1 EXECUÇÃO E GESTÃO DE COOPERATIVA: A RESSOCIALIZAÇÃO E A CONSEQUENTE DIMINUIÇÃO DO ÍNDICE DE REINCIDÊNCIA SÃO POSSÍVEIS Rosi Keli Guedes 1 Resumo O crescente número de casos de reincidência de ex-detentos são alarmantes, induzindo a questionamentos que geram tal fenômeno. Tentar traçar uma ação para sanar as dificuldades enfrentadas na busca de um novo recomeço é o objetivo desta pesquisa-ação. A ausência de políticas públicas, o despreparo profissional e o preconceito são os maiores inimigos da ressocialização, assim é de extrema importância a criação e gestão de mecanismos para afastá-los da criminalidade. Palavras-chave: gestão; ressocialização; criminalidade. INTRODUÇÃO Não é novidade que o sistema carcerário brasileiro está falido. Os presídios tornaramse jaulas, onde as feras vivem em contante tormento pela falta de higiene, abusos sexuais e outras mazelas pela sociedade conhecidas. Assim, a criação e gestão de uma cooperativa de preparação para o trabalho em parceria com entidades sociais e comerciais, dos indivíduos em condições de uma semiliberdade assistida, dará rumo diferente ao que a vivência na prisão ensina: Continuar a cometer crimes ainda com mais perfeição que antes. Acreditar no proprio valor humano para transformar presidiários em trabalhadores comuns é uma atitude que exige o crédito de todos os segmentos, para ir além das teorias sociais, e de fato, fazer valer os direitos do homem como ser humano passível de cometer erros, mas também passível de reconhecê-los como forma de tornar homem humano outra vez. Objetivo Geral: Efetivar a criação e gestão de um espaço não só físico, mas uma organização e gestão social, no sentido de administrar e criar condições do preso se reabilitar. 1 Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro kellyguedes1986@hotmail.com
2 Objetivos Específicos: Fazer um levantamento de presos em condições de inserção no mercado de trabalho mesmo antes de ganharem sua liberdade prevista na lei, através desta, reinseri-los no mercado de trabalho. Realizar uma pesquisa bibliográfica e de campo, levantando informações sobre programas similares, que obtiveram sucesso na diminuição do índice de reincidência e a ressocialização dos reeducandos. Preparar os presos para assumirem postos de trabalho, valorizando-se como seres realmente Sociáveis, Dignos, possibilitando o ingresso destes na sociedade através de parceiros institucionais, comerciais, empresariais e industriais, com treinamentos dirigidos e assistidos. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS PENITENCIÁRIAS Ao longo da história do sistema brasileiro começa se formar uma cultura sobre o assunto, sendo debatidas a criação de colônias penais marítimas, agrícolas e industriais, formando certas preocupações com a personalidade do delinqüente. (Beccaria, 2007, p. 65) É preciso que o infrator tenha uma marca na alma, da pena a ele aplicada, e não no físico, como frequentemente ocorre. De acordo com Bento (2008, p. 87) Do surgimento da pena privativa a liberdade até os dias atuais, já se passaram dois séculos, no entanto vários problemas continuam acontecendo, não representando hoje apenas uma simples questão de grades e muros, mas sendo visto como uma sociedade dentro de outra sociedade, onde foram radicalmente alterados numerosos comportamentos e atitudes da vida livre. Mais uma vez afirma-se a necessidade de um órgão humanizado, que recupere de fato o preso, para que desta forma além do preso a sociedade não sofra as conseqüências da revolta gerada pela degradação humana, como há muito vem ocorrendo. Realidade do Sistema penitenciário O sistema penitenciário mostrou-se como um grande fracasso da justiça penal. (Foucault, 2006, p. 34). O Sistema Penitenciário Brasileiro não consegue atingir o seu principal objetivo que é a ressocialização de seus internos. (Santos, 2010, p. 23).
3 Segundo Cruz (2006, p. 67) O Brasil tem em média 510 estabelecimentos de confinamento somando aproximadamente 60 mil vagas para presos. Todavia, estão presos nestes estabelecimentos 130 mil presos, apresentando um déficit enorme de leitos. E ainda existem 275 mil mandados de prisão expedidos e não cumpridos. É estupidez imaginar que homens amontoados como animais enjaulados possam um dia voltar à sociedade recuperados de seus erros. Nesse sentido, o imortal Foucault (2004, p. 89), assim afirma: Preconceito Segundo Carnelutti (2008, p.77) Entre o crime e a volta ao direito e à virtude, a prisão constituirá um espaço entre dois mundos, um lugar para as transformações individuais que devolverão ao estado os indivíduos que este perdera. Seguindo a mesma concepção, o autor ainda destaca que a cárcere representa um castigo, e tem como objetivo principal a educação dos corpos através da punição. O criminoso seria aquele que rompeu com o pacto social, que a ele não se adapta e por isso pode ser considerado perigoso. De cada dez presos nas cadeias brasileiras, entre cinco e sete já teriam passado pelas mãos do Estado, que perdeu a chance de afastá-los do crime. A maioria é de pequenos assaltantes ou traficantes sem poder na hierarquia da bandidagem. Ao entrar pela primeira vez numa penitenciária, selam seu destino. Mesmo depois de cumprir pena e acertar as contas com a justiça, dificilmente voltam a conseguir emprego. Acabam retornando ao banditismo. De acordo com o pensamento do autor, Gomes (2008, p. 41) As políticas de segurança pública adotadas pelo país afora preferem construir presídios que são necessários mas esquecem de investir em cursos profissionalizantes ou na geração de emprego para os presos. Dos R$ 208 milhões do orçamento do Departamento Penitenciário Nacional em 2002, R$175 milhões estão sendo usados na cobertura de parte do déficit de 58 mil vagas do sistema. Apenas R$ 15 milhões são aplicados em programas de apoio a presos e egressos. E ainda, segundo Barros (2009 p. 56) As penitenciarias são vistas como muralha, de um lado a sociedade a qual desempenha um papel de beneficio no meio social, e o outro estão os bandidos, que não desempenham papel nenhum no meio social, portanto merecem ser eliminados. Estes estigmatizados, rotulados como marginais, excluídos do sistema social, sofrem cotidianamente pressões de um erro que já foi punido judicialmente. Numa sociedade onde a identidade social de um homem é compreendida a partir das práticas sociais que desenvolve, o preso devido ao estigma do ex-presidiário, sofre discriminação em função do seu estado atual, não fazendo parte desse sistema social.
4 COOPERATIVISMO De acordo com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (2011, p. 12) O cooperativismo é um movimento, filosofia de vida e modelo socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social. Seus referenciais fundamentais são: Participação democrática, solidariedade, independência e autonomia. É o sistema fundamentado na união de pessoas e não no capital. Visa às necessidades do grupo e não do lucro, buscando prosperidade conjunta e não individual. Essas diferenças fazem do cooperativismo a alternativa socioeconômica que leva ao sucesso com equilíbrio e justiça entre os participantes. Associado a valores universais, o cooperativismo se desenvolve independentemente de território, língua, credo ou nacionalidade. Importância da Cooperativa Segundo Bento (2007, p. 43) Uma das soluções pode ser facilmente encontrada na legislação criminal pátria. Trata-se da adoção de Penas Alternativas ao invés de Penas Privativas de Liberdade. Todavia, é bom que se esclareça que isto não significa deixar sem punição os criminosos, mas sim lhes aplicar penas condizentes com a gravidade de seus crimes. Também, não se pretende deixar os criminosos fora das prisões pelo simples fato de não existirem dependências nos presídios. O que se quer, na realidade, é que sejam aplicadas as determinações legais já existentes na legislação. A saída do sistema penitenciário coloca para o preso uma situação difícil, de extrema complexidade, no que concerne ao modo de sobrevivência que virá desenvolver, pois retorna à sociedade despreparado, e estigmatizado como criminoso, marginal. (Cruz, 2006, p. 31). A não implantação de projetos voltados à formação profissional, acompanhamento psicológico, formação escolar do apenado, contribui de forma significativa para o fracasso do processo de ressocialização. (Pinto & Hirdes, 2006, p. 26). Portanto, as penas na prisão determinam que não basta castigar e nem privar o individuo, mas orientá-lo e capacitá-lo, para que possa ser reintegrado a sociedade, de maneira efetiva, evitando com isso a reincidência. Desta forma, a cooperativa de reinserção é a medida correta em prol a humanização. De acordo com Bitencourt (2004, p. 42) Não se pode atribuir às disciplinas penais a responsabilidade exclusiva de conseguir a completa ressocialização do delinquente, ignorando a existência de outros programas e meios de controle social de que o Estado e a sociedade devem dispor com o objetivo ressocializador, como são a família,
5 a escola, a Igreja etc. A readaptação social abrange uma problemática que transcende os aspectos puramente penal e penitenciário. Assim sendo, Trabalhos desenvolvidos com intuito de ressocialização são meios proprícios na garantia da reinclusão social, sem a hipótese de reinciderem na prática de delitos. (Bitencourt, 2004, p. 36). METODOLOGIA Neste estudo será realizado uma pesquisa ação, já que este modelo é um método de condução de pesquisa aplicada, orientada para a elaboração de diagnósticos, identificação de problemas e busca de soluções. De acordo com Lindegren et al: (2004, p. 36) Caracterizam a pesquisa-ação como sendo um método intervencionista que permite ao pesquisador testar hipóteses sobre o fenômeno de interesse implementando e acessando as mudanças no cenário real. Nesse tipo de pesquisa o pesquisador assume a responsabilidade não apenas de assistir os atores envolvidos através da geração de conhecimento, mas também de aplicação deste conhecimento. Participarão desta pesquisa-ação presos, que estão próximos a ganharem a liberdade. Inicialmente, será feito um estudo com 10 (dez) reeducandos, do presídio Osvaldo Florentino da cidade de Sinop-MT. Com uma equipe já preparada para recolher dados, serão analisadas as fichas da população carcerária existente no presídio. A partir da lista inicial, resultado das análises em fichas dos presos, estes serão entrevistados para uma abordagem de avaliação, onde serão observados detalhes psicoemocionais não constatados na ficha escrita. A entrevista norteará as etapas seguintes, quando o processo de treino e aprendizagem se dará. Para o funcionamento do programa, este terá o acompanhamento, direcionamento de ações e indicações de soluções possíveis, bem como a verificação diária do progresso dos reeducandos. Primando pelo bom andamento deste, será desenvolvido um sistema computacional, exclusivo para a pesquisa-ação, e para posterior gerenciamento da cooperativa onde todos os dados serão armazenados, e a partir deste programa será possível a extração das respostas estatísticas encontradas na pesquisa e ainda servirá como base de dados entre os envolvidos.
6 REFERÊNCIAS BARROS, M. A. (2009). Uma ciência dos fatos sociais: vivendo e aprendendo. Rio de Janeiro: Lúmen Júris. BECCARIA, C. (2007). Dos delitos e das penas. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian. BENTO, R. A. (2007). Presunção de inocência no Direito Processual Brasileiro. São Paulo: Quartier Latin. BITENCOURT, C. R. (2004). Falência da pena de prisão: causas e alternativas. São Paulo: Saraiva. CARNELUTTI, F. (2008). As misérias do processo penal. Campinas: Russel Editores. COSTA, M. D. (2008). Empresa cidadã: uma estratégia de hegemonia. São Paulo: Cortez. CRUZ, R. S. (2006). Prisão cautelas - dramas, princípios e alternativas. Rio de janeiro: Lúmen Júris. DIAS, J. D. (2006). Temas básicos da doutrina penal. Coimbra: Coimbra. FOUCAULT, M. (2006). Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes. GOMES, L. F. (2008). Código Penal, Processo Penal, Legislação Penal e Processual Penal, Constituição Federal. São Paulo: Vozes. LENZA, P. (2007). Direito Constitucional esquematizado. São paulo: Método. LOPES, H. (2006). O jovem e a violência: causas e soluções. São Paulo: Elevação. PINTO, G., & HIRDES, A. (2006). O processo de institucionalização de detentos: perspectivas de reabilitação e reinserção social. Informácion Científica, 10-18. RAMALHO, N. V. (2010). Acuda e os presidiários: uma análise institucional. Olhar Científico, 12-16. SANTOS, M. A. (2010). A ressocialização dos presos no Brasil e suas consequências para a sociedade. E-civitas, 24-32. SILVA, J. A. (2007). Curso de Direito Constitucional positivo. São Paulo: malheiros Editores. SILVA, J. A. (2007). Curso de Direito Constitucional positivo. São Paulo: Malheiros Editores. SOLUTE. (2011). O que é Cooperativismo. Sescoop, 12-13. VECIANA, J. (1999). Creación de Empresas como Programa de Investigación Científica. Revista Eupea sw Dirección y Economía de la Empresa, 11-36.