione, a fim de que eles pudessem compartilhar experiências a partir da leitura da obra A maior flor do mundo, de José Saramago. No Projeto aqui relatado, privilegiou-se o trabalho com a história, em seu suporte original. Durante várias aulas de Língua Portuguesa, cada aluno construiu o seu próprio livro, produzindo leituras e interpretações do texto por meio de ilustrações. O Projeto de Ensino de Literatura promoveu o intercâmbio entre leitores de idades diferentes. A possibilidade de leituras compartilhadas de obras e a ampliação dos sentidos do texto pelo olhar do outro se mostram como práticas que buscam uma adequada escolarização da literatura (SOARES, 2003). Palavras-chave: leituras literárias, produção de sentidos
2 2 Introdução Pensar sobre a tarefa da escola no trabalho com Literatura não é tarefa simples. Entretanto, o Projeto aqui relatado assume o risco, em virtude da necessidade real de um convívio pedagógico e culturalmente mais interessante entre escola e literatura (RANGEL, 2003, p. 128). O que se observa, muitas vezes, é a utilização da literatura para objetivos pedagógicos. Os modos escolares de ler literatura distanciam-se de comportamentos próprios da leitura literária, assumindo objetivos práticos, que passam da morfologia à ortografia sem qualquer mal estar (PAULINO, 2004, p. 56). A utilização massiva de fragmentos das obras, prática recorrente encontrada nos livros didáticos, é outro desafio encontrado na escola em relação ao trabalho com textos literários. Essa fragmentação dos textos leva, muitas vezes, a uma descaracterização da essência da obra, com alterações de paragrafação e estruturas linguísticas. No Projeto de Ensino de Literatura, privilegia-se o trabalho com o texto em seu suporte, o livro. Cada aluno produz o seu livro para facilitar o acesso ao texto integral. Quando trabalhamos com a leitura literária, colaboramos para que crianças e jovens e adultos se permitam ter voz, verbalizem e compartilhem suas vivências e emoções despertadas pela obra. Esse compartilhamento é que faz com que a leitura literária seja tão significativa para os leitores: sua polissemia, o espaço aberto que deixa, a fim de que o leitor possa completar suas lacunas. A literatura propicia a interação, o diálogo dinâmico, o debate de ideias. Cabe à escola e a seus profissionais criar oportunidades para possibilitar esse diálogo. Figura 1 Livros produzidos pelas crianças
3 3 Objetivos Geral Proporcionar a leitura de uma mesma obra literária, por alunos de sete anos do CP/UFMG e por leitores adultos, estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em processo de alfabetização, em uma turma no canteiro de obras do Estádio Governador Magalhães Pinto ( Mineirão ), da Escola Municipal Dom Orione, a fim de que eles pudessem compartilhar experiências a partir da leitura da obra A maior flor do mundo, de José Saramago. Específicos Oportunizar a troca de impressões, o diálogo sobre o livro lido, fazendo cruzar as distintas histórias e trajetórias de leituras; Confeccionar artesanalmente um livro para cada aluno com as ilustrações realizadas por eles; Produzir leituras e interpretações da obra selecionada; Facultar o acesso a um texto literário de qualidade; Pesquisar a biografia do autor da obra selecionada. Figura 2 Ilustração da obra pelos alunos
4 4 Metodologia O Projeto de Ensino, inicialmente, promoveu a leitura da obra A maior flor do mundo (ANEXO 1) por alunos de idades, séries e de escolas diferentes. Em seguida, foi feito um consistente trabalho de mediação e exploração do livro selecionado em sala de aula. Essa exploração foi realizada por meio da construção diária dos episódios da obra, que foram ilustrados pelas crianças. Com a orientação da professora/supervisora e das bolsistas, cada aluno confeccionou o seu próprio livro. Após tal confecção, houve um trabalho, em grupo, envolvendo interpretação e releitura da obra, no qual os alunos produziram textos tendo como referência a obra em questão. Ao final, foi organizado um encontro entre os alunos das duas turmas (CP/UFMG e EJA), para que as possíveis leituras literárias pudessem ser compartilhadas. Esse encontro foi realizado no CP/UFMG, onde os alunos da Educação de Jovens e Adultos foram recebidos pelas crianças de sete anos. Resultados Muitos são os resultados alcançados. Destaca-se a possibilidade do diálogo com o outro, o abrir-se, revelar-se e expor-se. Observa-se o compartilhamento de emoções, sentimentos, impressões. Por meio desse Projeto de Ensino, o sujeito leitor se sente em estado de diálogo com o texto literário e com o partilhar leituras, na sua liberdade de produzir sentidos, assumindo o direito de exercer sua fruição estética. A possibilidade da plurissignificação, atribuída ao receptor do texto, é concretizada no momento em que a partilha da leitura é realizada. A literatura pode provocar tudo isso, pois ela nos faz pensar, nos instiga, nos aproxima do outro. O desenvolvimento do Projeto de Ensino vinculado ao PIBID proporcionou a manifestação das subjetividades. Crianças e adultos se colocaram como interlocutores e se abriram ao debate. As bolsistas que se iniciam na docência também participaram ativamente do processo, acompanhando e orientando os alunos. Os textos e os livros confeccionados pelas crianças representam um resultado concreto da ação realizada no projeto.
5 5 Figura 3 Mural com ilustrações das crianças Conclusões Com o advento dos estudos sobre letramento, em particular, sobre o letramento literário, assume relevância a realização de propostas alternativas de trabalho com a Literatura. A possibilidade de leituras compartilhadas de obras e a ampliação dos sentidos do texto pelo olhar do outro se mostram como práticas que buscam uma adequada escolarização da literatura (SOARES, 2003). A potencialidade desse Projeto de Ensino está nessa possibilidade de compartilhamento de diferentes leituras do mesmo texto. O Projeto propiciou momentos ricos de expressão oral dos leitores em processo de construção de saberes, que ingressam na viagem literária, a partir do convite dos professores, sob o efeito de um consistente trabalho de mediação. Esses leitores viajam por mundos encantados que somente a ficção é capaz de desenhar. Juntos, perseguem seus sonhos e utopias. Onde estão as leituras literárias? Nas escolas? Nas salas de aula? No canteiro de obra de um importante estádio? Nos leitores? Como realizá-la? Esse Projeto de Ensino buscou contribuir na construção de respostas para tais questões.
6 6 Referências Bibliográficas PAULINO, Graça; COSSON, Rildo. (Org.). Leitura literária: a mediação escolar. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, p. RANGEL, Egon de Oliveira. Letramento literário e livro didático de Língua Portuguesa. In: PAIVA, Aparecida. et al. (Org.). Literatura e letramento: espaços, suportes e interfaces. Belo Horizonte: Autêntica/Ceale/FaE/UFMG, p SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy Alves; BRANDÃO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zélia Versiani. (Org.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. 2. ed. 1. reimpr. Belo Horizonte: Autêntica, p
7 7 ANEXO 1 Obra para leitura compartilhada SARAMAGO, José. A maior flor do mundo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, p. A maior flor do mundo é uma magnífica história para crianças, mas, antes de tudo, é um legítimo Saramago. Transformando-se em personagem, o autor nos conta que uma vez teve uma ideia para um livro infantil, inventou uma história sobre um menino que faz nascer a maior flor do mundo. Não se julgava capaz de escrever para crianças, mas chegou a imaginar que, se tivesse as qualidades necessárias para colocar a ideia no papel, ela resultaria verdadeiramente extraordinária: "seria a mais linda de todas as que se escreveram desde o tempo dos contos de fadas e princesas encantadas [...]." É dessa fantasia de grandiosidade que nasce o livro. Os leitores são chamados para uma divertida brincadeira, pois Saramago narra-lhes a história do menino e da flor, não como se ela fosse a história de verdade, mas como se fosse apenas o esboço do que ele teria contado se tivesse o poder de fazer o impossível: escrever a melhor história de todos os tempos. Entrando no jogo com o autor, os pequenos leitores vão saber que ninguém nunca teve nem terá esse poder. Vão saber também que a literatura é o lugar do impossível: o menino desta história faz uma simples flor dar sombra como se fosse um carvalho. Depois, quando ele "passava pelas ruas, as pessoas diziam que ele saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos". Como nos velhos livros de literatura infantil, Saramago conclui: "E é essa a moral da história". Título Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) 2001, categoria criança.
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