Curso Educação Ambiental e Ética Módulo 3 - Marcos referenciais em Educação Ambiental 1
Módulo 3 - Marcos referenciais em Educação Ambiental Primeiros movimentos em direção a uma Educação Ambiental A Conferência de Estocolmo A Carta de Belgrado A Conferência de Tbilisi O Congresso de Moscou A Eco-92 O material desse módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação do CENED. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. Prof. Amarildo R. Ferrari 2
Módulo 3 - Marcos referenciais em Educação Ambiental 3.1 Primeiros movimentos em direção a uma Educação Ambiental No decorrer da história da humanidade não são poucas as demonstrações de apreço, admiração e respeito à natureza. Mesmo na época de idéias mecanicistas e pensamentos cartesianos, podemos perceber situações de grande preocupação com a natureza, sejam elas vindas dos povos orientais, indígenas ou mesmo ocidentais. A partir da década de 50 começou-se a perceber com maior clareza as conseqüências do progresso desordenado e dos avanços tecnológicos sobre o meio ambiente. Algumas vozes se erguem para denunciar os problemas ambientais ocasionados pela desmesurada ganância humana: Rachel Carson (1962) lançou o livro Primavera Silenciosa o qual tratava do excessivo uso de produtos químicos sobre o meio ambiente e as conseqüências desastrosas ocasionadas por tal atitude, gerando uma perda constante da qualidade de vida, tanto para seres humanos como para animais; Albert Schweitzer (1954) recebeu o Prêmio Nobel da Paz por popularizar a Ética ambiental. Para Schweitzer a Ética não poderia ser somente voltada para os seres humanos e a sociedade, mas deveria ser universal, abarcando todos os seres e obrigando-nos a cuidá-los. Aldo Leopold (1949), engenheiro florestal, foi considerado o homem mais importante na conservação da vida selvagem dos EUA. Ele afirmava na sua obra A Sand County Almanac, que deveria haver uma Ética da Terra: A ética da terra simplesmente amplia as fronteiras da comunidade para incluir o solo, a água, as plantas e os animais, ou coletivamente: a terra. Isto parece simples: nós já não cantamos nosso amor e nossa obrigação para com a terra da liberdade e lar dos corajosos? Sim, mas quem e o que propriamente amamos? Certamente não o solo, o qual nós mandamos desordenadamente rio abaixo. Certamente não as águas, que assumimos que não tem função exceto para fazer funcionar turbinas, flutuar barcaças e limpar os esgotos. Certamente não as plantas, as quais exterminamos, comunidades inteiras, num piscar de olhos. Certamente não os animais, dos quais já extirpamos muitas da mais bonitas e maiores espécies. A ética da terra não pode, é claro, prevenir a alteração, o manejo e o uso destes 'recursos', mas afirma os seus 3
direitos de continuarem existindo e, pelo menos em reservas, de permanecerem em seu estado natural 1. Em 1968 fundava-se o Clube de Roma que tinha por objetivo discutir a crise ambiental e o futuro da humanidade. Este Clube reunia diversos profissionais das mais diversas áreas do conhecimento. Uma das primeiras propostas do Clube de Roma era a diminuição da produção para que houvesse uma menor exploração dos recursos naturais. Porém, alterar o modelo de crescimento baseado na produção para aquela época tornou-se inviável. E a proposta acabou sendo abandonada. O Clube de Roma, passou, então, a produzir relatórios diversos alertando a humanidade sobre os problemas ambientais causados pelo modelo de desenvolvimento. Nessa época houve um grande crescimento dos movimentos ambientalistas que, percebendo a exploração dos recursos naturais, a degradação do meio ambiente e a perda da qualidade de vida começaram a se organizar para fazer frente a tudo isto. 3.2 A Conferência de Estocolmo Na Conferência de Estocolmo ainda não se falava em Educação Ambiental da maneira que nós entendemos hoje, porém o Princípio nº. 19 nos diz o seguinte: É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de 1 Leopold A. apud GOLDIM, José Roberto. Disponível em: http://www.bioetica.ufrgs.br/landethi.htm. Acesso em: 12 nov. 2005. 4
protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos 2. A partir das reflexões surgidas na Conferência de Estocolmo as discussões em torno da questão ambiental, inclusive de como educar para o Meio Ambiente foram se ampliando provocando a organização da Conferência de Tbilisi, em 1977. 3.3 A Carta de Belgrado A Conferência de Belgrado realizou-se em 1975 na Iugoslávia, promovido pela UNESCO, seguindo a orientação da Recomendação 96 da Conferência de Estocolmo, a qual atribuía importância fundamental à Educação Ambiental na busca de melhores condições ambientais. Ao final da Conferência foi elaborado a Carta de Belgrado. Seu tema principal foi a necessidade de uma nova Ética que eliminasse a pobreza, a fome, o analfabetismo, a poluição ambiental e a dominação e exploração humana e de nação sobre nação 3. Sobre Educação Ambiental nos diz o seguinte: A reforma dos processos e sistemas educacionais é central para a constatação dessa nova ética de desenvolvimento. A juventude deve receber um novo tipo de educação e isto vai requerer um novo e produtivo relacionamento entre estudantes e professores, entre escolas e a comunidade, entre o sistema educacional e sociedade. Finaliza com a proposta para um programa mundial de Educação Ambiental. A carta de Belgrado aponta, entre outros, alguns princípios básicos da EA como o de contribuir para descobrir os sintomas e as causas dos problemas ambientais e para desenvolver senso crítico e habilidades necessárias para resolução de problemas. Recomenda, ainda, o uso de ambientes educativos diversificados, utilização de diferentes métodos pedagógicos, realização de atividades práticas e de experiências pessoais, respeito ao conhecimento prévio dos alunos 4. 2 Declaração de Estocolmo. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc. Acesso em: 10 nov. 2005. 3 DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1999. p. 64. 4 Textos da série Educação Ambiental do programa salto para o futuro. Disponível em: http://www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/salto53.shtm. Acesso em: 27 out. 2005. 5
Podemos considerar a Carta de Belgrado como uma ampliação da Ética da Terra elaborada por Aldo Leopold a partir de 1949. Com as considerações desta Carta o caminho estava aberto para uma Conferência a nível internacional em Educação Ambiental. E isto se deu com a Conferência de Tbilisi. 3.4 A Conferência de Tbilisi A Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental ou Conferência de Tbilisi, como ficou mais conhecida, realizou-se no ano de 1977 em Tbilisi, Geórgia, ex-união Soviética. O contexto da Conferência de Tbilisi exigia uma postura que pudesse compreender as causas dos problemas ambientais, prevenisse possíveis problemas e encontrasse soluções para um ambiente em estado degenerativo e uma qualidade de vida cada vez mais degradante. Colocase, então a Educação Ambiental como chave principal para uma tomada de consciência que pudesse tornar visíveis os problemas já existentes e formasse cidadãos responsáveis para alterar os rumos destrutivos nos quais a sociedade se encontrava. A Educação ambiental, como criadora de uma nova consciência relacional com o meio ambiente exigia, portanto, novos valores, comportamentos e atitudes do ser humano para com seu entorno, pois ao mesmo tempo em que se constatava um meio ambiente perigosamente degradado, percebia - se a grande disparidade econômica entre países e entre pessoas de um mesmo país. A realidade era mais complexa do que aparentava ser. A Conferência enfatiza a importância da Educação Ambiental para transformar essa realidade complexa. Os avanços da ciência e da tecnologia devem ser utilizados em favor da educação visando criar consciência e uma melhor compreensão dos problemas que atingem o meio ambiente. A Educação Ambiental deve atingir os cidadãos das diversas idades e em todos os níveis da educação, seja não-formal, formal ou informal, proporcionando-lhes uma consciência crítica, uma percepção e análise dos aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais, religiosos, etc. Para as comunidades sugere-se que as informações sobre o estado do meio ambiente sejam difundidas, tanto a nível local, nacional ou global. Estas informações devem ser feitas de forma simples, numa linguagem acessível e pouco técnica para que todos 6
possam compreender. As comunidades são estimuladas à participação e à solidariedade para a resolução dos problemas ambientais que a afetam. Os meios de comunicação também são convidados a colocar à disposição seus recursos tecnológicos para que uma nova consciência ambiental pudesse chegar mais longe e atingir um maior número de pessoas. Para os especialistas ou responsáveis por decisões nas questões ambientais devem receber os conhecimentos necessários e criar um senso de responsabilidade para com o meio ambiente. Para a Conferência, a Educação Ambiental deve ser uma formação permanente, preparando os indivíduos para os problemas contemporâneos, possibilitando-lhes conhecimentos técnicos que os orientem a qualificar a sua vida e a proteger o ambiente, levando sempre em consideração os princípios éticos contempladores do meio ambiente. A Conferência convida a um uso sustentável dos recursos naturais, promovendo a gestão e a responsabilidade de todos perante os mesmos. A paz, a solidariedade e a equidade são colocadas como valores para uma nova ética que não seja mais antropocêntrica, mas integradora do meio ambiente. Transcrevo abaixo a Recomendação nº. 2 que dispõe das finalidades, dos objetivos e dos princípios básicos da Educação Ambiental: Finalidades a. ajudar a fazer compreender, claramente, a existência e a importância da interdependência econômica, social, política e ecológica, nas zonas urbanas e rurais; b. proporcionar, a todas as pessoas, a possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente; c. induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, a respeito do meio ambiente. Categorias de objetivos a. consciência: ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem consciência do meio ambiente global e ajudar-lhes a sensibilizarem-se por essas questões; 7
b. conhecimento: ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio ambiente e dos problemas anexos; c. comportamento: ajudar os grupos sociais e os indivíduos a comprometerem-se com uma série de valores, e a sentirem interesse e preocupação pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo que possam participar ativamente da melhoria e da proteção do meio ambiente; d. habilidades: ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem as habilidades necessárias para determinar e resolver os problemas ambientais; e. participação: proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a possibilidade de participarem ativamente nas tarefas que têm por objetivo resolver os problemas ambientais. Princípios básicos a. considerar o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e criados pelo homem (tecnológico e social, econômico, político, histórico-cultural, moral e estético); b. constituir um processo contínuo e permanente, começando pelo pré-escolar e continuando através de todas as fases do ensino formal e não-formal; c. aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada; d. examinar as principais questões ambientais, do ponto de vista local, regional, nacional e internacional, de modo que os educandos se identifiquem com as condições ambientais de outras regiões geográficas; e. concentrar-se nas situações ambientais atuais, tendo em conta também a perspectiva histórica; f. insistir no valor e na necessidade da cooperação local, nacional e internacional para prevenir e resolver os problemas ambientais; g. considerar, de maneira explícita, os aspectos ambientais nos planos de desenvolvimento e de crescimento; h. ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais; i. destacar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência, a necessidade de desenvolver o senso crítico e as habilidades necessárias para resolver tais problemas; 8
j. utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, acentuando devidamente as atividades práticas e as experiências pessoais 5. 3.5. O Congresso de Moscou No ano de 1987, dez anos após a Conferência de Tbilisi, especialistas de aproximadamente cem países, conjuntamente com observadores da IUCN reuniram-se em Moscou, ex URSS para a realização do Congresso Internacional de Educação e Formação Ambientais, organizado e promovido pela UNESCO-UNEP/IEEP. Este Congresso ficou mais conhecido como o Congresso de Moscou. O Congresso teve por objetivo revisar os progressos e as dificuldades alcançadas no campo da Educação Ambiental a partir da Conferência de Tbilisi 6. Deste encontro saíram as estratégias internacionais para ações no campo da educação e formação ambiental para a década de 90 O Congresso de Moscou fortaleceu a Conferência de Tbilisi, conforme era seu objetivo, tornando essa última o marco fundamental e mais importante da Educação Ambiental. No próprio Congresso surgiu a idéia de outro Congresso Internacional sobre Educação Ambiental em 1997, porém isso não aconteceu e diversos países fizeram suas discussões internas a respeito do assunto. 3.6. A Eco-92 A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92 ou Rio 92) aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, no ano de 1992. O objetivo desta Conferência foi reafirmar a Conferência de Estocolmo e a partir dela estabelecer diretrizes para o século 21. O principal documento elaborado nesta Conferência foi a Agenda 21. Destaco deste documento o capítulo 36 o qual trata da Promoção do ensino, da conscientização e do treinamento. Este capítulo propõe a orientação da educação no sentido de um desenvolvimento sustentável e destaca a importância da educação ambiental permanente seja 5 Algumas Recomendações da Conferência Intergovemamental sobre Educação Ambiental aos Países Membros (Tbilisi, CEI, de 14 a 26 de outubro de 1977). Disponível em: http://www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/tbilis02.shtm. Acesso em: 10 nov. 2005. 6 DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1999, p. 89 9
no âmbito formal, informal ou não-formal. Enfatiza, também, a questão de uma consciência pública em favor da Educação Ambiental. Os documentos e conferências aqui referidos são considerados os principais marcos na evolução do conceito e da história da Educação Ambiental. Porém, diversos outros programas internacionais foram importantes para as questões ambientais, os quais me limito a citá-los: Conferência de Jomtien - 1990 Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global - 1992 Conferência Internacional de Tessalônica, 1997 I Conferência Nacional de Educação Ambiental - 1997 Conferência de Joannesburgo 2002 10
LEITURA RECOMENDADA Leopold A. apud GOLDIM, José Roberto. Disponível em: http://www.bioetica.ufrgs.br/landethi.htm. Acesso em: 12 nov. 2005. Declaração de Estocolmo. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc. Acesso em: 10 nov. 2005. DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1999. p. 64. 11