INFORMÁTICA E AUTOMAÇÃO NA INDÚSTRIA: A OpçÃO DE



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SBA: Controle de Automaçãç, Vol. I, N<? 2, pp 90-98 INFORMÁTICA E AUTOMAÇÃO NA INDÚSTRIA: A OpçÃO DE NACIONALIZAR Silvino Neves Rodrigues Secretário Executivo do Comitê de Informática Companhia Siderúrgica Paulista - COSIPA Av. são João, 473-129 ~ndar CEP 01035 - são Paulo - SP - Brasil Resumo Há grande espaço para a ciência, tecnologia e engenharia nacionais, na modernização do nosso parque industrial, através da aplicação de recursos de informática e automação. Neste trabalho ilustramos com projeções simplificadas alguns valores prováveis de dispêndios com essas aplic~ções no setor si derúrgico, até o ano 2000. Mostramos, entretanto, que há grandes dificuldades no processo de nacionalização dessas tecnologias, com exemp10 de projeto pioneiro nacionai desenvolvido pela COSIPA, na área de controle de proce!. sos. Por outro lado, exemplificamos as tendências futuras da aplicação da in formática e automaçao na indústria, com o projeto do SISTEMA INTEGRADO DE ln FORMAÇÕES DA COSIPA - SIIC, apontando algumas sugestões que podem contribuir para maior eficácia no processo de nacionalização. INFORMÁTION TECHNOLOGY AND AUTOMATION ln INDUSTRY: THE OPTION TO NATIONALIZE Abstract There are significant opportunities for Brazilian science, technology and engineering, through theapplication of information technology and automation resources in modernization and expansion of our industrial installat~ ions. On this work we illustrate with simplified projections, some probable expenditure values with such applications in the steel industry area, up to the year 2000. We show that, however, there are great obstacles to the process of nationali zation of such technologies, as occurred, for example, in the implementation of a Brazilian pioneer project, developed by COSIPA, in the process control area~ On the other hand, we give an example of the future trends in applica~ ion of information technology and automation in industry, through the "COSI PA INTEGRATED INFORMATION SYSTEM" project, pointing out a few suggestions which can add to higher efficiency during the nationalization processo 1. INTRODUÇÃO Segundo colocações do presidente da Cornr panhia Siderúrgica Paulista - COSIPA, Sr. ~ tonio Maria Claret Reis de Andrade, na Confe rência Internacional de Tecnologia Siderúrgi ca de Países em Desenvolvimento, promovida pela Associação Brasileira de Metais - ABM, 90

em Outubro de 1986, em são Paulo, e no 29 s~ minário de Informática e Automação na Siderurgia, promovido pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia - IBS, em Novembro de 1986, no Rio, o setor siderúrgico está vivendo um ce nário interessante, que tentamos ilustrar na Figura 1 e que descrevemos a seguir, generalizando. 1.0 - Há uma retração dos países desenvolvidos em relação ã indústria de mão-de-obra in tensiva, de elevado consumo energetico e de difícil controle ambiental, como e o caso da siderurgia. 2.0 - Há,perspectivas de retomada do crescimento econômico, a nível mundial, em decorrência da queda do preço do petróleo, criando chances para os países em desenvolvimento, nos setores industriais com as características citadas no parágrafo anterior. 3.0 - Há crescente estreitamento dos requisi tos de qualidade, preços e prazos de entrega dos produtos industriais, particularmente de bens intermediários, cujos compradores pref~ rirão fornecedores que lhes viabilizem esto ques "just in time", atendidos os demais requisitos de qualidade e preço. 4.0 - O desenvolvimento tecnológico e de aplicações da informática e automaçao avançam aceleradamente, porem como privilegio dos países desenvolvidos. 5.0 - A competitividade dos produtos daquelas indústrias cuja produção está sendo deixada aos países em desenvolvimento (vide parágrafo 1.0 acima) depende do uso intensivo da informática e automação, para atender os requisitos colocados no parágrafo 3.0. 6.0 - Mas para produzirem produtos competiti vos, os países em desenvolvimento continuarão na mão dos países desenvolvidos, no que dependem dos avanços da tecnologia de infor mâtica e automação, bem como das novas apli caçoes dessa tecnologia. Essas colocações identificam, nesse ponto urna encruzilhada para nosso país, em termos de opçoes para a modernização e expansão do parque siderúrgico, o que deverá ocorrer in tensamente ate a virada do século: ou simplesmente adquirir bens e serviços de infor mática e automação dos países desenvolvidos, ou suprir a demanda desses bens e serviços prioritariamente com produtos e inteligência nacionais. Lembrando a opção realizada pela sociedade brasileira coma Lei de Infor mática, aprovada pelo Congresso Nacional 1984, o Sr. Claret Reis de Andrade recomenda o caminho da nacionalização. Neste trabalho pretendemos abordar as dificuldades para trilhar esse caminho, baseando-nos em experiência na implantação de sis tema de automação industrial na COSIPA. Temos vivido o processo de nacionalização, nas areas de automação e informática, desde a es colha dessa opçao, passando pela montagem do modelo para compos~ção das competências (?) e algumas vezes conduzindo os projetos a operaçao dos sistemas. Atualmente coordenamos na COSIPA, em ate como secr~ târio executivo do seu Comitê de Informática, o que tem sido referido pelo Sr. Edison Dytz "como o projeto mais bonito que está sendo realizado atualmente no país, nessa área". Trata-se do projeto do "SISTEMA INTEGRADO DE INFORMAÇÕES DA COSIPA - SIIC", que tam bem abordaremos neste trabalho. 2. PERSPECTIVAS Optando-se pela nacionalização da informática e automaçao, na modernização e expansao do nosso parque industrial, e incalculável o esforço que o país deverá despender nos próximos anos. Vejamos, corno exemplo, ai gumas projeções simplificadas para o siderúrgico. Suponhamos que o nível setor de produção de aço atualmente, cerca de 20 milhões de toneladas por ano, seja dobrado até o ano 2000, passando portanto para cerca de 40 milhões de toneladas. Supondo que o faturamento medio do produto seja de 250 dólares tonelada (para referência, preço médio por de 91

DEPENDENCIA TECNOLÓGICA PAíSES DESENVOLVIDOS PAISES EM DESENVOLVIMENTO I DOMINIO TECNOLOGICO AVANÇO NO DESENVO~ VIMENTO DA INFORMÁ - TICA E AUTOMAÇAo RETRAÇAo CHANCES ECONOMICAS INDOSTRIA DE MAO-D~ OBRA INTENSIVA, DE ELEVADO CONSUMOaER GÉTICO E OE DIFICIL CONTROLE AMBIENTAL III CONDIÇftO PARA COMPETITIVIDADE FIGURA 1: CENÁRIO PARA A INDÚSTRIA DE MAo-OE-OBRA INTENSIVA, DE ELEVADO CONSUMO ENERGÉTICO E DE DIFÍCIL CONROLE AMBI ENTAL. produtos planos), o faturamento atual atingi:. ria cerca de cinc~ bilhões de dólares e chegaria, no ano 2000~ a 10 bilhões de dólares. Não consideramos aumentos potenciais no va ~or agregado dos produtos. Supondo que 0.75% desse faturamento ano a ano fosse gasto com investimentos em inform~ tica e automaçfto, para modernização do parque instalado, a potencialidade de investimentos anuajs,seria de cerca de 37,5 mi lhões de dólares, só em modernização do parque ins talado. Alem disso, supondo que cada milhão de tone ladas de expansão requeira investimento de 1 bilhão de dólares (média razoável entre o custo de ~xpansão de uma siderúrgica em operaçao e o cust0 de instalação de uma nova si derúrgica) e que, do total, cerca de 2% sejam gas/tos com inves timentos em informáti ca é autoulação, a potencialidade de investimentos totais seria de 400 milhões de dólares, nos próximos 13 anos, ou sej a, cerca de 30 mi 92 lhões de dólares por ano, assumindo distribuição linear, só em expansão. Isto significa que há a possibilidade deque nos próximos anos, até a virada do século, o país irá demandar, só em investimentos em informática e automação para a siderurgia, da ordem de 70 milhões de dólares anualmente, totalizando a cifra da ordem de um bilhão de dólares, até o ano 2000. 3. O PROCESSO DE NACIONALIZAÇÃO o que apresentamos a seguir nao devera ser diferente do que foi ou seria relatado por cientistas, engenheiros, professores,ai ministradores e técnicos que viveram o processo de nacionalização nas áreas da construção e engenharia civil, mecânica, elétri ca e outras que já sofreram mais ou menos intensamente esse processo. Tudo começa com o fato de que a opção de na cionalizar pressupõe a disposição de criar competência em área onde, evidentemente

competência nao há. A decisão de nacionalizar, portanto, é política. Raciocinando ap~ nas no âmbito da area a ser nacionalizada (por exemplo, um sistema de auto~ação indu~ trial, a ser aplicado numa indústria especl fica, que se propoe a servir de cobaia), é fácil ar~urnentar que não seria econômico fa zê-lo. Nem tecnicamente seria recomendável, pois há o riscb de frustraç~es nos res~lta-' dos. Mas a decis:io política de criar competência no país em área onde não hi, certa ou errada, considera benefícios e riscos que transcendem o âmbito dessa área. Foi assim que aconteceu,com a área de infor mática e auto~ação. (Para efe~to deste trabalho, entendemos por informática a parte abrangendo sistemas de informaç~es e por automação a parte abrangendo sistemas de au tomação industrial.) Restringindo-nos a area de automaçao indus tria1 e controle de processos em geral, on~ de firmamos nossa e~eriência, a decisão de criar competência em projeto, desenvolvimen to..-e implantação de sistemas, com utilização de equipamentos e engenharia nacionais, veio com a Secretaria Especial de Informática' em meados de 1980, quando estava a todo vapor o processo de nacionalização do s~stema de Sinalização e Controle da Linha Les te-oeste do Metrô de são Paulo, que figurava como uma das poucas iniciativas nesse sentido, no país, com o propósito de domínio tecnológico. Também era citado na epoca um sistema de controle para a COPENE, no po10 petroquímico de Camaçari, utilizando equipamentos e engenharia nacionais. E estava em andamento o desenvolvimento do sistema de controle de trens para a FEPASA, no mesmo e$pírito. Não acreditamos, com estas citaç~es, termos esgotado as iniciativas até essa época. A COSIPA iniciava entao os primeiros estudos de modelagem matemática de processos, visando desenvolver os respectivos sistemas de, controle, particularmente do processo de reaquecimento de placas, disposta a imp1ant~ los com recursos técnicos e econômicos tota1mente nacionais. Observe-se que um bom m~ tivo para importação de sistemas era o fin~ ciamento estrangeiro. Era propósito que o sistema de controle de fornos de reaquecime~ to de placas servisse como projeto pioneiro para um modelo amplo que reunisse competências dispersas existentes na empresa usuári~ nos fabricantes de equipamentos, nas empresas de engenharia e nas fundações e centros de pesquisa ligados às universidades. Em pae ticu1ar, seria exercitada a figura de' " casa integradora de sistemas", funcionando como foco de convergência entre os requisitos do usuário e os resultados de fornecimentos de bens e de serviços. Assim, praticou-se um modelo participativo, com a "casa integradora" complementando sua competência com entidades subcontratadas e coordenando fornecedor de equipamentos e cen tro de pesquisa contratados diretamente pela COSIPA. Definiu-se um prazo curto para o de senvo1vimento, mais para que ele não se emr perrasse nas malhas da burocracia interna e externa à empresa, do que pela viabilidade de realização no prazo previsto. Em outras palavras, atrasos poderiam ocorrer por problemas técnicos, mas nao por problemas de g~ renciamento. No entanto, as dificuldades encontradas foram de ordem técnica e gerencia1, conforme segue: I. DIFICULDADES TI:CNlCAS a) desconhecimento do comportamento termo -dinâmico do processo, que requereu muito tempo para modelagem matemática, simulações e simp1ificaç~es do modelo até o nível para utilização no sistema de controle; b) problemas de comunicação entre usuário e projetista na elaboração da especificação técnica do sistema; c) inexistência de configuração,de hardwa re com equipamentos nacionais, adequada para 93

o sistema, que requereu muito tempo no acerto de interfaces entre computador e perifér~ cos; d) necessidade de desenvolver equipamento especial entre o computador e a instrumentaçio de controle (ji existente), com todas as consequências para solucionar os problemas inerentes a esse tipo de desenvolvimento; e) deficiências intrínsecas à arquitetura do computador utilizado; f) deficiências do sistema operacional do computador utilizado, para aplicações em tem po real; g) deficiências de confiabilidade do computador e periféricos utilizados para os re quisitos de operaçio 24 horas; h) inexperiência dos profissionais envolvidos no uso do hardware e do software bisico; i) problemas para interligaçio do comput~ dor de controle com o computador central de programaçio e controle da produçio; e j) problemas de infraestrutura de instala çio e~ ambiente hostil (vibraçio, temperatura elevada, poeira, corrosio). II. DIFICULDADES GERENCIAIS a) tramitaçio lenta do processo de finan ciamento, entre interessada, "holding", enti.. dade de controle e entidades de financiamento; b) integraçio assumida por empresa pertencente à "holding", para criar competência na area, com todas as consequências para solucionar os problemas inerentes à criaçio de competência. c) pouca opçao na escolha de hardware e software bisico nacionais com uso anterior em aplicaçio similar; d) inexistência de numero adequado de profissionais com experiência, com a necess~ dade de investir pelo potencial dos profissionais envolvidos; e) alta rotatividade da equipe envolvida no desenvolvimento, reciclando de tal forma que nenhum dos elementos que participaram das primeiras fases chegassem às fases finais do projeto; e f) falta de entrosamento entre as entida des envolvidas. Na relaçio acima esperamos ter apresentado as dificuldades principais, técnicas e gere~ ciais, do processo d~ nacionalizaçio na irea de automaçio industrial e controle de processos. Outras hi, como por exemplo a de se criar a confiança do usuirio no processo de automatizaçio. Pior do que isso, é criar no usua rio a confiança de utilizar equipamentos e engenharia nacionais em irea de alta tecnologia que, em outras palavras, significa ai to risco. Essas dificuldades eram esperadas e sofrê las fazia parte do processo de domínio tecnológico, de importância vital em virtude da grande demanda de sistemas de controle de processos no país, particularmente na area de fornos de aquecimento. No entanto, apos todo o esforço dispendido, atualmente empresas fabricantes de fornos de aquecimento têm a necessidade de trazer do exterior o softwa re aplicativo para o controle desse tipo de processo. Então a experiência da COSIPA foi negativa? Não. Lembramos que em 1982 no seminirio realizado pela SEI e SIDERBRÁS, sobre perspectivas de nacionalizaçio na irea de controle de proce~ sos siderúrgicos, através da participaçio de "casa integradora de sistemas" e com o uso de equipamentos nacionais, os usuários eram categóricos em afirmar que não havia empresas e fornecedores com tal competência, para esse setor. No 19 Congresso Nacional de Automaçio Indus trial, em 1983, tal colocaçio, ji nao so para o setor siderúrgico, era menos categórica. 94

Fir~lmente, no 29 Congresso Nacional deaut~ m.ação Industrial, em 1985,.dive,rsos setores, particularmente o, siderúrgico, expressavam a confiança no fqrnecimentode bens e. serviços, por parte da engenharia nacional. O,proje~o do,?istema, de. controle dos fomos de reaquecimento de placas da COSIPA teve muito a ver com essa mudança de opinião. 4. O FUTURO Damesmà forma que ilm projeto da COSIPA ilustrou problemas vividos no processo de n~ cionalização da áreá de àutornação industrial, um 'seu projeto ':póde iiustrai os camidhos futuro, na área de i"ntormátitaeautóinàçâo na indúsfria. : Nesse ponto, a separaç~o."informática e auto ~'ção'i é '1mport~te, mas apenas do ponto de vista semântico. Nosso propósito é justamente p:ass'ar' a olhar essas áreas como uma soo Os Congressos Nacionais de Informática e os Congressos Nacionais de Automação Industrial, co~ s~as feiras ou ~-x:posições ~ reunem t,ipos' distintos,de especialis,tas e públicos. primeiros, estão os especialistas ~ d~~ do Nos usuá,rios tradicionai~' CPDs (*) e púb.lico inte'ressado em montar o seu pequeno CPD com micro pes ~-. ~.. "- soai. Nos segundos, estão os especjalistas em automação industrial e os usuários das respectivas tecnologias. Depoimentos dos pa~ ticipàntes de exposição de equipamentos dos Congressos de Automação Industrial revelaram que lhes é mais interessante esse evento que o. oti-tro,.porque o público é especializa~ do,. No nosso entender; esse fato revela um aspe~ tó-cultur"al' prejudiciál ã aplicação do modema dé -informática e automaçãd na inclús tria (ented'demos' "a'utomaçãà" aqui como automação indus'trial'; o's demais tipos de automaç~o:consi. deramos cobertos pela palavra "infoimátí"cari) A iridústria em geral tem oseucpb e já,têm t'ambém suas l.lhas de pequenos CPDs com mi-cro' pessoal. várias E éllndústri-a, em ger'al, (*) CPD: Centro de-processamento de Dados 95 se nao tem, pelo menos é potencial usuária dos sistemas de automação industrial. Se tem, é comum a responsabilidade sobre a automação indtjstrial, que abrange o process.o 'produtivo, estar em área funcional distinta:~aquelaque tem a responsabilidade sobre o CPD, que por sua vez abrange a ges tão da empresa, onde. f~ lha de pagamento, faturamento e contabilidade algumas vezes podem até assumir maior importância que programação ~" controle,da produção, também normalmente sob a responsabil! dade do CPD~ Ocorre assim que as áreas de au tomaçao industrial e de CPD, numa emprésa, nao se comunicam. Para que, se não têm nada em comum? No momento em 'que o mundo- da tecnologia da informática fala eni redes locais de computadores (LAN) ~.emmanufatura integrada por co,!!! putador (CIM), em padroniz~çãode protocolos de comunicação (OSI), em bancos de dados de grande porte, c~ntralizados a nível de empr~ sa, em engenharia da informação, geração au7 tomática de software, etc., etc., tudo isso tem uma razão de ser, que e a sua utilização para que as empresas realizem seus negócíos cómcompetitividade. No "caso da indústria, ' tudo isso traduz":"se na 'integração da' gestão do negócio da empresa com a gestao do seu processo produtivo. N,ão será trazendo terminais de telepr-ocessamento aos,po_stos _de trabalho de produção que se dará essa integração. Mas sim interconec":' tando os sistemas de controle de processos com os sistemas de gestão da empresa. Ou seja, implementan.d,o fisi~amente urna rede de computadores que interli~ue os computadores de controle de p!ocessos.com os, computadores dos CPDs internos e externos a empresa. Assim, o sistema de vendas está integrado ao sistema de planejamento, progra~~ção e controle da produção, que por sua vez está lig~ do aos sistemas de controle de processos, possibilitando ao 'cliente 'saber o estado de sua encomenda, com grande probabilidade de acerto, tal que possa planejar'o seu estoque "just in time". Dados diretos do processo

produtivo, que incluem diagnóstico de equip~ mentos e acompanhamento de produtos, possibi litam ação direta nos sistemas de gestão de insumos e de partes sobressalentes. Cálculos de custos, baseados em índices diretamente alimentados pelos processos e combinados com dados de ve~das, compras e custo de mão-deobra, possibilitam a gestão financeira da em presa. A filtragem desses dados, sua evolução estatística, sua combinação com índices que refletem o cenário sâcio-econêmico, possibilitam o planejamento estratégico da empresa, com tomadas de decisão apoiadas na segurança de uma pilotagem bem instrumentada. A descrição acima, ainda que para alguns po~ sa parecer idealista, reflete o que a COSIPA pretende atingir em termos de informática e automação, na figura do "SISTEMA INTEGRADO DE INFORMAÇÕES DA COSIPA - SIIC". O SIIC fundamenta-se na integraçao total da informação interna e externa à empresa, centrada numa base de dados de uso comum, tornando essa informação disponível a quem dela precisar fazer uso, em tempo hábil e com segurança. Para tanto, baseia-se na integração total dos computadores centrais de grande porte, que processam os sistemas de gestão da empresa, com uma camada intermediária de computadores, denominados Gerenciadores de Área, que processarão os dados gerenciais de agrupamentos de fábricas, e destes com os sistemas de controle de processos, ligados por sua vez aos sistemas de instrumentação industrial. Aos computadores do centro de processamento de dados estarão ligados também os microcomputadores administrativos e o mundo externo a empresa (clientes, fornecedores' bancos de dados, etc.). O projeto básico do SIIC esta em fase final de elabora ção e um dos pontos básicos de inovação é o planejamento de sistemas de informações (si~ temas de gestao da empresa), através da analise de dados e de funções, com as técnicas de Engenharia da Informação. O cronograma de projeto, desenvolvimento e implantação do sistema é de cinco anos, tendo sido o primeiro ano dedicado à realização do projeto básico. Estima-se em 150 milhões de dólares o custo total do projeto. As Figuras 2 e 3 ilustram a arquitetura funcional e física do SIIC. ~ão vemos outro caminho para a industria ~ derna que nao seja a integração dos sistemas de gestao da empresa, onde incluímos o mundo externo a ela e o controle da pr~ dução, com os sistemas de controle de processos e automação industrial. Em siderurgia essa integração ocorre, no Japão, desde meados da década passada. Porém nossas implantações, que só estão iniciando a partir de agora, já podem contar com evolu ções do tipo "data higway", padrões de com~ nicaçao e gerenciadores de bancos de dados de grande porte, inclusive com a integração imagem x som x dado. 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES E grande o espaço que tem a ciência, tec nologia e engenharia nacionais, na moderniza ção do nosso parque industrial, através da aplicação dos recursos da informática e auto maçao. As dificuldades em experiências vividas nos projetos pioneiros são inerentes ao processo de nacionalização e nossa sugestão é que devemos persistir no propósito, ou seja, problemas técnicos e gerenciais têm que ser solucionados. Nos projetas futuros, a minimizaçao ou mesmo a eliminação desses problemas podem ser viáveis com uma conexão forte, através do g~ renciamento eficaz, entre os vértices do tetraedro do desenvolvimento tecnológico, quais sejam: usuário, entidades de fomento, centros de pesquisa e em~resãrios fornecedores de bens e serviços. 96

o le:c V'l l"i"i e:c I- ~ V'l..J W W W I- c..:j li) > 'H H Z li) W Cl li) W o:::: O e:c Cl W N e:c o:::: H 'e:c..j U W Z w > W Cl 'H o:::: Z W c..:j W Cl li),...j O W li)..j..j li) W O w > o:::: U 'H l- a z z o:::: o a.. u MUNDO EXTERNO: SIDERBRÁS/CLIENTES/ OUTROS I.NF ORMAÇÕES GERENCIAIS/ MICROS ADMINISTRATIVOS PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO I'--- ----"" COMPRAS/VENDAS/TRANSPORTES BASE OE DADOS RECURSOS HUMANOS(ADMINISTRAÇÃO OE ENGENHARIA/IMPLANTAÇÕES USO COMUM PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO -1~ "lv DADOS OE PRODUÇÃO ~ ft SISTEMA 1 SISTEMA j SISTEMA n fi PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO REPROGRAMAÇÃO INSTRUÇÕES OE TRABALHO CONTROLE DA PRODUÇÃO CONTROLE OE ESTOQUES DADOS DOS PROCESSOS jt 3 a n PILHAS E ROTAS CALCINAÇÕES FrnNlS [E REAC;.U:CIr-ENTO ENERGIA COQUERIAS / DESSULFURAÇÕES!DESBASTADOR UTILIDADES SINTERIZAÇÕES CONVERSORES IcHAPAS GROSSAS LABORATÓRIOS ALTOS-FORNOS DESGASEIFICAÇÕES TIRAS A QUENTE TRÁFEGO LINGOTAMENTOS TIRAS A FRIO n FIGURA 2: SISTEMA DE INFORMAÇÕES DA COSIPA - S I I C: ARQUITETURA FUNCIONAL

TELEPROCESSAMENTOI MUNDO EXTERNO MICROS ADMINISTRATIVOS I PROCESSADORES I--- r--.. ~ BASE DE REDE INTERNA DE SERVIÇOS CENTRAIS DADOS REDE EXTERNA DE SERVIÇOS """'- U"l I REDE DE COMUNICAÇÃO DE DADOS DE ALTA VELOCIDADE w o::: o c:r: Cl w c::::: c::: COMPUTADORES PARA GERENCIAMENTO DE AGRUPAMENTOS H 'c:r: u z w (SUPER-MINIS) w o::: w e,.:) Cl ft OE FÁBRICAS REDE DE DADOS PARA CONTROLE DE PRODUÇÃO E APOIO LJ.J COMPUTADORES DE CONTROLE DE PROCESSO (SUPER-MICROS/MINIS/SUPER-MINIS) Cl U"l o SUPERVISÃO I CONTROLE I OTIMIZAÇÃO w U"l...J U"l o w c:: U l- o Z o::: o a. u MICROCOMPUTADORES CONTROLADORES INSTRUMENTAÇÃO (CONTROLE LOCAL) PROGRAMAVEIS DE CAMPO E DE PAINEL MATÉRIAS PRIMAS F"LUXO DO PROCESSO PRODUTIVO PATIOS DE EMBARQUE FIGURA 3: SISTEMA INTEGRADO DE INFORMAÇÕES DA COSIPA - S I I C: ARQUITETURA FÍSICA DISTRIBUÍDA