O sistema de gestão ambiental baseado nas normas ISO 14000 como modelo de aprendizagem organizacional e gestão do conhecimento



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Transcrição:

O sistema de gestão ambiental baseado nas normas ISO 14000 como modelo de aprendizagem organizacional e gestão do conhecimento Carlos Cesar Cavalcante Dias (UNIP/UNIFIEO) carlos.cesar@unifieo.br Dra. Irenilza de Alencar Nããs (UNIP) irenilza@gmail.com Resumo: A intenção deste trabalho é analisar o Sistema de Gestão de gestão ambiental, proposto pela norma ISO 14000, comparativamente aos modelos conceituais de organizações de aprendizagem e gestão do conhecimento. O trabalho consistiu em verificar, através de pesquisa bibliográfica, se o sistema de gestão ambiental, alinha-se aos pressupostos de aprendizagem organizacional e gestão do conhecimento. Pode-se concluir que o sistema de gestão ambiental baseado na ISO 14000 atende de forma eficaz aos pressupostos da organização de aprendizagem e a gestão do conhecimento. Palavras chave: conhecimento, gestão, ambiental, ISO 14000 Abstract The environmental management system based on ISO 14000 as a model of organizational learning and knowledge management The intention of this paper is to analyze the management system of environmental management, proposed by ISO 14000, compared to conceptual models of learning organizations and knowledge management. The work consisted of verifying, through literature search, the environmental management system, aligns itself with the assumptions of organizational learning and knowledge management. It can be concluded that the environmental management system based on ISO 14000 serves effectively to the assumptions of the learning organization and knowledge management. Keywords: knowledge management, environmental, ISO 14000

1 Introdução Atualmente as empresas enfrentam acirrada concorrência, precisando adequar-se a determinadas exigencias do mercado, sendo uma delas a questão ambiental, atendida com a implantação de um sistema de gestão ambiental baseado nas normas ISO 14000. Na era do conhecimento que vivemos atualmente, discute-se a necessidade de as empresas tornarem-se organizações de aprendizagem, como criadoras, multiplicadoras, incorporadoras e gerenciadoras de conhecimento. Surge neste contexto a possibilidade de implantar um sistema de gestão do conhecimento embasado no sistema de gestão ambiental, pois os pressupostos da gestão de conhecimento alinham-se aos requisitos da norma ISO 14000. Portanto, este trabalho tem como objetivo mostrar através de pesquisa bibliográfica o alinhamento entre gestão ambiental e gestão do conhecimento 2 Organização de Aprendizagem De acordo com Garvin, em artigo para Harvard (1993), uma organização de aprendizagem é uma organização hábil no criar, adquirir e transferir conhecimento e no modificar de seu comportamento para refletir novo conhecimento. Essa definição sugere que novas idéias sejam importantes e que se constituem no gatilho para a melhoria organizacional, porém não são suficientes, é preciso o desejo da mudança. Senge (2000) diz que o significado básico de uma organização que aprende é ser uma organização que está continuamente expandindo sua capacidade de recriar seu futuro. Os autores citados deixam implícita a idéia de que as organizações de aprendizagem devem incorporar novos conhecimentos ao seu fazer e que as novas idéias e ou informações que surgem no contexto onde elas atuam devem direcionar-se para a melhoria contínua. As melhorias contínuas devem ser evidenciadas e sistematizadas dentro das empresas, para que o conceito de organizações de aprendizagem não seja somente um desejo vazio. As organizações de aprendizagem devem desenvolver-se com ações práticas cotidianas, que possam ser gerenciadas através de diretrizes pragmáticas e operacionais e que permitam avaliar a extensão e o nível de aprendizagem, com vistas a assegurar que realmente houve ganhos.

Para isso são necessários novos instrumentos de medição do grau de aprendizagem desenvolvido e incorporado à realidade das organizações, de acordo com as afirmações de Garvin (1993). 2.1 Modelo para o desenvolvimento de organizações de aprendizagem O modelo em estudo é o desenvolvido por Senge (2000), sendo que a estrutura principal das organizações de aprendizagem está centrada em cinco disciplinas de aprendizado, ou programas permanentes de estudo. 2.1.1 Primeira Disciplina Domínio Pessoal Trata-se de adquirir maestria pessoal. Exige aprender a expandir a capacidade pessoal, visando à obtenção de resultados desejados, e criar um processo de gestão que favoreça um clima organizacional estimulante e desafiador. A aprendizagem individual não garante a aprendizagem organizacional, entretanto, sem ela, a aprendizagem organizacional não ocorre. Portanto, domínio pessoal é fator preponderante para as organizações de aprendizagem, pois a essência de seu desenvolvimento está nas pessoas, e quanto mais expandirem continuamente seus potenciais, sua capacidade de conquistar seus sonhos, atingir metas e desafios mais estarão desenvolvendo a capacidade de aprender. 2.1.2 Segunda Disciplina Modelos Mentais São formados por crenças, paradigmas ou imagens internas profundamente arraigadas sobre o funcionamento do mundo, imagens que nos limitam a formas bem conhecidas de pensar e agir. Dentro do contexto de organizações de aprendizagem, é imprescindível que haja a disciplina do domínio dos modelos mentais a fim de trazer à tona, testar e aperfeiçoar nossas imagens internas sobre o funcionamento do mundo. A disciplina de modelos mentais propicia o despertar da consciência humana, uma visão holística do ser. É caminhar em direção a sua missão pessoal, identificada em sua visão de mundo, e em seu domínio pessoal; é realizar o seu propósito de vida e de sua vocação. Significa atuar de forma a mudar o mundo; como ele não é sólido, não existe uma só realidade, e a energia que constrói o mundo adquire forma através daqueles que participam do mundo.

É dessa forma que as mudanças externas acontecem a partir dos modelos mentais dos seres humanos. O Ser Humano registra imagens, sons e sensações desde os primeiros meses de vida. Senge (2000) questiona o porquê os modelos mentais afetam tão fortemente o que fazemos? E responde que em parte, porque afetam o que vemos. Para tanto, é preciso à transformação dos modelos mentais. 2.2.3 Terceira Disciplina Visão Compartilhada Não é somente uma idéia, é um sentimento, uma força, uma crença que seja capaz de estimular e construir um senso de comprometimento entre as pessoas, através de imagens e visões compartilhadas do futuro que se quer criar e das atitudes e práticas norteadoras escolhidas como estratégias para alcançar o objetivo. O autor afirma que pode ser inspirada por uma idéia, mas quando evolui, quando é estimulante o suficiente para obter o apoio de mais de uma pessoa, deixa de ser uma abstração, torna-se palpável, as pessoas começam a vê-la como se existisse. A habilidade de desenvolver uma visão compartilhada é fator muito importante para as organizações de aprendizagem, porque ela provoca a sinergia, o enfoque e a dinâmica da aprendizagem organizacional. A visão compartilhada surgirá nas organizações que favorecerem aos indivíduos as oportunidades para desenvolverem e acreditarem em suas visões pessoais, através do incentivo ao exercício do domínio pessoal. O domínio pessoal fortalecido advirá de modelos mentais e das crenças individuais; assim temos uma cadeia de ações que se desenvolve pela interdependência das visões individuais até a explosão criativa da visão coletiva. Senge (2000) enfatiza que o papel principal é dos líderes. Eles devem ter atitudes de comunicar seu senso de visão a todos, estimulando assim a que todos aprendam a compartilhar suas visões pessoais. 2.1.4 Quarta Disciplina Aprendizagem em Equipe A partir de Senge (2000), tem-se que a organização de aprendizagem não poderá conviver com dispersão e desperdício de energia criativa, então é fundamental que existam equipes alinhadas, com propósitos comuns e senso de direção fluindo numa convergência que harmonize as ações individuais.

A aprendizagem em equipe é o processo de alinhamento e desenvolvimento da capacidade da equipe de criar os resultados que seus membros realmente desejam. Quem aprende é o indivíduo, todavia esse aprendizado individual não trará repercussão de aprendizagem coletiva, tornando-se necessário, então, que as organizações de aprendizagem desenvolvam sistemas de aprendizado coletivo. Para isto, Senge (2000) enumera três dimensões críticas: 1. Necessidade de se pensar reflexivamente sobre assuntos complexos precisam aprender a utilizar o potencial da diversidade de muitas mentes; 2. Necessidade de ação inovadora e coordenada, um relacionamento de confiança operacional no qual cada um permanece consciente dos demais e age de modo complementar às ações dos colegas; e, 3. Necessidade de interação dos membros da equipe com outras equipes, para estimulá-las a ampliar a multiplicação das novas habilidades da organização como um todo. Segundo Senge, (2000), o pensamento é um fenômeno em grande parte coletivo que não pode ser aperfeiçoado individualmente; é preciso ver o pensamento como um fenômeno sistêmico que surge de nossa forma de interação e discurso uns com os outros. O cotidiano social e organizacional mostra que as pessoas possuem atitudes defensivas, nem todos dizem o que pensam, outros dizem o que pensam ser o melhor, ou o que o pessoal quer ouvir. Essas práticas visam à proteção dos indivíduos em grupos nos quais a confiança operacional necessária ao diálogo ainda não existe. A ruptura desse modelo de interação exige a presença de lideranças transformacionais que estimulem todos a abrir suas defesas, ou seja, deixar as confortáveis zonas de ação baseadas em suas crenças pessoais, terreno já conhecido e seguro, para interagirem sem bloqueios a percepções que levem a uma visão em comum. 2.1.5 Quinta Disciplina Pensamento Sistêmico Para Senge (2000) esta disciplina integra e faz um paralelo entre as demais disciplinas que se complementam à medida que as organizações se desenvolvem, retirando de cada uma delas os fatores que mais se ajustem às condições específicas de cada empresa. A abordagem sistêmica defende a idéia de que a empresa deva ser estruturada com base nas redes de informações e nos dispositivos de comunicação, interdependentes, pois os entende como fundamentais para a competitividade atual.

As empresas são sistêmicas e, como tais, passam a ser analisadas e estudadas, unindo pessoas e sistemas organizacionais numa relação aberta com o meio-ambiente ou com a realidade onde interage. As empresas não atuam num vácuo, mas dentro de um contexto social, interagindo com outros sistemas. Cada componente tem uma tarefa, atividade ou trabalho a executar e o seu desempenho vai repercutir no desempenho global do sistema. Assim, a existência dos subsistemas só se justifica na medida em que contribuem para facilitar o alcance dos objetivos globais propostos, ou seja, quando geram benefícios para todo o sistema. O grande desafio de todos os administradores, especialmente os de organizações que pretendam desenvolver o aprendizado contínuo com seus colaboradores, é desenvolver este ponto de vista sistêmico, a fim de que possam compreender o todo das situações, suas conexões e influências, e não se limitar à análise parcial das situações e/ou problemas de sua realidade. As organizações de aprendizagem deverão usar de forma harmoniosa e integrada as cinco disciplinas, por esta razão o pensamento sistêmico é a quinta disciplina que, no dizer de Senge (2000), é a pedra fundamental conceitual subjacente a todas as outras; aquela que integra todas as outras. 3 Gestão do Conhecimento O processo de Gestão do Conhecimento é uma ação prática desenvolvida por gerentes organizacionais que dão sentido de direção e de utilização para o ativo organizacional denominado conhecimento. Terra (2001) propõe um modelo de gestão empresarial focado em sete dimensões da prática gerencial: 1-O papel da alta administração, revelando quais conhecimentos devem ser aprendidos pelos funcionários, além da definição de estratégias e desafios motivadores; 2-Uma cultura organizacional voltada à inovação e ao aprendizado contínuo, comprometendo-se com resultados de longo prazo e com a maximização de recursos operacionais; 3-Renovação das estruturas hierárquico-burocráticas de forma a desenvolver o trabalho de equipes multifuncionais, com autonomia para superar limites à inovação e aos novos conhecimentos;

4-Melhores práticas de políticas de administração de recursos humanos para atrair e manter talentos e competências, criando sistemas de remuneração adequados; 5-O avanço das tecnologias de informação que afetam os processos de geração, difusão e armazenamento de conhecimento nas empresas equilibrado com as necessidades de interação com as pessoas; 6-Garantir a mensuração de resultados com uso de indicadores para as áreas significativas e em uma política de divulgação interna dessas informações; 7-A necessidade crescente de engajamento em processos de aprendizado com o ambiente onde interagem as empresas, fazendo alianças com outras empresas e no relacionamento com clientes. Ainda é Terra (2001) quem alerta para o fato de que a gestão do conhecimento está ligada à própria evolução da teoria organizacional e depende de uma análise criteriosa do relacionamento de variáveis como: ambiente econômico e social, evolução tecnológica, lógica organizacional e concepções sobre a natureza humana. É um tema complexo, multidisciplinar e que exige um profundo estudo no sentido de viabilizar eficazes formas de operacionalização. Angeloni (2002) define que a gestão do conhecimento organizacional é um conjunto de processos que governa a criação, a disseminação e a utilização de conhecimento no âmbito das organizações, como também define que uma organização do conhecimento, é aquela em que o repertório de saberes individuais e dos socialmente compartilhados pelo grupo é tratado como um ativo valioso, capaz de entender e vencer as contingências ambientais. Davenport e Prusak (1998) argumentam que o conhecimento contém discernimento, no que se diferencia de dados e informações, uma vez que pode efetuar julgamentos de novos fatos em relação a si mesmo e se aprimorar; os autores evidenciam que o conhecimento pode ser comparado a um sistema vivo, que cresce e se modifica à medida que interage com o meio ambiente. Nonaka e Takeuchi (1997) defendem a questão do conhecimento empresarial como fator de sucesso nas empresas japonesas. Todavia seu enfoque parte da idéia de criação do conhecimento organizacional, significando a capacidade que a empresa tem de criar conhecimento, disseminá-lo na organização e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas.

Como síntese conceitual, a partir da revisão bibliográfica, pode-se afirmar que gestão do conhecimento é um processo sistêmico e estratégico de geração, apropriação, mapeamento, codificação, disseminação, Internalização e aplicação, com foco nas ações que alavanquem inovação, aprimorem competências e garantam a excelência organizacional. A gestão do conhecimento tem despertado interesse de todas as áreas ligadas à gestão empresarial, pois envolve o fator estratégico de maior complexidade que a empresa precisa administrar o ser humano. Único recurso orgânico e capaz de criar, desenvolver, fomentar e implantar programas de qualificação e excelência nas empresas, ele é o agente do conhecimento, já que o conhecimento é indubitavelmente intrínseco ao homem. Neste ponto, entende-se que a conceituação proposta teorize sobre dois pilares fundamentais para as organizações presentes e futuras pessoas e resultados. 4 Sistema de Gestão da Qualidade baseado na ISO 14000 A ISO 14001:2004 Sistemas da gestão ambiental Requisitos com orientações para uso, especifica todos os itens necessários para que a empresa cumpra todas as etapas para a certificação; por esta razão, diz-se que as empresas são certificadas pela Norma ISO 14001:2004, já que é nela que são determinados os passos operacionais para o sistema de gestão ambiental, sendo ela composta pelos seguinte requisitos 4.1. Requisitos Gerais; 4.2. Política ambiental; 4.3. Planejamento. 4.3.1. Aspectos ambientais 4.3.2. Requisitos legais e outros 4.3.3. Objetivos, metas e programa(s) 4.4. Implementação e operação 4.4.1. Recursos, funçoes, responsabilidades e autoridades 4.4.2. Competencias, treinamento e conscientizaçao 4.4.3. Comunicaçao 4.4.4. Documentaçao 4.4.5. Controle de documentos 4.4.6. Controle operacional

4.4.7. Preparaçao e resposta a emergência 4.5. Verificaçao 4.5.1. Monitoramento e mediçao 4.5.2. Avaliaçao do atendimento e requisitos legais e outros 4.5.3. Nao-conformidade, açao corretiva e açao preventiva 4.5.4. Controle de registros 4.5.5. Auditoria interna 5 Comparação dos requisitos da ISO 14000 com os pressupostos da aprendizagem organizacional Percebe-se o vínculo com a Norma ISO 14000 quando esta tem como objetivo o desenvolvimento, a implementação e a melhoria da eficácia de um sistema de gestão ambiental, baseando-se na abordagem de processo. A relação principal é vista quando se entende que o conceito de processo se assemelha ao de organizações de aprendizagem, pois é um ciclo contínuo de entradas que são transformadas em saídas, tais entradas advêm do ambiente externo, transformam-se internamente e geram saídas que retornam ao ambiente externo. Quanto ao modelo de Senge (2000), as cinco disciplinas necessárias para a consecução de organizações de aprendizagem são relacionadas com a ISO 14000:2004 conforme as seguinte abordagens: 5.1 - Disciplina Domínio Pessoal X Requisitos da ISO 14000. A exigência de documentação comprovação a necessidade da organização assegurar a integridade e interação dos processos, bem como que demonstrar a estruturação das competências das pessoas; A responsabilidade da direção e gestão dos recursos, demonstram que a norma busca a garantia de que todos os integrantes da organização possam desenvolver suas habilidades e competências, o que poderá levá-los à maestria pessoal e à organização a atingir padrões de qualidade assegurada. A tabela 1 mostra a os requisitos da iso que estão relacionados a disciplina de aprendizagem:

Pressupostos das organizações de aprendizagem Requisitos ISO 14000:2004 1º. Disciplina Domínio Pessoal 4.1. Requisitos Gerais; 4.2. Política ambiental; 4.3. Planejamento. 4.3.1. Aspectos ambientais 4.3.2. Requisitos legais e outros 4.3.3. Objetivos, metas e programa(s) 4.4.1. Recursos, funçoes, responsabilidades e autoridades 4.4.3. Comunicaçao 4.4.4. Documentaçao 4.4.5. Controle de documentos 4.5.4. Controle de registros Fonte: Autor Tabela 1 1º. Disciplina Domínio Pessoal X Requisitos da ISO 14000. 5.2 Modelos Mentais X Requisitos da ISO 14000. Dentro do contexto de organizações de aprendizagem é imprescindível que haja a disciplina do domínio dos modelos mentais a fim de trazer à tona, testar e aperfeiçoar nossas imagens internas sobre o funcionamento do mundo. A ISO 14001:2004, representa um conjunto de modelos mentais estruturados sob o prisma da qualificação das empresas e da melhoria contínua; sendo que este conjunto de pressupostos irá provocar a ruptura dos modelos mentais vigentes nas empresas e as levará à construção de um novo constructo comportamental, como também a garantia de suas ações para a criação e manutenção do sistema de gestão ambiental. 5.3. Visão Compartilhada X Requisitos da ISO 14000. O requisitos apresentados evidenciado mediante: exige o comprometimento da direção, sendo este a) a comunicação à organização da importância em atender aos requisitos da norma como também aos requisitos legais; b) a instituição da política da qualidade; c) a garantia de que os objetivos da qualidade são instituídos; d) a condução de análises críticas pela administração; e e) a garantia da disponibilidade de recursos.

A força da política da ambiental, aliada aos objetivos, metas e programas, representa a visão da direção e é preciso divulgá-los a todos os funcionários, como forma de criar um compartilhamento da sua visão e buscar o comprometimento de todos os envolvidos no processo do sistema de gestão ambiental. A tabela 2 mostra a os requisitos da iso que estão relacionados a disciplina de aprendizagem: Pressupostos das organizações de aprendizagem Requisitos ISO 14000:2004 3º. Disciplina Visão compartilhada 4.2- Politica aqmbiental 4.4.1- Recursos, funçoes, responsabilidades e autoridades 4.2. Política ambiental; 4.3. Planejamento. 4.3.1. Aspectos ambientais 4.3.2. Requisitos legais e outros 4.3.3. Objetivos, metas e programa(s) 4.4. Implementação e operação 4.4.1. Recursos, funçoes, responsabilidades e autoridades Fonte: Autor Tabela 2 3º. Disciplina Visão compartilhada X Requisitos da ISO 14000. 5.4 Aprendizagem em equipe X Requisitos da ISO 14000. Identifica-se nestes requisitos a preocupação em capacitar o corpo funcional da empresa e de assegurar que os colaboradores estejam conscientes da importância de suas atividades e de como as ações individuais contribuirão para a garantia da eficácia da gestão ambiental. O vínculo principal da norma ISO 14000:2004 com os pressupostos das organizações de aprendizagem está no conteúdo do sub-requisito 4.4.2, onde este exige que o pessoal que realiza tarefas que tenham o potencial de causar impacto ambiental significativo, seja competente com base em formação apropriada, treinamento ou experiência comprovada. A tabela 3 mostra a os requisitos da ISO 14000 que estão relacionados a disciplina de aprendizagem: Pressupostos das organizações de aprendizagem Requisitos ISO 14000:2004 4º. Disciplina Aprendizagem em equipe 4.4.1. Recursos, funçoes, responsabilidades e autoridades 4.4.2. Competencias, treinamento e conscientizaçao Fonte: Autor Tabela 3 4º. Disciplina Aprendizagem em equipe X Requisitos da ISO 14000.

5.5 Pensamento sistêmico X Requisitos da ISO 14000. Entende-se que o pensamento sistêmico está contido em todo o conjunto da 14000:2004. A abordagem de processo, fundamento básico da norma, evidencia a existencia da intenção de manter as inter-relações e as forças que atuam em um sistema, integrando-as de forma a que cada requisito esteja correlacionado com os demais e de que estará assegurada a interação dos processos. 6 Análise comparativa dos requisitos da norma ISO 14000:2004 com os pressupostos da gestão do conhecimento Quanto ao conceito de gestão do conhecimento, entende-se que a ISO 14000:2004 tem como objetivo central a criação e implementação de um sistema de gestão ambiental, que fornece meios para a gestão do conhecimento organizacional, pois estipula regras que vem de encontro as sete dimensões da prática gerencial à gestão do conhecimento empresarial apontadas por Terra (2000), conforme as abordagens descritas na tabela 4. Dimensões da prática gerencial Requisitos da ISO 14001:2004 O papel da alta administração, revelando quais conhecimentos deve ser aprendido pelos funcionários, além da definição de estratégias e desafios motivadores; Uma cultura organizacional voltada à inovação e ao aprendizado contínuo, comprometendo-se com resultados de longo prazo e com a maximização de recursos operacionais; Renovação das estruturas hierárquicoburocráticas de forma a desenvolver o trabalho de equipes multifuncionais, com autonomia para superar limites à inovação e aos novos conhecimentos; Melhores práticas de políticas de administração de recursos humanos para atrair e manter talentos e competências, criando sistemas de remuneração adequados; O avanço das tecnologias de informação que afetam os processos de geração, difusão e armazenamento de conhecimento nas empresas equilibrado com as necessidades de interação com as pessoas; 4.2. Política ambiental; 4.3. Planejamento. 4.3.1. Aspectos ambientais 4.3.2. Requisitos legais e outros 4.3.3. Objetivos, metas e programa(s) 4.4.1. Recursos, funçoes, responsabilidades e autoridades 4.4.3. Comunicaçao Todos os requisitos, com ênfase no 4.5-4.5. Verificaçao 4.2. Política ambiental; 4.3. Planejamento. 4.3.1. Aspectos ambientais 4.3.2. Requisitos legais e outros 4.3.3. Objetivos, metas e programa(s) 4.4. Implementação e operação 4.4.1. Recursos, funçoes, responsabilidades e autoridades 4.4.2. Competencias, treinamento e conscientizaçao 4.4.3. Comunicaçao 4.4.2. Competencias, treinamento e conscientizaçao Sem correlação direta, embora a documentação use tecnologia da informação.

Garantia da mensuração de resultados com uso de indicadores para as áreas significativas e em uma política de divulgação interna dessas informações; A necessidade crescente de engajamento em processos de aprendizado com o ambiente onde interagem as empresas, fazendo alianças com outras empresas e no relacionamento com clientes. Fonte: Autor 4.2. Política ambiental; 4.3.3. Objetivos, metas e programa(s) 4.4.7. Preparaçao e resposta a emergência 4.5. Verificaçao 4.5.1. Monitoramento e mediçao 4.5.2. Avaliaçao do atendimento e requisitos legais e outros 4.5.3. Nao-conformidade, açao corretiva e açao preventiva 4.5.5. Auditoria interna 4.3.1. Aspectos ambientais 4.3.2. Requisitos legais e outros Tabela 4 Paralelo entre dimensões da pratica gerencial e Requisitos da ISO 14001:2004 7 Conclusão Fica demonstrado que o modelo proposto pela norma ISO 14000:2004 atende de forma eficaz aos pressupostos teóricos de uma organização de aprendizagem; como também possibilita às empresas o adotarem como uma forma de gestão do conhecimento, mesmo que inicial, de sistematização adequada das informações e dos conhecimentos internos e externos, com repercussão nos seus processos e no seu negócio. Portanto, conforme objetivo do trabalho foi verificado que o sistema de gestão ambiental baseado na ISO 14000 alinha-se aos pressupostos da aprendizagem organizacional e de gestão do conhecimento. Referências ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14.000:2004. Sistemas da gestão ambiental Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ANGELONI, Maria Terezinha (Coord.). Organizações do Conhecimento: Infraestrutura, Pessoas e Tecnologias. São Paulo: Saraiva 2002. DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Laurence. Conhecimento Empresarial: Como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998. GARVIN, David A. Building a Learning Organization. In: Harvard Business Review. Boston, July-August, 1993. NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de Conhecimento na Empresa: Como as Empresas Japonesas Geram a Dinâmica da Inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997. SENGE, Peter M. A quinta Disciplina: Arte e Prática da organização que aprende. 6a. Edição, São Paulo: Best Seller, 2000. TERRA, José C.C. Gestão do Conhecimento: O Grande Desafio Empresarial. São Paulo: Negócio Editora, 2001.