GRUPO OPERATIVO COM CRIANÇAS NO CONTEXTO ESCOLAR: REFLEXÕES ACERCA DESSE ESPAÇO LÚDICO E TERAPÊUTICO



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Transcrição:

GRUPO OPERATIVO COM CRIANÇAS NO CONTEXTO ESCOLAR: REFLEXÕES ACERCA DESSE ESPAÇO LÚDICO E TERAPÊUTICO CEZAR, Pâmela Kurtz; MELLO, Lauren Machado. Revisão Bibliográfica Curso de Pós Graduação: Especialização em Família na Contemporaneidade Centro Universitário Franciscano UNIFRA pamelakurtz@gmail.com; lazinha_machado@yahoo.com.br RESUMO: Este trabalho caracteriza-se por ser uma revisão bibliográfica e objetiva refletir sobre a formação de grupos operativos com crianças no contexto escolar e apresentar as influências do brincar para o desenvolvimento infantil. Os resultados indicam que a escola é um ambiente social que permite a criança desenvolver inúmeras capacidades, dentre elas, o estabelecimento de outros relacionamentos e por isso propicia o desenvolvimento do trabalho em grupos. No entanto para a formação de um grupo com crianças é preciso existir um setting adequado que contenha materiais que possibilitem o uso de jogos, brinquedos e brincadeiras para que este espaço de grupo se torne um ambiente lúdico e terapêutico. Concluí-se então que o grupo operativo no contexto escolar proporciona outras formas de interação entre as crianças além de oportunizar momentos de expressão da criatividade, que acontecem por meio do brincar. Palavras-chave: Grupo Operativo; Crianças; Brincar; Escola. INTRODUÇÃO Esta produção teórica visa, especialmente, refletir sobre a importância da formação de grupos operativos com crianças no contexto escolar. Pois se sabe que a escola apresenta-se, hoje, como uma das mais importantes instituições sociais, por fazer a mediação entre o indivíduo e a sociedade. Ao transmitir a cultura e, com ela, modelos sociais de comportamento e valores, a escola permite que a criança humanize-se, socializa-se ou, numa palavra, eduque-se. A criança, então, vai deixando de imitar os comportamentos dos adultos para, aos poucos, apropriar-se dos modelos e valores transmitidos pela escola, aumentando, assim, sua autonomia e seu pertencimento ao grupo social (BOCK, 2002). De acordo com Queiroz (2009), na maior parte da sociedade, a brincadeira é vista como atividade essencial ao desenvolvimento infantil e sempre esteve presente na educação da criança. O brincar permite a ela vivenciar o lúdico, descobrindo a si mesma, aprendendo a realidade e assim tornando-se capaz de desenvolver seu potencial criativo. Além disso, no brincar juntam-se a espontaneidade e a criatividade com a progressiva aceitação das regras sociais e morais. A criança humaniza-se brincando, pois aprende a

conciliar, de forma eficaz, a afirmação de si mesma para a criação de vínculos afetivos duradouros (OLIVEIRA, 2000). E segundo Zimerman (2000), o ser humano é gregário, só existe em função de seus inter-relacionamentos grupais. Sempre, desde o nascimento, ele participa de diferentes grupos, numa constante dialética entre a busca de sua identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social. Por conseguinte, pode-se dizer que um grupo é caracterizado quando todos os integrantes estão reunidos em torno de uma tarefa ou objetivo em comum. Pichón- Riviére (1988) caracteriza o grupo operativo como um conjunto restrito de pessoas, que, ligadas por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, propõe-se a uma tarefa que constitui sua finalidade. Portanto, a relevância desta produção teórica se justifica, já que busca demonstrar a importância de propiciar às crianças espaços de grupos no contexto escolar, os quais se caracterizam lúdica e terapeuticamente. Pois segundo Bock (2002), a escola não deve ser vista como fortaleza da infância, como instituição que enclausura seus alunos para melhor prepará-los e sim, como ambiente de vinculação da vida escolar com a vida cotidiana, por meio de espaços que proporcionem para além de conhecimento técnico-pedagógico. OBJETIVOS - Refletir sobre a formação de grupos operativos com crianças no contexto escolar; - Apresentar as influências do brincar para o desenvolvimento infantil. METODOLOGIA Este estudo caracteriza-se por ser uma revisão bibliográfica, desempenhada por meio de uma pesquisa em materiais científicos acerca da temática de grupos operativos com crianças no contexto escolar e a importância do brincar para o desenvolvimento infantil. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os anos intermediários da infância, aproximadamente dos seis aos doze anos, são muitas vezes chamados de anos escolares porque a escola é a experiência central durante esse período, um ponto focal de desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial, onde as crianças desenvolvem outras competências em todos os campos. Durante esse período, as crianças adquirem as habilidades físicas necessárias para participar de jogos e esportes organizados. Cognitivamente, as crianças fazem grandes avanços no pensamento lógico e criativo, nos juízos morais, na memória e na leitura e escrita. As diferenças individuais

tornam-se mais evidentes, e as necessidades especiais, mais importantes, à medida que as competências afetam o êxito na escola. Essas competências também afetam a auto-estima e a popularidade, embora os pais ainda tenham um impacto importante na personalidade, o grupo de pares torna-se mais influente do que antes (PAPALIA & OLDS, 1998). A maioria das crianças, quando ingressa na escola, desenvolve uma gama notável de habilidades que os ajuda a ter êxito. Elas podem criar e usar estratégias para aprender, lembrar-se e resolver problemas, elas podem usar a linguagem para mostrar o que sabem, para fazer e responder perguntas, para discutir idéias e para procurar ajuda. Evidentemente, algumas crianças são mais preparadas para escola do que outras, embora as diferenças na capacidade cognitiva sejam importantes, fatores temperamentais e emocionais também afetam o ajustamento das crianças à escola (PAPALIA & OLDS, 1998). As crianças que chegam à escola com boas habilidades adquirem com rapidez novas habilidades e novos conhecimentos acadêmicos e, assim, se adaptam com mais facilidade às demandas escolares posteriores. Já as que ingressam na escola com menos habilidades ou com agraves nas qualidades temperamentais aprendem menos nos primeiros anos e tendem a seguir uma trajetória de realizações mais lenta em seus anos escolares (BEE, 2003). Por conseguinte, a escola não é apenas um ambiente neutro para se adquirir habilidades cognitivas. É um ambiente social complexo com regras e valores próprios, onde a criança estará frente a outros relacionamentos e diante de exigências novas (BEE, 2003). Dessa forma, a importância do conhecimento e da utilização da psicologia grupal decorre juntamente do fato de que todo indivíduo passa a maior parte do seu tempo convivendo e interagindo com distintos grupos. E um grupo não é somente o somatório de indivíduos, pelo contrário, se constitui como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios. Pode-se dizer assim como todo indivíduo se comporta como um grupo, da mesma forma todo grupo se comporta como se fosse uma individualidade (ZIMERMAN, 2000). Dessa forma, Pichón-Riviére (1988) descreve um grupo operativo como um conjunto de pessoas com um objetivo em comum, que procuram trabalhar em equipe. A estrutura da equipe só é obtida no momento em que é executada. Grande parte do trabalho do grupo operativo consiste em fazer os participantes trabalharem juntos, unidos, centrados em uma tarefa. Sua finalidade baseia-se em aprender a pensar em termos da resolução das dificuldades, dúvidas e conteúdos manifestados no campo grupal. Nesse contexto de grupo o psicólogo poderá assumir a posição de facilitador e co-facilitador, destacando seus conhecimentos, atitudes e habilidades para que o grupo funcione, tendo paciência, empatia, intuição, capacidade de discriminação, senso de ética, respeito, capacidade de comunicação, senso de humor e coerência, que Zimerman (2000) destaca como as principais características do perfil de um coordenador/facilitador de grupo.

E segundo Foulkes e Anthony (1967), o terapeuta de grupo de crianças é um observador-participante, ele tenta, através das fantasias individuais e grupais, decodificar o simbolismo implícito que aparece no material lúdico e nas atividades que ele vivencia com as crianças nas sessões. Portanto para Levisky (1997), o grupoterapeuta de crianças deve ser um indivíduo sensível, intuitivo, que apresenta condições para brincar e levar o grupo ao desenvolvimento de uma capacidade do pensar. Pois, a criança comunica-se através dos brinquedos, e o brincar terapêutico é semelhante à liberdade de agir e reagir, reprimir e exprimir, suspeitar e respeitar. É uma forma de expressão simbólica (FERNANDES; SVARTMAN & FERNANDES, 2003). No entendimento de Queiroz (2009), a brincadeira é uma atividade que estimula o desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação entre os pares, a resolução construtiva de conflitos e a formação de um cidadão crítico e reflexivo. O brincar é desenvolvido pela criança para seu prazer e recreação, além de permitir a interação da mesma com outras pessoas, bem como, possibilita explorar o meio ambiente. A brincadeira apresenta grande importância para o desenvolvimento infantil, pois permite transformar e produzir novos significados. Além disso, o brincar favorece o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e responsabilidade da criança em relação a suas próprias ações. As brincadeiras em grupo consistem na melhor experiência de sociabilização, já que para fazer parte do grupo é necessário aprender a controlar os próprios impulsos de hostilidade e desagregação, pois esses comportamentos podem ser identificados pelas outras crianças que poderão vir a excluir ou menosprezar aquele que não se integra bem (OLIVEIRA, 2000). E de acordo com Zimerman (2000), o estabelecimento de um setting adequado para a realização de um grupo com crianças é de fundamental importância. Para a formação de um grupo com esse público deve-se obedecer aos critérios de homogeneidade em relação à faixa etária. Além disso, um grupo com crianças costuma exigir a participação de dois ou mais técnicos, pois há a possibilidade de um grande desgaste do facilitador. Por fim, entende-se que a partir da formação de grupos operativos com crianças na escola pode-se trabalhar com questões relacionadas à afetividade e a socialização com os pares, com os familiares, e até mesmo com questões específicas do ambiente escolar. No entanto, em se tratando de grupo operativo, ressalta-se para a necessidade de definir qual é o objetivo do grupo e ter claro qual a tarefa a desempenhar. As atividades podem acorrer por meio de dinâmicas como brincadeiras, jogos e debates em torno da tarefa, e os encontros podem ser realizados uma vez por semana, respeitando o fato de que as crianças não tenham outras atividades preestabelecidas. Salienta-se ainda que a comunicação das crianças em um grupo ocorre também através de uma linguagem motora e lúdica, e por

essa razão, é necessário que o setting contenha materiais que possibilitem o uso de jogos, brinquedos e brincadeiras. Pois, para Vygotsky (1998), o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que vão se internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. O ambiente influencia a internalização das atividades cognitivas no indivíduo, de modo que, o aprendizado gere o desenvolvimento (ZACHARIAS, 2012). E ainda pensando na importância do brincar, Moyles (2002) afirma que a principal atividade da criança na vida é o brincar, e é através deste que ela aprende as habilidades para sobreviver e descobre enigmas do mundo confuso em que nasceu. É por meio das brincadeiras, lúdicas e sociáveis, que a criança desenvolve conceitos de relacionamentos causais, o poder de discriminar, de fazer julgamentos, de analisar e sintetizar, de imaginar e formular. E conforme Dolto (1999), uma criança saudável é uma criança que se diverte, que se ocupa com qualquer coisa e explora o está a seu alcance. Privar uma criança de brincar significa privá-la do prazer de viver. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluí-se que o brincar permite a criança vivenciar o lúdico, descobrir a si mesma, aprender a realidade e assim tornar-se capaz de desenvolver seu potencial criativo. E esse brincar pode ser potencializado no contexto de grupos operativos com crianças no ambiente escolar, o qual pode ser compreendido como um espaço lúdico e terapêutico para as crianças. Assim, entende-se a relevância de formar grupos com crianças, pois este espaço proporciona o desenvolvimento social infantil. E com a formação de grupos operativos na escola torna-se possível conhecer os desafios e dificuldades que são encontradas em um grupo com crianças, identificar e reconhecer os fenômenos no campo grupal, trabalhar com a afetividade das crianças, resgatar fatores importantes para o convívio familiar além de poder analisar o brincar dentro do campo grupal e como este influencia na socialização, ou seja, o trabalho em grupo permite a melhor compreensão acerca do desenvolvimento infantil e com isso, pode-se prevenir situações de conflito e garantir melhor qualidade de vida as crianças. Outro fator importante do estabelecimento de grupos operativos é a possibilidade de proporcionar espaços para além do tradicional da escola. Por meio desses grupos oportuniza-se a expressão singular da criatividade das crianças, tornando-se, assim, um espaço lúdico e terapêutico, quando disponibilizado em um setting adequado.

REFERÊNCIAS BEE, H. A Criança em Desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2003. BOCK, A. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002. DOLTO, F. As etapas decisivas da infância. São Paulo: Martins Fontes, 1999. FERNANDES, W. J.; SWARTMAN, B.; FERNANDES, B. S.(Orgs). Grupos e Configurações vinculares. Porto Alegre: Artmed, 2003. FOULKES, S.H.; ANTHONY, E.J. Psicoterapia de grupo: a abordagem, psicanalítica. Rio de Janeiro: Bibliotaca Universal Popular, 1967. LEVISKY, R. B. Grupos com crianças. In.: ZIMERMAN, David.; OSÓRIO, Luiz. Carlos. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997. MOYLES, J. R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002. OLIVEIRA, V. B. O brincar e a criança: Do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. PAPALIA, D.; OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. PICHON RIVIÈRE, H. O processo grupal. 39ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988. QUEIROZ, N. L. N.; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U. (2009). Brincadeira e desenvolvimento infantil: Um olhar sociocultural construtivista. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0103-863x2006000200005&ln g=en&nrm=isso. Acesso em: 21 maio de 2012. VYGOTSKY, L. Linguagem, desenvolvimento e a aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1998. ZACHARIAS, V. L. C. Vigotsky e a Educação. (2012). Disponível em: www.centrorefeducacional.pro.br/vygotsky.html. Acesso em: 20 jun 2012. ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Básicos das Grupoterapias. 2ª Ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.