IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A



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IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientação para políticas de desenvolvimento 1

Universidade da Amazônia ANTÔNIO CORDEIRO DE SANTANA (COORD.) DAVID FERREIRA CARVALHO FERNANDO ANTÔNIO TEIXEIRA MENDES GISALDA CARVALHO FILGUEIRAS MARCEL DO NASCIMENTO BOTELHO ROSANA TIE KITABAYASHI IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientação para políticas de desenvolvimento Belém UNAMA 2010 2

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: ORIENTAÇÕES PARA POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL 2010, UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA REITOR Antonio de Carvalho Vaz Pereira VICE-REITOR Henrique Guilherme Carlos Heidtmann Neto PRÓ-REITOR DE ENSINO Mário Francisco Guzzo PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO Núbia Maria de Vasconcellos Maciel SUPERINTENDENTE DE PESQUISA Ana Célia Bahia EXPEDIENTE EDIÇÃO: Editora UNAMA COORDENADOR: João Carlos Pereira SUPERVISÃO: Helder Leite NORMALIZAÇÃO: Maria Miranda FORMATAÇÃO GRÁFICA: Elailson Santos Campus Alcindo Cacela Av. Alcindo Cacela, 287 66060-902 - Belém-Pará Fone geral: (91) 4009-3000 Fax: (91) 3225-3909 Campus BR Rod. BR-316, km3 67113-901 - Ananindeua-Pa Fone: (91) 4009-9200 Fax: (91) 4009-9308 Campus Senador Lemos Av. Senador Lemos, 2809 66120-901 - Belém-Pará Fone: (91) 4009-7100 Fax: (91) 4009-7153 Catalogação na fonte www.unama.br Campus Quintino Trav. Quintino Bocaiúva, 1808 66035-190 - Belém-Pará Fone: (91) 4009-3300 Fax: (91) 4009-3349 S 232i Santana, Antônio Cordeiro de Identificação e caracterização de arranjos produtivos locais nos Estados do Pará e do Amapá, no período 2000 a 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local / Antônio Cordeiro de Santana (Coord.); David Ferreira Carvalho; Fernando Antonio Teixeira Mendes; Gisalda Carvalho Filgueiras; Marcel do Nascimento Botelho; Rosana Tie Kitabayashi. Belém: UNAMA, 2010. 171 p. ISBN 978-85-7691-095-4 1. Arranjo produtivo local Pará e Amapá. 2. Política de desenvolvimento local. I. Carvalho, David Ferreira. II. Mendes, Fernando Antonio Teixeira. T. III. Filgueiras, GisaldaCarvalho. IV.Botelho, Marcel do Nascimento. V. Kitabayashi, Rosana Tie. VI. Título. CDD: 338.6 3

Universidade da Amazônia Sumário 1 INTRODUÇÃO... 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO... 13 2.1 ESTUDOS PIONEIROS SOBRE AGLOMERADOS... 20 2.2 CONCEITO DE ARRANJO PRODUTIVO LOCAL - APL... 23 2.2.1 Estruturação das atividades... 26 3 METODOLOGIA PARA IDENTIFICAÇÃO DE APL... 30 3.1 INDICADORES ESTATÍSTICOS... 31 3.1.1 Índice de concentração normalizado... 33 3.2 A TÉCNICA DE COMPONENTES PRINCIPAIS... 33 3.2.1 Cálculo dos pesos para o índice de concentração... 37 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS... 39 4.1 ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO NORMALIZADO... 39 5 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS APL IDENTIFICADOS NA PESQUISA... 46 5.1 APL DE PESCA E AQUICULTURA... 48 5.1.1 Introdução... 48 5.1.2 Localização do APL de pesca e aquicultura... 51 5.1.3 Traços gerais... 51 5.1.4 Estratégia de mercado... 52 5.1.5 Capital humano e social... 54 5.1.6 Tecnologia... 56 5.1.7 Infraestrutura... 57 5.1.8 Parcerias... 58 5.2 APL DE COURO E DERIVADOS NO ESTADO NO PARÁ... 59 5.2.1 Introdução... 59 5.2.2 Localização do APL de couro... 60 5.2.3 Traços gerais... 60 5.2.4 Estratégia de mercado... 61 5.2.5 Capital humano e social... 62 5.2.6 Tecnologia... 63 4

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local 5.2.7 Infraestrutura... 64 5.2.8 Parcerias... 64 5.3 APL DE EXPLORAÇÃO FLORESTAL E SILVICULTURA NO PARÁ E NO AMAPÁ... 64 5.3.1 Introdução... 64 5.3.2 Localização do APL de exploração florestal e silvicultura do Pará e do Amapá... 67 5.3.3 Traços gerais do APL de exploração florestal e silvicultura... 68 5.3.4 Estratégia de mercado... 70 5.3.5 Capital humano e social... 71 5.3.6 Tecnologia... 73 5.3.7 Infraestrutura... 74 5.3.8 Parcerias... 75 5.4 APL DE MADEIRA E MOBILIÁRIO NOS ESTADOS NO PARÁ E NO AMAPÁ... 76 5.4.1 Introdução... 76 5.4.2 Localização do APL de madeira e mobiliário no Pará e no Amapá.77 5.4.3 Traços gerais... 78 5.4.4 Estratégia de mercado... 79 5.4.5 Capital humano e social... 80 5.4.6 Tecnologia... 82 5.4.7 Infraestrutura... 83 5.4.8 Parcerias... 83 5.5 APL DE AGROINDÚSTRIA VEGETAL NO PARÁ E NO AMAPÁ... 84 5.5.1 Introdução... 84 5.5.2 Localização do APL de agroindústria vegetal... 87 5.5.3 Traços gerais... 87 5.5.4 Estratégia de mercado... 88 5.5.5 Capital humano e social... 88 5.5.6 Tecnologia... 90 5.5.7 Infraestrutura... 90 5.5.8 Parcerias... 91 5.6 APL DE LAVOURA TEMPORÁRIA NO PARÁ E NO AMAPÁ... 91 5.6.1 Introdução... 91 5.6.2 Localização do APL de lavoura temporária no Pará e no Amapá.. 93 5.6.3 Traços gerais... 94 5.6.4 Estratégia de mercado... 95 5.6.5 Capital humano e social... 96 5

Universidade da Amazônia 5.6.6 Tecnologia... 97 5.6.7 Infraestrutura... 98 5.6.8 Parcerias... 98 5.7 APL DE LAVOURA PERMANENTE NO PARÁ E NO AMAPÁ... 99 5.7.1 Introdução... 99 5.7.2 Localização do APL de lavoura permanente no Pará e no Amapá... 100 5.7.3 Traços gerais... 100 5.7.4 Estratégia de mercado... 102 5.7.5. Capital humano e social... 103 5.7.6 Tecnologia... 104 5.7.7 Infraestrutura... 106 5.7.8 Parcerias... 106 5.8 APL DE AGROINDÚSTRIA ANIMAL NOS ESTADOS NO PARÁ E NO AMAPÁ... 106 5.8.1 Introdução... 106 5.8.2 Localização do APL de agroindústria animal no Pará e no Amapá... 108 5.8.3 Traços gerais... 108 5.8.4 Estratégia de mercado... 109 5.8.5 Capital humano e social... 110 5.8.6 Tecnologia... 112 5.8.7 Infraestrutura... 112 5.8.8 Parcerias... 113 5.9 APL DE PECUÁRIA NO PARÁ E NO AMAPÁ... 114 5.9.1 Introdução... 114 5.9.2 Localização do APL de pecuária no Pará e no Amapá... 116 5.9.3 Traços gerais... 117 5.9.4 Estratégia de mercado... 118 5.9.5 Capital humano e social... 120 5.9.6 Tecnologia... 121 5.9.7 Infraestrutura... 123 5.9.8 Parcerias... 124 5.10 APL DE EDUCAÇÃO NO PARÁ E NO AMAPÁ... 124 5.10.1 Introdução... 124 5.10.2 Localização do APL de educação no Pará e no Amapá... 126 5.10.3 Traços gerais... 127 5.10.4 Estratégia de mercado... 129 5.10.5 Capital humano e social... 131 6

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local 5.10.6 Tecnologia... 133 5.10.7 Infraestrutura... 134 5.10.8 Parcerias... 135 5.11 APL DE TURISMO ECOLÓGICO NO PARÁ E NO AMAPÁ... 135 5.11.1 Introdução... 135 5.11.2 Localização do APL de turismo ecológico no Pará e no Amapá... 137 5.11.3 Traços gerais... 137 5.11.4 Estratégia de mercado... 140 5.11.5 Capital humano e social... 142 5.11.6 Tecnologia... 144 5.11.7 Infraestrutura... 145 5.11.8 Parcerias... 148 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 149 REFERÊNCIAS... 153 SOBRE OS AUTORES... 166 7

Universidade da Amazônia 1 INTRODUÇÃO Esse trabalho empregou uma metodologia pioneira para a identificação, mapeamento e caracterização de aglomerações produtivas nos 143 municípios do Estado do Pará e nos 16 municípios do Estado do Amapá, relativo ao período de 2000 a 2005, com base nos dados de emprego formal do Registro Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e das estatísticas de produção municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e os dados preliminares do Censo Agropecuário de 2006. Adicionalmente, fez-se um levantamento das instituições governamentais e não-governamentais que operam nos locais eleitos pela metodologia, bem como os projetos de pesquisa em inovação tecnológica e de gestão, atrelados aos Arranjos Produtivos Locais (APL) de interesse da pesquisa. Os estados do Pará e Amapá apresentam potencial na formação de aglomerações produtivas de empresas envolvendo elos das cadeias produtivas de produtos agrícolas (destaque para os grãos e fruticultura), produtos de madeira e mobiliário, pecuária de corte e leite, pesca (artesanal e industrial) e turismo ecológico, bem como as agroindústrias de processamento de produtos vegetal, madeira, animal e couro. Foram eleitos esses produtos por estarem vinculados às áreas de concentração da pós-graduação da Universidade da Amazônia (UNAMA) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), contemplando uma das âncoras do desenvolvimento local com evidente evolução e reconhecimento atualmente, que é a formação de capital humano e o desenvolvimento de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I) para conhecer, intervir e desenvolver a Amazônia. No caso da agricultura, os grãos (soja, milho e arroz) estão produzindo uma mudança rápida no cenário da economia agrícola dos estados do Pará e Amapá em vários aspectos: aumento da demanda por terra, implantação de novo padrão tecnológico de alta produtividade, gestão eficiente de produto e processo, grandes empreendimentos nas áreas de fornecimento de insumos e distribuição de produto (Bunge e Cargil, por exemplo), demanda por capital 8

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local humano de alta habilidade. Este é um cenário que foge completamente ao tradicionalismo extrativista vivenciado na região amazônica durante séculos e que exige conhecimento para a formação de recursos humanos adequados a essa nova especificidade e desenho de políticas de desenvolvimento local. Providências neste sentido dever ser tomadas, sendo que tudo deve iniciar com estudos técnicos e científicos, para que não se corra o risco de uma generalizada exclusão do produtor rural e do empresário da Amazônia desse processo de desenvolvimento cuja trajetória está em curso. Na pecuária, a dinâmica está sendo orientada pela erradicação das doenças como a aftosa e brucelose, implantação de rastreabilidade, melhoria genética dos rebanhos, visando aumentos de produtividade com manejo de rebanho e de pastagens. Animais precoces e criados em regime de pasto sem uso de agroquímicos prejudiciais à saúde e em sistemas de baixo impacto (silvipastoril, rotação lavoura-pecuária, pastoreio rotacional, consórcio de pastagem com leguminosas) sobre o meio ambiente são requisitos fundamentais, que qualificam a demanda dos consumidores nacionais e, sobretudo, os consumidores internacionais. Estes novos sistemas de produção pecuária sustentáveis exigem nova orientação na formação dos profissionais de Ciências Agrárias, Economia e Administração, assim como dos produtores, empresários e dos formuladores de política pública, cuja ação deve ter base nas características socioeconômicas, culturais e edafoclimáticas dos territórios. Tais sistemas estão sendo viabilizado pela exigência do mercado internacional de carne e de boi vivo, que exigem qualidade total da produção, redução dos impactos ambientais e melhoria na qualidade de vida das populações locais. Na área florestal, envolvendo a produção madeireira e não-madeireira, a trajetória do desenvolvimento local está assentada nos planos de manejo florestal sustentáveis nas empresas madeireiras ou manejo florestal comunitário sustentável nas comunidades rurais extrativistas e nos assentamentos. Há, também, a produção de madeira cultivada para produção de celulose no Pará e a produção de cavaco no Amapá. O objetivo é criar o selo verde de qualidade ambiental (atender aos requisitos da série ISO 14.000) e evoluir para a cadeia de custódia, visando incorporar o selo social, mediante ação junto às comunidades do entorno dos projetos. Esta racionalidade tende a resultar em menor impacto sobre o meio ambiente e preservar a floresta. A atividade de pesca e aquicultura anda na mesma direção, em que a preocupação dos impactos sobre o estoque de recursos pesqueiros dos estados do Pará e Amapá, assim como da região amazônica, está sob vigilância dos órgãos governamentais e não-governamentais. Em função da ameaça real da ação predatória das indústrias pesqueiras, foram estabelecidos períodos de 9

Universidade da Amazônia defeso para as espécies mais capturadas, como medida de assegurar o crescimento econômico sustentável dessas espécies. Paralelamente, estimula-se a produção do pescado em cativeiro, utilizando os avanços tecnológicos para a produção eficiente e agregação de valor ao produto final, segundo os gostos e preferências dos consumidores. Esta área exige resposta, em curto espaço de tempo, para uma exploração sustentável e comercialização com selo social, uma vez que envolve grande contingente de comunidades pobres, que sobrevivem da pesca na Amazônia. O turismo ecológico também se apresenta em evolução contínua e necessita de conhecimento dos pontos fracos e, sobretudo, da identificação das oportunidades para orientar o esforço para ampliar seu desenvolvimento. Atualmente, várias fazendas da ilha do Marajó já estão engajadas à programação turística do Estado do Pará. Esta integração de atividades favorece as cadeias produtivas do turismo e da pecuária local. O conhecimento gerado nesta pesquisa servirá de base para orientar a formação acadêmica e profissional de estudantes da UNAMA, UFRA e Universidade Federal do Pará (UFPA) nesta área do conhecimento. A atividade agroindustrial tem por fundamento a estruturação das cadeias produtivas em dados locais nos estados do Pará e Amapá, em função da disponibilidade de matéria-prima, infraestrutura instalada, disponibilidade de capital humano, organização social, ação institucional e acesso a tecnologia e aos mercados consumidores. A identificação dos municípios, onde tais atividades se adensam, torna-se em ponto de observação para estudos de maior aprofundamento e operação de políticas para o desenvolvimento local sustentável com base na aglomeração de micro, pequenas e médias unidades produtivas nos elos de cadeias produtivas com potencial para se transformar em Arranjos Produtivos Locais (APL) 1. Por suposto, um território socialmente construído conta com o funcionamento de um conjunto de empresas, com ou sem interação direta com as instituições públicas e privadas, que desenvolvem os processos interativos por meio de pessoas e organizações. O conjunto de empresas desse APL, ao aumentar suas produções e exportações comerciais de bens e serviços para outras regiões, tende a reforçar e a difundir os efeitos de encadeamento para trás e para frente e de realimentação às empresas aglomeradas. Além disso, à medida que os níveis da renda e do emprego elevam-se, este efeito keynesiano pode atrair mais famílias que contribuem para o aumento do 1 Arranjos Produtivos Locais (APL) são formados por conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território e vinculados a uma atividade ou setor econômico, que apresentam vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem, mesmo que incipientes. 10

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local consumo e mais empresas que realizarão mais investimentos produtivos e estimula o governo a realizar investimentos públicos em capital social e infra-estrutura básica. Em conseqüência, outras empresas podem ser atraídas, particularmente as empresas do setor serviços, para atender a crescente demanda das empresas, dos governos e das famílias do território do aglomerado e das regiões do entorno. Nesse contexto, os APL constituem um tipo especial de aglomerado que tem como núcleo básico elos de uma cadeia produtiva integrada, de preferência por um conjunto de micro, pequenas e médias empresas em dado local, com ligações de encadeamento para trás e para frente de graus de aprofundamentos diversos (em torno de um negócio lucrativo gerador de emprego e renda) e vínculos colaterais (com instituições governamentais e nãogovernamentais prestadoras de serviços) e comerciais com fornecedores e clientes, cujo conjunto seja capaz de gerar uma variedade de sinergias positivas para os agentes envolvidos e para a sociedade local. Atualmente, os formuladores de políticas públicas não conhecem os territórios onde esses aglomerados de unidades produtivas ou empresas estão se configurando em APL potenciais e, por isso, as tentativas de operacionalizar políticas de desenvolvimento local sustentável não têm atingido o êxito esperado. Da mesma forma, não se conhece portanto, quais os pontos de estrangulamentos ao desenvolvimento local (fruto da ação institucional, disponibilidade de capital humano e capital social, capital produtivo, histórico cultural das comunidades, dotação de fatores naturais etc.) e tampouco as oportunidades que os APL e/ou cadeias produtivas podem aproveitar, a partir desses locais. Igualmente, as instituições de ensino, por desconhecerem as exigências do mercado de trabalho, formam profissionais com pouca aptidão para operar neste cenário local, como revelado em pesquisa na UFRA sobre o perfil do profissional de Ciências Agrárias, atuando no Estado do Pará. Sendo assim, o objetivo dessa pesquisa foi identificar os locais, nos estados do Pará e Amapá, onde existem concentrações de atividades setorialmente especializadas e caracterizá-las de acordo com o potencial de mercado e comercialização, capacidade de gerar emprego e redistribuir renda, inovação tecnológica e de gestão empresarial, disponibilidade de capital humano e organização do capital social, ação institucional, sustentabilidade ambiental e grau de enraizamento das atividades socioeconômicas, bem como contribuir para a elaboração de políticas de desenvolvimento local. O referencial teórico utilizado na pesquisa está vinculado aos postulados do desenvolvimento endógeno, levando em conta o poder que as aglomerações produtivas gestadas em diversos locais da Amazônia possam criar refe- 11

Universidade da Amazônia rências, a partir da dotação de fatores, do aporte de conhecimento tácito sobre tecnologias e inovações e dos aspectos organizacionais com base na cultura dos agentes e conduzir uma trajetória de desenvolvimento local sustentável, a partir da combinação dessas forças com ações exógenas de política econômica, industrial e de orientação para mercados nacional e internacional. A unidade de análise foi o conceito de APL em função da abertura para incorporar diversos tipos de aglomerações em diferentes estádios de desenvolvimento. Como a economia regional apresenta-se diversificada e difusa por diversos municípios ou microrregiões dentro dos estados da Amazônia Legal, essa abordagem de APL permite que se compreenda e análise a trajetória de crescimento desequilibrada que está em curso e não conseguiu dar conta da convergência dos níveis de renda per capita traçados no bojo dos modelos neoclássicos implantados na Amazônia. O projeto está organizado em três seções além desta introdução. A primeira apresentou o referencial teórico sobre o conceito de APL e sua adequação à área de estudo, que é composta pelos estados do Pará e Amapá. Na segunda, desenvolveu-se a metodologia de análise empregada no agrupamento de variáveis para representar atividades com potencial de evoluir para APL no Pará e Amapá. A terceira seção apresentou os resultados gerados no modelo estatístico para a identificação dos APL, bem como a caracterização de cada APL, segundo os traços principais de mercado, capital humano e social, tecnologia, infraestrutura e parcerias. Ao final, encerrou-se a pesquisa com as considerações finais. 12

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local 2 REFERENCIAL TEÓRICO Nesta seção, é apresentado o fundamento teórico do conceito de APL e a forma de agregação das atividades produtivas da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), de forma a tornar o conceito de APL potencial em regiões atrasadas e/ou de fronteira agrícola como os estados do Pará e Amapá. Todavia, cabe ressaltar que os APL potenciais não se constituíram ainda em APL completos. Trata-se de meros embriões estruturais em diferentes estádios de formação, pois as articulações entre os agentes e destes com as instituições públicas e privadas não são suficientemente desenvolvidas para caracterizar um sistema produtivo local. Todavia devem servir de base para ações governamentais que visem a apoiá-los de forma a transformá-los em APL efetivos e criar referências para um processo de desenvolvimento local sustentável. Antes de referendar os estudos sobre aglomerações empresariais referenciadas em dado local, apresentam-se as ideias clássicas de Weber, Christaller- Lösch e Marshall (RICHARDSON, 1986) sobre aglomerações empresariais. Weber (1909) ofereceu uma teoria geral da localização das atividades econômicas. A teoria do custo mínimo, como mais tarde foi denominada, ao assumir que a empresa deve, ao escolher o local para se instalar, leva em conta o nível da demanda e o preço que pode remunerar seus custos. Assim, a localização ótima é aquela que minimiza os custos totais, incluindo a produção e a comercialização. Evidentemente, esta teoria desconsiderava a existência das interações entre as empresas e que a localização sofre influências da pressão das demais empresas sobre a demanda. Outra proposição clássica sobre a localização industrial encontra-se no estudo das áreas de mercado para as quais as empresas orientam sua produção. Esse enfoque é conhecido como modelo Christaller-Lösch. Christaller (1966), em seu conhecido modelo do lugar central, utilizou o conceito de economias de aglomeração para estabelecer uma hierarquia de tamanho dos centros urbanos 13

Universidade da Amazônia que servem para explicar a organização concêntrica das áreas metropolitanas. Em função das economias de escala, existe um espectro mínimo de mercado para a oferta dos diferentes bens e serviços. Mesmo assim, há um limite máximo para o tamanho do mercado que se forma a partir da existência dos custos de transporte. No centro do mercado relevante haverá um centro urbano-pólo em que já coexistiram todos os tipos de bens e serviços. Muitos ao redor se ligam a um conjunto de centros urbanos pequenos, que se dirigem ao mercado central para adquirir aqueles bens e serviços que requerem valores elevados, muitas vezes supridos pelas áreas adjacentes, sob a influência dos grandes mercados na produção dos bens e serviços a custo menor. Lösch (1954) põe ênfase nas variações espaciais da demanda, considerando um mundo de custo uniforme e obtenção dos benefícios da concentração espacial independente da situação inicial. Sendo assim, as economias das aglomerações industriais dão lugar a uma dispersão intraindustrial e, simultaneamente, a uma concentração territorial. Essas idéias clássicas foram todas superadas diante do modelo apresentado por Marshall para explicar a localização espacial de aglomerações industriais. Esse modelo será apresentado sucintamente, a seguir. Marshall (1982), a partir das ideias de Adam Smith, acerca de que o crescimento econômico é um processo endógeno de acumulação e investimento, deu uma contribuição seminal para a análise econômica da localização industrial. Marshall propôs que a concentração de indústrias especializadas se dava por meio do conceito de economias externas. Afirmou que os padrões de localização industrial perduram por longo prazo, já que as empresas obtêm vantagens de sua proximidade. Assim, Marshall concebeu a história industrial de um território como elemento decisivo na formação de economias externas e da concentração de empresas de uma mesma indústria em um território. A interação de empresas próximas cria uma atmosfera industrial que facilita a difusão de inovações tecnológicas de produção, a cooperação entre empresas, a formação de mercado de mão de obra especializada, que pode ser compartilhada de modo a ampliar o mercado local para fornecedores. As economias externas permitem a organização da indústria de forma alternativa, e igualmente vantajosa, à produção em grande escala. Marshall define as economias externas como as que dependem do desempenho geral da indústria e economias internas que dependem dos recursos próprios das empresas, de sua organização e da eficiência gerencial. Na perspectiva marshalliana, quando um determinado local tem um mercado estável de mão de obra especializada, capaz de se adaptar às mudanças tecnológicas que acompanham a indústria, dispõe de um mercado de bens intermediários, cuja expansão assegura um processo de crescimento e de divisão do trabalho dentro da indústria local, e a produção ocorre em processo 14

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local contínuo e espontâneo de difusão do conhecimento sobre inovação de processo, produto e organização, o conjunto da indústria alcança rendimentos crescentes externos ou economias externas localizadas, embora os rendimentos de cada uma das empresas sejam decrescentes. O modelo marshalliano mantém os pressupostos de competitividade e despreza os de convexidade. As empresas são tomadoras de preço, uma vez que os aumentos de demanda não resultam em aumento de preços, apenas do número de ofertantes. Com efeito, as economias externas explicam tanto a localização quanto o crescimento econômico das regiões. A especialização de um território diante da competitividade explica-se em função das vantagens absolutas que dependem da disponibilidade e qualidade das economias externas locais, que constituem um ativo intangível associado à cultura e à história industrial do território. Em resumo, Marshall explicou a localização industrial em função da existência de três tipos de economias externas que caracterizam o entorno produtivo e social do território. a) A disponibilidade de uma oferta de mão de obra local preparada para a realização das atividades de manufatura do território pressupõe uma economia externa para as empresas em termos de qualificação especializada e de custo dos salários. A concentração localizada de empresas de uma mesma indústria cria um mercado de trabalho para trabalhadores qualificados, que favorece tanto os interesses dos empresários quanto dos trabalhadores. Além disso, tende a diminuir a incerteza do desemprego, dado que as demandas de trabalho das empresas não estão necessariamente correlacionadas, o que favorece ganhos para trabalhadores. b) Se existe um grande mercado local é possível que apareçam empresas fornecedoras de insumos e bens de capital especializados (comerciais e não-comerciais) e mais eficientes na produção. O tamanho do mercado torna-se elemento-chave para atrair empresas especializadas em atividades complementares. A eficiência depende do tamanho do mercado (escala de produção do sistema produtivo local) e não da escala individual de produção das empresas. O modelo industrial derivado da existência dessas economias externas é descentralizado, ou seja, as empresas do território realizam todas as transformações necessárias até que se chegue ao produto final (verticalização setorial), o que permite o desenvolvimento de relações entre empresas com base no princípio da complementaridade produtiva. Isso pressupõe que as empresas mantêm conexões produtivas e comerciais para frente e para trás com as empresas locais. 15

Universidade da Amazônia c) O conhecimento e informação sobre as inovações produzidas em dado setor torna-se ativo intangível do território de influência das empresas locais. A adoção e difusão de avanços tecnológicos e organizacionais permitem gerar uma dinâmica competitiva que incrementa a taxa de inovação tecnológica e de gestão do território, reforçando sua competitividade e trajetória de crescimento socioeconômico. Finalmente, Marshall explica a localização industrial por meio do conceito de distrito industrial. A concentração de empresas especializadas em atividades complementares permite a formação de distritos industriais, uma vez que as empresas buscam maximizar seus fluxos de caixa, criam um sistema social e produtivo que favorece toda indústria. Para as empresas localizadas no território, o entorno atua como um bem coletivo, uma vez que as economias externas beneficiam apenas o desenvolvimento do tecido empresarial do local. Dessa forma, uma nova empresa ao se instalar em dado território, passa a desfrutar da cultura criada pelo sistema produtivo local e, por sua vez, a contribuir com o bem-estar coletivo. Contudo, se uma empresa deixa o distrito industrial não poderá manter as vantagens obtidas no local, uma vez que as economias externas não são móveis. Ainda na idéia do distrito industrial, Becattini (1979) ampliou a noção de economias externas, ao incluir os aspectos referentes a custo dos insumos ou da difusão de tecnologia e as instituições sociais e empresariais do território. A partir dessa nova interpretação teórica, Becattini interpreta a localização das atividades produtivas nos âmbitos locais e do crescimento econômico do território. Como resultado, constatou-se que há maior proteção diante de crises econômicas em geral dos distritos industriais no Norte e Centro da Itália, em que predominam as pequenas e médias empresas. As vantagens da localização de um distrito industrial derivam de um amplo conjunto de externalidades que estão associados à: a) especialização de empresas em uma fase de produção possibilita que se obtenha um equilíbrio em condições de competitividade e rendimentos crescentes. Nesse caso, incorpora-se a análise da especialização empresarial. b) atmosfera industrial local, como definida por Marshall. c) existência de externalidades associadas à formação e existência de um mercado de trabalho especializado. Não é apenas uma melhor oferta de trabalho como destacou Marshall, mas um mercado em que os trabalhadores especializados estão suficientemente preparados para adaptaremse rapidamente às mudanças de demanda e aos avanços tecnológicos. 16

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local Com efeito, o distrito industrial de Becattini (1979) inclui um conjunto de fatores sociais e culturais básicos para sua formação, resultante da ética do trabalho, da família e da reciprocidade, atuando em todos os aspectos principais da vida das pessoas que fazem parte do distrito. A existência de um distrito implica que os valores que prevalecem entre os membros, incluindo as instituições, fomentam a dinâmica empresarial, a difusão de conhecimento e, por extensão, a introdução de inovações tecnológicas e a cooperação entre os membros de uma mesma comunidade. As empresas especializam-se em uma das diferentes fases do processo produtivo de modo a que os encadeamentos horizontais e verticais entre diferentes empresas de uma cadeia produtiva tornam-se contínuo. A flexibilização das tecnologias abre espaço para tornar possível a combinação de maior nível de eficiência com estabelecimentos de menor tamanho. Assim, para se obter economias de escala não é necessário apenas crescer, pois basta simplesmente dispor de tecnologias apropriada, que não é obrigado ocorrer dentro da própria empresa, mas na indústria. Finalmente, a existência de um grande número de micro, pequenas e médias empresas cooperando entre si dota o sistema industrial de uma maior flexibilidade entre mudanças na demanda, o que constitui uma vantagem comparativa com respeito às grandes empresas, especialmente quando se trata de mercados com uma alta instabilidade. De fato, grande parte dos mercados de um distrito industrial, sobretudo quando se trata de commodities e/ou de produtos agropecuários e florestais como os tratados nesta pesquisa, apresenta oscilações determinadas por sazonalidade da produção, mudanças cambiais que influenciam as funções de oferta e demanda. O avanço na teoria da aglomeração empresarial, o conceito de economias externas de Marshall ganhou novos desenvolvimentos com os aportes que surgiram entre a nova geografia econômica e as economias de aglomeração. Assim, Scitovsky (1954) introduziu um avanço ao conceito de economias externas, ao fazer uma distinção entre economias externas pecuniárias e nãopecuniárias. As primeiras obedecem às inter-relações entre empresas que fazem operações comerciais no mercado e obtêm redução de custo de insumos, de modo a produzir deslocamentos no fluxo de caixa. As economias externas não-pecuniárias ou tecnológicas são identificadas com a difusão de conhecimentos entre empresas que se aninham na função de produção, mas não captam o mecanismo de preço. Assim, as economias externas pecuniárias são relevantes em condições de concorrência pura, que predominam nas economias em desenvolvimento. No caso desta pesquisa, os estabelecimentos empresariais que operam no elo de produção e algumas do elo de processamento 17

Universidade da Amazônia industrial das cadeias produtivas de agricultura, pecuária e exploração florestal se enquadram nesse perfil. Por outro lado, as economias externas tecnológicas operam em função da existência de fluxos de informação entre as empresas e são comuns apenas nas economias desenvolvidas. Realmente, as aglomerações empresariais situadas nos elos de processamento industrial da Amazônia não desfrutam desse tipo de economia. As economias estáticas são estáticas e as economias tecnológicas, dinâmicas, dado que o fluxo de conhecimento tende a fluir de maneira constante. Entretanto, Krugman (1991) argumenta que é muito difícil distinguir entre esses tipos de economias externas e que se aplicam apenas quando existem rendimentos constantes à escala e concorrência pura. Na presença de rendimentos crescentes e mercados imperfeitos, que são o motor do desenvolvimento das aglomerações produtivas, o conjunto de economias externas significativas deve ser considerado como mais importante do que a simples distinção entre economias externas pecuniárias e tecnológicas. Do mesmo modo, quando os efeitos externos são negativos, chamados de deseconomias externas ou externalidades negativas, têm efeitos opostos aos apresentados. Geralmente, os efeitos externos positivos geram uma força de atração para o território, enquanto que os efeitos negativos atuam como forças repulsivas para os agentes que quiserem entrar no aglomerado. Krugman denominou essas forças como centrípetas e centrífugas, respectivamente. Vinculando, por fim, as ideias da localização empresarial aos postulados teóricos sobre desenvolvimento econômico e crescimento endógeno, para dar sustentação a uma trajetória de crescimento sustentável a partir de um território, há necessidade de que existam conexões empresariais e setoriais. Essa idéia de desenvolvimento foi difundida entre os anos de 1940 a 1960. Os argumentos dessa época eram de que os países pobres se caracterizavam por contrastes combinados por baixos níveis de desenvolvimento porque não eram capazes de gerar economias externas tecnológicas. Portanto, nenhuma empresa introduziria inovações tecnológicas, se o resto das empresas continuasse utilizando técnicas tradicionais, dado que a causa principal do reduzido tamanho do mercado é a insuficiência de investimentos, de acordo com a teoria do big push postulada por Rosenstein-Rodan (1943). Esta linha teórica foi retomada por Myrdal (1957) e Hirschman (1958), que estudaram o crescimento e a localização em relação à existência de efeitos externos de caráter cumulativo. Myrdal propôs que a organização espacial dos recursos é o resultado de uma causalidade cumulativa e circular, com efeitos de eficiência dinâmica. Hirschman estudou os efeitos cumulativos por meio das conexões intersetoriais para frente e para trás do processo produtivo. Esses autores sugeriram a possibilidade de se introduzirem mudanças 18

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local na localização empresarial como alternativa para desencadear forças aglomerativas que incrementem a produtividade, eficiência e, portanto, a taxa de crescimento da economia regional e/ou nacional. Uma fonte importante de economias externas são as conexões ou encadeamentos entre as atividades econômicas dentro de uma área geográfica relativamente delimitada. Uma empresa é, pois, apenas uma pequena parte de um complexo sistema de produção unido por encadeamentos diretos e indiretos e em múltiplas direções, entre várias unidades produtivas (HIRSCH- MAN, 1958; SANTANA, 2004). As economias externas são transmitidas para cada empresa por meio da rede de interconexões com outros elementos do sistema. A essas economias externas, geograficamente localizadas, que são geradas dentro de um distrito industrial e que exercem esta força de atração, chama-se de economias de aglomeração. O desenvolvimento recente da teoria do crescimento demonstra que, na presença de retornos crescentes e de externalidades geograficamente localizadas, foram constatadas experiências de crescimento da atividade produtiva e de concentração territorial (CAMPI; DUCH, 1998; KRUGMAN, 1991; 1995; FINGLETON et al., 2005). As economias externas de aglomeração reduzem os custos de produção de uma determinada área, o que justifica a concentração de empresas e a construção de um processo de crescimento. Romer (1986; 1990) propôs que o crescimento é um processo endógeno em que os rendimentos crescentes são obtidos em função do conhecimento acumulado que, por sua vez, depende do estoque de capital. Estabeleceu, adicionalmente, que o conhecimento é um bem de capital com produtividade marginal crescente. Assim, o crescimento depende basicamente dos conhecimentos acumulados por parte dos agentes maximizadores de benefícios com visão de futuro ou empresários empreendedores. Esse conhecimento, que só será produzido na medida em que forem realizados investimentos, gera externalidade suficiente para melhorar a produtividade e explicar o crescimento em longo prazo. A literatura atual sobre crescimento endógeno e localização utiliza o entorno do aglomerado empresarial, que opera em competição imperfeita e rendimentos crescentes, para explicar os ganhos de eficiência derivados da acumulação de conhecimentos e da estrutura e dimensão do mercado local. As aglomerações empresariais por suposto facilitam a fluidez de informações, permitindo uma fetilização de idéias e conhecimento de caráter acumulativo que beneficia os agentes de um mesmo território em razão da proximidade. Este conhecimento pode ser adquirido sem custo, ou seja, produz interação fora do sistema de preços. Em uma economia que produz externalidades, o 19

Universidade da Amazônia equilíbrio é sub-ótimo, por isso a ação governamental é decisiva para o suprimento de recursos que possibilite o alcance do ótimo social. Em síntese, as economias de aglomeração podem ser divididas em economias de localização e economias de urbanização. As economias de localização são externas às empresas, porém são internas à indústria ou setor, enquanto que grande parte das economias de urbanização é externa às empresas e à indústria, porém são internas ao território. As primeiras podem associar-se à especialização, uma vez que são específicas de setores industriais concretos, contanto que surjam da interação de muitas atividades dentro da mesma aglomeração, como reflexo das vantagens da diversificação ou do volume de idéias cruzadas e/ou atividades. As economias de localização podem derivar-se da especialização de comunicação que promovem a inovação e de serviços públicos específicos, entre outros. As economias de urbanização, de caráter interindustrial, surgem de infraestrutura e dos efeitos do tamanho do mercado local, com a presença ou não dos encadeamentos industriais. Nesta pesquisa, adotou-se um conceito de aglomeração empresarial fundamentado apenas no conjunto de empresas formais, com a clareza de que, nessas aglomerações, as forças que geram as externalidade econômicas estão apenas latentes no local. A metodologia utilizada para identificar os municípios onde essas aglomerações empresariais estão em diversos graus de formação e desenvolvimento capta apenas os efeitos das economias de localização. O objetivo é reunir informações para caracterizar as aglomerações produtivas identificadas nos aspectos das relações de mercado, tecnologia, infra-estrutura, parcerias e formação de capital humano e social. Este último é considerado como o esteio principal da produção de economias externas de localização e de urbanização. A seguir apresenta-se o conceito de arranjo produtivo local, caso específico de distrito industrial, adaptado às condições de regiões em desenvolvimento. 2.1 ESTUDOS PIONEIROS SOBRE AGLOMERADOS O foco da análise na economia espacial, centrada em dado território 2, tem raízes no trabalho dos economistas clássicos (mais evidente no estudo da renda da terra de Ricardo), no notável trabalho de von Thünen e Weber (abordagem do abastecimento de cidades por agricultores do seu entorno) e na 2 Território, segundo Llorens (2001), compreende a heterogeneidade e a complexidade do mundo real, suas características ambientais específicas, os atores sociais e sua mobilização em torno das diversas estratégias e projetos e a existência e o acesso aos recursos estratégicos para o desenvolvimento produtivo e empresarial. 20

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local escola neoclássica com o magnífico trabalho de Marshall (economias externas geradas a partir dos distritos industriais), culminando no século passado com o ganho de notoriedade da geografia econômica, ciência regional e economia urbana (FUJITA et al., 2002) 3. Todavia, o interesse mais detido de cientistas políticos, professores das escolas especializadas em negócios, sociólogos econômicos e economistas sobre a economia em espaços geográficos (geografia econômica, economia regional e teoria do desenvolvimento) vêm crescendo apenas nos últimos 20 anos (SANTANA; SANTANA, 2004). Nesse movimento, o espaço territorial deixou de ser visto apenas como um suporte para localização de fatores produtivos, numa ótica de desenvolvimento econômico exógeno, que buscava equilibrar economias de aglomeração (forças centrípetas) com as deseconomias de aglomeração (forças centrífugas), assumindo papel ativo na formação dos mecanismos de retorno crescente que explicam o desenvolvimento (KRUGMAN, 1991; SCHMITZ, 1999; PORTER, 1999; CASSIOLATO et al., 2000; CARVALHO, 2000; COSTA; ANDRA- DE, 2007; SANTANA, 2008a). O que muda na nova abordagem das economias locais é que as análises saltam de um movimento mecanicista e estático para uma perspectiva mais qualitativa e dinâmica das mudanças tecnológicas, enfatizando-se o papel da competitividade sistêmica, cooperação, inovação, empreendedorismo, difusão de informação, cultura em pequenos negócios, flexibilidade, adaptabilidade e muitos outros fatores que interagem no ambiente local (KRUGMAN, 1991; DESROCHERS, 1998; SCHMITZ, 1999; BARQUERO, 1998). Assim, um local pode ser considerado mais dinâmico do que outro para integrar processos coletivos formais e informais essenciais à produção de fluxo permanente de inovações, cuja evolução salta dos comportamentos maximizadores de equilíbrio para um processo natural de seleção em que são premiadas algumas decisões e outras castigadas, dentro de um mecanismo evolucionário de condutas adaptativas (NELSON, 1997; CASSIOLATO et al., 2000; NELSON, 2006). O território funciona como um espaço que favorece o desencadeamento de um conjunto de relações intencionais e não-intencionais, tangíveis e intangíveis, comercializáveis e não-comercializáveis, que movem o processo de aprendizagem e de construção de competências - que se incorporam e evoluem de forma acumulativa, de modo a resultar em eficiências coletivas. Quando essas forças interagem e passam a dar forma e coesão a um conjunto de empresas ou indústrias diferentes, porém com grau de complementaridade 3 Fujita, Krugman e Venables (2002) apresentam um resumo elucidativo das obras referidas de Von Tünen [1966 (1826)] The isolated state; Weber, A. (1909) Under don standart der industrien; Marshall, A. [1982 (1920)] Princípios de economia. 21

Universidade da Amazônia no todo ou em alguns elos das cadeias produtivas, de forma a gerar um tecido dinâmico e sinérgico de ações internas formando as redes de ligação com fornecedores, clientes e instituições correlatas, tem-se aí o conceito de aglomerado econômico ou cluster industrial. Fica evidente, portanto, que o foco do conceito de aglomerações empresariais locais ou cluster é voltado para uma concentração espacial de empresas setorialmente especializadas, com predominância de micro e pequenas empresas, fruto de um processo histórico de desenvolvimento, gerado no espaço socioeconômico, cultural e político local (SCHMITZ; NADVI, 1999; SCHMITZ, 1999; PORTER, 1999; HOWELL, 2000; DESROCHERS, 1998; CARVALHO, 2000; LLORENS, 2001; BRITTO; ALBUQUER- QUE, 2002; SANTANA, 2004a; 2005; 2008a). É grande a importância que esse tipo de aglomerações produtivas desperta nos países e regiões em desenvolvimento, que convivem com elevado desemprego, baixo nível educacional, ambiente institucional enviesado para o grande empreendedor, baixa renda per capita, baixa capacidade inovativa e ambiente macroeconômico instável. Elas se demonstrado como referência de estruturachave para programas de desenvolvimento que permitam incluir pobres, gerar e distribuir renda, criar capacidade para desenvolver o capital humano e social, assegurar sustentabilidade ambiental e reduzir as desigualdades regionais (POR- TER, 1999; CASSIOLATO et al., 2000; FUJITA et al., 2002; DINIZ; LEMOS, 2005). Neste sentido, além das vantagens comparativas relativas à dotação dos fatores de produção, a teoria moderna dos aglomerados adiciona as vantagens competitivas resultantes do aproveitamento das externalidades do ambiente dadas pela presença das vantagens locacionais e a inclusão de ganhos privados e sociais, o que tende a reforçar a importância dos capitais coletivos existentes nos APL e também a capacidade de governança dessas organizações complexas. Os distritos industriais modernos, conhecidos na literatura especializada como clusters industriais marshallianos, são sistemas produtivos industriais localizados em distritos pertencentes a algum município ou microrregião de um Estado (MARSHALL, 1982; FUJITA et al., 2002). A principal característica dos distritos industriais é a presença de agrupamentos de micro, pequenas e médias empresas (MPME) que se especializam na produção de bens em diferentes etapas da cadeia produtiva e, freqüentemente, em torno de uma indústria dominante. Em geral, as pequenas e médias empresas da comunidade local devem estar articuladas a uma empresa líder por meio de uma extensa rede de negócios. As MPME dos distritos industriais geram fluxos de investimentos e de comércio de bens e serviços. Tal estrutura produtiva distrital acaba aprofundando a divisão técnica e social do trabalho, de forma compartilhada com diferentes atividades especializadas, inclusive com a de mão de 22

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NOS ESTADOS DO PARÁ E AMAPÁ, NO PERÍODO 2000 A 2005: orientações para políticas de desenvolvimento local obra especializada do mercado de trabalho e do estoque de conhecimento no mercado de informação (MARSHALL, 1982; MARKUSSEN, 1994; PORTER, 1999; WILLIAMSON, 2002; CASSIOLATO; LASTRES, 2003; SANTANA; SANTANA, 2006; DINIZ; LEMOS, 2005; SANTANA; 2008a) O Brasil, deliberadamente, com base no sucesso comercial e econômico das pequenas e médias empresas dos distritos industriais da região Emilia-Romagna, na Itália, do Vale do Silício, nos Estados Unidos, de diversas regiões da União Europeia, assim como o sucesso nas exportações brasileiras, resolveu implantar programas e ações de política de fortalecimento da industrialização territorializada, tendo como meta a política de desenvolvimento local sustentável, com base no conceito de APL. No interior da política nacional de desenvolvimento industrial, a política industrial de desenvolvimento local foi transformada no programa de desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais do governo Lula, a cabo dos Ministérios de Ciência e Tecnologia, da Integração Nacional e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Observa-se que o foco territorial do desenvolvimento se vale da contribuição de postulados com origem em diversas abordagens teóricas sobre o desenvolvimento. Barquero (1998; 2001) diz que o desenvolvimento local emprega os seguintes conhecimentos teóricos, segundo as teorias do desenvolvimento: da Grande Teoria do Desenvolvimento (com seus enfoques regionais e evolucionistas), utilizam-se as economias pecuniárias e tecnológicas, a formação de redes de empresas e o conhecimento local; da Teoria Territorialista, absorve-se a noção de espaço econômico e as ações vindas de baixo para cima; da Teoria da Dependência, utilizam-se os conceitos de dependência tecnológica e do conhecimento e as trajetórias próprias de desenvolvimento de cada região; da Teoria Dualista, leva-se em conta a oferta de mão de obra barata e abundante, industrialização com base na cultura local, valorizando atividades artesanais, comerciais e a capacidade de poupança de base agrícola. Com efeito, não se deve definir, a priori, uma linha teórica para embasar uma análise por meio do conceito de APL, uma vez que internaliza aspectos fortes de cada teoria. Por isso, a pesquisa empregou e aprofundou os aspectos de interesse buscados em referenciais teóricos diferenciados de acordo com o grau de maturidade dos arranjos produtivos, segundo o local onde foi identificado. 2.2 CONCEITO DE ARRANJO PRODUTIVO LOCAL - APL O conceito de sistema e arranjo produtivo local (APL) é fundamentado na visão evolucionista sobre inovações tecnológicas e de gestão, envolvendo tudo que deriva do processo institucional de produção e difusão tecnológica e 23