Música e políticas culturais em Goiânia: algumas reflexões



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Transcrição:

Música e políticas culturais em Goiânia: algumas reflexões Márcia Terezinha Brunatto Bittencourt Mestranda em Música da Universidade Federal de Goiás e-mail: marciatbbittencourt@yahoo.com.br Sumário: A atual estrutura política cultural de Goiânia é fruto de lutas, reivindicações e conquistas de intelectuais e artistas que se preocupam com a questão cultural, social, política e econômica do município. Este artigo apresenta uma reflexão sobre ações de estruturas organizadas para apoio à cultura no município voltando-se, basicamente, à percepção de como se promove e se sustenta a área cultural na cidade, quais as atividades mais incentivadas, volume de recursos destinados e investidos. A reflexão considera os passos dados na condução de ações destinadas à música e cultura pelo Governo Municipal de Goiânia nos últimos 5 anos. Palavras-Chave: Música; Política Cultural; Arte; Goiânia; Leis de Incentivo Introdução Este artigo tem por objetivo refletir sobre políticas culturais vigentes em Goiânia, que é fruto de lutas, reivindicações e conquistas de intelectuais e artistas que se preocupam com a questão cultural, social, política e econômica da cidade, apresentando uma reflexão sobre ações de estruturas organizadas para apoio à cultura, voltando-se à percepção de como se promove e se sustenta a área cultural na cidade, quais as atividades mais incentivadas, volume de recursos destinados e investidos. A reflexão considera os passos dados na condução de ações destinadas às artes, mais especificamente para a música, pelo Governo Municipal nos últimos anos. Cultura, segundo Ferreira (1986), é um complexo de padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade. Atividade e desenvolvimento intelectuais, saber, ilustração, instrução. Chama-se Política Cultural um programa de intervenções realizadas pelo Estado, instituições privadas ou grupos comunitários com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento de suas apresentações simbólicas. Essas políticas se apresentam como o conjunto de iniciativas, tomadas por agentes culturais, que visam promover a distribuição e o uso da cultura, bem como a preservação do patrimônio histórico cultural. Política e cultura possuem estreitas relações entre si e atuam diretamente na formação histórica e social do homem. Falar em cultura significa, também, falar em arte, que por sua vez remete à Música. A cultura aplicada em todo seu universo potencial de linguagens permite o desenvolvimento da sensibilidade humana, uma vez que a arte é uma de suas manifestações e através dela o homem é capaz de interpretar a realidade e redescobrir essa mesma realidade, iniciando o processo de conhecimento e de mudança da realidade, propiciando uma transformação social e política. Faria (2000), completa que a cultura é uma fonte geradora de empregos e de renda, por isso faz-se necessário uma política cultural que não vise exclusivamente à supervalorização da geração de negócios, mas, que celebre a sociedade, a comunidade humana que a transforma. No Brasil a partir da criação da lei federal de incentivo a cultura, inicialmente com a Lei Sarney e posteriormente a Lei Rouanet, intensificou-se a discussão sobre a participação da iniciativa privada e suas relações na gestão da cultura. Antunes lembra que, de acordo com o Código Civil, em seu Art. 215, O Estado deve garantir o exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da - 220 -

cultura nacional e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. Ainda segundo Antunes (1999), a lei do Mecenato, nada mais é do que privatizar o apoio à cultura, dever constitucional do Estado, que é repassado ao empresário. Para o autor, a renúncia fiscal é uma demonstração de não-confiança do governo na sua própria capacidade de investir em cultura. Mamberti apud Furtado (2000), acha que deveria haver uma política de cultura onde o patrocínio das empresas fosse apenas um dos seus componentes. Sendo o dinheiro aplicado, público, o acesso à cultura deveria ser mais democrático. Para Mamberti (2000), o que se tem visto é a necessidade de submeter-se totalmente à política de marketing das empresas. A cultura, não deveria ser tratada como uma mercadoria e unicamente por seus mercadores, bem como somente o amplo e democrático acesso à cultura permitirá que o cidadão tenha condições de se desenvolver amplamente. Uma política cultural efetiva deve ser capaz de encontrar meios para uma real troca de conhecimentos e experiências, possibilitando a interação entre os mesmos. Políticas Culturais em Goiânia A cultura goianiense vem experimentando algum crescimento após a adoção de uma política cultural, voltada para as diversas manifestações artísticas e culturais. A política cultural adotada procura consolidar o respeito e valorização do que atualmente se produz em Goiás, por acreditar nas possibilidades futuras tendo como base o próprio potencial goiano. A política voltada para o setor cultural procura centrar-se nos princípios de preservação e manutenção do patrimônio histórico físico e no resgate das manifestações artísticas, festas e tradições populares e ainda na busca das diferentes culturas que se entrelaçam e compõem a identidade cultural do povo goiano. Para isso tem procurado o envolvimento de artistas, escritores, técnicos e outros personagens do setor cultural, bem como da comunidade, visando investimento no potencial cultural; interiorização e descentralização da cultura; incentivos culturais; estabelecimento de parcerias; preservação do patrimônio histórico e artístico; respeito e preservação dos costumes e tradições; formação artística; documentação, estudo e pesquisa; e ações culturais. Para serem realizados estes projetos recebem suporte de apoio cultural; crédito cultural; mecenato; benefícios fiscais; participação do Município e do Estado em projetos e empreendimentos em conjunto. Na área musical parcerias têm sido compostas entre variadas empresas particulares e instituições e entidades públicas como a Secretaria do Município, podendo tomar exemplo apresentações da Orquestra Sinfônica de Goiânia, no Teatro Goiânia. O goianiense tem a oportunidade de prestigiar concertos de músicas eruditas e populares. Em outras parcerias com a iniciativa privada, através de patrocínios diretos ou de prestação de serviços, despontam espetáculos musicais e outras ações culturais como dança, teatro. A importância da música tem sido ampliada tanto na divulgação das atividades como na formação de novos instrumentistas. Os diversos gêneros, como o clássico e o erudito, o sertanejo e o popular, recebem igual atenção na presença da Escola de Música, a Orquestra de Câmara Goyazes e a Orquestra de Violeiros a primeira com repertório erudito, a segunda, voltada para a chamada música de raiz (a autêntica música caipira) tendo por meta o trabalho de valorização do público, de educação, de entretenimento e cultura. O Fundo de Arte e Cultura foi criado, para adequar a legislação goiana ao que prevê a Constituição Federal, no parágrafo 6º do artigo 216 que estabelece incentivos para financiamento de programas e projetos culturais. A criação deste Fundo veio propiciar à cultura goiana, o investimento de recursos novos para o apoio à pesquisa, a criação e a circulação de obras de arte, bem como a realização de atividades artísticas e/ou culturais por meio de financiamento de projeto de patrimônio cultural, histórico e artístico, além de contar com recursos oriundos de contribuições, doações, transferências, subvenções e auxílios de entidades e órgãos públicos ou privados dentre outros. Este fundo é fruto de reflexões e diálogos representantes da cultura goiana que objetivavam - 221 -

propiciar a preservação do patrimônio e identidade cultural, sua ampliação e divulgação. Procura viabilizar a produção artística, para que se mantenha independente e não se submeta a vontade do chamado mercado cultural, contribuindo também, para a continuidade do processo de desenvolvimento, que precisa se fortalecer e renovar. Para tanto, foi realizada a Conferência Municipal de Cultura, com representantes das áreas de Música, Artes Plásticas, Visuais, Literatura, Biblioteca, Humanidades e Abrangência Cultural, Artes Cênicas, Cinema, Áudio e Vídeo, Representação do Terceiro Setor e Instituições Culturais com a finalidade de efetivar junto ao poder executivo municipal uma participação mais efetiva da sociedade goiana na tomada de decisões das políticas e financiamentos do setor cultural na cidade. Este conselho, ainda em fase de estruturação, luta pela participação, solicitando ao poder executivo relatórios de aplicação da Lei de Incentivo à Cultura (quantitativo de inscritos, aprovados, captados, realizados e com prestação de contas finalizada desde sua criação) dos projetos promovidos pela Secretaria. O montante destinado para o funcionamento da Lei de Incentivo à Cultura do Município, à Cultura, para sua aplicação no município, refere-se a percentuais da arrecadação de ISS e IPTU em 0,1% para 2003, 0,2% para 2004, 0,5% para 2005 e 0,6% para 2006 e anos vindouros. Estes recursos destinados ao FAC devem ser utilizados para a execução de projetos culturais, da seguinte forma: 50% pela sociedade, participando de editais públicos, e obedecendo a legislação pertinente; e 50 % pelo poder público municipal, igualmente obedecendo à legislação. Os projetos do Poder Executivo Municipal que se propuserem a utilizar os recursos do FAC, serão avaliados pelo próprio Secretário de Cultura. Este processo de avaliação pode ser questionado, uma vez que o procedimento democrático estabelecido, seja na legislação ou na conquista cotidiana da sociedade, ressalta um possível panorama turvo, sem a definição necessária ao cumprimento dos Princípios Fundamentais da Constituição Federal Brasileira ( Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência ). A LEI N 7.957, institui incentivo fiscal em favor de pessoas físicas e jurídicas de direito privado, para a realização de projetos culturais domiciliadas há no mínimo 3 (três) anos no Município, visando promover o livre acesso às fontes de cultura e o pleno exercício dos direitos culturais; fomentar a produção cultural e artística, com a utilização majoritária de recursos humanos locais, difundir bens, produtos, ações e atividades culturais de valor universal no Município de Goiânia. Estes projetos devem visar o desenvolvimento das formas de expressão e dos processos de criação, produção e preservação do patrimônio cultural goianiense, dentro dos segmentos de música, literatura; artes plásticas; produção cinematográfica, videográfica, fotográfica, discográfica e congêneres; teatro, dança, circo, ópera e congêneres; folclore e artesanato; patrimônio cultural, bibliotecas, museus, arquivos e demais acervos. São proibidas as concessões de incentivo aos projetos culturais que não visem à exibição, utilização ou circulação pública dos bens culturais deles resultantes. O volume de recursos utilizados na área musical, através da Lei Goiânia de Incentivo à Cultura é demonstrado na Tabela 1, onde se observa uma variação de recursos utilizados especificamente à cultura musical em Goiânia, nos últimos cinco anos, delimitados na pesquisa. Pode-se perceber uma variação positiva de investimentos na área musical, embora seja de domínio público que pouco se tem investido em cultura, não só no Município, como em todo o Brasil. - 222 -

LEVANTAMENTO POR ANO E SEGMENTO PERÍODO PROJETOS CONTEMPLADOS RECURSOS FINANCEIROS 2000/2001 2001 2002 2003 Artes Cênicas 03 R$ 3.205,00 Música 17 R$ 276.206,83 Cinema/Vídeo 06 R$ 134.060,63 Literatura 07 R$ 92.270,49 Artes Plásticas 05 R$ 67.167,34 Restauração 01 R$ 151,00 Festival 01 R$ 3.476,41 Artes Cênicas 02 R$ 24.824,80 Música 41 R$ 701.730,72 Cinema/Vídeo 07 R$ 158.140,65 Literatura 07 R$ 60.298,38 Artes Plásticas 04 R$ 95.220,75 Restauração 01 R$ 56.420,00 Festival 03 R$ 63.630,00 Dança 03 R$ 43.864,97 Artes Cênicas 15 R$ 294.205,90 Música 18 R$ 291.052,20 Áudio Visual 09 R$ 236.371,36 Literatura 11 R$ 80.304,82 Artes Plásticas 07 R$ 96.993,42 Cultura Popular 06 R$ 94.965,88 Festival 04 R$ 90.612,00 Dança 06 R$ 111.152,10 Radiofônico 01 R$ 17.630,00 Fotografia 02 R$ 13.864,00 Artes Plásticas 04 R$ 120.443,54 Literatura 10 R$ 137.390,31 Demais Projetos 02 R$ 88.967,00 Museu/Biblioteca 01 R$ 44.370,50 Cultura Popular 08 R$ 180.273,16 Música 23 R$ 597.570,92 Artes Cênicas 09 R$ 295.949,98 Cinema/Vídeo 6 R$ 271.267,41-223 -

2004 2005 XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM) PERÍODO PROJETOS CONTEMPLADOS RECURSOS FINANCEIROS Artes Plásticas 05 R$ 108.787,00 Literatura 11 R$ 176.068,86 Museu/Arquivo Biblioteca Demais Projetos 03 R$ 126.316,00 Cultura Popular 06 R$ 251.956,69 Música 11 R$ 47.656,42 Artes Cênicas 09 R$ 331.592,75 Cinema/Vídeo 06 R$ 353.258,85 1ª ETAPA Artes Plásticas, Gráficas e Fotografia 01 R$ 56.600,00 Literatura 04 R$ 53.011,96 Museu/Arquivo Biblioteca 01 R$ 48.557,00 Artesanato, Folclore e Cultura Popular 04 R$115.000,00 Música 13 R$ 379.158,10 Artes Cênicas 02 R$ 96.770,03 Cinema/Vídeo 01 R$ 54.440,00 Demais Projetos 01 R$ 59.245,80 2ª ETAPA Artes Plásticas, Gráficas e Fotográficas 01 R$ 10.000,00 Literatura 08 R$ 62.716,20 Museu/Arquivo Biblioteca 01 R$ 13.492,00 Artesanato, Folclore e Cultura Popular 07 R$ 112.066,95 Música 16 R$ 312.660,50 Artes Cênicas 06 R$ 134.891,00 Cinema/Vídeo 03 R$ 88.100,00 Demais Projetos 05 R$ 89.463,60 Tabela 1: Lei Goiânia, Incentivo à Cultura período compreendido entre 2003 e 2005. Conclusões A Lei Municipal Goiânia Incentivo à Cultura pode ser considerada uma conquista de toda a sociedade, resultado da luta dos nossos artistas. Esta lei procura ser um facilitador da produção cultural da cidade e tem considerável importância no processo de construção da Cidadania Cultural. Ao oferecer instrumentos democráticos para a expressão do cidadão, está contribuindo para a sua emancipação e para o fortalecimento da identidade da sociedade Goiana. Desde 2000, quando da sua implementação a Lei Goiânia Incentivo à Cultura liberou por volta de 8 milhões para 374 projetos nas mais diversas áreas da arte. Embora todo esforço do Estado e do Município, - 224 -

na figura de seus pensadores de cultura, percebe-se que, que muito ainda se pode fazer em termos de políticas culturais, para projetar, divulgar, incentivar efetivamente a produção artística, a criação artística, a cultura e a música de Goiânia e de Goiás. Uma das necessidades da nossa cultura como um todo, é o urgente aperfeiçoamento das leis de apoio e incentivo à cultura. Pensava-se que atrair o empresariado e iniciar a criação de um hábito de investimento cultural das empresas, além de promover a diminuição da presença do Estado, seria benéfico, possibilitando o aumento de recursos destinados à formação da identidade cultural local e do país, de forma ampla e efetiva. Porém, as políticas culturais no Brasil demonstram um meio-mecenato, ao utilizarem de dinheiro público, através da renúncia fiscal e não do dinheiro privado para incentivar a cultura. Da forma que se apresentam as políticas culturais, o poder público abre mão de exercer o controle de parte dos recursos públicos destinados à política de cultura e transfere essa gestão para o setor privado, em suas políticas de marketing, a decisão sobre a política cultural no que se refere ao financiamento à cultura. O governo, para que se cumpra o dever de Estado definido na Constituição, deve direta e efetivamente apoiar a cultura, pois não é o comércio, a indústria e as forças armadas atuantes, que melhor marcam e identificam uma nação. É a cultura e a arte desse povo que, valorizada por seus governantes tornam a nação conhecida, impondo respeito e admiração junto a outras sociedades. Referências Bibliográficas Antunes, Jorge. (1999). Renúncia Fiscal Como Descumprimento do Dever do Estado. In Revista Brasiliana. Número 1 - Rio de Janeiro. Faria, Hamilton; e Nascimento, Maria Ercília. (2000). Desenvolvimento Cultural e Planos de Governo. São Paulo: Polis, 112p. Feijó, Martin Cezar. (1983). O que é Política Cultural. São Paulo: Brasiliense. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Furtado, Luiz Carlos. Música e Política Cultural no Brasil: iniciativas do Ministério da Cultura de 1996 2000. Goi Jacob, Pedro. (1993). Movimentos sociais e políticas públicas. São Paulo: Cortez. Lei Goyases. Lei nº. 13.613 de 11 de Maio de 2000. Programa Estadual de Incentivo à Cultura Lei de Incentivo à Cultura. Lei n. 7.957, de 06 de Janeiro de 2000. Prefeitura Municipal de Goiânia. Lei Rouanet. Lei nº. 8.313, de 23 de Dezembro de 1991. Mamberti, Sérgio. Os Mamberti Atacam. (2000). Revista Marketing Cultural, São Paulo: Baluarte, nº.39, pp. 12-17. Ribeiro, Itamar Pires. (2006). Repensar e Aperfeiçoar o Mecenato. http//www.overmundo.com.br/tag/. Goiânia. Vieira, Marisa Damas. (2004). O Fenômeno Musical como um Complexo de Relações e elemento Interferente nos Grupos Sociais: o perfil dos alunos de primeiro ano de graduação da UFG em relação à música. Goiânia. - 225 -