Programa Peixe Vivo - Cemig 4º Seminário Estratégias para Conservação de Peixes em Minas Gerais. 40 anos Uma Trajetória Ambiental no Setor Elétrico Vasco Campos Torquato Novembro 2014
Com muito orgulho e satisfação trabalhei por oito anos na CEMIG como parte desta equipe de Volta Grande e de meio ambiente da empresa Evoy Zaniboni Filho - Florianópolis, 17/11/2014
Esta história teria sido diferente se este projeto tivesse sido realizado
Não penso aqui apresentar o meu currículo, 40 anos é muito mais do que um simples currículo. Ao longo da vida observei que não tem certo nem errado na história, ela acontece e pode ser reconhecida no futuro como boa ou ruim dependendo de quem analisa. Dois professores me influenciaram na escolha da carreira profissional. Prof. Jener Procópio de Oliveira me deu o tom para estudar Biologia e o prof. Varejão, em uma aula prática sobre peixes, conseguiu me transmitir a beleza da vida aquática e o fascínio dos mistérios e desafios que a cercavam. Antes deste tempo muita coisa já havia acontecido.
Como estagiário no Museu de História Natural, UFMG fiz uma viagem nas obras da UHE Itumbiara (1975) e este foi o meu primeiro contato profissional com o setor elétrico. Estávamos ali elaborando um relatório socioambiental, o que seria hoje o EIA/RIMA, com objetivo de encaminhar aos órgãos financiadores. Não tínhamos acesso ao projeto e muito menos oportunidade de dar opinião sobre o que iria acontecer com a fauna aquática. Nosso limite era conhecer o que existia e ver o que estava acontecendo. Na realidade não tínhamos condições de opinar, por falta de oportunidade e principalmente: desconhecimento do assunto.
Na década de 70, tudo estava começando sobre este assunto no Brasil. Meio ambiente era somente um item de exigências, dos muitos existentes, para se conseguir empréstimo de bancos internacionais para a construção do setor elétrico brasileiro.
O programa de desenvolvimento ambiental do rio Grande e Paranaíba PRODEPE - tinha uma parceria entre a Cesp, Furnas e Cemig. Reuniões (anos 70) entre as equipes técnicas deram novos rumos ao programa inicial que foi traçado para cumprir a demanda visando atendimento a legislação - (Portaria 47 Sudepe). Ainda na década de 70, por definição dos técnicos das empresas do PRODEPE mais a Copel, teve inicio os trabalhos com espécies de peixes nativos das respectivas bacias hidrográficas de atuação.
O filme Multiplicação da Vida foi um carro chefe para mudanças dentro e fora da Cemig, pois gerou um novo valor no setor elétrico, todos gostavam do filme e falava-se em ECOLOGIA, palavra até então desconhecida principalmente pela engenharia. Outro grande marco foram os encontros promovidos pelo Comitê Coordenador das Atividade de Meio Ambiente do Setor Elétrico Comase onde as publicações norteavam os caminhos ambientais do setor. O envolvimento com as universidades (anos 80), iniciando pela UFSCar e USP e posteriormente com a UFMG, deu o tom cientifico aos temas icitiofauna e limnologia e logo veio a necessidade da educação ambiental. Foi um grande salto do conhecimento.
Um passo importante para o meio ambiente junto ao setor elétrico foi as parcerias com técnicos e instituições internacionais dando uma visão e uma nova dimensão a icitiofauna brasileira trazendo e adaptando novas tecnologias. Exemplo, WFT para Minas Gerais. Outros vieram pelo Brasil afora e hoje é comum esta troca de informações. A Lei nº 9.605 de 12/02/1998 - Crimes Ambientais e o Ministério Público trouxeram novas visões e força para o aprendizado ambiental no Brasil. Órgãos Ambientais fortes e conhecedores do assunto.
UHE Retiro Baixo Durante o projeto foram propostas mudanças para diminuir os impactos da construção e operação da usina sobre a ictiofauna. Muitas sugestões foram aprovadas e implantadas. Outras, nas negociações entre engenharia, financeiro e meio ambiente não foram implantadas ou modificadas, mas tudo em consenso entre as respectivas equipes.
Itabirito População: 43.482 habitantes Resíduos gerados: Cerca de 32 toneladas/dia A construção de barragens quebra a rota de migração dos cardumes, diminui o território de alimentação e impedem o acesso às áreas de reprodução. É comum também a morte de peixes a jusante da casa de força durante manobras operativas, pois a população de peixes fica concentrada na saída do tubo de sucção, onde existe fluxo de água. Neste local os peixes sofrem com as mudanças de pressão, com a variação de volume e da velocidade da água.
A UHE Retiro Baixo está localizada no Rio Paraopeba, bacia do Rio São Francisco. A primeira mudança foi no arranjo geral da usina. Arranjo original Arranjo definitivo A mudança no arranjo evitou a formação de um trecho de vazão reduzida que poderia aprisionar peixes durante os períodos de seca ou quando do fechamento das comportas do vertedouro, além de proporcionar uma economia durante a obra, pois as estruturas de concreto ficaram concentradas na margem esquerda.
UHE Retiro Baixo casa de força e vertedouro
Os estudos mostraram que o Rio Paraopeba é uma importante rota de migração para os peixes da Bacia do Rio São Francisco. Após a construção de uma barragem os peixes tendem a ficar concentrados próximos a saída do tubo de sucção e após uma parada de máquina é comum o aprisionamento de peixes dentro do recinto da sucção. Para diminuir a quantidade de peixes aprisionados foi proposto a instalação de uma grade anti cardume. O fechamento total da sucção acontece em 3 minutos após o comando de parada da unidade.
Mesmo com a instalação da grade anti cardume é esperado que alguns peixes conseguissem entrar na sucção. Um problema comum em usinas é o acesso à sucção, que geralmente é feito através de escotilhas com diâmetro reduzido. O caminho dentro da casa de força para a retirada dos peixes também é complicado pois normalmente é necessário subir escadas até chegar em um patamar onde é possível içar os tambores com peixes para o pátio de manobras. Para resolver o problema de acesso a sucção foi construído uma escotilha com dimensões maiores que o normal (1200 x 800 mm). Os peixes são retirados da sucção utilizando tambores de 60 litros e transferidos para uma caçamba com capacidade de 1.000 litros. Esta caçamba é içada pelo pórtico rolante da galeria da sucção até o pátio de manobras, através de aberturas deixadas nas lajes.
Corte mostrando a estrutura da casa de força Escotilha de acesso e Pórtico Rolante
Após o fechamento da sucção com os Stoplogs não acontece mais a troca da água com o rio, então é necessário manter a qualidade da água dentro do recinto. A solução foi a instalação de bicos injetores de ar e água, que devem ser ligado imediatamente após o fechamento da sucção.
Uma vez iniciado a drenagem do tubo de sucção é preciso agilidade para retirar os peixes, pois com a diminuição do volume de água os peixes ficam mais agitados e isso contribui para piorar a qualidade da água. Um problema que normalmente atrasa o processo é a abertura da escotilha. Para agilizar o trabalho foi utilizado parafusos de aço inoxidável e ferramenta elétrica para retirar os parafusos.
A água de refrigeração das unidades geradoras, normalmente é lançada a jusante da casa de força, bem próximo à parede de concreto. Além de atrair os peixes para próximo da casa de força é comum que os peixes tentem vencer a barreira pulando na queda de água como se fosse uma cachoeira, batendo contra o concreto. Para impedir que isso acontecesse a água de resfriamento da UHE Retiro Baixo foi canalizada até o sistema de transposição para peixes, instalado a aproximadamente 200 metros a jusante da casa de força. Assim além de não contribuir para a atração de peixes para a sucção a água ajuda a atrair os peixes para dentro do sistema de transposição.
Para definir a localização do sistema de transposição para peixes e estudar o comportamento dos peixes no canal de fuga da UHE Retiro Baixo foi construído, no CPH da UFMG, um modelo reduzido do trecho de rio a jusante da estrutura da casa de força. Neste modelo foram colocados peixes da região e observado o comportamento em diversas situações diferentes. O estudo em modelo mostrou que os peixes seguiam até a casa de força preferencialmente na margem esquerda.
Na construção da UHE Retiro Baixo foi levado em consideração as inovações propostas pela área ambiental mostrou que é possível fazer um empreendimento ambientalmente melhor, sem prejuízo na geração de energia e com os custos de implantação pouco significativos, uma vez que ocorreram ainda em projeto e foram ajustados ao longo da construção. Em alguns casos as melhorias ambientais ajudam também a operação da usina, por exemplo, com um sistema de resgate de peixes eficiente o tempo de máquina parada diminui e a turbina volta a funcionar em menos tempo.
Cuidados ambientais desenvolvidos ainda em fase de projeto da UHE Santo Antônio
COMPORTA VAGÃO TIPO CORTA FLUXO DE JUSANTE DA UHE SANTO ANTÔNIO
SISTEMA DE AERAÇÃO NA SUCÇÃO DA UHE- SANTO ANTÔNIO
Na década de 70 pagava-se qualquer preço para construir uma usina hidrelétrica Custasse o que custasse. O conhecimento ambiental era pequeno. Hoje, tem-se conhecimento, sabe-se fazer e executar um projeto ambientalmente viável, mas, faz-se qualquer negócio para construir uma usina ao menor custo.
OBRIGADO! Vasco Campos Torquato Biólogo Rumo Ambiental Consultoria e Serviços Ltda vascotorquato@terra.com.br