Sequências Didáticas para o ensino de Língua Portuguesa: objetos de aprendizagem na criação de tirinhas Manoela Afonso UNESP - Campus Bauru-SP manoela_afonso@hotmail.com Comunicação Oral Pesquisa Concluída 1. Introdução A tecnologia e seus usos trouxeram novas configurações para a vida cotidiana dos seres humanos em todo o planeta. Como consequência desses usos, a escola também tem se reorganizado para atender a demanda por tecnologia, a fim de apresentar abordagens diferentes para a aprendizagem dos estudantes. Diante disso, uma das possibilidades para se criar um ambiente escolar mais diversificado é por meio da utilização dos objetos de aprendizagem. Essa proposta coloca os objetos de aprendizagem (doravante OA) como ferramentas reutilizáveis que auxiliam o ensino e a aprendizagem, disponibilizados em repositórios na rede Internet (RIVED, 2013 apud BARDY, 2013). Assim, com os OA, torna-se possível um uso efetivo da tecnologia voltada para as atividades escolares, de modo a dar sentido na construção do saber. Para Bardy (2013, p.275), os OA apresentam-se como um dos recursos do processo de ensino e aprendizagem, isto é, potencializando a aprendizagem de todos os estudantes [...] auxiliando os professores na adoção de novas estratégias de ensino. Diante disso, percebe-se que não só os alunos são beneficiados por esses objetos voltados ao ensino, já que o uso dos OA, no contexto escolar, abrange todos os envolvidos no processo educacional (BARDY, 2013, p.275). Desse modo, voltando nossa investigação às práticas escolares nas aulas de língua portuguesa, a partir da noção de gênero textual (BRONCKART, 2003) e da organização das atividades de linguagem por meio de sequências 1
didáticas (DOLZ & SCHNEUWLY, 2004), esta pesquisa visa analisar o processo de aprendizagem, questionando se o uso do OA traz ou não um impacto positivo na produção escrita dos alunos. Para tal finalidade, optou-se por um trabalho com o gênero História em Quadrinhos (HQ) que, de acordo com Eisner (1989) se apresenta como uma forma popular de leitura comunicando-se numa linguagem de fácil compreensão para os leitores. Logo, as HQs configuram-se como um gênero de certa familiaridade entre os alunos, os quais as privilegiam em suas leituras escolares. Então, o presente trabalho foca a realização de uma busca em que os AO sejam ferramentas auxiliares a fim de se verificar a apropriação dos alunos, por meio das atividades de linguagem, do gênero HQ e das capacidades que necessárias mobilizar para a produção escrita dos alunos. 2. Metodologia Os objetivos desta investigação focaram na apreensão e apropriação dos alunos do objeto de aprendizagem em favor da atividade didática proposta, e no analisar do resultado das produções textuais, verificando se o uso do OA melhorou o desempenho da escrita dos estudantes, num processo de comparação da produção inicial com a produção final. O enfoque metodológico deu-se por meio de um trabalho numa escola municipal do centro-oeste paulista, com quarenta e três alunos do 6º ano do Ensino Fundamental Anos Finais. Trata-se de uma turma heterogênea, com a presença, inclusive de alunos com deficiência. A pesquisa iniciou-se com o planejamento da sequência didática, produzida a partir de vários textos representativos do gênero textual HQ, sendo aplicada em duas aulas. Já neste momento, uma primeira produção escrita foi realizada em duplas. Partindo destas produções, foram levantadas as dificuldades dos alunos sobre aspectos relacionados ao contexto de produção, aos elementos planificadores do gênero, além das marcas linguísticas e discursivas próprias do domínio do narrar. Tomadas as dificuldades como base para a elaboração das atividades modulares, estas foram trabalhadas em mais cinco aulas, como uma recuperação das defasagens encontradas na produção inicial. Assim, os 2
estudantes foram sendo preparados para a refacção da primeira produção, ou seja, para a produção final. Na produção final, os alunos foram encaminhados para o laboratório de informática da escola, com o propósito de utilizar o AO um site de criação de HQs voltado ao público pré-adolescente - para a confecção da HQ. Neste momento, trabalhando novamente em pares, os estudantes reelaboraram suas produções iniciais por meio dos recursos disponibilizados pelo site. O site, por sua vez, apresentou uma interface bastante simples, com poucos recursos, mas o suficiente para que os alunos realizassem o que foi solicitado na atividade proposta. 3. Resultados e Discussão Ficou claro que o trabalho com o AO promoveu uma prática mais lúdica, chamando a atenção dos estudantes para um entendimento que as atividades da escola podem ser divertidas. Observou-se que houve uma familiarização da turma com o gênero textual escolhido, o que gerou também um interesse maior pelas tarefas propostas. Assim, o uso do OA levou os estudantes a participarem com entusiasmo das aulas. Ainda, proporcionou a superação de uma parcela relevante dos alunos, no que diz respeito aos problemas na sucessão lógica dos fatos na escrita, já que as maiores dificuldades dos estudantes estão na elaboração da coerência na sequência de fatos na história, bem como no entendimento das comandas voltadas para a proposta da produção escrita. Detectou-se, a partir da análise das produções finais, muitas marcas de oralidade na escrita, além do fato de que algumas duplas não finalizaram as HQs. Em menor decorrência, pontuação deficitária e mistura de turnos de fala também foram visualizados. Como a produção demandava a organização da história em apenas três quadrinhos, parte dos estudantes não conseguiu construir uma sequência coerente, dentro de uma progressão temporal nas situações da HQ. Fica evidente, então, que esta investigação se limitou a uma análise preliminar das dificuldades dos alunos com gêneros do domínio do narrar. 3
Considerações finais Assim, pode-se afirmar que os OA auxiliam no trabalho docente enquanto ferramenta didática disponível para não só trazer a tecnologia para o ambiente escolar de forma obrigatória e sem objetivo, mas também para ser usada a favor de um propósito didático bem definido. Logo, os OA, subsidiados pelo uso do computador, podem ser adaptados aos diferentes estilos de aprendizagem, [...] às diferentes situações de ensino e aprendizagem, inclusive dando margem à criação de novas abordagens de ensino. (BARDY, 2003). Contudo, ainda que considerados como recursos relevantes para a melhoria no processo de ensino e aprendizagem de conteúdos disciplinares (BARDY, 2003), e de conseguir auxiliar na superação de algumas dificuldades ligadas à planificação da HQ, as maiores defasagens dos alunos não foram sanadas, já que demandam um trabalho maior e mais complexo com gêneros do domínio do narrar. PALAVRAS-CHAVE: sequência didática; objetos de aprendizagem; tirinhas. REFERÊNCIAS BARDY, L.R. et al., Objetos de Aprendizagem como Recurso Pedagógico em Contextos Inclusivos: Subsídios para a Formação de Professores a Distância, Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v. 19, n.2, p. 273-288, Abr.-Jun., 2013. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Objetos de aprendizagem: uma proposta de recurso pedagógico/organização: Carmem Lúcia Prata, Anna Christina Aun de Azevedo Nascimento. Brasília : MEC, SEED, 2007. BRONCKART, J. P. Atividades de linguagem, textos e discurso: por um interacionismo sócio-discursivo. Trad. Anna Raquel Machado, Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 2003. DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado das Letras, 2004. 4
EISNER, W. Quadrinhos e Arte Sequencial. Tradução Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 5