Interessado: Assunto: PRT 2ª Região Conflito de Competência Havendo dubiedade para subsumir o objeto da investigação na Resolução CSMPT nº 76/2008 - principal instrumento de orientação para a solução de conflitos pela Câmara de Coordenação e Revisão e mesmo havendo regra local dispondo sobre a matéria que, em princípio, deveria ser privilegiada, excepcionalmente, por se tratar o caso concreto de ação estratégica formulada no círculo de Coordenadoria, ainda que não formalizada consoante norma recente (artigo 17, da Resolução nº 69/2007), a distribuição deve obedecer ao correspondente agir concertado institucionalmente. R e l a t ó r i o Há um conflito negativo de atribuição exteriorizado pelas manifestações de folhas 100/102-103/107-108, contrapostas às de folhas 101/105-verso/108-verso/110-114, com assentamento de: Tese: Ter sido discutida a matéria objeto da presente investigação fraudes na programação de software pelas empresas fornecedoras - em reunião da CONAFRET (Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho), com vistas à atuação uniforme; bem como o tema ter a correta classificação, na Resolução nº 76, que cria o Temário
Unificado do Ministério Público do Trabalho, no item 3.3 Outras Fraudes seara da mencionada Coordenadoria (CONAFRET), já que esse item serve, justamente, para abrigar temas inéditos que ainda não foram objeto do item específico no temário (fl. 103/supra). Antítese: O tema tem correto enquadramento na mesma Resolução, a de nº 76, no item 8.23.1 anotação irregular enquadramento nacional como matéria residual que coincide com a regra de distribuição contida no Regimento Interno da CODIN DA 2ª Região, estando referida matéria (irregularidade em software de ponto eletrônico) distribuída como residual (...) (fl. 112). Admissibilidade Não é prudente, data maxima venia, subscrever o entendimento de que a Exmª Coordenadora da CODIN aditou o conflito (fl. 113/supra), já que, em princípio, não se configura conflito de atribuição entre órgão de coordenação - de extração legal ou fruto de norma interna - e órgão agente, e sim entre membros investidos de atribuição (artigo 3º, caput, Resolução 69/2007). De qualquer sorte, desde a perspectiva da Câmara de Coordenação e Revisão, o debate é de lana caprina, vez que o
conflito não só é existente como se aperfeiçoou ( 2º, artigo 3º, idem) com as manifestações acima indicadas. Opino pelo conhecimento. M é r i t o A solução do conflito, como soe ocorrer, exige a ponderação de elementos, ainda que se possa dizer que em nome da ponderação e esse o problema fulcral, v.g., da teoria da argumentação jurídica -, abre-se um campo profícuo para o exercício de discricionariedade e decisionismo, sob os auspícios dos diversos graus de proporcionalidade, além de se (continuar a) pensar na distinção lógico-estrutural entre casos simples (que seriam solucionados por dedução ou subsunção e casos complexos, para os quais são chamados à colação os princípios). Isso para dizer o mínimo. (STRECK, Lenio Luiz. Nos vinte anos de constituição, entre verdade e consenso, o dilema contemporâneo: há respostas corretas em direito? 20 anos de constituição federal. Coordenador Walber de Moura Agra. Saraiva: São Paulo: 2009, p. 339). Assumindo o risco apontado, o primeiro elemento a ser ressaltado é a afirmação, não confrontada (fls. 107/108), de que a distribuição como matéria residual do presente procedimento segue os parâmetros definidos no RI CODIN (fl. 105/verso).
Nessa linha, a Resolução CSMPT 86/2009 ( Dispõe sobre a distribuição de procedimentos e processos no âmbito do Ministério Público do Trabalho e as designações especiais para atuação ), concedeu ao Colégio de Procuradores ampla consagração como fonte normativa local (ex vi artigo 2º; 3º caput e 5º e 7º e 6º), sem prejuízo, claro, da especialização dos núcleos temáticos (artigo 5º, idem). Consagração que ocorre, é bom que se destaque, também em outros ramos do Ministério Público da União (ex vi PGR, 4ª Câmara de Coordenação e Revisão. Ata da 178ª Reunião Ordinária. 46)MPF PGR n os 1.00.000.008168/2005-21; 1.00.000.008647/2002 e 1.00.000.009546/2004-11. (...), a Unidade de Tutela Coletiva da Procuradoria da República de Santa Catarina havia se reunido e deliberado por unanimidade sobre a distribuição dos feitos na área de meio ambiente e patrimônio cultural, tendo sido atribuídos a ele (suscitante) os feitos relacionados a: construções em praia; dunas (construção ou danos); loteamento e SPU cancelamentos de aforamentos). Ademais, o elemento da especialização dos núcleos temáticos também se relativiza, no caso específico, por outro motivo, que é o seu caráter ínsito, ou estruturalmente, genérico como classificador na CONAFRET ( 3.3. Outras fraudes ) da apuração de fornecimento por empresas do ramo de programas de software hábeis à manipulação da jornada pelos empregadores, indeterminação que, et pour cause, num movimento duplo, por um lado, afasta o objeto investigado da especialização, por outro, o aproxima de Outros Temas (Resolução nº 76/2008 item 08.), afinal fraude trabalhista, entendida como gênero, abarca quase todas as ações da promotoria do trabalho.
Registre-se, em acréscimo, que a interiorização do saber no seio das Coordenadorias, com a expansão da complexidade própria à especialização, não exclui, ao contrário estimula, sua apropriação por todos os órgãos agentes, sobretudo de outras Coordenadorias e inclusive de outros ramos do parquet. Exemplo atual e marcante da apontada e necessária sinergia é que a CODEMAT, por meio da Comissão que prepara o planejamento da força tarefa para a semana programada de inspeções (16 a 21/11/2009), além de integrar ( {m} a definição de estratégias conjuntas com a... ) à ação a própria CONAFRET, e também a CONALIS, dispôs com relação às fraudes que, verbatim: (...) {c} Com relação às fraudes trabalhistas, pode-se verificar a falta de registro de empregados e terceirizados, falta do contrato social das empresas prestadoras de serviços e da empresa principal, falta de contrato da empresa principal com as terceirizadas e existência de empregados menores de 18 anos; (...) Na hipótese sub oculis, contudo, presente a tensão entre o texto proposto referida resolução que dispõe de dois locus para o exercício das teses exegético-dedutivistas-subsuntivas, os itens 3.3/Outras fraudes e 8.23.1/Anotação Irregular e o sentido que deve alcançar a sua aplicação na situação concreta, parece decisivo o reconhecimento de que, para além de um saber especializado que, uma vez elaborado, pode, e deve, ser apropriado por quem dele necessite, configura-se um plano de ação institucional, com desdobramentos práticos, como
dá sinal inequívoco a seguinte orientação da CONAFRET, verbatim: ORIENTAÇÕES DA COORDENADORIA NACIONAL DE COMBATE ÀS FRAUDES NAS RELAÇÕES DE TRABALHO (...) 24. Fraudes Praticadas por Empresas Fornecedoras de Software para Ponto Eletrônico. Há possibilidade de fraude no registro do ponto eletrônico, em razão da existência de programas (Software) que propiciam a adulteração dos registros. 1. Nos procedimentos em curso, caso apurada a fraude, recomenda-se ao Procurador oficiante que comunique o fato à Coordenadoria Nacional e oficie ao Presidente do Tribunal Regional do Trabalho respectivo, cientificando-o da comercialização, em âmbito nacional, desse tipo de programa, solicitando-lhe, ainda, a divulgação da notícia entre os Juízes do Trabalho; 2. Que seja buscada, ainda, a responsabilização penal; 3. Na investigação dos casos concretos, recomenda-se a adoção de medidas impeditivas da fraude, tais como a) a emissão de recibo, para o trabalhador, no ato do registro da jornada; b) a gestão, junto ao INMETRO, para a criação de mecanismos técnicos de segurança; c) prévio licenciamento para a comercialização do software do ponto eletrônico, de modo que a operação no sistema seja visualizada pela fiscalização, sem que possam ser apagados os dados ou operações; 4. A existência de uma comissão normativa no Ministério do Trabalho e Emprego sugere o acompanhamento dos trabalhos pelo Ministério Público do Trabalho, com vistas à adoção, na norma a ser criada, das medidas preconizadas nas letras de a a c do sub-item 3. (sem negrito no original) E se dúvida houvesse, na última Reunião da CONAFRET, ficou assentado - direção que se presume ter o beneplácito de todos os integrantes, mesmo daqueles que eventualmente tenham sido vencidos, da referida Coordenadoria - verbo ad verbum: Informes sobre a regulamentação do registro eletrônico de jornada. MTE. Estratégias para as investigações em curso sobre a matéria. A partir de relatório do Ministério do Trabalho, que identificou 26 empresas produtoras de software de controle de ponto, suscetíveis de
manipulação, deliberou-se por oficiar as regionais para que, em não havendo investigação em curso, instaurem representações contra as empresas identificadas pelo Ministério do Trabalho, no documento encaminhado à CONAFRET, adotando as medidas preconizadas na Orientação 24 da coordenadoria a respeito do tema, ressalvando-se a independência funcional. Foi sugerido, como estratégia, que as empresas produtoras de software manipulável seja instadas a promover recal dos seus produtos comercializados, devendo informar ao MPT aquelas que se recusaram a atualizar o software. Síntese: Havendo dubiedade para subsumir o objeto da investigação na Resolução CSMPT nº 76/2008 - principal instrumento de orientação para a solução de conflitos pela Câmara de Coordenação e Revisão e mesmo havendo regra local dispondo sobre a matéria que, em princípio, deveria ser privilegiada, excepcionalmente, por se tratar o caso concreto de ação estratégica formulada no círculo de Coordenadoria, ainda que não formalizada consoante norma recente (artigo 17, da Resolução nº 69/2007), a distribuição deve obedecer ao correspondente agir concertado institucionalmente. C o n c l u s ã o Por esses fundamentos, a proposta de voto é por fixar a atribuição da condução do procedimento ao ilustre Procurador Ronaldo Lima dos Santos, com devolução dos autos ao Cartório da Câmara de Coordenação e Revisão para os devidos fins, assim como, cumprindo a atribuição de integração prevista no inciso I, artigo, 103 da Lei Complementar 75/93, para que se dê
ciência, se acolhida a proposta de voto pelos demais integrantes da Câmara de Coordenação e Revisão, ao Egrégio Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho e as Coordenadorias Nacionais de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho e de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho. Brasília, 18 de setembro de 2009 Rogério Rodriguez Fernandez Filho Subprocurador Geral do Trabalho