Da sala de aula à sala de ensaio: uma proposta para a formação do professor de teatro



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Transcrição:

Da sala de aula à sala de ensaio: uma proposta para a formação do professor de teatro Ricardo Carvalho de Figueiredo Universidade Federal de Minas Gerais Professor Assistente Doutorando em Artes EBA/UFMG Orientador: Dr. Maurílio Rocha Resumo: A presente pesquisa busca investigar a prática da criação teatral na formação acadêmico-profissional do professor de teatro, quando inserido na graduação. Assim, propusemos a experimentação teórico-prática das três funções: atuação, direção e dramaturgia na criação e no modo de produção de cenas teatrais. Para tanto, destacamos três fases para a investigação, a saber: (1) elaboração de um discurso teatral autônomo; (2) exercício de direção de cenas, dramaturgia e atuação; (3) trabalho pedagógico sobre as cenas produzidas com crianças da educação infantil. Nossa hipótese parte da necessidade desse professor ter fundamentado em sua formação o eixo da aprendizagem teatral nessas três funções, adquirindo e experienciando habilidades e competências nessas áreas. Palavras-chave: Formação de Professores; Teatro na Educação; Teatro e Infância. Desde a minha atuação como professor de teatro na educação básica, tenho observado a dificuldade do profissional em realizar experiências criativas com os alunos na escola, devido a vários fatores, como: espaço inadequado, tempo insuficiente, número excessivo de alunos e incompatibilidade da metodologia para o ensino de teatro. Quando passei a lecionar na graduação em Teatro para futuros professores da área, percebi que a falta de conhecimento do conteúdo de dramaturgia, por exemplo, dificultava ao professor a busca por opções criativas e questionadoras do modelo teatral vigente na maioria das escolas. Assim, se o professor optava ou era convidado pela direção do estabelecimento a realizar um produto teatral para a comunidade escolar, esse professor sempre caía em montagens convencionais escolha de um texto dramático pronto, adaptação do número de personagens ao número de alunos, ensaio de texto, criação de personagens, direção das cenas etc. sem questionar ou ao menos tencionar o processo criador e a abertura do mesmo ao público. Durante minha pesquisa de mestrado discuti o motivo pelo qual um coletivo de artistas escolhe o processo colaborativo como meio de criação cênica e quais as repercussões que o modo de (re)organização em grupo traz para o coletivo e, portanto, quais aprendizados, durante a criação, estão em jogo. Refletimos sobre os processos de criação nos quais a cena aparece como um espaço de troca; um lugar para intercâmbios autorais entre dramaturgo(s), diretor(es) e ator(es). Em consequência, o sentido de colaborar adquire uma importância funcional, uma necessidade produtiva, um desejo de qualidade artística sempre em depuração.

Após a pesquisa, voltando ao trabalho com a formação de professores de teatro, comecei a discutir que sentido teria, se esse professor participasse de criações teatrais envolvendo-se na dramaturgia/direção\atuação, desvelando aspectos metodológicos para a sua formação, não enquanto artista polivalente, mas enquanto experimentador das três funções teatrais, necessárias ao seu conhecimento enquanto professor de teatro (desenvolvendo o processo de ensino-aprendizagem da linguagem teatral juntamente com a construção de processos criativos). Problematizo assim, a formação de um professor de teatro que também seja artista e que sua prática artística dialogue, portanto, com sua prática pedagógica, possibilitando que um processo alimente o outro e traga contribuições para uma renovação da prática teatral na escola. Para isso, recorremos às experimentações produzidas pelos discentes do curso de Teatro da UFMG 1 que têm sido levadas à Unidade Municipal de Educação Infantil Alaíde Lisboa dentro do Campus Universitário da UFMG por meio do Projeto de Extensão Universitária Teatro e Infância: a formação de espectadores na Educação Infantil. Essa escola foi escolhida por inserir a proposta do teatro (ensino-espetáculo) em seu planejamento anual (calendário escolar) promovendo a formação de espectadores (com oficinas antes e após o espetáculo, oferecidas pelos alunos de graduação) da qual falaremos adiante. Sendo assim, nos indagamos: por que existe uma discrepância do teatroespetáculo e o ensino de teatro na escola formal? Ou seja, por que a cena teatral brasileira tem sido questionada, discutida e experimentada por diversos vieses e o teatro feito na escola ainda guarda características de uma época arcaica e tradicional da educação brasileira? Estaria essa discrepância presente na formação do professor de teatro? nos perguntamos. Diante desse quadro, apresentamos a seguinte questão: se ao estudante de licenciatura em teatro proporcionamos uma formação calcada no fazer-ver-contextualizar esse, lidando com a realidade escolar durante sua formação acadêmica, quando inserido no mercado profissional já terá experiências e argumentos para propor e romper com o ensino tradicional de teatro na escola regular? Contudo, entendemos que a formação docente é um processo permanente de construção que se realiza na estreita relação com as possibilidades de interação do sujeito do conhecimento com o objeto a ser conhecido; e que por meio dos fazeres da sala de aula é possível concretizar uma proposta de ensino-aprendizagem que signifique efetivas interações no sentido da transformação dos conhecimentos. 1 Bruno Pontes e Jennifer Jacomini estão no Projeto desde o início de 2010, como bolsistas. Já Gabriella Lavinas e Gabrielle Heringuer entraram no 2º semestre do mesmo ano, sendo esta última voluntária.

Buscamos defender a ideia de que o professor de teatro é um pesquisador envolvido com a produção de conhecimento. Pensamos nesse professor como alguém que construiu domínios fundamentais à expressão e compreensão de visões de mundo por meio da materialidade de uma determinada forma artística, mas, também, como um sujeito capaz de adaptar essa materialidade às necessidades de aprendizagem dos seus alunos, de modo a transformá-la, significando novas possibilidades de reflexão sobre o mundo. Corroboramos com o pensamento que dá ênfase à formação prática do professor, ou seja, o futuro professor deve estar em contato com o seu (futuro) ambiente de trabalho desde o início de sua formação, conhecendo os espaços de sua atuação e, consequentemente, as (im)possibilidades de seu campo de trabalho. Dessa forma, o saber prático passa a ter grande valor para a formação docente e encontramos em Donald Schon (1993) um referencial que traz o conceito de praticien réfléxif, pois a reflexão no curso da ação e sobre a ação é o ponto inicial para a formação docente de qualidade. Propusemos aos discentes envolvidos no Projeto de Extensão supracitado algumas atividades, tendo com foco a formação docente: (1) observação do cotidiano escolar das crianças; (2) Feitura e aplicação de questionário às crianças buscando descobrir o que vêem/consomem e (re)produzem social e culturalmente; (3) entrevista com as professoras de sala; (4) criação e apresentação de uma cena teatral (escrita do texto, direção da cena, atuação); (5) contato com a coordenação e direção escolar para negociação do calendário dessas atividades e realização das propostas pedagógicas; (6) planejamento e execução de oficinas com as crianças desvelando aspectos artísticos das escolhas cênicas. Percebemos que por meio desse processo criativo poderemos questionar os saberes adquiridos e acumulados pelos graduandos nas diversas disciplinas (atuação, dramaturgia e direção), diminuindo o caráter fragmentado e depositário do conhecimento, também presente no ensino superior. Entendemos, portanto, que a formação docente em Teatro deve acontecer de forma a aliar tanto a criação artística quanto a pedagógica, introduzindo o aluno em questões artístico-pedagógicas desde o início de seu curso. É preciso, portanto, investir na formação do professor entendendo que o teatro em si é pedagógico, existindo um aprendizado em cada uma das áreas teatrais. Assim, o ensino de teatro voltado à educação escolar deve priorizar também o trabalho com o espectador, pois compreendemos que a capacidade de leitura da cena não é inata, mas que esse prazer resulta de um processo de aprendizagem por parte do espectador. Acontece que exigimos uma atitude de caráter ativo do espectador na elaboração de significados pessoais em relação à cena recém presenciada, mas não desenvolvemos essa capacidade de leitura em nossos processos educacionais. Daí, por que não promover aprendizagens de

ordens diversas incluindo as áreas de cenografia, dramaturgia, sonoplastia etc. junto aos educandos? Por que ainda o ensino de teatro na escola prioriza o trabalho atoral, mesmo que este segmento de ensino não se proponha a formar atores? Priorizamos aqui o processo colaborativo na criação cênica por ser uma prática teatral que possibilita aos envolvidos um crescimento na área do teatro em que se propõe a trabalhar, como também um crescimento pessoal, aprendendo a trabalhar em grupo, com as demandas que o coletivo gera e impulsiona, a partir da proposta artística. Entendemos também que o modo de organização desse processo diz respeito ao mundo contemporâneo, por exigir profissionais dedicados a uma especificidade, mas que dialogam com o todo da obra teatral. Partir para a criação nesse processo também pode trazer novas contribuições para o teatro feito na escola formal, respeitando e aproveitando o conhecimento dos educandos e as condições físico-temporais da Instituição. Apostamos a partir dessa proposição que o professor de teatro lida então, com as esferas de aprendizagem tanto artísticas quanto pedagógicas e que, passando pela criação em processo colaborativo nas áreas de atuação-direção-dramaturgia conquiste habilidades nesses campos para que, quando inserido no processo teatral escolar tenha embasamento para construir, junto dos educandos, uma proposta significativa de intervenção teatral no espaço escolar, trazendo aspectos da aprendizagem triangular (BARBOSA, 1998) para, inclusive, avaliar seu trabalho e sua postura pedagógica o que ainda é incipiente dentro do ambiente escolar, a avaliação. Considerações Finais O desenvolvimento de projetos desta natureza ainda é raro no cotidiano da escola de educação básica. O Teatro feito para/com crianças ainda guarda resquícios de uma educação tradicional, pensada apenas pelo produto estético a ser mostrado para os adultos, seja nas festividades escolares em datas comemorativas ou nas formaturas das crianças. O processo educacional inerente à experiência artística foi alvo de nosso interesse neste trabalho. Sendo assim, acreditamos que essa primeira experiência tem contribuído para a reflexão sobre a formação docente em teatro e arriscamos dizer que a prática docente em teatro pode estar diretamente ligada ao processo criativo, uma vez que cenas teatrais têm sido construídas a partir de observações da dinâmica do cotidiano escolar. Ou seja, um teatro feito para as crianças, com questões que dizem respeito ao que vivenciam, às práticas realizadas na escola, como também às faltas culturais presentes nesse tempoespaço de escolarização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. SCHÖN, D.A. Educando o Profissional Reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Trad.Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2000. FIGUEIREDO, Ricardo Carvalho de. A dimensão coletiva na criação: o processo colaborativo no Galpão Cine Horto. 2007. Dissertação (Mestrado). Escola de Belas Artes/Universidade Federal de Minas Gerais. MARTINS, Marcos Bulhões. Dramaturgia em Jogo: uma proposta de ensino e aprendizagem do teatro. Tese de Doutorado. SP: ECA USP, 2006. PUPO, Maria Lúcia. Processos contemporâneos de criação teatral e pedagogia. IN: V Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (ABRACE) Criação e Reflexão Crítica. BH: UFMG, 2008.