BRASILEIROS EM LAGOS: IDENTIDADES NO CONTEXTO DA COLONIZAÇÃO BRITÂNICA ANGELA FILENO



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Transcrição:

BRASILEIROS EM LAGOS: IDENTIDADES NO CONTEXTO DA COLONIZAÇÃO BRITÂNICA ANGELA FILENO Os repatriados (...) representam e representarão entre os seus concidadãos menos desenvolvidos da região iorubá um núcleo admirável de difusão do progresso e da civilização que adquiriram de forma cruel. (Lagos Government Gazette,11 de julho de 1887. National Archives/UK. CO 150/2) 1 Em junho de 1887, a Rainha Vitória comemorou seus cinquenta anos de reinado. Como parte dos arranjos em torno das cerimônias que marcaram essa data, comitês responsáveis pela organização das celebrações do jubileu de ouro, divulgaram o programa das atividades festivas nos periódicos de Lagos 2. As comemorações do dia 22 de junho incluíram uma procissão, chamada pelo jornal The Lagos Observer, de Brazilian Caretas, e um banquete, finalizado por uma queima de fogos de artifício 3. Na ocasião, um grupo de brasileiros entregou uma mensagem ao Capitão Cornelius Alfred Moloney, governador da colônia de Lagos, felicitando a monarca pelo seu jubileu e desejando-lhe votos de longo e pacífico reinado (SAWADA, 2011: 237). A resposta a essa manifestação pública de apreço à Coroa britânica foi emitida pelo próprio governador Moloney que, referindo-se aos participantes da procissão como the returnees Brazilians, elogiou seus integrantes como um núcleo admirável de difusão do progresso e da civilização (Lagos Government Gazette,11 de julho de 1887. CO 150/2). Estabelecidos na Costa da Mina, referência historicamente construída sobre o território compreendido entre o forte de São Jorge da Mina e o delta do rio Níger, os brasileiros eram identificados pelos britânicos como um dos pontos de partida à Doutoranda em História Social, FFLCH/USP, sob orientação da Profa. Dra Leila Maria Gonçalves Leite Hernandez, com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES/PROEX). E-mail: angelafilenos@gmail.com. 1 Um excerto deste documento também está publicado em: VERGER, 1987: 621. 2 Os comitês responsáveis pela organização das comemorações em torno do jubileu de ouro da rainha Vitória, em 1887, e dez anos mais tarde, de seu jubileu de diamante, foram: o Senior Jubilee Commitee, Junior Jubilee Committee e o Women s Jubilee Society. 3 Os festejos em honra ao jubileu de ouro da rainha Vitória ocorreram nos dias 21, 22, 23, 24, 28 de junho e 7 de julho. O programa destas comemorações pode ser lido no periódico The Lagos Observer, 18 de junho de 1887, Vol. V1, N o 8. World Newspaper Archive, African Newspapers, 1800 1922.

2 civilização e penetração colonial na região 4. Parte desses indivíduos vivia em Lagos atuando, desde o século XVIII, no comércio atlântico de escravos (VERGER, 1992:11). Além desse primeiro grupo responsável por estabelecer o tráfico atlântico de escravos na localidade, eram também chamados brasileiros africanos ex-cativos e seus descendentes que partiram de Salvador, principalmente depois da Revolta dos Malês, em 1835, e em menor quantidade, do Recife e do Rio de Janeiro. Somados a esses dois grupos, havia ainda os retornados vindos de Cuba, cuja proximidade comercial com os negreiros baianos estava associada ao tráfico, que continuou a ser praticado em direção a Cuba até 1867 (LAW, 2002: 55-65). Uma vez estabelecidos em Lagos a presença dos brasileiros foi heterogênea tanto no tempo como no espaço. Se, no século XVIII e início do XIX, eram considerados brasileiros os traficantes vindos da Bahia, em meados da década de 1830, a maior parte da população que desembarcou no porto lagosiano e em portos localizados nas cidades de Ajudá, Aguê, Porto Novo e Badagri - apenas para citar aqui alguns dos destinos - não era composta por mercadores de escravos. Em Salvador, a Revolta dos Malês e seus desdobramentos, como o conjunto de leis que dificultou a permanência de africanos em Salvador e o clima de vigilância instalado para coibir outros levantes urbanos, levaram muitos libertos a atravessarem novamente o Atlântico, desta vez em sentido inverso (BRITO, 2009) 5. O grande volume de retornos de ex-escravos para a Costa da Mina conferiu uma nova configuração humana aos brasileiros desta região. Ao tomarmos os registros de passaporte guardados no Arquivo Público do Estado da Bahia (APEBa) é possível perceber um aumento significativo no número de partidas de africanos (e descendentes) entre os anos de 1835 e 1836. Apenas para exemplificar este 4 Conforme Pierre Verger, o termo Costa da Mina começou a ser empregado, ainda no século XV, para se referir à região onde estava o forte português de São Jorge da Mina, fundado em 1482. O local cresceu em importância a partir do XVII, quando se tornou atracadouro de comerciantes baianos. Nesse momento, a designação passou a se referir à porção da costa que compreendida os seguintes pontos: Grande Popo, Ajudá, Jaquim, Apá e Onim,este último porto conhecido depois como Lagos. Dessa forma, o trecho litorâneo que antes designava apenas as imediações do forte de São Jorge, passou então a incluir a Costa a leste da Mina. (VERGER, 1987:12, 19 e 20) 5 Refiro-me à lei de número nove que, entre outras coisas, previa a cobrança de um imposto anual no valor de dez mil réis para os africanos libertos residentes em Salvador, proibia estes mesmos indivíduos de possuírem bens imobiliários, ou bens de raiz, e tutelava a oferta de quartos e casas de aluguel exigindo que os senhorios apresentassem uma autorização específica para a locação aos africanos libertos. Também a lei de número quatorze impôs limites à autonomia de libertos que trabalhavam nos cantos. (BRITO, 2009: 41-43 e REIS, 2003: 503-508)

3 acréscimo no volume de emissão de passaportes, em 1834, ano anterior à Revolta dos Malês, foram concedidos apenas nove passaportes a libertos que declaravam partir em direção à África. No ano seguinte a quantidade de documentos já não era a mesma. Em 1835 a Polícia Provincial de Salvador expediu 609 passaportes e, em 1836, 410 novos documentos foram emitidos (SILVA, 2010:129,130). Esta segunda geração de brasileiros que chegou a Lagos nos anos posteriores ao levante ocorrido na capital baiana se diferenciava dos traficantes instalados na região desde o século XVIII. Eram libertos e, na maioria dos casos, libertos africanos. Como ex-escravos que viveram na Salvador oitocentista, muitos indivíduos dominavam ofícios que, aos poucos, se tornaram bastante valorizados entre a comunidade brasileira instalada em Lagos. Eram carpinteiros, pedreiros, tanoeiros, padeiros, costureiras, lavadeiras, entre outras profissões urbanas aprendidas na outra margem do Atlântico. Apesar de haver uma variedade de ocupações, grande parte dos libertos que partiam da capital da Bahia para a Costa da Mina declarava viver de negócio, uma expressão comum à época e que definia o trabalho no comércio. Para termos uma ideia do montante de ex-escravos cujo registro de negócio aparece inscrito no passaporte, entre 1824 e 1857, 440 indivíduos receberam esta anotação em seus documentos. Depois do comércio, a segunda profissão com maior número de registros neste mesmo período é a de cozinheiro, contando com apenas 30 pessoas (SILVA, 2010:142,143). É possível que, depois de estabelecidos em Lagos, boa parte destes indivíduos tenha continuado a atuar no comércio. De acordo com Cunha (2012: 162), muitos mercadores brasileiros arranjaram casamentos locais, atando-se social e comercialmente aos seus parceiros egba, ijexá ou ondo. Tornando-se parte da trama social e de negócios constituída localmente estes brasileiros conseguiram acesso aos bens agrícolas que eram produzidos e comercializados em mercados mais afastados da costa, especificamente na região compreendida entre a margem esquerda do rio Ogun e a margem direita do Níger. Na negociação das safras comerciais de amendoim, algodão e dendê, levadas até o porto de Lagos, os brasileiros colocavam em ação seus múltiplos pertencimentos. Eram brasileiros, libertos, civilizados e indivíduos ligados às sociedades locais por meio do casamento (BOAHEN, 2010: 448).

4 A ideia de que estas pessoas se distinguiam qualitativamente de outros africanos que também viviam em Lagos, não era exatamente uma novidade em 1887, ocasião do jubileu de ouro da rainha Vitória. Vinte e quatro anos antes do governador Moloney expor suas considerações acerca dessa parcela da população, o cônsul britânico da Baía de Biafra, Richard Francis Burton, realizou uma expedição oficial à Abomé, capital do reino do Daomé. A viagem se estendeu de dezembro de 1863 a fevereiro de 1864 e teve como propósito encontrar com o rei daomeano Gelele para dissuadi-lo a abandonar definitivamente o tráfico, diminuir o número de sacrifícios humanos, ampliar o volume de comércio lícito e libertar prisioneiros cristãos sob sua guarda (GEBARA, 2010: 47-51). Durante sua permanência no porto daomeano de Ajudá, o cônsul britânico entrou em contato com brasileiros e sarôs, nas palavras do próprio Burton, os self emancipated. Embora o trajeto de Burton não incluísse passagem por Lagos, pois desde 1861 a cidade já era colônia britânica cedida pelo rei Docemo, as considerações do cônsul em relação aos brasileiros de Ajudá poderiam também servir àqueles que lá viviam. O registro desse encontro indica os chamados brasileiros como indivíduos distintos dos demais africanos. Segundo seu relato, a razão para tal diferenciação estava na passagem dessa população pelo cativeiro. Considerada como uma oportunidade de progresso do aprendizado, a escravidão nas Américas ampliaria o entendimento do africano de que há mais na vida do que tocar tambor e dançar, falar e cantar, beber e matar (BURTON, 1864, vol.ii: 204) 6. Nota-se que desde a década de 1840, relatórios produzidos por enviados da Coroa Britânica que aportavam, percorreriam e se instalavam em Lagos, e em outros portos da Costa da Mina, registraram a presença de um povo trabalhador que, se somado aos retornados a Serra Leoa (os sarôs), poderia constituir um importante elemento civilizador naquela porção do território de interesse da Grã Bretanha (DUNCAN, 1847, vol.i: 185/186). Em 1851, quando os ingleses bombardearam Lagos, depuseram Kosoko, colocaram no trono Akitoye e instalaram um protetorado na cidade, os brasileiros foram somados ao conjunto de ações britânicas de estabelecimento, civilização e colonização da região (FALOLA; HEATON, 2008: 93-95). 6 Burton não estava sozinho nessa posição, em 1857, o cônsul britânico Benjamin Campbell comentou que Brazilians and Spanish Africans tinham sido treinados na escola onde a escravidão existia (RALSTON,1969: 588).

5 Neste sentido, a pesquisa doutorado que ora apresento propõe analisar como os brasileiros que viveram em Lagos no período de 1850 a 1920, constituíram identidades plurais que comportaram diferentes adjetivações. Se entre os britânicos os brasileiros eram reconhecidos como civilizados e, neste aspecto, diferenciados das sociedades africanas locais. É possível que, entre as sociedades egbas, ijexás e ondos, as relações comerciais e de matrimônio estabelecidas com estes brasileiros os aproximassem localmente. A proposta também é compreender como tais identidades, antes vinculadas à atuação colonizadora da Grã Bretanha, se reconfiguraram face aos movimentos de valorização da cultura iorubá que, entre as décadas de 1880 e 1890, se associavam ao crescimento de uma política em torno da ideia de pátria (MATORY, 1999: 89). A intenção de perceber como as identidades brasileiras se reelaboraram em função dos contextos políticos e culturais com os quais interagiram implica em entender se, neste processo, os brasileiros se constituíram como mais um grupo étnico entre os demais que se apresentavam em Lagos na segunda metade do XIX (GURAN, 2000): 269-275). O conceito de grupo étnico utilizado nesta pesquisa de doutorado se apoia na definição do antropólogo Fredrik Barth, cujas reflexões foram, posteriormente, ampliadas por Jean-Loup Amselle e Elikia M Bokolo. As contribuições de Barth referentes ao caráter dinâmico das identidades étnicas, assim como suas reflexões acerca da permanência das distinções étnicas a despeito da possibilidade de transposição das fronteiras do grupo, marcaram as discussões no campo das ciências humanas a partir da década de 1960. De acordo com Barth, a etnicidade existe em um contexto de interação capaz de promover fronteiras entre grupos que se consideram diferentes. As fronteiras que demarcam os grupos étnicos são difusas podendo, ao longo do tempo, modificaremse, tornando-se mais rígidas ou mais flexíveis, ou até mesmo desaparecerem sendo, mais tarde, reconstruídas. Como um espaço em que as relações sociais ocorrem de maneira complexa, as interações estabelecidas nas fronteiras exigem uma congruência de códigos e valores, capazes de estruturar as trocas e permitir a persistência das diferenças culturais (POUTIGNAT; FENART, 1998: 196). Nesse sentido, a mobilidade daqueles que atravessam a fronteira pode implicar em transformação, mas não necessariamente em subtração dos aspectos de diferenciação em relação aos demais

6 grupos. Ainda de acordo com Barth, a permeabilidade da fronteira permite às pessoas participarem de universos de discursos múltiplos, a partir dos quais é possível construir mundos diferentes, parciais e simultâneos. Nessa perspectiva, as sociedades são compostas por cenários pluriétnicos, marcados pela mobilidade e troca constantes, construindo conjuntos fluidos que podem se reconfigurar em função dos arranjos estabelecidos na fronteira (BARTH, 2000: 123). Com base na obra de Barth, Amselle e M Bokolo ampliam a discussão sobre o tema, considerando a etnia como uma categoria historicamente construída, em grande medida, por outros grupos e, em particular, pelo colonizador. Nesse sentido, a compreensão acerca das etnias pode incidir também sobre as relações de poder subsumidas na construção dos rótulos étnicos. Para os autores, as identidades étnicas são formas simbólicas capazes de reunir indivíduos sob o signo do pertencimento a uma comunidade imaginada. No entanto, os vínculos que congregam tais pessoas em torno de uma etnia têm um significado flutuante. Em outros termos, as dinâmicas étnicas se encarregam de atualizar os elos entre os integrantes do grupo. O significado flutuante do conjunto de elementos que compõem um determinado grupo étnico assume sua natureza performática ao colocar em ação os signos de pertencimento que garantem tanto a identificação mútua de seus membros, quanto a atualização de seu conteúdo e sentido. Segundo Amselle e M Bokolo, o estabelecimento das potências coloniais na África, principalmente depois da Conferência de Berlim em 1885, e a reorganização de sociedades de acordo com critérios definidos pelo colonizador, em muitos casos significou um novo arranjo das cadeias de sociedades que, até então, se mantinham imbricadas (AMSELLE; M BOKOLO, 2009: 37/38). Ao longo dos dez anos em que Lagos permaneceu como consulado britânico, de 1851 a 1861, os brasileiros mantiveram uma política ambígua tanto em relação às chefias tradicionais, quanto no que se refere às autoridades britânicas (SILVA, 2003: 110). Cumprindo a função de intermediários entre o que era produzido no interior e os britânicos estabelecidos em Lagos, os brasileiros acrescentavam novas categorias de pertencimento a identidades flutuantes (AMSELLE; M BOKOLO, 2009: 37). Essa situação gerou um acúmulo de prestígio entre os brasileiros que atuavam como intermediários e se estendeu até a década de 1890, quando foram

7 progressivamente apeados do hiato em que se moviam (CUNHA, 2012: 174). Em nome da Pax Britânica se estabeleceu uma aparente legalidade à penetração da Grã Bretanha em direção ao interior, o que assegurou que as rotas de comércio estivessem sempre abertas, permitindo aos comerciantes ingleses maiores lucros em razão da eliminação da intermediação dos brasileiros (ADERIBIGBE, 1975: 48). Essa redução da participação deste grupo na economia veio acompanhada por medidas que estreitaram também o espaço político de seus indivíduos. Segundo Cunha (2012: 174), os brasileiros no serviço público e eclesiástico passaram a ocupar postos subalternos e mal pagos. Na década de 1890, quando a Coroa britânica passou a patrocinar inovações na agricultura, incentivando a produção de cacau, café e borracha nas cidades de Ondo, Ilesha, Abeokuta e Ijebu, os funcionários nomeados pelo Colonial Office para atuar na administração não eram brasileiros, nem sarôs 7. A opção da Grã Bretanha para estabelecer sua dominação para além da costa atlântica estava nas alianças estabelecidas com as chefias tradicionais locais, uma demonstração clara de afastamento político daqueles considerados, nas palavras de Matory, africanos ocidentalizados, expressão que incluía sarôs e brasileiros (MATORY, 1999: 88). Como resposta à conjuntura política e econômica estabelecida entre britânicos e chefias tradicionais do interior, os brasileiros se somaram aos sarôs para compor um movimento mais amplo de valorização da cultura iorubá. Alguns participantes substituíram seus nomes (e sobrenomes) de origem portuguesa, por iorubás 8. Esse movimento de revisão cultural ganhou maior visibilidade com a publicação de jornais editados por seus membros. Em 1888, o sarô Andrews Thomas fundou o jornal Iwe Irohin Eko, primeiro periódico bilíngue, inglês e iorubá, de Lagos. Em 1926, Adeyemo Alakija inaugurou o Daily Times, apoiado financeiramente pela Câmara de Comércio de 7 Segundo Cunha, a criação da Estação Botânica de Lagos, em 1887, pelo então governador Moloney tinha o propósito de ambientar novas espécies para o cultivo e de treinar trabalhadores (entre eles brasileiros) para o plantio. Durante seu discurso em comemoração à abolição no Brasil, o governador de Lagos reiterou a necessidade dos brasileiros estenderem seus negócios do comércio também para a agricultura (CUNHA, 2012: 166 e MOLONEY,1889: 269). 8 Um dos casos mais conhecidos de mudança de nome foi o dos irmãos Plácido e Honório, membros da família Assumpção. Com a alteração de nome e sobrenome, ambos passaram a se chamar, respectivamente, Adeyemo Alakija e Olayimika Alakija. Em pesquisa realizada em setembro de 2012 no The National Archives, em Londres, percebi que muitos outros brasileiros também substituíram seus nomes, anunciando a troca no jornal Government Gazette.

8 Lagos (Lagos Chamber of Commerce). Embora a circulação das ideias contidas em ambos periódicos se restringisse a um número limitado de leitores que compunham, de acordo com Mann, uma elite educada, tais jornais manifestavam publicamente o desapontamento daqueles membros da elite que haviam se mantido, até o momento, leais ao governo colonial (MANN, 1981: 226). Dessa forma, esta pesquisa propõe entender o processo de constituição das múltiplas identidades dos brasileiros que viveram em Lagos a partir de duas balizas cronológicas. A primeira se refere ao período de 1851 a 1890, quando estes indivíduos ora se mostravam civilizados, portanto, mais próximos dos britânicos, e ora se apresentavam como pertencentes às sociedades egba, ijexá e ondo, com os quais mantinham relações políticas, comerciais e de matrimônio. A segunda baliza cronológica se inicia na década de 1890 e se estende até 1920, período em que as identidades brasileiras se reformularam em resposta à efetiva conquista colonial britânica de territórios mais distantes da costa e ao estreitamento da participação desses indivíduos na política e economia de Lagos. Ao tomarmos como marco inicial de pesquisa o estabelecimento do consulado britânico, em 1851, circunscrevemos este estudo à segunda geração de brasileiros, constituída majoritariamente por africanos libertos e seus descendentes que desembarcaram em Lagos depois de 1835. Durante os dez anos em que Lagos permaneceu como consulado da Coroa inglesa, muitos atuaram como intermediários comerciais entre negociantes britânicos do litoral e sociedades africanas que viviam mais distantes da costa. Conforme indiquei há pouco, mais especificamente, entre a margem esquerda do rio Ogun e a margem direita do Níger. Essa situação se alterou a partir de 1861, quando as pressões britânicas levaram o rei Docemo, filho de Akitoye, a assinar a cessão do território de Lagos, tornando-o efetivamente protetorado da Grã Bretanha. A nova condição permitiu que Lagos se tornasse um centro de onde partiam algumas das ações colonialistas britânicas. É o caso, por exemplo, da guerra de Ekitiparapo, entre Ibadan e a aliança formada por Ekiti, Ijesha, Egba, Ijebu e Ifé. Em 1886, os ingleses atuaram como pacificadores do conflito que já se estendia por cerca de quinze anos, condicionando o fim dos combates ao compromisso de que futuras

disputas fossem resolvidas pelo governo britânico estabelecido em Lagos (FALOLA; HEATON, 2008: 95). Anos mais tarde, em 1892, esse mesmo compromisso foi usado como justificativa à ocupação da área dos Ijebus, que se recusavam a aceitar a interferência do governo britânico de Lagos em suas relações de comércio. A ação das tropas da Grã Bretanha sobre o território Ijebu conferiu a visibilidade necessária para que a superioridade bélica dos ingleses fosse considerada por outras sociedades vizinhas. Em 1893, um novo trato estabelecido entre britânicos e a maior parte das chefias locais iorubás tornou o território ocupado por essas sociedades uma extensão da Colônia e Protetorado de Lagos (FALOLA; HEATON, 2008: 95) 9. Com o propósito de garantir a ocupação efetiva do território, atendendo ao disposto na Conferência de Berlim, o governo britânico em Lagos atuou nas duas últimas décadas do século XIX firmando acordos com chefias locais que asseguravam a dominação da Grã Bretanha sobre regiões cada vez mais afastadas da costa (HERNANDEZ, 2010: 62-64). Parte das ações colonizadoras também consistia em assegurar lucro e crescimento aos negócios de súditos e empresas britânicas, por vezes em detrimento dos comerciantes locais, muitos deles brasileiros. Nesse caso, a segunda baliza cronológica 1920 está associada ao estreitamento da participação política e econômica dos brasileiros em Lagos e ao movimento de valorização da cultura iorubá que, nesse momento, tomou maiores proporções. Neste sentido, esta pesquisa propõe a análise dos processos pelos quais os brasileiros foram, ao longo do tempo, construindo identidades em função dos arranjos estabelecidos por meio da permeabilidade de suas fronteiras. A intenção é interpretar a fronteira como lugar de passagem, ponto em que significados construídos em torno da comunidade brasileira seriam, nas palavras de Stuart Hall, posicionais e relacionais, sempre em deslize e onde a reapropriação cultural contínua conferiria um sentido dinâmico às múltiplas identidades historicamente construídas por esses indivíduos (HALL, 2003: 33). Ao transitarem por universos culturais heterogêneos, transformando fronteiras em pontos de passagem e ressignificando suas próprias categorias de pertencimento, os brasileiros de Lagos 9 De acordo com os autores, em 1892, apenas os Oiós ofereceram resistência aos britânicos. Em razão disso, em novembro de 1894 seu território foi bombardeado e colocado sob domínio colonial britânico. 9

10 respondiam a contextos específicos. Nesta chave, procuro levantar questões acerca da constituição das identidades brasileiras formuladas, de acordo com Cunha, de maneira situacional e contrastiva (CUNHA, 2012: 242). Quais contextos estes indivíduos encontraram ao desembarcar no porto lagosiano a partir de 1835? Que lugar político assumiu esta segunda geração de brasileiros? Como este lugar se alterou em função dos arranjos políticos tecidos entre a Grã Bretanha e sociedades locais? E, por fim, quais signos de pertencimento passaram a representar a comunidade brasileira estabelecida na cidade ao longo do período pesquisado (1850-1920)? São todas questões que espero responder ao longo pesquisa de doutorado em andamento. FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fontes BURTON, R.F. A mission to Gelele, king of Dahome. 2ª ed. vol.i e II London: Tinsley Brothers, 1864. DUNCAN, John. Travels in Western Africa, in 1845 & 1846. A journey from Whydah, through the kingdom of Dahomey, to Adofoodia, in the interior, vol. I e II. London: Richard Bentley, 1847. MOLONEY, Alfred C. Cotton Interests, Foreign and Native in Yoruba, and Generally in West Africa. Journal of the Manchester Geographical Society, 5, 1889.

11 The Lagos Government (Jubilee) Gazette, Monday, 11 de julho de 1887. National Archives/UK. CO 150/2. The Lagos Observer, 18 de junho de 1887, Vol. V1, N o 8. World Newspaper Archive, African Newspapers, 1800 1922. Referências Bibliográficas ADERIBIGBE, A.B. (ed.) Lagos: The Development of an African City. Lagos: Longman, 1975. BARTH, Fredrik. BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2000. BOAHEN, Albert Adu (ed.). História Geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. Brasília: UNESCO, 2010. BRITO, Luciana da Cruz. Sob o rigor da lei: africanos e africanas na legislação baiana (1830 1841), Campinas: dissertação de mestrado, IFCH/UNICAMP, 2009. CUNHA, Manuela Carneiro da. Negros, estrangeiros. Os escravos libertos e sua volta à África. 2ª ed. revisada e ampliada. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. FALOLA, Toyin; HEATON, Matthew M. A History of Nigeria. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. GEBARA, Alexsander. A África de Richard Francis Burton: antropologia, política e livre comércio. São Paulo: Alameda, 2010. GURAN, Milton. Agudás: os brasileiros do Benim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. 3ª ed., São Paulo: Selo Negro, 2010. LAW, Robin. A Comunidade brasileira de Uidá e os últimos anos do tráfico atlântico de escravos, 1850-66. Revista Afro-Ásia, N o 27, 2002, pp. 41 77.

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