VALOR DA PRODUÇÃO DE CACAU E ANÁLISE DOS FATORES RESPONSÁVEIS PELA SUA VARIAÇÃO NO ESTADO DA BAHIA. Antônio Carlos de Araújo



Documentos relacionados
EFEITO DA VARIAÇÃO DOS PREÇOS DA MANDIOCA EM ALAGOAS SOBRE O VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO 1

Valor do Trabalho Realizado 16.

Espaço SENAI. Missão do Sistema SENAI

Influência da Taxa de Câmbio e do Dólar sobre os Preços da Borracha Natural Brasileira

DEMANDA BRASILEIRA DE CANA DE AÇÚCAR, AÇÚCAR E ETANOL REVISITADA

Análise da competitividade do algodão e da soja de Mato Grosso entre 1990 e 2006

Equações Simultâneas. Aula 16. Gujarati, 2011 Capítulos 18 a 20 Wooldridge, 2011 Capítulo 16

CAPÍTULO 9. y(t). y Medidor. Figura 9.1: Controlador Analógico

Universidade Federal de Pelotas UFPEL Departamento de Economia - DECON. Economia Ecológica. Professor Rodrigo Nobre Fernandez

A dinâmica do emprego formal na região Norte do estado do Rio de Janeiro, nas últimas duas décadas

UMA APLICAÇÃO DO TESTE DE RAIZ UNITÁRIA PARA DADOS EM SÉRIES TEMPORAIS DO CONSUMO AGREGADO DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS

Dados do Plano. Resultado da Avaliação Atuarial. Data da Avaliação: 31/12/2010

MUDANÇAS CAMBIAIS E O EFEITO DOS FATORES DE CRESCIMENTO DAS RECEITAS DE EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE SOJA 1 2

Relações de troca, sazonalidade e margens de comercialização de carne de frango na Região Metropolitana de Belém no período

Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva DIODOS

ENGENHARIA ECONÔMICA AVANÇADA

Taxa de Juros e Desempenho da Agricultura Uma Análise Macroeconômica

Uma avaliação da poupança em conta corrente do governo

exercício e o preço do ativo são iguais, é dito que a opção está no dinheiro (at-themoney).

Campo magnético variável

EVOLUÇÃO DO CRÉDITO PESSOAL E HABITACIONAL NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DOS FATORES MACROECONÔMICOS NO PERÍODO PÓS-REAL RESUMO

Palavras-chave: Posição Relativa do Mercado; Vantagem Comparativa; Constant-Market-Share; Competitividade.

Influência de Variáveis Meteorológicas sobre a Incidência de Meningite em Campina Grande PB

O Fluxo de Caixa Livre para a Empresa e o Fluxo de Caixa Livre para os Sócios

O IMPACTO DOS INVESTIMENTOS NO ESTADO DO CEARÁ NO PERÍODO DE

12 Integral Indefinida

Boom nas vendas de autoveículos via crédito farto, preços baixos e confiança em alta: o caso de um ciclo?

Análise econômica dos benefícios advindos do uso de cartões de crédito e débito. Outubro de 2012

APLICAÇÃO DE MODELAGEM NO CRESCIMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO

Perspectivas para a inflação

Jovens no mercado de trabalho formal brasileiro: o que há de novo no ingresso dos ocupados? 1

Figura 1 Carga de um circuito RC série

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO PREÇO DA SÉRIE DE CANA-DE-AÇÚCAR

Ascensão e Queda do Desemprego no Brasil:

Módulo 07 Capítulo 06 - Viscosímetro de Cannon-Fensk

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA MESTRADO EM ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

METAS INFLACIONÁRIAS NO BRASIL: UM ESTUDO EMPÍRICO USANDO MODELOS AUTO-REGRESSIVOS VETORIAIS (VAR)

HIPÓTESE DE CONVERGÊNCIA: UMA ANÁLISE PARA A AMÉRICA LATINA E O LESTE ASIÁTICO ENTRE 1960 E 2000

Curva de Phillips, Inflação e Desemprego. A introdução das expectativas: a curva de oferta agregada de Lucas (Lucas, 1973)

José Ronaldo de Castro Souza Júnior RESTRIÇÕES AO CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE TRÊS HIATOS ( )

O EFEITO DIA DO VENCIMENTO DE OPÇÕES NA BOVESPA 1

Luciano Jorge de Carvalho Junior. Rosemarie Bröker Bone. Eduardo Pontual Ribeiro. Universidade Federal do Rio de Janeiro

Pobreza e Desigualdade de Renda no Brasil Rural: Uma Análise da Queda Recente 1

Pessoal Ocupado, Horas Trabalhadas, Jornada de Trabalho e Produtividade no Brasil

METODOLOGIA PROJEÇÃO DE DEMANDA POR TRANSPORTE AÉREO NO BRASIL

2 Conceitos de transmissão de dados

OS EFEITOS DO CRÉDITO RURAL E DA GERAÇÃO DE PATENTES SOBRE A PRODUÇÃO AGRÍCOLA BRASILEIRA hfsspola@esalq.usp.br

Função definida por várias sentenças

CHOQUES DE PRODUTIVIDADE E FLUXOS DE INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS PARA O BRASIL * Prof a Dr a Maria Helena Ambrosio Dias **

Estudo comparativo de processo produtivo com esteira alimentadora em uma indústria de embalagens

3 PROGRAMAÇÃO DOS MICROCONTROLADORES

3 O impacto de choques externos sobre a inflação e o produto dos países em desenvolvimento: o grau de abertura comercial importa?

Composição Ótima da Dívida Pública Federal: Definição de uma Referência de Longo Prazo

Economia e Finanças Públicas Aula T21. Bibliografia. Conceitos a reter. Livro EFP, Cap. 14 e Cap. 15.

MARCOS VELOSO CZERNORUCKI REPRESENTAÇÃO DE TRANSFORMADORES EM ESTUDOS DE TRANSITÓRIOS ELETROMAGNÉTICOS

Curso de preparação para a prova de matemática do ENEM Professor Renato Tião

Resumo: Palavras-Chave: Documentos Técnico-Científicos

Mecânica dos Fluidos. Aula 8 Introdução a Cinemática dos Fluidos. Prof. MSc. Luiz Eduardo Miranda J. Rodrigues

Análise de transmissão de preços do mercado atacadista de melão do Brasil

Escola E.B. 2,3 / S do Pinheiro

CAPITULO 01 DEFINIÇÕES E PARÂMETROS DE CIRCUITOS. Prof. SILVIO LOBO RODRIGUES

Palavras-chave: Análise de Séries Temporais; HIV; AIDS; HUJBB.

= + 3. h t t. h t t. h t t. h t t MATEMÁTICA

Dinâmica de interação da praga da cana-de-açúcar com seu parasitóide Trichogramma galloi

Modelos Econométricos para a Projeção de Longo Prazo da Demanda de Eletricidade: Setor Residencial no Nordeste

Funções de Exportação de Alimentos para o Brasil. Maria Auxiliadora de Carvalho Instituto de Economia Agrícola

CONSUMO DE BENS DURÁVEIS E POUPANÇA EM UMA NOVA TRAJETÓRIA DE COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO RESUMO

OTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA NA CETREL: DIAGNÓSTICO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE GANHOS

Fatores de influência no preço do milho no Brasil

POLÍTICA FISCAL ATRAVÉS DO CICLO E OPERAÇÃO DOS ESTABILIZADORES FISCAIS

Modelo ARX para Previsão do Consumo de Energia Elétrica: Aplicação para o Caso Residencial no Brasil

Centro Federal de EducaçãoTecnológica 28/11/2012

1 Introdução. Onésio Assis Lobo 1 Waldemiro Alcântara da Silva Neto 2

Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Programa de Mestrado Profissional em Economia. Bruno Russi

DIFERENCIAL DE INFLAÇÃO ENTRE PORTUGAL E A ALEMANHA*

A Linha Híbrida de Pobreza no Brasil

ACORDOS TBT E SPS E COMÉRCIO INTERNACIONAL AGRÍCOLA: RETALIAÇÃO OU COOPERAÇÃO? 1

Aula 1. Atividades. Para as questões dessa aula, podem ser úteis as seguintes relações:

Working Paper Impacto do investimento estrangeiro direto sobre renda, emprego, finanças públicas e balanço de pagamentos

FLUTUAÇÕES NO MERCADO DE TRABALHO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: REGIÕES METROPOLITANA E NÃO-METROPOLITANA

Escola Secundária Dom Manuel Martins

Física. MU e MUV 1 ACESSO VESTIBULAR. Lista de Física Prof. Alexsandro

O CÁLCULO DOS SALDOS AJUSTADOS DO CICLO NO BANCO DE PORTUGAL: UMA ACTUALIZAÇÃO*

Estando o capacitor inicialmente descarregado, o gráfico que representa a corrente i no circuito após o fechamento da chave S é:

Área de Interesse: Área 3 Macroeconomia, Economia Monetária e Finanças

Análise da Interdependência Temporal dos Preços nos Mercados de Cria Recria e Engorda de Bovinos no Brasil

Produtividade total dos fatores, mudança técnica, eficiência técnica e eficiência de escala na indústria brasileira,

Estrutura a Termo da Taxa de Juros e Dinâmica Macroeconômica no Brasil*

Câmbio de Equilíbrio

2 Relação entre câmbio real e preços de commodities

As exportações nos estados da Região Sul do Brasil por intensidade tecnológica entre 1996 a 2007

Física e Química A. Teste Intermédio de Física e Química A. Teste Intermédio. Versão 1. Duração do Teste: 90 minutos

O impacto de requerimentos de capital na oferta de crédito bancário no Brasil

ESTIMATIVA DOS PARÂMETROS DO MODELO IPH II PARA ALGUMAS BACIAS URBA- NAS BRASILEIRAS

CRESCIMENTO ECONÔMICO E CONCENTRAÇÃO DE RENDA: SEUS EFEITOS NA POBREZA NO BRASIL

BEM-ESTAR ECONÔMICO: APLICAÇÃO DE INDICADOR SINTÉTICO PARA OS ESTADOS BRASILEIROS

Marcello da Cunha Santos. Dívida pública e coordenação de políticas econômicas no Brasil

NOTA TÉCNICA. Nota Sobre Evolução da Produtividade no Brasil. Fernando de Holanda Barbosa Filho

O Custo de Bem-Estar da Inflação: Cálculo Tentativo

A EFICÁCIA DO CRÉDITO COMO CANAL DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA NO BRASIL: ESTRATÉGIA DE IDENTIFICAÇÃO DA OFERTA E DEMANDA DE CRÉDITO

Transcrição:

1 VALOR DA PRODUÇÃO DE CACAU E ANÁLISE DOS FATORES RESPONSÁVEIS PELA SUA VARIAÇÃO NO ESTADO DA BAHIA Anônio Carlos de Araújo CPF: 003.261.865-49 Cenro de Pesquisas do Cacau CEPLAC/CEPEC Faculdade de Tecnologia e Ciências de Iabuna FTC Km 22 da rodovia Ilhéus/Iabuna. Caixa Posal 07 - Iabuna-BA Email: acaraújo@cepec.gov.br Lúcia Maria Ramos Silva CPF: 046.950.973-20 Deparameno de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará (UFC) Campus do Pici, Foraleza -CE E-mail: lramos@ufc.br Rosalina Ramos Midlej CPF: 112.304.105-97 Cenro de Pesquisas do Cacau CEPLAC/CEPEC Faculdade de Tecnologia e Ciências de Iabuna FTC Km 22 da rodovia Ilhéus/Iabuna. Caixa Posal 07 - Iabuna-BA Email: rosalina@cepec.gov.br Área Temáica Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas Forma de Apresenação Apresenação com presidene da sessão e sem a presença de debaedor

2 VALOR DA PRODUÇÃO DE CACAU E ANÁLISE DOS FATORES RESPONSÁVEIS PELA SUA VARIAÇÃO NO ESTADO DA BAHIA RESUMO Analisou-se o comporameno do valor da produção de cacau e dos faores responsáveis por sua variação. Foram realizadas análises gráficas da evolução do valor da produção de cacau, da área culivada, do rendimeno e do preço do produo. Para decompor o valor da produção nos efeios área, rendimeno e preço foi uilizado o modelo shif-share. Consaou-se um declínio por um período relaivamene longo no valor da produção de cacau que conribuiu no compromeimeno econômico da região produora de cacau. Observou-se que os efeios área e rendimeno iveram um peso significaivo na redução do valor da produção no período de 1990 a 1990 e que a recuperação ocorrida, após 1999, foi em decorrência da melhoria no rendimeno e de uma fore conribuição do efeio preço. Palavras-chave: cacau, valor da produção, faores de variação.

3 EVOLUÇÃO DO VALOR DA PRODUÇÃO DE CACAU E DOS FATORES RESPON- SÁVEIS PELA SUA VARIAÇÃO NO ESTADO DA BAHIA 1. INTRODUÇÃO O cacaueiro, apesar de ser originário da região amazônica, enconrou no Esado da Bahia condições edafo-climáicas favoráveis ao seu desenvolvimeno, passando esse Esado a ser o maior produor de cacau do Brasil. A região Sudese do Esado se especializou na produção de cacau, ficando sua economia, aé enão, oalmene dependene do comporameno dessa culura. A dispersão geográfica da cacauiculura, principalmene para o sudese asiáico, associada ao aumeno da área culivada em países radicionalmene produores, como resposa a elevação dos preços do produo, ocorridos enre os anos de 1976 e 1980, provocou o desequilíbrio enre a ofera e a demanda mundial do produo e a conseqüene redução dos preços inernacionais, o que implicou em efeios indesejáveis sobre a produção brasileira (Araújo, 1997). Ainda segundo esse auor, em virude do efeio defasado do preço sobre o nível de produção, somene em 1986 a produção do Esado da Bahia aingiu o máximo com um oal de 397.362 oneladas. A conjugação da redução de preços com a queda de produção provocou impacos expressivos de ordem econômica, social e políica sobre a região produora da Bahia, cuja economia ainda se enconra alicerçada na monoculura do cacau. Além disso, a parir de 1989 surgiu um fao novo: a cacauiculura baiana foi duramene aingida pela doença conhecida por Vassoura-de-Bruxa (Alger & Caldas, 1996), causada pelo fungo Crinipellis perniciosa, que aaca os ecidos de crescimeno do cacaueiro, principalmene os ramos e fruos. Esa doença, além de ouras enfermidades, a exemplo da podridão parda, pode acarrear perdas severas de produção. As oscilações na produção e no nível de preços do cacau, no Esado da Bahia, êm resulado em variações consanes no valor da produção. Essa siuação gerou ciclos com períodos de prosperidade e recessão para a região produora. No enano, em virude da persisência da crise da cacauiculura baiana, o empobrecimeno da região se acenuou com a redução da renda regional. Assim sendo, nese rabalho preende-se analisar a evolução do valor da produção de cacau no Esado da Bahia e os faores responsáveis por sua variação de forma a conribuir para a compreensão das oscilações da renda gerada pela cacauiculura regional ao longo do empo.

4 2. METODOLOGIA Área de Esudo e Fone dos Dados A área de esudo é a região Sudese da Bahia, onde se concenra a produção de cacau no Esado, sendo responsável, no ano de 2004, por cerca de 80% da produção nacional. Essa região esá siuada na faixa liorânea enre os paralelos 13º04' e 18º11' e os meridianos 38º51' e 40º37' (CEPLAC, 2005). Segundo o IBGE (2005) a região é formada pelas microrregiões de Ilhéus/Iabuna, Poro Seguro e Valença, abrangendo 70 municípios, uma população no ano de 2000 de 1.999.748 habianes e uma área de 55.838 Km 2, o que corresponde a 15,3% da população e 9% da superfície do Esado. A economia regional ainda em por base a culura do cacau, apesar da expansão de culivos diversificados, da pecuária e de um processo de indusrialização ainda incipiene. Os principais municípios produores de cacau da região são Iabuna e Ilhéus. As informações básicas para ese rabalho foram oriundas da CEPLAC (2005), sendo os valores moneários aualizados para reais de março de 2004 pelo Índice Geral de Preços (IGP- DI), publicado pela Fundação Geúlio Vargas. Comporameno do valor da produção O comporameno do valor dos bens produzidos por uma deerminada região é um imporane indicaivo de suas condições em ermos de geração de emprego e bem esar de sua população. No caso da economia cacaueira baiana é imporane o conhecimeno da evolução do valor da produção de cacau no senido de permiir uma analise do desempenho desse seor. Deve-se mencionar que ese produo é responsável por 67,8% do valor da produção agrícola regional (IBGE, 2005). Analisou-se ambém a evolução da área de cacau em produção, rendimeno (kg/ha) e o preço, por serem os componenes formadores do valor da produção. A evolução do valor da produção, da área, do rendimeno e do preço foi analisada graficamene, como forma de auxiliar na compreensão do comporameno dessas variáveis ao longo do empo.

5 Fones de crescimeno do valor da produção 1 Uilizou-se o modelo shif-share com a finalidade de decompor a axa de crescimeno do valor da produção de cacau pago ao produor nos componene área, rendimeno e preço, esimando-se a imporância relaiva de cada faor sobre os acréscimos ou decréscimos do valor da produção. Para ese esudo fez-se uso da versão modificada do méodo shif-share uilizado por Marins (2004) e descrio por Curis (1972), ambém conhecido como méodo diferencial esruural. Apesar de ser um méodo descriivo, considera-se imporane por permiir medir as fones de crescimeno dos agregados econômicos com enfoque regional. A modificação do méodo decorre da inclusão da variável preço o que permie maior consisência nos resulados, uma vez que o valor da produção é de exrema imporância para a decisão do produor em relação ao que, quano e como planar, Marins (2004). Os efeios podem ambém ser classificados como: efeio área, efeio esruura de culivo, efeio rendimeno e efeio preço. As variações ocorridas nos valores da produção de cacau foram analisadas anualmene e segmenadas em rês períodos, envolvendo os anos de 1990 a 2004. O primeiro corresponde a um período de declínio acenuado da cacauiculura, ocorrido enre 1990 a 1999, o segundo, é represenado por uma recuperação, enre os anos de 1999 e 2004 e, o erceiro, pelo período oal. Formalização do modelo shif-share Ese modelo mede a variação enre dois ponos, normalmene em base anual, sendo o início do período denominado ano zero e o final ano. O valor da produção de cacau foi obido por: - Período inicial (0) V0 = A 0. R0. P0 (1) - Período final () V = A. R. P (2) onde: V = valor da produção de cacau (R$); A = área com cacau (ha); 1 Para maiores esclarecimenos ver ambém os esudos PATRICK (1975); IGREJA (1987); YOKOYAMA (1988); YOKOYAMA e al. (1989).

6 R = rendimeno do cacau (kg/ha); P = preço médio do cacau pago ao produor (R$/kg). Considerando-se uma aleração apenas na área no período o valor da produção poderia ser expresso como: A V = A. R. 0 P 0 (3) Se a variação no período ocorresse na área e rendimeno, manendo-se consane o preço, o valor da produção seria calculado por: ou onde: A, R V = A. R. P (4) 0 A variação oal no valor da produção enre os períodos 0 e seria: V V0 = ( A. R. P ) ( A0. R0. P0 ) (5) V V0 = (V A V A, R A AR, 0 ) + (V V ) + ( V V ) (6) V V0 = variação oal no valor da produção; V V A 0 = efeio área; V A, R A V = efeio rendimeno; V V AR, = efeio preço. Os efeios explicaivos podem ser apresenados na forma de axas anuais de crescimeno, que somadas resulam na axa anual de variação do valor da produção, aravés dos passos a seguir: a) Uilizando-se a expressão (6) e dividindo-se ambos os lados por (V - V 0 ), em-se: AR, A AR, ( V V ) ( V V ) ( V V ) + + ( V V ) ( V V ) ( V V ) A 0 1 = 0 0 0 (7) b) Deerminando-se a axa de crescimeno enre os dois períodos, em-se: r = ( V / V0 1). 100 (8) onde r é a axa de crescimeno enre os dois períodos em percenagem. c) Muliplicando-se ambos os lados de (7) por r obêm-se os efeios área, rendimeno e preço expressos em percenagem ao ano, conforme a seguir: r = A AR, A AR, ( V V0 ) V V r ( V V ) ( V V ) + r + r ( ) ( V V ) ( V V ) 0 0 0 (9)

7 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Evolução do valor da produção A Figura 1, mosra o comporameno do valor da produção de cacau, em nível de produor, no período de 1990 a 2004, em reais de março de 2004. Como se pode observar, houve grandes oscilações ao longo desse período, o que causou inseguranças e provocou crises no seor. Verifica-se que houve endência de redução do valor da produção do período que vai de 1990 a 1999, ocorrendo, conudo, mudanças nessa endência no final do período. Os resulados observados por ese esudo, mosram uma siuação que foi agravada pelo comporameno enre os anos de 1983 a 1990, em que, segundo Araújo & Campos (1998), ocorreu um decréscimo persisene no valor da produção de cacau. O valor da produção, no primeiro ano do esudo, foi de 1.147,8 milhões de reais, o que corresponde ao valor máximo do período. No ano de 1999 ocorreu o menor valor da produção de cacau, correspondene a 296.877 milhões, elevando-se, em 2004 para 560.697 milhões. A redução do valor da produção enre 1990 e 2004 foi de 51,15%. 1.400.000 1.200.000 Em milhares de reais 1.000.000 800.000 600.000 400.000 200.000 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Anos Figura 1 - Valor da produção anual de cacau em amêndoas no Esado da Bahia. Em reais de março de 2004.

8 As variáveis que influenciam direamene o valor da produção, ou seja, a área em produção de cacau, o rendimeno e o preço são mosrados na Figura 2. As variações dessas variáveis, em conjuno, resulam no comporameno do valor da produção. Conforme observado, a área uilizada com a produção de cacau maneve-se mais ou menos consane, em orno de 700 mil hecares enre 1990 e 1995, a parir de enão, declinou aé o ano de 2000, quando aingiu o paamar de 450.000 hecares, manendo-se nesse nível aé 2004. Por ouro lado, o rendimeno, apresenou declínio no período, com variações acenuadas, passando de 497 kg/ha em 1990 para 286 kg/ha em 2004, o que represenou uma redução de 42% no período. Ese comporameno pode ser aribuído, em pare, à redução do poder de compra dos produores que passaram a er dificuldades de maner os raos culurais adequados, inclusive as práicas e os defensivos recomendados para o conrole da vassoura-debruxa, além de influências climáicas (CEPLAC, 2005). Segundo Cazorla e al. (1993), a redução do rendimeno pode aconecer, ambém, como conseqüência naural do envelhecimeno das planações. Apesar da influência da idade na diminuição do poencial produivo das planações, acredia-se que o preço do produo eve uma influência imporane na redução dos raos culurais e conseqüenemene na diminuição da produção por unidade de área. No período considerado nese esudo, o declínio dos preços foi menos acenuado que na década anerior, porém, como mencionado aneriormene, a parir do ano de 1991, a doença vassoura-de-bruxa começou a provocar prejuízos à cacauiculura baiana o que conribuiu, ambém, na redução do rendimeno (Araújo, 1997). No período 1990 a 1999, o componene preço oscilou enre 2,41 e 3,85 reais, por quilograma, aingindo, no úlimo ano 2,89 reais. A parir daí os preços começaram a subir, com fore elevação em 2002, quando alcançou R$ 7,47/kg, como resulado da guerra civil em Cosa do Marfim, maior produor mundial de cacau. Após o pico, os preços iveram uma diminuição em função do esfriameno das ensões no país. 800 8,00 700 Área 7,00 Área e rendimeno 600 500 400 300 200 Preço Rendimeno 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 Preço 100 1,00 0 0,00 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Anos Figura 2 Área (milhares de hecares), rendimeno (kg/ha) e preço (kg), em reais de março de 2004, em nível de produor, no Esado da Bahia.

9 Fones de crescimeno do valor da produção Foram analisados os efeios da área, rendimeno e preço sobre a variação no valor da produção de cacau com a uilização do modelo shif-share. Esses efeios explicaivos foram apresenados em forma de axas anuais de crescimeno (Tabela 1), que somadas represenam o percenual de variação oal no valor da produção. As axas de crescimeno do valor da produção enre 1990 e 1999 apresenaram, na maior pare do período, variações negaivas em função dos efeios área, rendimeno e preço. As variações consanes e elevadas ocorridas no rendimeno, conforme descrio aneriormene, deve-se, principalmene, ao nível dos raos culurais normais, ao conrole da vassoura-debruxa e às influências climáicas. A recuperação da produção e do preço a parir de 2000 conribuiu para o aumeno do valor da produção, desacando-se o ano de 2001 com uma axa de crescimeno de 57,52%. Verifica-se, ambém, que o efeio área, a parir de 2001, foi nulo, o que significa uma esabilidade da área culivada, resulane de um processo de recuperação da culura do cacau. Tabela 1 - Fones de crescimeno do valor da produção de cacau em percenagem no Esado da Bahia. Ano Taxa de Crescimeno Efeios Área Rendimeno Preço 1990 - - - - 1991-14,89-0,42-28,36 13,89 1992-14,51-0,56 0,82-14,78 1993 24,75-0,42 9,78 15,39 1994-30,44-0,57-13,59-16,28 1995-46,77-0,57-32,29-13,91 1996 23,47-7,01 22,51 7,97 1997 1,99-7,69-10,05 19,73 1998-3,72-8,33-3,48 8,10 1999-36,53-9,09-14,54-12,90 2000 45,96-10,00 10,00 45,96 2001 57,52 0,00 29,25 28,27 2002 13,49 0,00-21,84 35,33 2003-4,64 0,00 31,71-36,35 2004-24,09 0,00-5,85-18,24 Fone dos dados básicos: CEPLAC (2005).

10 Também foi analisada a variação do valor da produção em seus componenes explicaivos segmenado em rês períodos, envolvendo os anos de 1990 a 2004. O primeiro correspondene ao período de 1990 a 1999, o segundo enre os anos de 1999 e 2004 e, o erceiro, pelo período oal.. A variação de cada fone de crescimeno foi analisada na forma de axa geomérica média anual de crescimeno, conforme apresenado na Tabela 2. Verifica-se que no período de 1990/04 ocorreu uma redução expressiva no valor da produção de cacau, correspondene a um percenual de 51,15%, enquano a axa de crescimeno com base na média geomérica anual ficou em -4,99%. Ese valor é resulado de um decréscimo acenuado na área culivada, a qual conribuiu com 3,63%, dessa redução, já o rendimeno apresenou uma variação de 2,60% e o preço 1,25% para a média anual. O resulado negaivo para o período oal, deve-se aos anos de 1990 a 1999 quando o valor da produção apresenou uma redução geomérica de 13,95% ao ano, em virude, principalmene, dos efeios área e rendimeno. No período de 1999 a 2004 ocorreu uma recuperação no valor da produção de cacau com um de crescimeno de 88,87% para o período e uma axa geomérica a- nual de 13,56%, em virude da melhoria do rendimeno e de um crescimeno expressivo nos preços do produo. Tabela 2 - Fones de crescimeno do valor da produção de cacau no Esado da Bahia em períodos selecionados, em percenagem. Taxa de Crescimeno Efeios Anos No período Média geomérica Área Rendimeno Preço 1990/04-51,15-4,99-3,63-2,60 1,25 1990/99-74,14-13,95-5,70-7,70-0,55 1999/04 88,87 13,56-1,53 5,38 9,71 Fone dos dados básicos: CEPLAC (2005). 4. CONCLUSÕES E SUGESTÕES No período analisado ocorreram fores variações do valor da produção de cacau, o qual apresenou um comporameno declinane aé 1999. Nesse período, foi verificada uma queda no rendimeno da cacauiculura, associada a uma redução da área culivada. A parir desse ano, passou a ocorrer uma recuperação no rendimeno e preço do cacau com efeios posiivos sobre a economia regional. Aravés da análise anual dos efeios área, rendimeno e preço foi possível idenificar ano a ano as variações do valor da produção e os faores responsáveis por essas variações, permiindo uma melhor compreensão da evolução da renda da cacauiculura.

11 A análise realizada, por período selecionado, permiiu quanificar a fore influência dos efeios rendimeno e área na redução do valor da produção durane o primeiro período (1990 a 1999) e deerminar que os efeios preço e rendimeno foram os responsáveis na recuperação do valor da produção de cacau no segundo período (1999 a 2004). Os resulados permiem alerar sobre o risco de concenrar a geração de emprego e renda de uma região em apenas uma aividade, ornando-se necessário, um aumeno de esforços no senido de diversificar a economia regional. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALGER, K. & CALDAS, M. Cacau na Bahia - Decadência e ameaça à Maa Alânica. Ciência Hoje - Rio de Janeiro, V. 20, N. 117, p. 28-35. Jan/fev. 1996. ARAÚJO, A. C. de, CAMPOS, R. T. Análise da evolução do valor da produção de cacau no Esado da Bahia. In: AGUILAR, D. R, PINHO, J. B. Eds. O agronegócio brasileiro: desafios e perspecivas. Poços de Caldas. V. 1. Brasília: SOBER, 1998, pp. 1029-1039. ARAÚJO, A. C. de. Os preços do cacau e suas implicações sobre a economia cacaueira baiana. Foraleza: UFC/CCA/DEA, 1997, 94p. (Disseração de Mesrado em Economia Rural). CAZORLA, I. M., SANTOS FILHO, L. P. & GASPARETTO, A. Expanaory facors of he cocoa harves falls in Bahia, Brazil. Inernaional Conference on Cocoa Economy - Baly. 19-22 ocuber 1993. Papers. p. 186-201. CEPLAC. Esaísica do cacau na Bahia. Ilhéus: CEPLAC/CENEX (Seor de programação), 2005. 1 p. (Mimeo). CURTIS, W. C. Shif-share analysis as a echnique in rural developmen research. American Journal of Agriculural Economics, V. 54, N. 2: 267-270, May 1972. Fundação Geúlio Vargas. Índice Geral de Preços Disponibilidade Inerna IGP DI. www.fgvdados.fgv.br. Acessado em 04 de fevereiro de 2005. IBGE, Censo Demográfico 2000. www.ibge.gov.br. Acessado em 04 de fevereiro de 2005. IGREJA, A. C. M. Evolução da Pecuária bovina de core no esado de São Paulo no período 1969-84 - Piracicaba: Escola Superior de Agriculura Luiz de Queiroz/USP, 1987. 197 p. (Disseração de Mesrado). MARTINS, G. Efeios da aberura comercial sobre as principais culuras produzidas na Região Nordese do Brasil. Foraleza: UFC/CCA/DEA, 2004, 95 p. (Disseração de Mesrado em Economia Rural).

12 YOKOYAMA, L. P. O crescimeno da produção e modernização das lavouras em Goiás no período 1975-1984. 1988. 109f. Disseração (Mesrado em Economia Aplicada) Escola Superior de Agriculura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1988. PATRICK, G. F. Fones de crescimeno na agriculura brasileira: o seor de culuras. In: CONTADOR, C. R. Tecnologia e Desenvolvimeno Agrícola - Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1975. p. 89-110. YOKOYAMA, L. P., IGREJA, A. C. M. & NEVES, E. M. Modelo shif-share : uma readapação meodológica e uma aplicação para o esado de Goiás. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 1989, Piracicaba. Anais. Brasília: SOBER, 1989. V. 1. p. 62-67.