EGC Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação Resenha Crítica: Qual a relação entre competitividade, gestão do conhecimento e tecnologia da informação? Paulo Fernando da Silva Para discutirmos a relação entre competitividade, gestão do conhecimento e tecnologia da informação, iniciaremos com a análise do artigo de Vasconcelos e Cyrino que discute as quatro principais correntes de estratégia organizacional de competitividade. Após observar que a escola econômica neoclássica é bastante superficial, pois considera premissas de equilíbrio e certeza entre as relações de mercados, fatores estes não observados na dinâmica das relações entre empresas, Vasconcelos e Cyrino passa a destacar a mudança como fator natural e constante na relação entre as organizações. Sendo assim, as organizações que tiverem uma boa capacidade de mudança e puderem se adaptar rapidamente a novos cenários terão uma vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes. Juntamente com a mudança a flexibilidade é outro fator importante para a vantagem competitiva dentro deste cenário de mudanças destacado por Vasconcelos e Cyrino. Relacionando este primeiro fator de vantagem competitiva com a gestão do conhecimento e a gestão da tecnologia da informação, podemos observar que estas duas áreas desempenham um papel importante no sentido permitir maior flexibilidade e conseqüentemente maior capacidade de mudança para as organizações. A gestão do conhecimento permite que a organização conheça o seu estado atual (processos, habilidades, etc) de modo que possa a partir desta base de conhecimento decidir quais caminhos tomar em um cenário de mudanças e também quais são suas possibilidades dentro deste cenário. A tecnologia da informação (uma boa gestão dela) permite que a empresa obtenha informações gerenciais rapidamente, tenha uma previsão de mudanças e possa adaptar seus processos, seus recursos tecnológicos e seus sistemas informação, de modo a atender aos requisitos estabelecidos pelo mercado após as mudanças constantes. Ou seja, gestão do conhecimento e tecnologia da informação são ferramentas de apoio à mudança e flexibilidade, contribuindo desta forma com a competitividade em um cenário que demanda mudanças constantes.
De acordo com a análise de Vasconcelos e Cyrino as estratégias de competitividade discutidas podem apresentar fontes internas ou externas de influência. (1) A análise da estrutura ou de posicionamento e (2) processos de mercado são correntes de vantagem competitiva que influência externa. Já (3) recursos e competência e (4) capacidade dinâmicas possuem influência externa. Na Análise estrutural ou de posicionamento defende-se que a competitividade de uma organização é ditada pela concorrência, ou pelas influências externas do mercado. Então para melhorar sua competitividade a organização deveria definir seu posicionamento frente ao mercado ou frente à concorrência e com base neste posicionamento estaria definido seu grau de competitividade. Um exemplo de posicionamento para competitividade é a definição de sua estratégia de preço frente à concorrência. Em outra corrente de análise externa Processos de Mercado a competitividade ainda é um fator definido pelo mercado ou pela concorrência, porém não considera apenas a estrutura do concorrente, mas também sua dinâmica de funcionamento. Esta análise da competitividade já considera a mudança como um fator permanente no mercado e nas relações entre empresas. Questões como inovação e melhoria contínua são observadas como fatores de geração de competitividade. Neste sentido esta corrente prega a competição e a descoberta e geração de conhecimento como fatores geradores de competitividade no mercado. Considerando agora as correntes de competitividade de influência interna, a corrente de Recursos e Competências defende que as organizações se diferenciam pelas suas próprias escolhas, independentemente de serem influenciadas ou forçadas por fatores externos ou pela concorrência. Esta corrente destaca a heterogeneidade entre as organizações e conseqüentemente enfatiza a diferença de conhecimento existente entre elas. As diferenças residem principalmente no modo como cada organização decide gerenciar seus recursos. A gestão diferenciada de recursos faz com que as organizações tenham resultados (desempenhos) diferenciados e isto gera a competitividade final. Para que as organizações tenham diferenciação competitiva através de Recursos e Competências, um fator destacado por Vasconcelos e Cyrino é a dificuldade de transferência do recurso ou competência. Quanto mais difícil for para o concorrente obter ou copiar os recursos e competências de uma organização, mais difícil será alcançá-la competitivamente. Um exemplo de recurso intransferível de competitividade é aquele protegido por direitos de propriedade intelectual.
O quarto modelo considera a competitividade um fator de influência interna da organização e defende uma fusão da teoria dos processos de mercado, que é de influência externa e considera a dinâmica, com a teoria dos recursos e competência, que é interna e considera as habilidades organizacionais. Esta fusão resulta no modelo de Capacidades Dinâmicas, que é baseado na dinâmica dos processos e da inovação, porém considerando estes como fatores internos (e não externos como no modelo de Processos de Mercado). Unindo os recursos e competências internas com a dinâmica dos processos e da inovação este modelo busca encontrar processos de inovação para que as habilidades internas possam se desenvolver de modo contínuo e flexível e desta forma a organização possa evoluir de modo interno e aumentar sua competitividade. Ainda segundo Vasconcelos e Cyrino é a antecipação da transformação de seus recursos que garante a competitividade contínua de uma organização. Analisando os quarto modelos de competitividade apresentados acima e os confrontado com a gestão do conhecimento e a tecnologia da informação, observamos que tanto gestão do conhecimento quanto tecnologia da informação são ferramentas importantes de suporte e diferenciação nos modelos de competitividade. Principalmente nos modelos de influência interna, a gestão do conhecimento é essencial para que a organização armazene, conheça, dissemine e melhore o conhecimento a respeito de seus processos e habilidades. Também a tecnologia da informação e os sistemas de informação passam a ter um papel importante na competitividade no sentido de coletar, transformar e disponibilizar informações para a tomada de decisão com relação aos fatores externos de mercado e concorrência e com relação aos fatores internos de processos e capacidades, considerando ainda que os sistemas de informação e a infraestrutura de tecnologia da informação servem de suporte também para a gestão do conhecimento. Silva em seu artigo Informação e Competitividade: a contextualização da gestão do conhecimento nos processos organizacionais também aborda em seu a relação entre competitividade, gestão do conhecimento e tecnologia da informação, porém com um enfoque um pouco diferente de Vasconcelos e Cyrino. Silva destaca como pode ser realizada a gestão do conhecimento em uma organização com foco na competitividade, e quais a vantagens potenciais de tal gestão para a organização. Segundo Silva na sociedade da informação os recursos econômicos de uma organização vão além dos recursos tradicionais (capital, naturais, mão-de-obra) abrangendo também
o conhecimento organizacional. O conhecimento organizacional passa a ter valor no sentido de que, quando aplicado ao produto ou processo produtivo, gera inovação para a organização, e esta inovação gera um aumento de competitividade. Surge então na organização um novo tipo de trabalhador, o trabalhador do conhecimento, responsável por coletar, gerenciar e aplicar o conhecimento organizacional aos produtos e processos produtivos, gerando assim a inovação e competitividade. A abordagem adotada por Silva para relacionar gestão do conhecimento com competitividade vem ao encontro do modelo de competitividade de Capacidades Dinâmicas discutido por Vasconcelos e Cyrino, onde a competitividade é obtida através de um ambiente dinâmico de inovação influenciado por fatores internos. De acordo com a abordagem de Silva os fatores internos dinâmicos responsáveis pela geração de inovação e conseqüente competitividade são justamente os conhecimentos organizacionais, gerados a partir da gestão do conhecimento. Ainda segundo Silva a geração de conhecimento em uma organização com foco na obtenção de competitividade está intimamente ligada ao desenvolvimento de suas competências e capacidades. Para tanto, quatro atividades são essenciais para a geração de conhecimento organizacional: Compartilhamento da tarefa: consiste em reunir informações de diferentes pontos de vista para a solução de um problema. Esta atividade faz com que o conhecimento de diferentes indivíduos seja unido na busca da solução ou melhoria; Integração da solução: consiste em consultar o cliente com relação à solução proposta na etapa anterior. Esta etapa faz com que o cliente adicione seu conhecimento à solução; Experimentação: consiste na criação de protótipos de solução, fazendo com que a organização aprenda com a solução e com os erros não previstos. Importação de conhecimento: consiste na obtenção de conhecimento externo à organização, através de documentações, jornais, revistas, pesquisas de mercado, etc. As organizações orientadas à gestão do conhecimento não se enquadram no padrão de produção estável com formas organizacionais permanentes, ao contrário apresentam um
cenário flexível, descentralizado e rapidamente adaptativo à mudanças ambientais. Para Silva o formato necessário à gestão do conhecimento é alcançado através das novas tecnologias de informação e comunicação. Neste ponto do artigo de Silva podemos observar a relação entre gestão do conhecimento e tecnologia da informação, conforme o artigo esta relação estabelece-se no sentido de que a tecnologia da informação é a infra-estrutura que possibilita a gestão do conhecimento. E conforme observado no início do artigo, a gestão do conhecimento é uma importante ferramenta para a geração de inovação e conseqüente competitividade das organizações. Sendo assim, neste ponto Silva já traçou a sua relação entre competitividade, gestão do conhecimento e tecnologia da informação. Nas organizações com alto nível de inovação, dinamismo e flexibilidade o trabalho tende para aspectos cognitivos ao invés de aspectos técnicos. O desafio das organizações está em transformar estes aspectos cognitivos em conhecimento e em reter o conhecimento dentro da organização. Novamente a gestão do conhecimento aparece como fator necessário às organizações inovadoras que trabalham em ambientes dinâmicos (modelo de Capacidade Dinâmicas de Vasconcelos e Cyrino). Silva ainda destaca que quanto mais difícil for para um concorrente copiar o conhecimento de uma organização, maior será a vantagem competitiva da organização detentora do conhecimento. Uma organização torna seu conhecimento mais difícil de ser copiado à medida que aumenta a quantidade de conhecimento tácito (conhecimento de difícil representação) sob seu controle. A tecnologia da informação pode ser um meio para a transformação de conhecimento tático em conhecimento explícito (conhecimento formalmente definido), através do cruzamento de informações de grandes bases de dados (data warehousing, data mining), da representação da informação em bases de dados relacionais, formatos multimídia e hipertextos. Desta forma a tecnologia da informação facilita a formalização de conhecimento na organização, contribuindo para a gestão do conhecimento, inovação e conseqüente competitividade. Silva conclui seu artigo destacando vantagens competitivas geradas pela gestão do conhecimento em vários setores da organização, como: finanças, recursos humanos, qualidade, tecnologia da informação, marketing e vendas, onde a gestão do conhecimento pode contribuir no gerenciamento de recursos intangíveis, definição de
processos de negócio e transformação de conhecimento tático em conhecimento explícito. Tanto Vasconcelos e Cyrino quanto Silva abordaram a questão da vantagem competitiva das organizações. Vasconcelos e Cyrino fixaram-se nos modelos de competitividade das organizações, citando dois modelos mais estáticos: Análise de Posicionamento e Recursos e Competências; e dois modelos mais dinâmicos: Processos de Mercado e Capacidades Dinâmicas. Particularmente nos modelos mais dinâmicos a inovação, flexibilidade e capacidade de mudança foram características destacadas. Silva já abordou a competitividade especificamente do ponto de vista da gestão do conhecimento, sem considerar modelos de competitividade organizacionais. Seu artigo conclui que a gestão de conhecimento contribui para uma vantagem competitiva no sentido de gerar inovação e flexibilidade para a organização em ambientes dinâmicos (com tendências à mudança). Unindo os pontos de vista dos dois artigos, esta análise pode concluir que a gestão do conhecimento é aplicada principalmente aos modelos de Processos de Mercado e Capacidades Dinâmicas, onde o ambiente organizacional é dinâmico e a empresa precisa estar apta a adaptações rápidas. Esta análise também conclui que a gestão do conhecimento se relaciona com a competitividade no sentido de que ela gera inovação na organização, e a inovação gera vantagem competitiva. Já a gestão do conhecimento se relaciona com a tecnologia da informação no sentido de que a tecnologia da informação serve de base, suporte ou infra-estrutura para a implementação da gestão do conhecimento. REFERÊNCIAS VASCONCELOS, F. C, CYRINO, A. B. Vantagem Competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacionais. RAE Revista de Administração de Empresas. Dez 2000. SILVA, Sérgio Luis. Informação e Competitividade: contextualização da gestão do conhecimento nos processos organizacionais. Sielo Ciência da Informação. Vol.31 no.2 Brasília May/Aug. 2002.