Biodiversidade em Minas Gerais



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Transcrição:

Biodiversidade em Minas Gerais SEGUNDA EDIÇÃO ORGANIZADORES Gláucia Moreira Drummond Cássio Soares Martins Angelo Barbosa Monteiro Machado Fabiane Almeida Sebaio Yasmine Antonini Fundação Biodiversitas Belo Horizonte 2005

PEIXES O Brasil é considerado um país megadiverso em relação à fauna de peixes de água doce, fato relacionado à grande diversidade e ao tamanho de suas bacias hidrográficas. Abrigando 3.000 espécies de peixes de água doce, o País ocupa a 1ª posição em relação ao resto do mundo (McAllister et al., 1997). Além do grande número, uma parcela considerável das espécies é endêmica, ou seja, só ocorre no Brasil. Minas Gerais, pela sua posição geográfica, possui um sistema hidrográfico que abrange a maior parte das bacias brasileiras, exceto a Amazônica. Ao todo, são quinze bacias, das quais apenas duas (Paraíba do Sul e Tietê) não possuem suas nascentes dentro dos limites estaduais. Um resumo das características dessas drenagens encontra-se na Tabela 1. Tabela 1. Características gerais das bacias hidrográficas do estado de Minas Gerais. Bacia Área (mil km 2 ) Área no Estado (mil km 2 ) % da bacia no Estado % do Estado drenado pela bacia Extensão dentro do Estado (km) Cota altimétrica na nascente (m) Cota altimétrica na divisa do Estado (m) Declividade média no Estado (m/km) São Francisco 634,0 233,6 36,8 39,78 1.135 1.460 435 0,20 Grande 143,0 86,5 60,7 14,78 1.390 1.980 295 0,53 Paranaíba 222,7 71,6 32,1 12,20 1.120 1.100 295 0,50 Doce 82,0 70,8 86,0 12,06 608 1.220 80 0,96 Jequitinhonha 70,0 65,5 93,6 11,16 739 1.260 100 0,98 Paraíba do Sul 57,0 21,3 37,5 3,63 Mucuri 15,1 14,3 94,7 2,44 242 720 92 1,62 Pardo 32,1 13,0 40,6 2,21 São Mateus 13,1 5,8 44,1 0,98 Itanhaém 6,2 1,5 23,4 0,25 Tiête 71,6 1,2 1,6 0,19 Jucuruçu 5,8 0,9 15,4 0,15 Itabapoana 4,9 0,7 13,3 0,11 Buranhém 2,8 0,3 11,7 0,06 Peruípe 0,05 0,01 Fonte: CETEC (1983), exceto dados de Peruípe, que foram extraídos do mapa Estado de Minas Gerais Bacias Hidrográficas número 99.800-PG/EG- 258 elaborado pela CEMIG. 73

No Estado, as principais informações sobre a fauna de peixes têm sido obtidas através dos inventários realizados na calha principal, os quais são normalmente solicitados pelos órgãos ambientais durante o licenciamento para construção de usinas hidrelétricas. As lagoas marginais, as cabeceiras e os pequenos afluentes têm sido explorados com menor intensidade. Algumas regiões particulares, como o complexo lacustre do médio rio Doce e os lagos da região cárstica do planalto de Lagoa Santa, por exemplo, foram parcialmente amostrados. Se, por um lado, os estudos promovidos para a construção das hidrelétricas permitem ampliar o quadro sobre a distribuição das espécies, por outro, a efetivação das barragens tem sido considerada a principal causa de impacto para a ictiofauna. Os dados obtidos permitiram avaliar a composição da ictiofauna para sete bacias, das 15 consideradas na análise e indicação das áreas prioritárias. Em função de revisões taxonômicas publicadas recentemente e da atualização do banco de dados sobre os peixes que ocorrem no Estado, o número de espécies foi alterado em relação à versão anterior deste Atlas. Minas Gerais abriga uma ictiofauna nativa estimada em 354 espécies, o que representa quase 12% do total encontrado no Brasil (n = 3.000) (McAllister et al., 1997). Em relação à região Neotropical 4.475 espécies de peixes de água doce, esse percentual seria de 7,9%, conforme informações mais recentes (Reis et al., 2003). A bacia do São Francisco apresenta o maior número de espécies (173), seguida das bacias do Paranaíba (103), Grande (88), Doce (64), Paraíba do Sul (55), Mucuri (51) e Jequitinhonha (35). Na Tabela 2 são apresentados os dados comparativos de 1998 e 2004. Bacia Riqueza em 1998 Riqueza atual São Francisco 170 173 Paranaíba 112 103 Grande 90 88 Doce 77 64 Paraíba do Sul 59 55 Mucuri 44 51 Jequitinhonha 36 35 Tabela 2. Riqueza de espécies de peixes nas maiores bacias hidrográficas de Minas Gerais, considerando os dados disponíveis em 1998 e 2004. O número de espécies decresceu em todas as drenagens, exceto para o São Francisco e Mucuri. Excetuando-se o Jequitinhonha, cujos levantamentos ainda são pouco abrangentes, o número de espécies em cada uma das demais bacias pode ser interpretado como bem próximo da realidade. As demais drenagens permanecem com informações escassas, panorama que não se modificou desde 1998. Apesar das lacunas no conhecimento acerca da distribuição dos peixes, nas últimas duas décadas o número de descrições de espécies no Estado foi ampliado acentuadamente. Das 70 espécies de peixes que têm como localidade típica o estado de Minas Gerais, quase 50% (32 espécies) foram descritas nesse período. O maior número de espécies descritas pertence ao grupo dos Loricariidae (cascudos), Rivulidae (peixes anuais) e Characidae (lambaris). Os rivulídeos constituem um caso particular, pois até 1981 não eram conhecidos representantes desse grupo no Estado. As 15 espécies atualmente descritas, em sua maioria, vivem em poças temporárias e possuem um ciclo de vida muito diferenciado do restante da ictiofauna. Esse ciclo de vida envolve a deposição dos ovos no substrato, a morte dos pais quando a poça seca e eclosão no período de chuvas seguinte. Em função desse comportamento, são 74

conhecidos como peixes anuais ou peixes das nuvens, pois aparecem em poças isoladas sem comunicação direta com o rio. A maior parte dessas espécies encontra-se ameaçada de extinção, principalmente em áreas do Cerrado mineiro (Costa, 2002; MMA, 2004). Excetuando-se a vermelha (Brycon vermelha), um caracídeo de grande porte do rio Mucuri, nos últimos 20 anos todas as demais espécies descritas são de pequeno porte (até 15 cm). Essas espécies quase sempre possuem distribuição restrita a pequenos trechos das drenagens, condição delicada sob o ponto de vista da conservação, visto que impactos nessas áreas podem significar a extinção da espécie. Isso é particularmente verdadeiro para os rivulídeos, cuja área de uso, que deixa de ser um ambiente aquático durante os períodos de seca e quase nunca está conectada diretamente ao rio. As principais ameaças para a ictiofauna de Minas Gerais estão relacionadas a poluição, assoreamento, desmatamento, mineração, introdução de espécies exóticas e construção e operação de barragens. Devido ao seu elevado potencial hidrelétrico, Minas Gerais tem sido foco de rápida expansão de usinas hidrelétricas desde a década de 1950. Esse processo foi ampliado acentuadamente nos últimos anos, principalmente com a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). As análises de impactos ambientais em rios a serem barrados têm sido tradicionalmente focadas em espécies de peixes economicamente importantes ou migradoras. Esse procedimento tem contribuído para o declínio de peixes nativos de pequeno porte ou que requerem ambientes lóticos (reofílicos 1 ), mas que, não necessariamente, realizam longas migrações ou apresentam importância econômica. O resultado dessa visão simplificada tem sido o empobrecimento progressivo da ictiofauna em diversas bacias do Estado. A operação da usina para geração de energia é outro aspecto que interfere na ictiofauna, mas que no Estado, e mesmo no País, ainda não foi adequadamente avaliado. Os problemas relacionados à introdução de espécies exóticas são comuns a todas as drenagens de Minas Gerais e representam uma ameaça real à diversidade de peixes no Estado. Entretanto, esse problema não tem sido avaliado com a devida atenção. Diferentemente das informações disponíveis durante a elaboração do primeiro Atlas em 1998, quando foram relatadas 24 espécies exóticas no Estado, sabe-se que hoje existem 63 espécies de peixes introduzidas em Minas Gerais (Alves et. al., 2004). A bacia com maior grau de contaminação é a do Paraíba do Sul (41 sp. exóticas), seguida do Doce (30) e Alto Paraná Paranaíba e Grande (20). O alto grau de contaminação da drenagem do rio Paraíba do Sul está intimamente relacionado ao pólo de criação de peixes ornamentais, considerado o maior da América do Sul (Vidal & Costa, 2000). A aqüicultura é uma fonte importante de introdução de espécies exóticas. Devido às dificuldades para se evitar a fuga de peixes das instalações de criação, é provável que mais espécies venham a se estabelecer nos ambientes aquáticos de Minas Gerais. Diversos setores da comunidade, como prefeituras, clubes de pescadores e empresas particulares, também têm sido responsáveis pela introdução de espécies. A crença popular de que o peixamento é a solução para aumentar a abundância de peixes, associada às facilidades para aquisição de alevinos, tem criado condições para que diversas espécies sejam introduzidas nos ambientes aquáticos do Estado. Diversas medidas de proteção devem ser tomadas para a conservação da fauna de peixes de Minas Gerais, e, em sua maioria, dependem da participação de diferentes segmentos da sociedade. Entretanto, é um fato que ações de conservação adotadas em nível estadual são muito modestas quando se trata da ictiofauna. De modo geral, essas ações estão limitadas à interdição temporária da pesca (defeso) e respectiva fiscalização. Outra forma rotineiramente noticiada são as multas aplicadas por danos ambientais à fauna de peixes. Algumas vezes, as medidas punitivas derivadas desses processos também incluem peixamentos, que, já de longa data, vêm sendo questionados quanto a sua real efetividade (Vieira & Pompeu, 2000). Assim, associada à capacitação de profissionais especializados em conservação e manejo da fauna de peixes, é urgente a implementação de medidas que eliminem ou reduzam a poluição nos ambientes aquáticos, regulamentem as atividades de pesca e estabeleçam critérios claros para o cultivo de peixes. páginas anteriores: Perereca (Hyla Alvarengai) Fotografia: Magno Segalla Rio Cipó no Parque Nacional da Serra do Cipó. Fotografia: Miguel Aun 1 Peixes reofílicos são aqueles que necessitam do ambiente lótico para completarem o seu ciclo de vida. Esses peixes podem ser migradores ou não.

76 Com relação às áreas prioritárias para conservação da fauna de peixes definidas anteriormente, nenhuma ação efetiva foi desenvolvida para torná-las uma realidade, fato que contribuiu para o decréscimo da qualidade ambiental em diversas regiões. Assim, atualmente duas áreas não mantêm mais as características anteriores consideradas na sua seleção, fato que culminou com a exclusão no documento atual, uma perda considerada irreparável visto que não existem áreas similares que possam substituí-las. Essas áreas eram o baixo-médio rio Araguari e o alto rio Grande, que já foram alteradas ou estão em processo de modificação pela construção de três usinas hidrelétricas. O panorama para diversas outras áreas definidas em 1998 é o mesmo, pois em grande parte continuam submetidas a fortes pressões para exploração econômica. Um único estudo com peixes, desenvolvido em uma das áreas definidas em 1998, foi realizado por Vieira et al. (2004). Esse estudo avaliou a drenagem do rio Santo Antônio e identificou três áreas principais para desenvolvimento das ações de conservação. Ações desse tipo devem se tornar regra após a definição das áreas prioritárias de conservação, condição essencial para que elas possam desempenhar o papel para o qual foram selecionadas. Na atual edição do Atlas, 33 áreas foram consideradas prioritárias para conservação da biodiversidade de peixes, sendo quatro de importância biológica Especial, quatro de importância biológica Extrema, nove de importância biológica Muito Alta, 11 de importância biológica Alta e cinco de importância biológica Potencial. As áreas indicadas compreendem o corpo d'água, a faixa de preservação permanente (Lei nº 7.511, de 7 de julho de 1986) e a planície de inundação, quando existente. É claro que somente reconhecer as áreas prioritárias para conservação da diversidade de peixes em Minas Gerais não será o meio único para manutenção desse componente da biota aquática. Esse fato é expresso pela perda de algumas áreas importantes desde 1998, embora tenhamos que ponderar que a Instrução Normativa que homologou o primeiro Atlas tenha sido editada somente em 2002. Assim, o primordial é que os indicativos apresentados sejam incorporados à estratégia de desenvolvimento estadual em longo prazo, criando as condições reais de proteção e conservação dos peixes que ocorrem em Minas Gerais.

Relação das áreas indicadas para a conservação dos peixes de Minas Gerais Número da Área Nome da Área Pressões Antrópicas Recomendações Categoria 1 Rio São Francisco e Grandes Afluentes Alta 2 Caverna Olhos do Brioco Potencial 3 Várzeas do Médio Rio São Francisco Especial 4 Bacia do Alto Rio Pardo Muito Alta 5 Vereda São Marcos Especial 6 Alto Jequitinhonha / Rio Itacambiruçu Extrema 7 Médio Jequitinhonha Muito Alta 8 Pequenas Bacias do Leste Alta 9 Rio Pampã Muito Alta 10 Rio Mucuri Extrema 11 Rio Preto Alta 12 Tributários do Rio das Velhas Muito Alta 13 Alto Rio Santo Antônio Especial 14 Bacia do Rio Suaçuí Grande Muito Alta 15 Baixo Rio Doce Alta 16 Rios Manhuaçu / Rio José Pedro Alta 17 Lagoas do Rio Doce Especial 18 Caverna Salitre Alta 19 Rio Paraopeba Alta 20 Rio Piranga Muito Alta 21 Rio Carangola Potencial 22 Rio Pomba Extrema 23 Tributários do Baixo Rio Grande Potencial 24 Remanescentes Lóticos do Rio Paranaíba Extrema 25 Alto Rio São Francisco Muito Alta 26 Caverna do Peixe Alta 27 Lagoas Marginais do Rio Grande Potencial 28 Rio das Mortes / Rio Capivari Alta 29 Alto Rio Grande / Aiuruoca Muito Alta 30 Bacia do Rio do Cervo Alta 31 Várzeas do Rio Sapucaí Alta 32 Bacia do Alto Rio Sapucaí Potencial 33 Rio Preto / Afluente do Paraibuna Muito Alta Consulte legenda dos ícones desta tabela na orelha da página 202. 77

ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DOS PEIXES DE MINAS GERAIS 1 Rio São Francisco e Grandes Afluentes 2 Caverna Olhos do Brioco 3 Várzeas do Médio Rio São Francisco 4 Bacia do Alto Rio Pardo 5 Vereda São Marcos 6 Alto Jequitinhonha / Rio Itacambiruçu 7 Médio Jequitinhonha 8 Pequenas Bacias do Leste 9 Rio Pampã 10 Rio Mucuri 11 Rio Preto 12 Tributários do Rio das Velhas 13 Alto Rio Santo Antônio 14 Bacia do Rio Suaçuí Grande 15 Baixo Rio Doce 16 Rio Manhuaçu / Rio José Pedro 17 Lagoas do Rio Doce 18 Caverna Salitre 19 Rio Paraopeba 20 Rio Piranga 21 Rio Carangola 22 Rio Pomba 23 Tributários do Baixo Rio Grande 24 Remanescentes Lóticos do Rio Paranaíba 25 Alto Rio São Francisco 26 Caverna do Peixe 27 Lagoas Marginais do Rio Grande 28 Rio das Mortes / Rio Capivari 29 Alto Rio Grande / Aiuruoca 30 Bacia do Rio do Cervo 31 Várzeas do Rio Sapucaí 32 Bacia do Alto Rio Sapucaí 33 Rio Preto / Afluente do Paraibuna

LEGENDA DOS ÍCONES DAS TABELAS Pressões Antrópicas Agropecuária e Pecuária Agricultura Assoreamento Barramento Caça Desmatamento Espécies exóticas invasoras Expansão urbana Extração de madeira Extração vegetal Isolamento Mineração Monocultura Pesca predatória Piscicultura Queimada Turismo desordenado Recomendações Educação ambiental Fiscalização Inventários Monitoramento Plano de manejo Promover conectividade Recuperação Regularização fundiária Unidades de Conservação