PARECER Nº 13.091. Senhor Procurador-Geral:



Documentos relacionados
SENTENÇA ESTRANGEIRA DE DIVÓRCIO CONSENSUAL NÃO MAIS NECESSITA SER HOMOLOGADA PELO STJ APÓS NOVO CPC

Turma e Ano: Turma Regular Master A. Matéria / Aula: Direito Civil Aula 06. Professor: Rafael da Mota Mendonça

PEDIDO DE FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

A PROTEÇÃO INTEGRAL DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES VÍTIMAS.

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO PARECER Nº Senhora Procuradora-Geral:

TÍTULO VII DA PROVA CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS

TRATADOS INTERNACIONAIS E SUA INCORPORAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO 1. DIREITOS FUNDAMENTAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO

ASPECTOS DA DESAPROPRIAÇÃO POR NECESSIDADE OU UTILIDADE PÚBLICA E POR INTERESSE SOCIAL.

Parecer nº 015/98 - JMS Processo CMRJ nº 04355/97

Palavras chave: Direito Constitucional. Princípio da dignidade da pessoa humana.

PROJETO DE LEI Nº 8.272/2014

CONTRIBUIÇÕES REFERENTES À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 068/2011 COPEL DISTRIBUIÇÃO S/A

PROJETO DE LEI N O, DE (Do Sr. Ivo José) O Congresso Nacional decreta:

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI N o 652, DE (Apensos: PL s nºs 2.862/2011 e 2.880/2011)

Ilmos. Srs. VICAE VIÁRIO CONSTRUÇÕES, ARQUITETURA E EMPREEN-DIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. Av. Presidente Vargas nº Franca - SP

CÂMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA

Supremo Tribunal Federal

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO PROCURADORIA DO DOMÍNIO PÚBLICO ESTADUAL PARECER

COMPETÊNCIAS E FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS AUTÁRQUICOS

CAPÍTULO 01 QUESTÕES DE PROVA DE JUIZ DO TRABALHO

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, EXPRESSÃO E RELIGIÃO NO BRASIL Rev. Augustus Nicodemus Lopes APRESENTAÇÃO CARTA DE PRINCÍPIOS 2011

FUNDO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL FMAS

AMVER Associação dos Municípios da Microrregião dos Campos das Vertentes

CÂMARA DOS DEPUTADOS PROJETO DE LEI Nº 867, DE (Do Sr. Izalci)

ESTADO DO PIAUÍ PODER JUDICIÁRIO COMARCA DE PAULISTANA

Apresentação. O Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA. PROJETO DE LEI N o 2.747, DE 2008 (Apensos os Projetos de Lei 2.834/2008 e 3.

COMERCIAL CABO TV SÃO PAULO LTDA

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 111, DE 2015

(Apenso o PL nº 5.010, de 2009)

PARECER Nº 005/2015 ALTAPREV PARECER

O MENSALÃO E A PERDA DE MANDATO ELETIVO

A extinção da personalidade ocorre com a morte, que pode ser natural, acidental ou presumida.

Prova Objetiva Disciplina: Direito Civil

DESPACHO CFM n.º 435/2013

PROJETO DE LEI Nº, DE 2013

Legislador VII - Etapas da Tramitação de um Projeto de Lei

ARTIGO: TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS E

20/04/2005 TRIBUNAL PLENO V O T O. Senhor Presidente, que a requisição de bens e/ou serviços, nos

Estado do Amazonas Câmara Municipal de Manaus Gabinete do Vereador Ewerton Campos Wanderley

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO URBANO PROJETO DE LEI Nº 5.663, DE 2013

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E BAIXA DE SOCIEDADE

Análise Econômica do Mercado de Resseguro no Brasil

Sra. Procuradora-Geral:

PARECER HOMOLOGADO(*) (*) Despacho do Ministro, publicado no Diário Oficial da União de 26/4/2002

- REGIMENTO - CAPITULO I (Disposições gerais) Artigo 1.º (Normas reguladoras)

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PROVA ESCRITA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - TURMA A

DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO SOB O PRISMA DA LIBERDADE DE CRENÇA

2- Com o devido respeito, esta é uma falsa questão. Senão vejamos:

AS NORMAS DAS S.A. E AS EMPRESAS LIMITADAS

NOTA TÉCNICA/CAO-IJ-CRIJEs Nº 01/2014.

Ensino Religioso no Brasil

CONSELHO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR PROCESSO Nº. 17/2005. (REPRESENTAÇÃO 54, de 2005)

NOÇÕES BÁSICAS SOBRE USUCAPIÃO

1.º Curso de Estágio de 2006 TESTE DE DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

TEMÁTICA: A Modernização do Processo e a Ampliação da Competência da Justiça do Trabalho: Novas Discussões. AUTORA: Cinthia Maria da Fonseca Espada

PORTARIA Nº DE 11 DE JULHO DE (Republicação) (Texto compilado com as alterações promovidas pela Portaria nº 3.

o hemofílico. Meu filho também será?

PADRÃO DE RESPOSTA PEÇA PROFISSIONAL

Atendimento Policial a Vítimas de Violência Doméstica

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DISTRITO FEDERAL RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI

UMA SUSCINTA ANÁLISE DA EFICÁCIA DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

Tribunal de Contas. ACÓRDÃO N.º 01/ Jan ªS/SS. (Processo n.º 1392/2007) SUMÁRIO:

Julio Cesar Brandão. I - Introdução

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

C N INTERPRETAÇÃO TÉCNICA Nº 2. Assunto: RESERVA FISCAL PARA INVESTIMENTO Cumprimento das obrigações contabilísticas I. QUESTÃO

VIII, 24, 8.666/93. A SETUR

PONTO 1: Concurso de Crimes PONTO 2: Concurso Material PONTO 3: Concurso Formal ou Ideal PONTO 4: Crime Continuado PONTO 5: PONTO 6: PONTO 7:

CONSTITUIÇÃO ESTADUAL TÍTULO VI CAPÍTULO II DAS FINANÇAS PÚBLICAS. Seção I. DISPOSIÇÕES GERAIS (Arts. 207 e 208)

MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI Nº 3.405, DE 1997 (apensados os de nºs 2.204/1999, 3.503/2008 e 5.

Controladoria-Geral da União Ouvidoria-Geral da União PARECER

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

Estado do Rio de Janeiro PODER JUDICIÁRIO Conselho da Magistratura

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 2542, de (Do Sr. Deputado JOSÉ GENOINO)

TRABALHO 1 COMENTÁRIOS A ACÓRDÃO(STF)

LEGISLAÇÃO FEDERAL SOBRE POLUIÇÃO SONORA URBANA

DA INCONSTITUCIONALIDADE DA PRISÃO DO DEPOSITÁRIO INFIEL

5Recurso Eleitoral n Zona Eleitoral: Recorrentes:

O ISS E A PESSOALIDADE DO TRABALHO DOS SÓCIOS NAS SOCIEDADES UNIPROFISSIONAIS

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador PAULO PAIM

PROJETO DE LEI Nº 112/2009. Cria o Cadastro para Bloqueio do Recebimento de Ligações de Telemarketing, e dá outras providências.

NOTA TÉCNICA N.º 01 /DMSC/DSST/SIT Brasília, 14 de janeiro de 2005.

Tribunal de Contas do Estado do Pará

COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL. MENSAGEM N o 479, DE 2008

COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA. PROJETO DE LEI N o 1.432, DE 2011 I - RELATÓRIO. Dispõe sobre a adoção tardia.

FICHA DOUTRINÁRIA. Diploma: CIVA. Artigo: 6º; 14º; Decreto-Lei n.º 347/85, de 23/08; Assunto:

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

difusão de idéias QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Um processo aberto, um conceito em construção

PROJETO DE LEI N o, DE 2008.

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI Nº DE 2005 VOTO EM SEPARADO DO DEPUTADO REGIS DE OLIVEIRA

Seguindo essas diretrizes, o doutrinador José Eduardo Sabo Paes conclui que o Terceiro Setor representa o

PROJETO DE LEI Nº, DE 2015

PROJETO DE LEI N 4.596/09

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Controladoria-Geral da União Ouvidoria-Geral da União DESPACHO

Transcrição:

PARECER Nº 13.091 Cremação de cadáveres. Previsão na Lei dos Registros Públicos. Pressupostos: manifestação de vontade ou interesse da saúde pública, bem como atestado de óbito firmado por dois médicos ou por um médico legista e, no caso de morte violenta, autorização da autoridade judiciária. Senhor Procurador-Geral: A Secretaria da Justiça e da Segurança remeteu a esta Procuradoria-Geral consulta acerca da possibilidade legal de cremação e seus requisitos. A questão foi suscitada pela Empresa CORTEL S/A, mantenedora do cemitério Parque Ecumênico Cristo Rei, localizado no município de São Leopoldo, a qual instalou e operará, nas dependências de referido cemitério, um forno crematório, observando o disposto na Lei nº 4.411, de 24 de setembro de 1997, do Município antes citado. Em correspondência dirigida ao Sr. Secretário da Justiça e Segurança a empresa expõe que operará o forno crematório de acordo com os requisitos da lei municipal, perquirindo se há outras normas a serem observadas. É o breve relatório.

2 GALBIATTI: A cremação é assim definida por ELINÁ DARCI Cremar vem do latim cremare (v. Santos Saraiva, Novíssimo dicionário) que quer dizer incinerar, queimar, referindo-se a cadáver. Ao seu turno, cadáver, segundo os léxicos nacionais, significa corpo sem vida de homem ou animal, o mesmo que defunto, i.e., aquele que já se desobrigou do encargo da vida. A cremação de cadáver entre nós só se efetuará se houver manifestação expressa de vontade, em vida, daquele que assim o desejar, ou no interesse da saúde pública. Implica, portanto, a cremação, o direito personalíssimo de dispor do próprio corpo. (In Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, Saraiva, v. 21, 1978, pp. 206-207). Discorrendo sobre o tema, manifesta-se o Dr. JUSTINO ADRIANO FARIAS DA SILVA, Procurador do Estado do Rio Grande do Sul, especialista em direito funerário: No Brasil, em respeito aos princípios da Igreja Católica Apostólica Romana, por todos professada (oficial), que a proibia pelo Direito Canônico, nem se proibiu e nem se permitiu. Alguns doutrinadores de estirpe (v.g., Bento de Faria, Carvalho Santos, etc.), entenderam estar a cremação proibida em nosso ordenamento jurídico, mas a idéia não prevaleceu. Hoje, face o que estipula o artigo 77 da Lei dos Registros Públicos, é permitida a sua realização, desde que tenha o falecido expressado seu desejo de ser cremado ou quando questões sanitárias o exigirem. (...). Nunca houve proibição dessa prática, de tal sorte que sempre as municipalidades puderam, dentro da sua autonomia administrativa, implantar fornos crematórios, colocando-os à

3 disposição de quem os quisesse usar (Informação prolatada em 20/12/97, no processo administrativo nº 017040-10.00/97-1, cuja consulta versava sobre a possibilidade de o mestre tibetano Chagdud Tulku Rinpoche ser cremado pelo ritual budista, no município de Três Coroas, pp. 33-34). Mais adiante, assevera o mencionado Procurador: Entretanto, - escrevia Pontes de Miranda -, no regime da Constituição de 1946: Nem a Câmara dos Vereadores do Distrito Federal, nem as Assembléias Legislativas, nem as Câmaras Municipais podem edictar regras jurídicas sobre permissão ou vedação da cremação de cadáveres. O que as Câmaras Municipais e a Câmara do Distrito Federal podem fazer é estabelecer normas, de natureza municipal, sobre lugar e aparelhos de cremação. Qualquer lei que, partindo de Câmara Municipal, ou da Câmara dos Vereadores do Distrito Federal, ou das Assembléias Legislativas, crie pressupostos necessários ou suficientes à cremação, ou cerceie a liberdade dos cemitérios particulares, a que se refere o art. 141, 10, da Constituição de 1946, infringe a Constituição -, pode ser vetado o projeto, ou decretada a inconstitucionalidade da lei. É matéria estranha à competência da legislação municipal a adoção ou vedação da cremação de cadáveres. À autoridade municipal somente se atribui a administração de cemitérios. (O art. 212 do Código Penal fala de vilipendiar cadáveres ou suas cinzas. Cinzas está, aí, em sentido amplíssimo, de modo que no conceito entra o próprio resíduo do corpo humano, após algum tempo de enterramento. Porém o Código Penal nada tem com o direito ou o não-direito à cremação.) O que importa saber-se é que a Constituição permite a cremação de cadáveres, uma vez que não na veda. Para que a cremação de cadáveres, no estado atual do nosso direito constitucional, fosse proibida, seria preciso que se considerasse a cremação, como exercício de culto religioso, contrária à ordem pública ou aos bons costumes. Não no é; seria ridículo considerar-se contrária à ordem pública e aos bons costumes a prática religiosa da maioria da Cristandade do mundo.

4 O direito federal era omisso sobre o assunto, até que a Lei nº 6.216, de 30 de junho de 1975, ao alterar disposições e renumerar o texto básico, acrescentou o parágrafo segundo ao artigo 77 da Lei dos Registros Públicos, vazado nos seguintes termos: A cremação de cadáver somente será feita daquele que houver manifestado a vontade de ser incinerado ou no interesse da saúde pública e se o atestado de óbito houver sido firmado por 2 (dois) médicos ou por 1 (um) médico-legista e, no caso de morte violenta, depois de autorizada pela autoridade judiciária. (Informação antes citada, pp. 35-36). A definição de cremação antes dada encontra-se em consonância com a norma legal que a prevê. Trata-se da Lei dos Registros Públicos, Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, cujo artigo 77, parágrafo 2º, dispõe: Art. 77 (...) 2º - A cremação de cadáver somente será feita daquele que houver manifestado a vontade de ser incinerado ou no interesse da saúde pública e se o atestado de óbito houver sido firmado por dois médicos ou por um médico legista e, no caso de morte violenta, depois de autorizada pela autoridade judiciária. CAMPOS BATALHA: Comentando o citado dispositivo legal, assim elucida Para que se proceda à cremação do cadáver, deverá necessariamente haver atestado de óbito firmado por dois médicos, ou por um médico-legista. Deverá, por outro lado, ter havido manifestação inequívoca de vontade do morto ou ocorrer interesse da saúde pública. Ademais, tratando-se de morte violenta, a incineração do cadáver só é possível depois de autorizada pela autoridade judiciária competente. (Wilson de Souza Campos Batalha, in Comentários à Lei de Registros Públicos, Rio de Janeiro, Forense, 3ª ed., 1984, p. 232).

5 E WALTER CENEVIVA assim assevera a respeito do 2º do art. 77 da Lei de Registros Públicos: É norma de direito material, a ser observada pelo responsável pelo forno crematório, ao qual incumbe verificar a manifestação do falecido. A lei silenciou quanto à exigência de declaração escrita, mas a imposição desta resulta da natureza das coisas: prova diversa teria de ser aferida pelo juiz, em processo de justificação, o que é incompatível com a necessidade do sepultamento. (In Lei dos Registros Públicos Comentada, São Paulo, Saraiva, 1979, p. 177). Portanto, os requisitos básicos à admissão da cremação de cadáveres estão postos no citado artigo 77 da Lei de Registros Públicos: necessário que haja manifestação expressa do de cujus ou razões de saúde pública, sendo exigido, ainda, atestado de óbito firmado por dois médicos ou por um médico legista e, em caso de morte violenta, autorização da autoridade judiciária. Voltando-se para a consulta que ora se responde, vêse que os requisitos postos na Lei do Município de São Leopoldo (Lei nº 4.411/97) desbordam, em alguns aspectos, do comando do parágrafo 2º do art. 77 da Lei 6.015//73. Configurada a incompatibilidade, flagra-se a sua ineficácia. Assim ocorre, por exemplo, com a previsão de admissão de cremação quando a família do morto o desejar, desde que não haja declaração do de cujus em sentido contrário (art. 2º, b ), pois, como dito antes, a lei federal somente admite haja cremação se o de cujus, em vida, houver declarado expressamente esse desejo. Ainda, e mais relevante para a consulta em tela, ressalta-se a incompatibilidade do 2º do art. 2º da Lei Municipal com o 2º do art. 77 da Lei 6015/73. Trata-se da permissão de cremação em caso de morte violenta, na qual o Estado tem interesse na elucidação das

6 circunstâncias do evento, o que pode ser obstaculizado pelo desaparecimento do corpo. Assim que, de acordo com a citada lei municipal, em caso de morte violenta, a cremação, atendidas as condições estabelecidas neste artigo, só poderá ser levada a efeito mediante prévio e expresso consentimento da autoridade policial competente. A previsão de autorização da autoridade policial conflita com a determinação da Lei de Registros Públicos, segundo a qual deverá haver, em caso de morte violenta, autorização da autoridade judiciária. Portanto, em caso de morte violenta, é mister haja autorização da autoridade judiciária para que seja procedida a cremação do cadáver, não a suprindo a autorização da autoridade policial, pena de ofensa à divisão de competências dos Poderes de Estado. Em conclusão, entende-se que é possível a cremação de cadáveres desde que atendidos os requisitos estabelecidos no parágrafo 2º do artigo 77 da Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/73), ou seja: manifestação expressa de vontade do de cujus ou razões de saúde pública, sendo exigido, ainda, atestado de óbito firmado por dois médicos ou por um médico legista e, em caso de morte violenta, autorização da autoridade judiciária. É o Parecer. Porto Alegre, 31 de julho de 2001. Helena Beatriz Cesarino Mendes Coelho Procuradora do Estado Ref. Expediente nº 007067-12.00/SJS/97-7

7 Processo nº 007067-12.00/97.7 Acolho as conclusões do PARECER nº 13091, do Conselho Superior da Procuradoria-Geral do Estado, de autoria da Procuradora do Estado Doutora HELENA BEATRIZ CESARINO MENDES COELHO, aprovado pelo Colegiado na sessão realizada no dia 09 de agosto de 2001. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Justiça e da Segurança. Em 23 de agosto de 2001. Paulo Peretti Torelly, Procurador-Geral do Estado.