Aspectos Políticos da Adoção das IFRS no Brasil



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Transcrição:

Aspectos Políticos da Adoção das IFRS no Brasil Pesquisa em andamento para qualificação de doutorado Paulo Frederico Homero Junior paulo.junior@usp.br Doutorando do PPGCC/FEA/USP Orientador: Prof. Dr. Edson Luiz Riccio

Contextualização Desde 2001, cerca de 120 países requerem ou permitem o uso das IFRS (IFRS Foundation & International Accounting Standards Board, 2015); A institucionalização de normas contábeis supranacionais é uma atividade profundamente política, refletindo o balanço de poder entre diferentes atores e seus interesses (Rodrigues & Craig, 2007); Análises do papel do IASB (Martinez-Diaz, 2005), de outras instituições internacionais (Arnold, 2012), dos Estados Unidos (De Lange & Howieson, 2006) e da União Europeia (Bengtsson, 2011; Botzem, 2014; Chiapello & Medjad, 2009; Crawford, Ferguson, Helliar, & Power, 2014) estão presentes na literatura; Até o momento, não identifiquei análises da adoção das IFRS no Brasil sob a perspectiva de um processo político. 2

Temática da investigação Inter-relacionamento entre a adoção das IFRS e a reestruturação do campo da regulação contábil no Brasil 3

Arcabouço interpretativo Análise a partir de concepções desenvolvidas na obra de Pierre Bourdieu: Campo: rede ou configuração de relações objetivas entre posições definidas pela sua situação na estrutura de distribuição das espécies de capital em disputa no campo; Capital: propriedades que garantem acesso às posições do campo (capital econômico, capital cultural, capital social); Campo e capital são indissociáveis, pois para construir o campo, é preciso identificar as formas específicas de capital que nele operam, e para construir as formas específicas de capital é preciso conhecer a lógica específica do campo (Bourdieu & Wacquant, 1992, p. 108, tradução livre). Habitus: senso prático socialmente constituído, que explica como as regras de um campo são incorporadas por agentes dotados de diferentes valências de capital. 4

Campo da regulação contábil no Brasil antes da adoção das IFRS Visão preliminar 5

Campo da regulação contábil no Brasil após a adoção das IFRS Visão preliminar 6

Metodologia Análise crítica do discurso: discurso é definido como uma prática social determinada por estruturas sociais, compreendendo texto, interação e contexto (Fairclough, 1989). A realidade social é percebida em três níveis distintos: estruturas, práticas e eventos. A cada um destes níveis corresponde uma dimensão semiótica: Nível da realidade social Estruturas sociais Práticas sociais Eventos sociais Dimensão semiótica Sistemas semióticos (línguas) Ordens de discurso Textos Adaptado de (Fairclough, 2010). 7

Metodologia Ordens do discurso são definidas como a estruturação social da variação ou diferença social (Fairclough, 2010), uma configuração específica de discursos, gêneros e estilos que atua como filtro entre o que é semioticamente possível e o conteúdo efetivo dos textos. Fontes de evidências: Jornais Revistas técnicas Relatórios de audiências públicas Legislação etc. 8

Contribuições esperadas Evidenciar que: A forma como as IFRS foram adotadas foi influenciada pelos conflitos previamente existentes no campo da regulação contábil brasileira; Este campo permanece sendo um espaço de conflitos; Com o uso do arcabouço interpretativo Bourdieusiano, colocar as disputas e as relações de poder como centro das discussões sobre regulação contábil; Registro historiográfico do processo de adoção das IFRS no Brasil. 9

Referências Arnold, P. J. (2012). The political economy of financial harmonization: The East Asian financial crisis and the rise of international accounting standards. Accounting, Organizations and Society, 37(6), 361 381. http://doi.org/10.1016/j.aos.2012.05.001 Bengtsson, E. (2011). Repoliticalization of accounting standard setting-the IASB, the EU and the global financial crisis. Critical Perspectives on Accounting, 22(6), 567 580. http://doi.org/10.1016/j.cpa.2011.04.001 Botzem, S. (2014). Transnational standard setting in accounting. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 27(6), 933 955. http://doi.org/10.1108/aaaj-04-2013-1301 Bourdieu, P., & Wacquant, L. J. D. (1992). An Invitation to Reflexive Sociology. Chicago: University of Chicago Press. Chiapello, E., & Medjad, K. (2009). An unprecedented privatisation of mandatory standard-setting: The case of European accounting policy. Critical Perspectives on Accounting, 20(4), 448 468. http://doi.org/10.1016/j.cpa.2008.09.002 10

Crawford, L., Ferguson, J., Helliar, C. V., & Power, D. M. (2014). Control over accounting standards within the European Union: The political controversy surrounding the adoption of IFRS 8. Critical Perspectives on Accounting, 25(4-5), 304 318. http://doi.org/10.1016/j.cpa.2013.03.001 De Lange, P., & Howieson, B. (2006). International accounting standards setting and U.S. exceptionalism. Critical Perspectives on Accounting, 17(8), 1007 1032. http://doi.org/10.1016/j.cpa.2005.08.011 Fairclough, N. (1989). Language and Power. London: Longman. Fairclough, N. (2010). Critical Discourse Analysis: The critical study of language (2nd ed.). New York: Routledge. IFRS Foundation, & International Accounting Standards Board. (2015). Who we are and what we do. Retrieved June 17, 2015, from http://www.ifrs.org/theorganisation/documents/2015/who-we-are-january-2015.pdf Martinez-Diaz, L. (2005). Strategic Experts and Improvising Regulators: Explaining the IASC s Rise to Global Influence, 1973-2001. Business and Politics, 7(3). http://doi.org/10.2202/1469-3569.1135 Rodrigues, L. L., & Craig, R. (2007). Assessing international accounting harmonization using Hegelian dialectic, isomorphism and Foucault. Critical Perspectives on Accounting, 18(6), 739 757. http://doi.org/10.1016/j.cpa.2006.02.007 11