MERCADO DE CÂMBIO E POLÍTICA CAMBIAL NO BRASIL. Pedro Rossi Unicamp Julho de 2012



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Transcrição:

MERCADO DE CÂMBIO E POLÍTICA CAMBIAL NO BRASIL Pedro Rossi Unicamp Julho de 2012

Questões introdutórias Por que ter uma política cambial ativa? 1) Fator ligado à conta corrente: volatilidade e ciclos de preços dos produtos da pauta de exportação. 2) Fator ligado à conta financeira: a moeda é um ativo financeiro e seu preço (taxa de câmbio) está sujeito às convenções de mercado e aos ciclos de liquidez. Quais devem ser objetivos da política cambial? 1) Reduzir a volatilidade da taxa de câmbio. 2) Colocar a taxa de câmbio em um patamar que coadune o desenvolvimento industrial e mantenha taxas de inflação moderadas. Como opera a política cambial considerada a institucionalidade do mercado de câmbio?

Dinâmica do mercado de câmbio e política cambial Intervenções Swaps IOF sobre posições vendidas e Imposto sobre margens Regulação dos fluxos Fluxos de comércio Mercado Primário Fluxo cambial Fluxos Financeiros Venda US$ à vista Arbitragem Bancos Domésticos Compra de US$ futuro Mercado Interbancário Banco Offshore Empréstimo via linha interbancária Mercado de Derivativos Oneração da formação de posições vendidas Especulação Venda de US$ futuro Estrangeiros e Investidores Institucionais

O fluxo cambial explica a dinâmica da taxa de câmbio?

5 Como os agentes formam posições no mercado futuro? O padrão de formação de posições dos agentes no mercado futuro é: bancos fazem o contraponto dos investidores nacionais e estrangeiros nas operações de dólar futuro.

Quem ganha (especula) e quem perde (arbitra) no mercado futuro? Ao analisar as apostas no mercado de derivativos de câmbio, vemos que: 1) Os estrangeiros e investidores institucionais na ponta certa. 2) Os bancos na ponta errada. Esses resultados são compatíveis com a hipótese de que os estrangeiros e investidores institucionais formam tendências no mercado de câmbio com objetivo de obter ganhos especulativos e que os bancos atuam no mercado para realizar ganhos de arbitragem transmitindo a pressão especulativa oriunda do mercado futuro para o mercado à vista. Figura: Posição dos agentes em dólar futuro e variação cambial entre jan. 2004 e maio 2011* Bancos Estrangeiros variação da posição (US$ bi) variação de posição (US$ bi) 15 10 5 0-5 -10-15 10.0 7.5 5.0 2.5 0.0-2.5-5.0-7.5 aumento da posição comprada e apreciação cambial aumento da posição vendida e apreciação cambial aumento da posição comprada e depreciação cambial aumento da posição vendida e depreciação cambial Investidor Institucional Nacional -10.0-10.0-7.5-5.0-2.5 0.0 2.5 5.0 7.5 10.0-10.0-7.5-5.0-2.5 0.0 2.5 5.0 7.5 10.0 15 10 5 0-5 -10-15 4 2 0-2 -4 6 Firmas não financeiras variação cambial (%) Fonte: BM&F e BCB. Elaboração própria. variação cambial (%)

Quem ganha (especula) e quem perde (arbitra) no mercado futuro? Tabela 1: Resultado das regressões: taxa de câmbio e posição no mercado futuro Regressão Agentes Coeficiente β Constante α R 2 (estatisticas t) (estatistica t) 1 Bancos -0,49-0.987957 0.35 (-6,66)* (-3.49)* 2 Estrangeiros 0,46-1,03 0,24 (5,02)* (-3,36)* 3 Investidor Institucional 0,55-1,05 0,11 (3,14)* (-3,16)* 4 Firmas não financeiras 0,31-1,07 0 (-0,26) (-3,06) 5 Estrangeiros + Inv. Institucionais 0,45-0,99 0,32 (6,21)* (-3,44)* Fonte: BCB e BM&F. Cálculos do autor. *Significante a 1%. Notas: 1) As regressões associam as variações mensais da taxa de câmbio (PTAX) à variação da posição dos agentes em dólar futuro entre janeiro de 2004 e maio de 2011, calculadas com base no primeiro dia útil de cada mês. Foram eliminadas 5 observações discrepantes de um total de 88, conforme o critério estatístico dos Resíduos Studentizados (RStudent). Essas observações coincidem com o período mais agudo da crise de 2008 (out-dez) e com outros momentos de grande variação cambial (jun.2009 e fev.2010). 2) Os coeficientes são estimados por Mínimo Quadrados Ordinários. 3) Todas as séries são estacionarias. 4) O teste Durbin-Watson indicou ausência de correlação serial nos resíduos. 7

Considerações finais Passos adicionais para a política cambial: 1) Mercado de derivativos Transferência gradual de liquidez do mercado futuro para o mercado à vista. Restringir a atuação de especuladores. Aprimorar o monitoramento e supervisão desse mercado. 2) Mercado interbancário Reduzir a atuação dos bancos no mercado como market makers e a aprimorar sua atuação como market dealers. Aumentar o numero de players autorizados à operar no mercado. 3) Mercado primário Aprimorar supervisão sobre as possíveis brechas deixadas pelos controles de fluxos de capital. Essas mudanças vão no sentido de ampliar o grau de administração do regime de câmbio para atender os objetivo de reduzir a volatilidade da taxa de câmbio e colocá-la em um patamar que coadune o desenvolvimento industrial e mantenha taxas de inflação moderadas.

Obrigado! pedrorossi@eco.unicamp.br