Alfabetização midiática na era da informação: Escola como espaço de reflexão sobre o campo dos media. RODRIGUES, Lylian



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Transcrição:

Alfabetização midiática na era da informação: Escola como espaço de reflexão sobre o campo dos media. RODRIGUES, Lylian Mestranda em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. ly_carol@yahoo.com.br GT 10 Educomídia Resumo: A era da tecnologia traz em seu bojo o surgimento do campo dos media como mediador dos campos sociais com a sociedade. Considerando-se assim um campo em freqüente interação com todos os outros, como acontece na inter-relação comunicação e educação. Diante desta realidade, a escola não pode deixar de reconhecer o papel fundamental da Comunicação na vida dos alunos, fazendo-se necessário ajustar a pedagogia moderna ao estudo do campo dos media. Não pretendemos aqui, interferir no processo dos professores que utilizam os meios de comunicação de massa como ferramentas pedagógicas, mas ir além deste uso a um conhecimento do próprio campo da comunicação por parte dos professores e alunos por meio de um espaço de reflexão ou disciplina escolar. Conhecer o campo que orienta a contemporaneidade vai enriquecer o aluno para um saber não fragmentado das disciplinas, visão crítica da realidade e participação cidadã no espaço social. Palavras chaves: campo dos media educação meios de comunicação de massa.

Existe uma espécie de consenso entre autores que a modernidade entra em foco a partir da segunda metade do século XVIII com uma série de transformações provocadas principalmente pela 1 revolução industrial, com mecanização do setor têxtil e a descoberta do vapor como força motriz, e pelo projeto iluminista, com princípios de liberdade individual e a capacidade humana de racionalizar contra os preceitos divinos explicando tudo, na era pré-moderna. A partir do século XIX, a modernidade se intensifica com a revolução francesa e 2 revolução industrial, com a descoberta da eletricidade e invenções de automóvel, avião, telégrafo e telefone, e somente no século XX, mas precisamente na década de 70, com as inovações tecnológicas operadas pelo computador, surge uma nova fase do capitalismo com características globais como citada por Castells, referindo-se a revolução das tecnologias, começando a se gestar no final dos anos 60 e princípios dos 70, convergindo hoje para a "gênese de um novo mundo". Esse é o processo da revolução das tecnologias da informação atuando como remodelador das bases materiais da sociedade. As novas tecnologias da informação e da comunicação já não são meros instrumentos de transporte de mensagens, como instrumentos para aumentar o alcance dos sentidos para conhecimento das informações no globo. Os meios de comunicação de massa não representam todo o potencial do campo da comunicação. Passamos, então, a ver este campo não só como um campo técnico, das práticas de transmissão de informação, mas sim, ter uma compreensão ampliada de um campo que envolve processos das interações humanas, das sociabilidades, das técnicas e das práticas, das tecnologias e das novas sensibilidades, da comunicação educando, interagindo os campos sociais e às vezes até substituindo-os. Disciplinas acadêmicas estudam a área e como os processos se realizam, pois é preciso admitir o papel principal da media no mundo hoje que a organização simbólica global tem gerência pelo campo dos media, com a orientação própria deste campo para dispositivos como tempo e espaço, ditados pelas mídias; os horários e agendamentos da sociedade dependem da programação dos meios de comunicação de massa ou do espaço público que o campo dos media delega para os demais campos sociais. As conversas do escritório, de casa, da escola, da porta da rua ou do bar são agendadas por uma mídia que

está constantemente presente de alguma forma no cotidiano da sociedade atual. Concluímos com isso, que a constituição do modelo de ser da sociedade é propriedade do campo da comunicação. A media assume neste contexto, um papel relevante a ponto de qualquer área das ciências sociais, para compreender as novas formas de sociabilidade, não poder prescindir da reflexão sobre os conteúdos produzidos pelos meios de comunicação e as novas interações sociais causadas pela legitimação do campo da comunicação. Objeto de vários ramos do conhecimento, a media é um conhecimento transversal que permeia todas as experiências humanas na atualidade. O campo legitimou-se à medida que as demais instituições entraram em divergências no espaço público, gerado pelos meios de comunicação de massa, prescindindo de um mediador para gerir os valores de representação e de transparência do mundo. Assim entendemos o campo dos media e acrescentamos a este paper o conceito de Adriano Rodrigues do campo como instituição de mediação que se instaura na modernidade, abarcando, portanto, todos os dispositivos formal ou informalmente organizados, que têm como função compor os valores legítimos divergentes das instituições que adquiriram nas sociedades modernas o direito a mobilizarem autonomamente o espaço público 1. Um campo que anda por tantos outros setores da sociedade muitas vezes permite que se denomine o Campo dos media como um campo interdisciplinar, aplicado à comunicação num sentido de espaço nítido de interface, confluência de duas ou mais disciplinas 2, fraseado por José Luiz Braga em Constituição do Campo da Comunicação e novamente relevante no Livro Comunicação e Educação quando menciona a comunicação está dentro como parte constitutiva a qualquer atividade humana e fora como espaço geral das interações sociais 3. 1 RODRIGUES, Adriano. Estratégias da Comunicação (pág. 152). 2 BRAGA, José Luiz. Constituição do Campo da Comunicação In: Campo da Comunicação (pág. 12) 3 BRAGA, José Luiz. Comunicação e Educação (pág. 35)

O conhecimento científico, hoje, está permeado da interdisciplinaridade dos campos. Presente, por exemplo, pelas emergentes áreas científicas, como a Bioética e outras que agregam conhecimentos de campos diferentes. O campo da media assim, considerado como todo o tecido social, busca a homogeneidade e equilíbrio deste conhecimento por meio das representações dos campos no próprio espaço. A Comunicação, não é diferente, interdisciplinar por natureza, uma vez que faz parte de um modelo social que lhe delega a constituição de um campo de produção de discursos que interagem com os diversos campos sociais, em especial com o campo científico. Discutindo a interação dos campos, agora, focamos no interesse deste estudo, busquemos compreender como a educação vem se apropriando dos conteúdos ofertados pelos meios de comunicação. Como instrumento no processo de ensino aprendizagem, torna-se necessário primeiro conhecer e analisar os diferentes modos de utilização destes meios pelos professores, para então propor formas de análise do campo da comunicação, não somente do ponto de vista instrumental, mas como objeto de análise que ajude a refletir ou perceber até que ponto estes meios influenciam na forma da identidade e das práticas cotidianas dos alunos, principalmente da rede pública de ensino. Os alunos vivem cercados pelos meios de comunicação. Fato. As mensagens e os discursos norteiam este sujeito e interação deste com o meio em que vive. Mas, na prática, o que hoje podemos perceber, é uma utilização dos meios de comunicação com o propósito de atividades de lazer, de recreação ou somente complementares a uma outra disciplina enquanto ferramenta pedagógica. Este papel passado aos meios de comunicação, coadjuvantes do processo ensino aprendizagem, não condiz com a atuação do campo dos media, ator principal nas formas de socialização e produtora de sentidos, dentro ou fora da escola. O aluno desconhece as novas formas expressivas e novas estratégias discursivas e de recepção, ele não compreende os fenômenos de produção coletiva de significados nas sociedades atuais. O desconhecimento sobre os processos midiáticos pode ser identificado

na pesquisa do professor Fausto Neto 4 sobre a TV Escola, quando identifica que os projetos de meios de comunicação nas escolas, sem leitura da produção e estratégias de recepção adequadas, tornam os usuários ventríloquos. Mencionando ainda que, em diversas escolas, o professor não domina nem a utilização técnica do aparato da TV Escola. Mesmo com uma programação ou atividade do processo ensino aprendizagem intimamente ligada ao meio de comunicação, como o caso da TV Escola, a pesquisa do professor alertou para o risco de banalizar o processo de produção de sentido realizado pelo meio de comunicação. Segundo o autor, o projeto é caracterizado como um vôo cego já que desconhece as ações realizadas pelos receptores quando reagindo à programação ofertada, além de se fazer necessário novo procedimento de avaliação sobre o que os usuários fazem com o discurso da TV Escola, pois nem sempre é o previsto pelos produtores. É urgente a compreensão do campo dos media pela sociedade mergulhada na era da técnica assim como o papel dos meios de comunicação de massa como ferramenta pedagógica em seu melhor uso. É certo que manter a relação de educação com a comunicação só no âmbito do lúdico e prazer deixa a perder incalculável conhecimento para o aluno como indivíduo de uma sociedade contemporânea com base sólida na informação produzida e distribuída pelos meios e reconhecendo o papel de receptor e mesmo de reprodutor de uma cultura produzida pro esta mídia. O projeto Liberal na escola, realizado na capital do Pará, Belém, é outra experiência que leva à sala de aula o meio de comunicação de massa, dessa vez, os jornais, indo um pouco além, com depoimentos e até conhecimentos de como é realizado o processo da produção daquele meio de comunicação. Um projeto incipiente da atividade escolar que trata do conhecimento e da reflexão sobre os meios de comunicação, porém incompleto na medida em que à escola é dada a responsabilidade que ainda não reconhece, da continuidade. As aulas tornam-se um processo de corte e colagem, quando o jornal é depenado e reconstruído sem qualquer reconhecimento simbólico ou estudo do meio. Esse 4 FAUSTO NETO, Antônio. Ensinando à televisão. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2001.

processo pode ser identificado em diversas escolas, mesmo as que não participam de projeto como o citado acima. Na prática, a idéia de refletir o campo da comunicação no processo ensino aprendizagem, significa dar às crianças e adolescentes a capacidade de analisar criticamente as diferentes formas de enunciação dos meios de comunicação de massa e de apropriação dos produtos desses meios, entrosar o educando com a linguagem audiovisual e significados, fazê-lo entender a mensagem central do meio de comunicação e a cultura que se cria, proporcionar ao aluno criar mecanismos de seleção e compreensão das mensagens, permitir a ele conhecer os meios de comunicação e como devem ser usados, quais os processos de produção da indústria midiática e quais os interesses. Os alunos assistem muitas horas de TV todos os dias. A TV influencia na sua formação. A escola precisa olhar para o aluno em todos os momentos do seu dia e reconhecer a necessidade de se reestruturar para se aproximar da criança e do jovem real com todas as influências que recebe do meio onde vive. Educar hoje é também alfabetizar mediaticamente a sociedade e não só alocar o aparato tecnológico da informação em um espaço da escola. Não há um estudo do campo dos media que tem atuação como modelador desta sociedade em que os alunos estão inseridos e que tem dado rumo aos demais campos das ciências sociais. A informação é matéria prima da sociedade midiática e tem a sua geração e circulação pelos meios de comunicação e produtos deles gerados, sendo assim, é preciso expandir os conceitos para além do que se entende por rádio, televisão, jornal. Ampliar este conhecimento por meio de um espaço/atividade/disciplina permanente de discussão e reflexão sobre os meios de comunicação é uma necessidade da educação para a comunicação, para que o aluno não perca o potencial de um meio de comunicação (mediação de cultura, estímulo a consciência crítica e o exercício da cidadania, além de desenvolver a habilidade comunicativa do aluno). Sob a orientação de um comunicador, que está no espaço da recepção e conhece a produção, ale m dos próprios mecanismos dos meios de comunicação de massa, o estudo e análise seriam de enriquecimento par ao aluno, enquanto estudante e como ser humano mergulhado em uma

sociedade da técnica e dos discursos dos meios, das vozes dos campos no campo dos media. A Educação para os Media e para a Comunicação constitui hoje uma área de investigação, de estudo e de intervenção fundamental à promoção de uma cidadania esclarecida. São fáceis as acusações dirigidas aos media quando se trata de acusá-los de manipuladores, mas esquecem-se que este processo a ele é delegado e fomentado pelo próprio campo social. Então, para entender melhor, e mesmo ir de encontro a esta acusação da prática de manipulação, o entendimento e estudo do campo vai permitir a alunos e professores melhor entender a realidade que é ditada pelo campo da comunicação. Os corpos discente e docente são famintos pelas notícias e informações do campo da comunicação. Está na natureza do homem a comunicação assim como a educação, para tanto, é necessário uma reorientação da educação em uma sociedade que aprende pelos próprios meios de comunicação. Na medida em que os meios forem encarados pelas escolas da forma como aqui propomos, atores principais, haverá condição de proporcionar aos alunos, quando conhecedores dos processos e meios de comunicação, a formação de agentes conscientes da cultura na qual estão inseridos e conhecedores do valor da participação nas esferas política e social. É preciso deixar de tratar um jornal como um mero sistema de signos lingüísticos, reduzindo e limitando o seu potencial uso para estimular a formação do cidadão crítico e participante da história, conhecedor dos processos comunicativos que o cerca. A importância do espaço para refletir os meios de comunicação não deve ser vivido só pelo aluno. O papel do professor, como incentivador ou mesmo mostrando interesse pelo assunto que também interessa ao aluno, é extremamente importante para que na sala de aula, com o tema da disciplina estudada, não seja percebido um aluno querendo discutir um assunto do telejornal da noite anterior e o professor fazendo de conta que nem escutou para que não desoriente a aula. Quando, o professor deveria se apropriar desta

linguagem e realidade que o aluno alimenta para trazer à sala de aula a relação da disciplina com a vida do próprio aluno. Quando do momento da reflexão sobre o campo da comunicação, é preciso estar a frente das discussões o comunicador que vai nortear as análises de produção, mediação e recepção, já que ele tem sido o estudioso do campo e dos processos. Vale ressalta, porém, que o trabalho sempre deve ser em conjunto com os pedagogos que conhecem a fundo as disciplinas estudadas pelos alunos e como podem estar todas se fragmentando de forma homogênea no campo da comunicação. O professor é participante tanto quando o aluno e elaborador da análise tanto quanto o comunicador. Não só as tecnologias, mas teorias e discursos, expressões e estratégias da área que muni todos de curiosidade, devem ser alvo dos estudos para este espaço de reflexão dos meio e do campo. Muitos estudos têm sido realizados em busca de alguma resposta para as questões que emergem da inter-relação dos campos comunicação e educação. As idéias e divagações aqui apresentadas, não têm pretensões de esgotar todas as linhas que têm norteado as pesquisas desta área. Porém, contribuir para decifrar a relação educação e comunicação. Constatado que estamos mergulhados em uma sociedade mediada pelos meios de comunicação e este aparato tecnológico já é parte do ambiente escolar, faz-se urgência em trazermos para o campo da comunicação o ângulo de estudo e tarefa de assumirmos a interface dos campos e assim prepararmos os alunos para o estudo dos meios de comunicação que complementam o processo de ensino e aprendizagem e reconhecimentos dos processos comunicativos mediadores da própria cultura e identificação das teorias da comunicação para entendimento de todos os produtos que delas podem ser geridos, como interações sociais, estudo de recepção, linguagens, etc. e não permitir que permaneça o uso instrumental sem reflexão dos meios de comunicação. O campo da comunicação precisa se comunicar com o campo da educação para que esta relação possa ser definida com bases no aprendizado do aluno na nova ordem mundial da tecnologia. As novas tecnologias não parecem aderir a programações muito educativas e quando o fazem, os horário sequer são de regular acesso, como às 5h00 a exibição do

Telecurso. Já que a mídia não vai aderir a um papel oficial de educadora, e nem cabe a ela o obter, é a escola quem precisa trazer para si um comunicador para preencher as necessidades dos alunos em estar conhecendo as novas tecnologias e o campo dos media.assim como diversos campos já se renderam ao poder da mídia, que lhe é delegado por todos os outros campos, o campo da educação também precisa abraçar os media e entendê-los e fazer o seu público entender deles.

Referências Bibliográficas BRAGA, José Luiz. Meios de Comunicação e Linguagens: A questão educacional e a interatividade. In: Revista Linhas Críticas. Brasília. v. 5, n. 9, p. 129-148, jul./dez., 1999. BRAGA, José Luiz; CALAZANS, Regina. Comunicação e Educação. São Paulo: Hacker, 2001. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. FAUSTO NETO, Antônio. Ensinando à televisão. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2001. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. DUARTE, Adriano. Estratégias da Comunicação.Universidade de Nova Lisboa, 1999.