TÍTULO: O VÍDEO COMO ELEMENTO COMUNICATIVO NO TRABALHO COMUNITÁRIO:



Documentos relacionados
Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NOS PROJETOS SOCIAIS E NA EDUCAÇÃO - UMA BREVE ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DO PROJETO DEGRAUS CRIANÇA

Mostra de Projetos Grupo Atitude Vila Macedo

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

A CONSTITUIÇÃO DO FÓRUM PERMANENTE DA PESSOA IDOSA NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 ISBN

Pedagogia Estácio FAMAP

Prefeitura Municipal de Santos

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Teotônio Vilela II reforma parques pág. 3. Festa da criança no CEI São Rafael pág. 3. Nesta edição: CEI Vila Maria 2. CAA São Camilo II 2

SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA (PAIF)

3.1 Ampliar o número de escolas de Ensino Médio de forma a atender a demanda dos bairros.

PROFESSOR PEDAGOGO. ( ) Pedagogia Histórico-Crítica. ( ) Pedagogia Tecnicista. ( ) Pedagogia Tradicional. ( ) Pedagogia Nova.

Práxis, Pré-vestibular Popular: Constante luta pela Educação Popular

RESPONSABILIDADE SOCIAL DA FEATI

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais. III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva. Ações Inclusivas de Sucesso

Texto 03. Os serviços da Proteção Social Especial de Média Complexidade e o processo de construção de saída da rua

POR QUE UMA NOVA ESCOLA NO CAMPO?

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

Palavras-chave: Creche. Gestão democrática. Projeto Político-Pedagógico.

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

As contribuições do PRORROGAÇÃO na formação continuada dos professores da Rede Municipal de Educação de Goiânia.

O Curso de Graduação em Ciências da Religião nas Faculdades Integradas Claretianas em São Paulo

FACULDADE INTERNACIONAL DO DELTA PROJETO PARA INCLUSÃO SOCIAL DOS SURDOS DA FACULDADE INTERNACIONAL DO DELTA

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR DE NOVOS CONHECIMENTOS 1

1. Garantir a educação de qualidade

Relato de experiência sobre uma formação continuada para nutricionistas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco

Aldeias Infantis SOS Brasil

ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM RECORTE HORIZONTAL NO ATENDIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Projeto Educativo da Escola Profissional de Leiria

PROGRAMA DE EXTENSÃO PROEX

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E EDUCAÇÃO ESPECIAL: uma experiência de inclusão

TRABALHANDO A EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NO CONTEXTO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA NA SAÚDE DA FAMÍLIA EM JOÃO PESSOA-PB

O que é Programa Rio: Trabalho e Empreendedorismo da Mulher? Quais suas estratégias e ações? Quantas instituições participam da iniciativa?

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

A importância do diagnóstico municipal e do planejamento para a atuação dos Conselhos dos Direitos do Idoso. Fabio Ribas Recife, março de 2012

Incentivar a comunidade escolar a construir o Projeto político Pedagógico das escolas em todos os níveis e modalidades de ensino, adequando o

MELHORIA DA INFRAESTRUTURA FÍSICA ESCOLAR

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

PLANO ESTADUAL DE CULTURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PLANO SETORIAL DO LIVRO E LEITURA

Secretaria Nacional de Segurança Pública

ESPAÇO INCLUSIVO Coordenação Geral Profa. Dra. Roberta Puccetti Coordenação Do Projeto Profa. Espa. Susy Mary Vieira Ferraz RESUMO

PSICODIAGNÓSTICO: FERRAMENTA DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA¹

EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UMA EXPERIÊNCIA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO ENTORNO DO LIXÃO DE CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL.

A ORALIZAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA EM SALA DE AULA

Pró-Reitora de Graduação da Universidade Federal de Goiás

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE PARATY INSTITUTO C&A DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL ASSOCIAÇÃO CASA AZUL

O Marco de Ação de Dakar Educação Para Todos: Atingindo nossos Compromissos Coletivos

Relato de Grupo de Pesquisa: Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e Hospitalidade.

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

Rádio escolar, vídeo popular e cineclube popular: um panorama sobre a atuação do Grupo de Estudos e Extensão em Comunicação e Educação Popular

ANEXO I. PROJETO DE -- Selecione --

NOVAS PERSPECTIVAS E NOVO OLHAR SOBRE A PRÁTICA DA ADOÇÃO:

INTEGRAÇÃO UNIVERSIDADE X ENSINO MÉDIO: INTERVENÇÃO MULTIDISCIPLINAR EM ADMINITRAÇÃO, INFORMÁTICA E EDUCAÇÃO.

A IMPORTANCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS NA AULA DE GEOGRAFIA

PREFEITURA MUNICIPAL DE PILÕES CNPJ: / CEP: GABINETE DO PREFEITO

Rua do Atendimento Protetivo. Municipalino:

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

PROCESSO DE ATUALIZAÇÃO. apresentação em 21/03/13

PATRULHA JUVENIL DE GARÇA

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

1964 construção da sede da FENAPAE no Rio de Janeiro e depois transferida para Brasília.

ESTÁGIO SUPERVISIONADO

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

GARANTIR ÀS NOSSAS CRIANÇAS MARANHENSES O DIREITO DE APRENDER IMPLICA TRABALHAR PARA UMA POLITICA DE GESTAO EFICAZ

Composição dos PCN 1ª a 4ª

O APOIO MATRICIAL COMO PROCESSO DE CUIDADO NA SAÚDE MENTAL

TECNOLOGIA ASSISTIVA DE BAIXO CUSTO: ADAPTAÇÃO DE UM TRICICLO E SUA POSSIBILIDADE TERAPÊUTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

UNIDADE III Análise Teórico-Prática: Projeto-intervenção

REFLEXÕES INICIAIS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS PARA INCLUIR OS DEFICIENTES AUDITIVOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.

A UNIOESTE E O CAMPUS QUE QUEREMOS

VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ESCOLA CAMPO

9. Os ciclos de aprendizagem e a organização da prática pedagógica

Iniciando nossa conversa

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: uma tecnologia na formação de professores em IES pública e privada em Pernambuco-Brasil.

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

Mostra de Projetos 2011

ATIVIDADES DESENVOVLIDAS PELO LABORATÓRIO DE ENSINO DE MATEMÁTICA LEM- FOZ

Palavras-chave: Formação continuada de professores, cinema, extensão universitária.

A PRESENÇA DA ARTE NO PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO

Trabalho com Pedagogia da Alternância nas Casas Familiares Rurais (91)

A Aliança de Cidades e a política habitacional de São Paulo

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA -PIBID-FAAT

AUTO-AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: instrumento norteador efetivo de investimentos da IES

PROJETO DE INCLUSÃO ESCOLAR. Inclusão escolar de crianças e adolescentes com transtornos psíquicos e problemas em seu desenvolvimento.

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

ANEXO II EDITAL Nº 80/2013/PIBID/UFG PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE MUNICÍPIO DE LONDRINA PERGUNTAS E RESPOSTAS

Gabinete de Apoio à Família

Gênero no processo. construindo cidadania

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

Política de Formação da SEDUC. A escola como lócus da formação

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN INTERVENÇÃO EDUCATIVA INSTITUCIONAL PROJETO PSICOPEDAGÓGICO

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

Mostra de Projetos Resgate da Cidadania: uma questão de direito

NÚCLEO DE APOIO AO DOCENTE E DISCENTE - NADD

Transcrição:

TÍTULO: O VÍDEO COMO ELEMENTO COMUNICATIVO NO TRABALHO COMUNITÁRIO: O PROJETO CASARÃO 1 AUTORAS: Roseli Esquerdo Lopes (relopes@power.ufscar.br); Denise Dias Barros (ddbarros@usp.br); Ana Paula Serrata Malfitano (malfitano@bol.com.br); Debora Galvani (deboragal@uol.com.br); Giselle Barros (gibarros@ig.com.br). INSTITUIÇÕES: Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade de São Paulo (USP). ÁREA TEMÁTICA ESCOLHIDA: Direitos Humanos. A infância e a juventude de parcela significativa da população brasileira encontram-se na indigência, vivendo em situação de vulnerabilidade extrema (Priore, 1999). São diversos os fatores que confluem para a dissociação social. Extrema desigualdade, a migração para os grandes centros urbanos, precariedade de moradia, características históricas da formação da família nuclear brasileira apoiada numa precarização do trabalho, levam, muitas vezes, a uma situação de rupturas de participação e da coesão social, pauperização da sociabilidade sócio-familiar e dos vínculos que se tornam fugidios. Num esforço oposto ao da desterritorialização e da desfiliação (Castel, 1994), inscrevem-se as experiências desenvolvidas por alguns movimentos sociais, como o Movimento de Luta por Moradia Urbana, na cidade de São Paulo, e que representam uma das faces da luta e da resistência silenciosa e cotidiana que tem marcado a história da sociedade civil no Brasil. Uma dessas experiências é a da Associação de Construção por Mutirão do Casarão, que integrando o Movimento de Luta por Moradia Urbana (São Paulo - Capital), organizou-se em entidade civil sem fins lucrativos no início da década de noventa. Composta por moradores de cortiços do Brás, Mooca e Belém na cidade de São Paulo, vem lutando por moradia digna e de qualidade; nesse sentido firmaram, em 1991, um convênio com a Prefeitura para construção das habitações por mutirão com autogestão, que hoje compõem o Conjunto Habitacional da Celso Garcia - Casarão, 1 Este trabalho contou com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP e da Pró-Reitoria de Extensão da UFSCar, bem como do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP, do Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCar e da Anthares Multimeios Vídeo Produções, SP Capital.

localizado na Av. Celso Garcia (Brás) e onde passaram a residir a partir de 1997, 182 famílias. Desde então, o condomínio tem buscado formas de organizar e garantir qualidade de vida e o acesso a serviços e a participação social plena. Ali convivem como moradores cerca de 600 pessoas, sendo aproximadamente 300 na faixa etária entre 0 e 21 anos (Lopes et al., 2001). A Associação tem procurado, através de inúmeras iniciativas junto ao poder público municipal, o apoio para o término das obras 2 e junto ao poder público municipal, estadual, bem como junto a universidades e organizações não-governamentais, parcerias para vários subprojetos do seu Projeto de Cidadania Integral (Associação de Construção por Mutirão do Casarão, 1996). Foi com o intuito de contribuir nesse processo que o Núcleo USP/UFSCar do Projeto Metuia 3, através de uma parceria com a Associação de Construção por Mutirão do Casarão, iniciou uma série de pesquisas com vistas a elaborar um projeto de atenção para as crianças e adolescentes do Conjunto Habitacional da Celso Garcia (Lopes et al., 2001). Este processo teve como resultado a elaboração conjunta do Projeto Casarão Centro de Cultura e Convivência da Celso Garcia (Barros et al., 2001). Tal projeto tem como objetivos:! Trabalhar com as crianças e adolescentes do Conjunto Habitacional da Celso Garcia, buscando fortalecer sua história pessoal e social e construir espaços adequados ao seu crescimento e desenvolvimento afetivo, cognitivo, social e econômico;! Criar espaços de acolhimento e acompanhamento de crianças e adolescentes, que se encontrem em situações de fragilização e de vulnerabilidade afetiva, cognitiva ou social; 2 A atual gestão municipal da cidade de São Paulo (2001/2004) disponibilizou a verba necessária para a finalização da construção, que não ocorreu no período inicialmente previsto (1991-1993) devido a paralisações decorrentes das gestões municipais anteriores (93/96 e 97/2000), e prevê para 2002 a conclusão total do Conjunto Habitacional da Celso Garcia Casarão. 3 Projeto Metuia Grupo interinstitucional de estudos, formação e ações pela cidadania de crianças, adolescentes e adultos em processos de ruptura das redes sociais de suporte. É composto por docentes, discentes e profissionais da área de Terapia Ocupacional da PUC-Campinas, UFSCar e USP e por terapeutas ocupacionais das cidades de Campinas, Paulínia, São Carlos e São Paulo.

! Criar possibilidades para a constituição de indivíduos cidadãos e para a emancipação pessoal e social através de projetos de melhoria de qualidade de vida;! Criar alternativas para um maior enriquecimento do cotidiano, proporcionando oportunidades para a expressão criativa e individual para crianças e adolescentes, envolvendo-os em projetos que considerem seu contexto, processo e dinâmica;! Encaminhar e acompanhar as crianças e adolescentes para serviços competentes: saúde, educação, lazer, cultura e esporte;! Criar alternativas sócio-educativas ao trabalho juvenil e combater sua exploração;! Constituir-se a partir de uma perspectiva transdisciplinar em espaço de formação e sensibilização para profissionais recém-formados e graduandos em diferentes campos do conhecimento que atuem com crianças e adolescentes;! Contribuir para a definição de metodologias de intervenção no campo da Infância e da Adolescência. As intervenções são pensadas em cinco programas de atuação (Ações Territoriais; Atividades no Condomínio; Atenção e Prosseguimento Individualizado; Acompanhamento Institucional; Formação, Pesquisa e Registro Sistemático) articulados entre si de modo a complementarem-se e com orientação de coordenadores e mini-equipes de trabalho que realizarão ações integradas no território e locais, mantendo observação sobre as demandas individuais e de acompanhamento institucional. A noção de território que adotamos aqui supõe um espaço delimitado geograficamente, construído historicamente e com relações socio-econômicas e culturais a desvendar. Nesse território, pode-se observar diferentes maneiras de existir, sonhar, viver, trabalhar e realizar trocas sociais. Essa noção exige que se tenha a compreensão da ação social não a partir da noção de risco, que isola e escolhe determinadas variáveis, mas sim, partir da noção de possibilidades de vida. Isto significa que se busca trabalhar a partir de uma visão do ambiente ecológico e social, no qual a criança, o adolescente e o adulto tecem suas relações (Oliver e Barros, 1999).

Para tanto se torna necessário promover ações que visem à aproximação, à escuta e à criação de vínculos e ao estabelecimento de relações de confiança. A presença constante, a brincadeira e as atividades criativas são instrumentos importantes que permitem a transformação de relações e de espaços indiferenciados em possibilidades de acolhimento e de vida. Uma relação fundamental baseada em um contrato transparente deve ser desenvolvida entre criança / adolescente e adulto (operador social) que deve conduzir a uma reflexão e a uma elaboração compartilhada de possibilidades de vida (afetiva, sociais e educacionais). Dessa forma, sob orientação daqueles programas, deve-se desenvolver planos de ações processuais e dinâmicos onde se incluam metas, processos, projetos e estratégias. Desde janeiro de 2000, através de parceria estabelecida entre a Associação de Construção por Mutirão do Casarão, o Projeto Metuia (através dos Departamentos de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade de São Paulo), a Oficina Cultural Amácio Mazzaropi da Secretaria Estadual da Cultura/SP, decidimos pelo início da implantação do projeto através da realização de algumas das atividades propostas. Dentre elas realizamos o subprojeto: O vídeo como recurso de promoção de comunicação na atenção a crianças e adolescentes. Sua consolidação se deu em duas fases: a primeira através da produção de minivídeos temáticos dentre as atividades desenvolvidas no Projeto Casarão (hip-hop, reciclagem, as crianças e suas brincadeiras, capoeira, clip do grupo de jovens: Toque de Carícia, entrevistas com lideranças da Associação de Construção por Mutirão do Casarão e entrevistas com o Núcleo USP/UFSCar do Projeto Metuia); e a segunda fase que se caracterizou pela edição dos mini-vídeos produzidos e pela produção de um vídeo documentário sobre o Projeto Casarão. O trabalho realizado buscou o registro participativo de imagens e promover, simultaneamente, uma maior interação entre diferentes participantes do Projeto Casarão bem como um constante retorno para cada grupo, o que ocorreu nas oficinas, através da apresentação e discussão da produção imagética ali realizada. A edição destes mini-vídeos temáticos proporcionou a aproximação das crianças e adolescentes dos instrumentos utilizados, especialmente com a câmera de vídeo, substituindo, gradualmente, a timidez pela curiosidade e conseqüente participação no processo de registro das atividades. O retorno do trabalho realizado, para cada grupo,

visualizado através da imagem, auxiliou a dinâmica de cada oficina proporcionando reflexões acerca do processo em andamento, além de ter sido propiciador de espaços de discussão das relações e instrumento de auto-valorização por envolver a percepção da auto-imagem, assim como a imagem de um outro próximo (o colega, o outro grupo do condomínio, etc). A edição do vídeo final sobre todo o trabalho realizado no Projeto Casarão vem contribuir para a valorização de toda a comunidade, estendendo-se do universo infantil ao adulto, por apresentar o histórico de luta dos moradores do Conjunto Habitacional da Celso Garcia, e ex-encortiçados, para a aquisição da casa própria e a preocupação com o desenvolvimento de suas crianças e adolescentes. Criou-se uma reflexão na comunidade sobre seus propósitos e necessidades e sobre a condução que vem sendo dada para atingi-los e satisfazê-las. A realização do vídeo da/na comunidade funcionou como um elemento que veio alimentar o processo de ação participativa no Projeto Casarão. O registro fílmico dos trabalhos do Projeto Casarão trouxe uma possibilidade de valorização desta comunidade e de reflexões sobre o trabalho que vem sendo realizado e, principalmente, sobre o lugar ocupado pelas crianças e adolescente neste espaço, bem como acerca das ações dirigidas a esta população enquanto prioridade dos moradores do Conjunto Habitacional da Celso Garcia. Esse registro feito de forma participativa, contando com os adolescentes neste trabalho, possibilitou resultados de auto-valorização e reflexão das relações e dinâmicas estabelecidas, conforme acima descrito. Entretanto, foi também despertado o interesse nestas crianças e adolescentes em tornarem-se atores mais atuantes neste processo, decidindo quais registros realizar, realizá-los e editá-los. Conseqüentemente, criou-se uma demanda pela continuidade da Oficina de Imagem, na qual os adolescentes continuem vivenciando e aprendendo o manuseio de instrumentos como a câmera de vídeo, a câmera fotográfica, entre outros, e possam, a partir daí, ter maior atuação e independência para criação. É de interesse do Projeto Casarão buscar meios para a concretização desta proposta. Importa também ressaltar algumas dificuldades encontradas neste projeto, que se caracterizaram, principalmente, pela ausência de equipamentos em número suficiente para manuseio pelas crianças e adolescentes.

O estranhamento que estes instrumentos despertaram foi substituído pela curiosidade e iniciativa de filmar, fotografar, participar ativamente deste trabalho. Porém, esta demanda foi somente parcialmente contemplada pela falta de estrutura para isso e, portanto, temos agora uma demanda comum das crianças e adolescentes e do Projeto Casarão: a realização de uma Oficina de Imagem. As crianças e adolescentes são movidos pela curiosidade e interesse em aprender e realizar com maior independência seus registros, e a equipe do Projeto Casarão acredita que este tipo de atividade pode se constituir em mais um espaço relevante de vínculo desta população com a comunidade, favorecendo seu conhecimento, a identificação de níveis de fragilidade e a proposição de ações individuais e/ou coletivas que possam contribuir para o fortalecimento de suas redes de suporte sociais. Foi criado, portanto, um importante meio de divulgação do trabalho realizado, bem como das potencialidades e necessidade de cerca de 600 pessoas que vivem naquele Conjunto Habitacional, e a intenção é de que este possa auxiliar na busca de parcerias com o poder público e com a sociedade civil para a concretização integral da proposta de atenção a crianças e adolescentes que vem sendo ali implementada. Este material constitui-se também num recurso didático importante na medida em que pode criar, dentro das salas de aula, possibilidades de compartilhamento de experiências concretas, de discussão e análise acerca do papel social de novos serviços e técnicos no campo social. No campo específico da terapia ocupacional - profissionais que tem atuado e coordenado o Projeto Casarão via universidades - constituiu-se um importante instrumento para discussão das características, problemas e necessidades concretas da população com a qual se trabalha e o papel social que as atividades podem propiciar, como instrumento de emancipação e de reconstituição de histórias e contextos. Assim, é preciso trabalhar e desenvolver instrumentos e metodologias nesse caminho, bem como preparar técnicos em geral para intervenções qualificadas no campo social. Acreditamos que a linguagem visual em geral e o vídeo especificamente são formas importantes de significação e criação de sentidos.

Referências Bibliográficas: ASSOCIAÇÃO DE CONSTRUÇÃO POR MUTIRÃO DO CASARÃO. Projeto cidadania integral: proposta para implantação. São Paulo, 1996. (mimeo) BARROS, D. D. et al. Projeto Casarão: uma parceria que se constrói no dia-a-dia. In: IV Seminário de Metodologia de Projetos de Extensão. Publicação on line: http://www.itoi.ufrj.br/sempe/t1-p3.htm, 2001. CASTEL, R. Da indigência à exclusão, a desfiliação. Precariedade do trabalho e vulnerabilidade relacional. In: LANCETTI, A. (Org.) SaúdeLoucura, n.4. São Paulo: Hucitec, 1994. p. 21-48. LOPES, R. E. et al. Terapia ocupacional no território: as crianças e os adolescentes da Unidade do Brás (Movimento de Luta por Moradia Urbana). Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, V.9, n.1, p.30-49, jan./ jun., 2001. OLIVER, F. C. e BARROS, D. D. Reflexionando sobre desinstitucionalización y terapia ocupacional. Materia Prima. Primeira Revista Independiente de Terapia Ocupacional en Argentina. V.4, n.13, p.17 20, 1999. PRIORE, M. del (Org.) História das Crianças no Brasil. São Paulo : Contexto, 1999.