Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 07, n. 02, p. 179 184, 2005. Disponível em http://www.fen.ufg.br ARTIGO ORIGINAL



Documentos relacionados
EXCESSO DE PESO E SUA ASSOCIAÇÃO COM A ALIMENTAÇÃO ESCOLAR ENTRE CRIANÇAS DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE MINAS GERAIS 1

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE ESCOLARES E A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO CONSUMO DE ALIMENTOS

PROMOVENDO A REEDUCAÇÃO ALIMENTAR EM ESCOLAS NOS MUNICÍPIOS DE UBÁ E TOCANTINS-MG RESUMO

QFase REVISTA TJ 11. Tiago Elias Junior. Volume 02 julho/2014 Ano 1 Bebedouro SP. Redator chefe. Experiências. Bebe da Semana. Obesidade infantil

PROJETO DE EXTENSÃO TÍTULO DO PROJETO:

PROC. Nº 0838/06 PLL Nº 029/06 EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

Os programas de promoção da qualidade de vida buscam o desenvolvimento

HORTA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSCIÊNCIA PLANETÁRIA

Hábitos saudáveis na creche

Congregação das Filhas do Amor Divino

A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES

Ações Educativas Em Nutrição: Testando a Efetividade de um Modelo para Reduzir a Obesidade Infantil

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL ENTRE CRIANÇAS

Nathallia Maria Cotta e Oliveira 1, Larissa Marques Bittencourt 1, Vânia Mayumi Nakajima 2

E E R D A B DISEB SO O RA S FALOM VA

PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE ADULTOS E IDOSOS EM UMA UBS DE APUCARANA-PR

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

PESQUISA SOBRE HÁBITOS ALIMENTARES NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS EM CUITÉ-PB.

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL PARA PRÉ-ESCOLARES DO CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL EM VIÇOSA-MG

IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA INFÂNCIA

FACULDADE INTERNACIONAL DO DELTA PROJETO PARA INCLUSÃO SOCIAL DOS SURDOS DA FACULDADE INTERNACIONAL DO DELTA

Teotônio Vilela II reforma parques pág. 3. Festa da criança no CEI São Rafael pág. 3. Nesta edição: CEI Vila Maria 2. CAA São Camilo II 2

Pedagogia Estácio FAMAP

SUMÁRIO OBESIDADE...4 OBESIDADE EM ADULTOS...5 PREVENÇÃO...6 EM BUSCA DO PESO SAUDÁVEL...7 TRATAMENTO...9 CUIDADOS DIÁRIOS COM A ALIMENTAÇÃO...

Mostra de Projetos Criança Saudável é Criança Feliz

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

PROPONDO UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR NA ESCOLA: DO ASPECTO INFORMATIVO À PRÁTICAS TRANSFORMADAS

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA INFÂNCIA: INTRODUÇÃO DOS VEGETAIS NA REFEIÇÃO DAS CRIANÇAS

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

INCLUSÃO: POSSIBILIDADES DA PSICOLOGIA ESCOLAR RESUMO

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL PARA CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS DE UM COLÉGIO DE APUCARANA-PR.

VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ESCOLA CAMPO

Atividade física no ambiente escolar

Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2012

Avaliação antropométrica de idosas participantes de grupos de atividades físicas para a terceira idade.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMEÇA NA ESCOLA: COMO O LIXO VIRA BRINQUEDO NA REDE PÚBLICA EM JUAZEIRO DO NORTE, NO SEMIÁRIDO CEARENSE

FAZENDA ITUAÚ. A garantia da origem assegura o padrão de qualidade.

JORNALZINHO DA SAÚDE

A Prática de ciências/ biologia para o incentivo dos educandos PROJETO PEDAGÓGICO: NO STRESS : DOUTORES DO FUTURO CONTRA O STRESS

EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UMA EXPERIÊNCIA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO ENTORNO DO LIXÃO DE CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL.

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

JANGADA IESC ATENA CURSOS

Mostra de Projetos 2011

Senhor Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

O que o Brasil pode aprender com o sucesso acadêmico de Cuba? Martin Carnoy Stanford University

Projeto Curricular de Escola

OS 5 PASSOS QUE MELHORAM ATÉ 80% OS RESULTADOS NO CONTROLE DO DIABETES. Mônica Amaral Lenzi Farmacêutica Educadora em Diabetes

balanço energético #compartilhequilibrio

Campanha da Rede Asbran alerta este mês sobre consumo de açúcar

ESTIMULANDO A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS E BONS HÁBITOS ALIMENTARES EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE ESCOLAS PÚBLICAS

Teste seus conhecimentos: Caça-Palavras

IMPLANTANDO OS DEZ PASSOS DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA EDUCAÇÃO INFANTIL RELATO DE UMA EXPERIENCIA

Revista Perspectiva. 2 Como o artigo que aqui se apresente é decorrente de uma pesquisa em andamento, foi possível trazer os

PROJETO. Saúde, um direito Cívico

Motivos de transferência do negócio por parte dos franqueados

REFLEXÕES INICIAIS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS PARA INCLUIR OS DEFICIENTES AUDITIVOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.

Programa Ambiental: 1º Ciclo de Palestras Uso sustentável dos recursos naturais

Neste início de século observamos no mundo uma economia

PROJETO DE LEI Nº, DE 2006 (Do Sr. Ricardo Santos e outros) O Congresso Nacional decreta:

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE MENINOS DA CIDADE DE AMPARO - SÃO PAULO

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

FÁBIO JOSÉ DE ARAUJO. Projeto Ensinando Educação Física com Jogos

COMPORTAMENTO ALIMENTAR, AUTOCONCEITO E IMAGEM CORPORAL EM PRÉ-ADOLESCENTES COMO FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES

PROBLEMA É IMPLEMENTAR LEGISLAÇÃO

Prefeitura Municipal de Santos

PERCEPÇÃO E REALIDADE Um estudo sobre obesidade nas Américas OUTUBRO 2014

Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006

POSSÍVEL IMPACTO DE UMA EDUCAÇÃO DISCRIMINADORA NAS PERSPECTIVAS DE FUTURO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO. ANEXO I. PROJETO DE ( ) CURTA DURAÇÃO (x) LONGA DURAÇÃO

Escola: Escola Municipal Rural Sucessão dos Moraes

Notas sobre a exclusão social e as suas diferenças

Rua Antônia Lara de Resende, 325 Centro CEP: Fone: (0xx32) / 2151 Fax: (0xx32)

10 Alimentos importantes para sua saúde.

A Organização da Atenção Nutricional: enfrentando a obesidade

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A PROMOÇÃO DE HÁBITOS SAÚDAVEIS: Um relato de experiência

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

TITULO: INSERÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA-RS/BR

Estudo Exploratório. I. Introdução. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Pesquisa de Mercado. Paula Rebouças

DIFUSÃO E DIVULGAÇÃO DA BIOTECNOLOGIA PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES RJ

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Projeto Ação Social. Relatório equipe de Nutrição Responsável pelos resultados: Vanessa de Almeida Pereira, Graduanda em Nutrição.

Obesidade Infantil. O que é a obesidade

PUBLICO ESCOLAR QUE VISITA OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE MANAUS DURANTE A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

Relato de experiência sobre uma formação continuada para nutricionistas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco

Palavras-chave: Ambiente de aprendizagem. Sala de aula. Percepção dos acadêmicos.

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

A influência da prática de atividade física no estado nutricional de adolescentes

Subtítulo: O uso das ciências naturais na percepção das substâncias e processos envolvidos em uma alimentação saudável por crianças.

TRAÇOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA EM SÃO LUÍS- MA: UM DIAGNÓSTICO DO PERFIL SOCIOCULTURAL E EDUCACIONAL DE ALUNOS DAS ESCOLAS PARCEIRAS DO PIBID.

Módulo 14 Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas Treinamento é investimento

O Consumo de Tabaco no Brasil. Equipe LENAD: Ronaldo Laranjeira Clarice Sandi Madruga Ilana Pinsky Ana Cecília Marques Sandro Mitsuhiro

Plano de Aula: Caderno de Receitas Saudáveis

Pesquisa revela que um em cada 11 adultos no mundo tem diabetes

Exposição A obesidade pelo olhar da infografia da Abril REALIZAÇÃO PATROCÍNIO

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

5 Considerações finais

Programa Sol Amigo. Diretrizes. Ilustração: Programa Sunwise Environmental Protection Agency - EPA

AS INTERFACES ENTRE A PSICOLOGIA E A DIVERSIDADE SEXUAL: UM DESAFIO ATUAL 1

Transcrição:

Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 07, n. 02, p. 179 184, 2005. Disponível em http://www.fen.ufg.br ARTIGO ORIGINAL ESTUDO DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS NA IDADE ESCOLAR NA CIDADE DE FRANCA-SP: UMA INTRODUÇÃO AO PROBLEMA A STUDY OF THE NUTRITIONAL STATE OF SCHOOL CHILDREN IN THE TOWN OF FRANCA, SP: AN INTRODUCTION TO THE PROBLEM ESTÚDIO DEL ESTADO NUTRICIONAL DE LOS ESCOLARES DE LA CIUDAD DE FRANCA, SP: UMA INTRODUCCIÓN AL PROBLEMA Maria Aparecida T. Cano 1, Cláudia Haddad Caleiro Pereira 2, Carolina Cristina Coimbra Silva 3, Juliana Neves Pimenta 4, Paula Silva Maranha 5 RESUMO: Dentre os problemas nutricionais da infância, a obesidade é a que mais chama a atenção na área da saúde. Objetivo: avaliar o perfil nutricional de crianças entre 7 e 8 anos de idade em escolas públicas e privadas da cidade de Franca-SP. Metodologia: dividimos as escolas segundo a clientela que as freqüentava em carentes, mistas e particulares. Nossa amostra foi de 171 crianças que foram entrevistadas, pesadas e medidas. Resultado: 44 alunos (25,6%) apresentaram um tipo de risco nutricional, sendo 29 (16,9%) com risco para obesidade, e destes, 8 (27,5%) freqüentavam escola carente ou mista. Conclusão: tanto crianças com risco para obesidade, quanto aquelas consideradas normais para o peso não têm uma alimentação saudável e vivem uma vida sedentária. As cantinas das escolas não são supervisionadas. Nesta primeira aproximação do tema, verificamos que Franca, nós já temos escolares com risco para obesidade. PALAVRAS CHAVES: Saúde Escolar; Obesidade; Avaliação Nutricional. SUMMARY: Among nutritional problems during infancy, obesity is relevant concerning to health state. Objective: evaluate the nutritional profile of children who were 6 and 7 years old in public and private schools in Franca, São Paulo. Methodology: We separated schools according to the group of students that were attending them, in caring, mixed and private schools. Our sample were composed by 171 children that were interviewed, weighed and had their height measured. Results: 44 students (25,6%) presented at least one nutritional risk, and 29 (16,9%) with obesity risk, and 8 (27,5%) of these attended caring or mixed school. Conclusion: children with obesity risk and those considered normal for weigh do not have a healthy nourishment and live a sedentary life. School canteens are not well supervised. In this first approximation of this theme we verified that in Franca we can detect children with risk for obesity. KEYWORDS: School Health; Obesity; Nutritional Assessment. RESUMEN: Dentro de los problemas nutricionales de la infancia, la obesidad es lo que más llama la atención en el area de la salud. Sentimos necesidad de conocer la realidad del estado nutricional de los escolares de la ciudad de Franca, SP. Objetivo: evaluar el perfil nutricional de niños entre 7 y 8 años de edad en escuelas públicas y privadas de la ciudad. Metodología: dividimos las escuelas de acuerdo con la clientela que las frecuentaba en carentes, mixtas y particulares. Nuestra muestra fue de 171 niños que fueron entrevistados, pesados y medidos. Resultado: 44 alumnos (25,6%) presentaron un tipo de riesgo nutricional, de los cuales 29 (16,9%) presentaron riesgo de obesidad, y de estos, 8 (27,5%) frecuentaban una escuela carente o mixta. Conclusión: tanto los niños con riesgo de obesidad, como aquellos considerados normales con respecto a su peso no tienen una alimentación saludable y viven una vida sedentária. Las cantinas de las escuelas no son supervisadas. En esta primera perspectiva del tema, verificamos que en Franca ya hay escolares con riesgo de obesidad. PALABRAS CLAVES: Salud Escolar; Obesidad; Evaluación Nutricional. 1 Pesquisador da FUNADESP. Orientador do Curso de Pós Graduação de Promoção da Saúde-Universidade de Franca - UNIFRAN. R. Pau Brasil 824 bairro J. Recreio. Ribeirão Preto SP CEP 14040-220. e-mail: decano@netsite.com.br 2 Professora do Curso de Graduação em Nutrição e Mestranda no Curso de Pós-Graduação de Promoção da Saúde da Universidade de Franca. Rua Dos Pracinhas nº 1871 bairro- Residencial Paraíso. Franca-SP CEP - 14403-160. e-mail: caleiropereira@uol.com.br 3 Aluna do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade de Franca. Rua.Avenida Vigário Paixão nº 57 apto. 402 bairro Centro. Sacramento - MG CEP - 38190 000. e-mail: carinacs@bol.com.br 4 Aluna do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade de Franca. R. Voluntário José Rufino nº 1269 bairro centro. Franca-SP CEP - 14400.580. e- mail: juliana.np@uol.com.br 5 Aluna do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade de Franca. R. José Chediack nº 265 bairro - Vila Monteiro. Franca- SP CEP 14401.141. e-mail: paulamaranha@hotmail.com.br 179

Enfermagem, v. 07, n. 02, p. 179 184, 2005. Disponível em http://www.fen.ufg.br INTRODUÇÃO Nos últimos anos tem sido muito discutida a questão da obesidade, em todo o Brasil e em diferentes classes sociais. Muitas pesquisas sobre o tema vêm alertando a sociedade para este tipo de problema. (SANTOS, 1997; MONTEIRO et al. 1995; PIZZATTO, 1992). Ao mesmo tempo, no Brasil ainda se discute o problema da fome que atinge milhões de brasileiros todos os anos, entre homens, mulheres e crianças, e é considerado um grave problema de Saúde Pública. Assim como a desnutrição, a obesidade especialmente na infância pode trazer sérios danos à saúde global. Segundo MONTEIRO et al. (1995), o Brasil vive um momento de transição nutricional, ou seja, estão ocorrendo mudanças nos padrões alimentares dos indivíduos em conseqüência de modificações em sua dieta decorrente de mudanças sócias, econômicas e influencia da mídia. Concordamos com PIZZATTO (1992), que a principio o estudo da obesidade pode parecer irrelevante em um país em crise financeira e pessoal, no entanto a obesidade representa um fenômeno de incidência cada vez mais elevada tanto entre as classes desprivilegiadas economicamente, como nas mais abastadas, não apenas no Brasil, mas em todos os países. A obesidade hoje supera os índices de desnutrição. No Brasil o número de obesos é calculado em 17 milhões de pessoas, ou 9,6 % da população (PIZZATTO, 1992). A obesidade na infância pode trazer sérias conseqüências para a saúde como a hipertensão, o colesterol alto, problemas cardíacos, morte prematura, entre outros. Por outro lado, como citam WHALEY & WONG (1989), com a evolução da obesidade na criança, na maioria das vezes pode ocorrer sua marginalização pela falta de aceitação das outras crianças consideradas normais com relação ao peso. Esta situação leva a criança obesa a ter uma baixa alto estima, como conseqüência, ela se isola socialmente, brinca menos, se sente envergonhada e come em excesso para aliviar o sofrimento e com isso fecha-se o ciclo vicioso. Mediante a alimentação adequada em quantidade e qualidade, o organismo adquire a energia e os nutrientes necessários para o bom desempenho de suas funções e para a manutenção de um bom estado de saúde. É de se ressaltar o conhecimento dos prejuízos decorrentes quer do consumo alimentar insuficiente (deficiências nutricionais), quer do consumo alimentar excessivo (obesidade) (MONTEIRO et al. 1995). Diante do exposto, sentimos necessidade de uma primeira abordagem, nos aproximarmos da realidade do estado nutricional das crianças em idade escolar em Franca-SP e concordamos com BARBIERI et al. (1988), que a avaliação do estado nutricional da população infantil é importante aos serviços de saúde pública e aos pesquisadores e que a aferição do peso e da altura permitem a comparação de cada criança com o padrão de crescimento ideal para que se verifique a existência de possíveis deficiências. OBJETIVO Avaliar o perfil nutricional de crianças na faixa etária de 7 a 8 anos de idade de escolas públicas e privadas da cidade de Franca-SP. METODOLOGIA Esta pesquisa é de natureza descritivoexploratória e foi desenvolvida com uma amostra de 171 crianças de 7 a 8 anos de idade, matriculadas em duas escolas públicas e uma privada da cidade de Franca-SP. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca-UNIFRAN. Para a determinação das escolas que participariam da pesquisa utilizamos como referencial a classificação de CANO & SILVA (1994) que agrupa as escolas em carentes, mistas e particulares de acordo com a clientela que as freqüenta. As escolas carentes recebem crianças provindas de famílias de baixa renda, moradoras em sua maioria em bairros periféricos pobres da cidade. Os pais têm baixa escolaridade e estão empregados em atividades braçais, no comércio, construções civis, na lavoura. As escolas mistas apresentam uma clientela heterogênea com relação ao nível sócio econômica das famílias, geralmente estão localizadas no Centro da cidade e são escolas grandes. As escolas particulares agrupadas nesta classificação são aquelas em que a mensalidade é maior ou igual a 1 salário mínimo, portanto, recebem alunos de melhor nível sócio econômico e cultural. Entramos em contato com a Delegacia de Ensino de Franca, apresentamos o projeto de pesquisa e seus objetivos e solicitamos permissão para desenvolvê-lo nas escolas. Baseado na classificação de CANO & SILVA (1994) solicitamos que fosse indicada uma escola de cada grupo. A partir da indicação, entramos em contato com os diretores, agendamos uma reunião e expusemos o projeto de pesquisa. Após o acerto, os diretores entraram em contato com os pais solicitando autorização para que as crianças pudessem participar. Foi elaborado junto com os diretores um cronograma de datas e horários oportunos para a coleta de dados, dentro do período de aulas. Em cada escola, todas as crianças de primeira série fizeram parte da amostra. A coleta de dados ocorreu no período de maio a setembro de 2004. Elaboramos um questionário com questões que levantaram informações sobre o consumo alimentar 180

Enfermagem, v. 07, n. 02, p. 179 184 2005. Disponível em http://www.fen.ufg.br das crianças, especificamente com relação ao lanche, uso da cantina ou merenda escolar e ingestão de refrigerantes e doces; questões relativas a atividades físicas, de esporte e lazer. Neste questionário foram anotadas as avaliações antropométricas de peso e altura para a idade e Índice de Massa Corpórea IMC. A coleta de dados desenvolveu-se em três etapas: Primeira: nesta etapa foi realizada a avaliação antropométrica utilizando-se uma balança (Welmy, ano de fabricação 2004, modelo 110, número de série 69420, verificação inicial 0059.049-5, peso máximo 150Kg). As crianças foram orientadas a tirar o tênis e o moletom para não interferir nos dados. O peso e altura foram anotados no gráfico de crescimento e desenvolvimento, utilizados pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, baseado nas curvas de crescimento Classe IV de Santo André (São Paulo, SES, S.d.). Utilizou-se também a Tabela E1 Percentis de IMC (Kg/m²) para avaliação de Estado Nutricional de crianças e adolescentes, sendo considerado: P5 baixo peso P5 P15 risco para baixo peso P15 P85 eutrofia P85 P95 sobrepeso 95 obesidade (anexo 3). Durante esta etapa também foram realizadas as entrevistas individuais, para que não houvesse indução de respostas dos colegas. Segunda: De acordo com os resultados obtidos, foi realizada uma segunda pesagem dos alunos que na primeira saíram do perfil eutrófico e para que houvesse confirmação do dado. Esta etapa ocorreu entre 10 e 15 dias após a primeira pesagem. Terceira: Foram comparados os resultados da primeira e segunda pesagem e os IMC e os alunos que se apresentaram na faixa de risco tanto para obesidade, como para a desnutrição, foram indicados para os diretores das escolas que agendaram reuniões com os pais para as orientações nutricionais. Cabe salientar que tanto a segunda, como a terceira etapa foi realizada levando-se em considerações os aspectos éticos de proteção especialmente as crianças com risco de obesidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 171 alunos que participaram da pesquisa, 44 ou 25,6% apresentaram um tipo de risco nutricional, sendo que 15 (8,7%) alunos apresentaram risco para desnutrição e destes apenas um (1) (6,6%) pertence à escola particular, os demais estão matriculados em escola mista ou carente. Com relação à obesidade, 29 alunos ou seja 16,9% da amostra estão nesta faixa de risco e destes 8 (27,5%) pertencem às escolas mista e carente, conforme mostra o gráfico 1 a seguir: Gráfico 1 Distribuição dos alunos por grupo de risco de acordo com o tipo de escola 25 20 15 n 10 5 0 Publica Particular Mista 181

Enfermagem, v. 07, n. 02, p. 179 184, 2005. Disponível em http://www.fen.ufg.br Os dados da nossa pesquisa apresentam uma tendência que é mundial de um número cada vez maior de pessoas obesas ou com risco para obesidade. A obesidade hoje supera os índices de desnutrição (PIZZATTO, 1992). Segundo WHALEY & WONG (1989), em alguns casos foi demonstrado que a hereditariedade é um fator que contribui para o desenvolvimento da obesidade, mas, na maioria dos casos, os padrões alimentares têm uma base cultural e social. Com relação aos hábitos alimentares, observouse que estes se mostraram inadequados em todas as escolas pesquisadas, havendo um baixo consumo diário de alimentos básicos e importantes para a formação das crianças, como legumes, frutas, cereais e um alto consumo de alimentos hipercalóricos e inadequados à essa faixa etária (salgadinhos, refrigerantes, chocolates, bolachas doces, bolo). Sabe-se que hábitos alimentares inadequados podem constituir-se em fatores de risco para a presença de doenças crônicas, tanto na vida atual quanto futura (MENDES et al., 2001) Os hábitos alimentares são precocemente condicionados nas crianças por seus pais e, como atualmente há uma tendência para alimentos mais gordurosos ou calóricos de fast-food, essas crianças podem desenvolver obesidade desde cedo. Verificamos que as crianças comem ainda muitos alimentos tipos salgadinhos industrializados riquíssimos em gorduras e calorias. Este estudo nos mostrou o excessivo uso de refrigerantes e sucos industrializados ricos em calorias piorando ainda o problema em questão. Os escolares ingerem atualmente mais do que o dobro da quantidade de refrigerantes do que há 2 décadas (VIUNISK, 2004). É muito importante que se ensine aos filhos, com idade entre 2 e 12 anos, a importância de se cultivar hábitos alimentares saudáveis. As crianças necessitam de nutrientes importantes para crescer. Com relação ao horário de lanche na escola, verificamos que todas as crianças utilizam a cantina para a compra de balas, pirulitos, salgados fritos, refrigerantes, entre outros, mesmo que tragam lanche de casa ou comam a merenda escolar. Na escola é importante enfatizar a hora do recreio. A função da escola é educar inclusive durante o recreio. As cantinas e merendas devem oferecer opções saudáveis, o que é muito raro. A escola também tem papel fundamental ao modelar as atitudes e comportamentos das crianças sobre Nutrição. Uma forma de realizar este trabalho é integrar a nutrição à sala de aula, incorporando conceitos de Nutrição às crianças (SCHARTZMAN & TEIXEIRA, 2001). Uma das escolas pesquisada,considerada mista tem horta e os legumes plantados são utilizados na merenda escolar. Esta proposta da escola vai ao encontro de um projeto denominado Escola Saudável (VIUNISKI, 2004), cujo objetivo é reduzir a obesidade infantil, através supervisão das cantinas, a implantação de hortas e orientação nutricional. Nos últimos anos, a obesidade aumentou entre crianças e segundo KOCHI (2004) ela é decorrente de fatores genéticos, ambientais e psicossociais. Segundo a autora as crianças de camadas mais pobres da população não têm informação correta sobre os alimentos e as crianças de maiores níveis econômicos sofrem a falta de vínculo mãe-filho decorrente especificamente do trabalho da mãe fora do lar, o que também acarreta erros alimentares. Observou-se na pesquisa que o lanche preparado em casa pela mãe, ou empregada, é também bastante calórico. Verificou-se que das 44 crianças com risco nutricional, 15 levam bolo recheado, pizza, chocolate ou bolacha com recheio; 9 levam salgadinhos industrializados; 10 levam refrigerantes. Verificou-se que apenas 6 alunos levam suco natural industrializados ou fruta. Antigamente os lanches levados de casa eram considerados lanches saudáveis (suco natural, pão com manteiga ou queijo e frutas), mas hoje, com a correria do dia a dia a opção é sempre pelo mais fácil ou seja alimentos industrializados. Outro dado importante citado na pesquisa pelas crianças foi o hábito de se fazer as refeições em casa assistindo a televisão, ou brincando (sempre tem que ter algum brinquedo nas mãos para fazer as refeições) ou jogando vídeo-game, com isso ela não aprende a sentir o sabor e aroma do que está mastigando e muito menos sabendo o que está comendo. É importante que a criança coma vagarosamente, mastigando várias vezes o alimento realizando na boca a primeira digestão. Quando a criança não mastiga adequadamente os alimentos, a quantidade ingerida é maior podendo ocorrer a obesidade. Com relação à atividade física, encontramos nesta pesquisa, que todos os alunos participam daquela que é obrigatória na escola, sendo excluídos apenas os alunos que apresentam problemas de saúde e são dispensados pelo médico. Das 44 crianças que apresentaram um tipo de risco nutricional, verificou-se que 16 realizam atividades físicas fora do horário de aula como, natação, futebol, basquete e balet. Encontrou-se, no entanto 28 crianças que consideraram como atividade física, aulas de música, desenho e computação. A atividade física é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Incluir esportes, brincadeiras ao ar livre, passeios e caminhadas no fim de semana. Hoje estas atividades são excluídas em todas as classes sociais em decorrência da violência e riscos de acidentes. Por outro lado é necessário restringir o tempo na frente da TV e de videogame. Temos de pensar que os maus hábitos alimentares associados ao sedentarismo estão levando a uma epidemia de crianças obesas que, se não tratadas, desenvolverão graves problemas físicos e psicológicos. 182

Enfermagem, v. 07, n. 02, p. 179 184 2005. Disponível em http://www.fen.ufg.br Como vimos nesta pesquisa, o índice maior de risco nutricional é a obesidade que aparece em todas as camadas sociais. Segundo CORRÊA (2004), no Brasil, muitas crianças menores de 5 anos ainda apresentam baixo peso e nanismo, mas paralelamente tem surgido um novo problema alimentar no país que é um aumento da obesidade infantil. Crianças obesas podem fazer parte dos grupos de riscos com maiores probabilidades de virem a sofrer, na idade adulta, de distúrbios tais como a hipertensão, diabetes, doenças respiratórias, etc. (CORRÊA, 2004). Além disso, a Educação Nutricional é essencial, pois visa a modificação e melhorias dos hábitos alimentares a longo prazo, e torna-se um elemento de conscientização e reformulação das distorções do comportamento alimentar, auxiliando a refletir sobre a saúde e qualidade de vida (MANTOANELLI, et al, 1997). O Profissional Nutricionista e os profissionais de saúde têm papel relevante na orientação de escolas (merendas e cantinas), junto às famílias na prevenção da obesidade, podendo auxiliar na reversão do quadro acima encontrado. Para melhores resultados nos tratamentos é importante a cooperação dos pais e educadores que devem estar conscientes de que a obesidade é um risco e que gera problemas na vida adulta. CONCLUSÃO Pelos dados encontrados em nossa pesquisa, embora seja apenas uma primeira abordagem sobre o tema, verificamos que a cidade de Franca-SP, já enfrenta o problema da obesidade infantil. Encontramos que de 171 alunos da rede de ensino, 16,9% apresentam risco de obesidade em todas as camadas sociais. As cantinas das escolas, não contam com um sistema de vigilância nutricional, vendendo todo tipo de alimentos industrializados e calóricos, o que aumenta a probabilidade de risco para a obesidade, assim como perpetua os vícios de uma alimentação não saudável mesmo para crianças que não fazem parte do grupo de risco. Verificou-se que mesmo os lanches trazidos de casa não contemplam uma alimentação saudável. O sedentarismo das crianças é outro fator que eleva o risco de obesidade. Os maus hábitos alimentares, o sedentarismo e a ausência de uma vida saudável na infância perpassa todas as camadas sociais e se faz presente também entre as crianças consideradas normais para o peso. Percebe-se que somente a união de pais, professores e profissionais da saúde, em especial o Nutricionista poderão minimizar o problema da obesidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBIERI, M.A et al. Crescimento e estado nutricional. In: WOISKI, J.R. Nutrição e dietética em pediatria clínica. Rio de Janeiro, ATHENEU,1988 CANO, M.A.T.; SILVA, G.B da. Detecção de Problemas Visuais e Auditivos de Escolares em Ribeirão Preto: estudo comparativo por nível sócioeconômico. Rev. Latino- Am. Enf., v. 2, n. 1, p. 57-68, 1994. CORRÊA, N.C. Qual o segmento da população mais afetado? Revista CRN-69. p.9-10. jan 2004. KOCHI, C. Escola saudável dá certo. Revista CRN-3. Notícias. Edição nº 76. p 32. dez., 2004. MANTOANELLI, G., COLUCCI, A.C.A; CRUZ, A.T.R., et al. Avaliação de rótulos e embalagens: bebidas lácteas, iogurte,queijo tipo petit suisse na alimentação infantil. In: Simpósio de Iniciação Científica da USP. Ribeirão Preto. 1997. MENDES, F.S.V.; PRIORE, S.E.; RIBEIRO, S.M.R. et al. Avaliação do estilo de vida e condições nutricionais de adolescentes atendidos em um programa específico. Rev. Nutrição em Pauta, n.2, p.20-24, 2001. MONTEIRO, C.A. et al. Da desnutrição para a obesidade: a transição nutricional no Brasil. In: MONTEIRO,C.A.(org) Velhos e novos males da saúde no Brasil. São Paulo, Hucitic,1995. p.248-54. PIZZATTO, V.T. Obesidade infantil. São Paulo, Sarvier,1992. Notícias. Edição nº76. Dez 2004. SANTOS, G.V.B. Desnutrição e obesidade em préescolares da rede Municipal de Ensino de Ribeirão Preto, 1997.151p. Dissertação (Mestrado). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto- Universidade de São Paulo. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Saúde. Treinamento de multiplicadores nas ações básicas de saúde da criança.são Paulo-SP, s/d. 44p. SCHARTZMAN, F.; TEIXEIRA, A.C..Educação nutricional prevendo a obesidade. Revista Nutrição em Pauta. n.60, p.19-20, Set 2001. VIUNISK, N. Projeto Escola Saudável. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. 2004 [online] Disponível em www.abeso.org.br. [Acesso em 15 mai. de 2004]. WHALEY, L.F; WONG, D.L. Enfermagem Pediátrica. 2ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1989. 183

Enfermagem, v. 07, n. 02, p. 179 184 2005. Disponível em http://www.fen.ufg.br Texto original recebido em 08/08/2005 Publicação aprovada em 30/08/2005 184