Entraves às exportações brasileiras limitam o crescimento das vendas ao exterior



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propostas de política comercial Entraves às exportações brasileiras limitam o crescimento das vendas ao exterior Marcelo Souza Azevedo O Brasil não pode cair na armadilha de acreditar que o mercado consumidor brasileiro é suficiente para garantir a competitividade e capaz de impulsionar, sozinho, o crescimento da indústria nacional. Primeiramente, embora o mercado brasileiro seja um dos dez maiores do mundo, representa apenas 4% da demanda mundial. Mas talvez ainda mais relevante seja o fato que a participação no comércio internacional e nas redes globais de valor induz o aumento da produtividade e a capacidade de inovação da indústria por conta das economias de escala, troca de conhecimento e acesso a mercados consumidores mais maduros e sofisticados. É necessário também destacar que nas últimas décadas a atividade industrial vem passando por transformações significativas: a manufatura está gradativamente deixando de ser uma atividade local e passando a ser global. Empresas e até mesmo países se especializam não na fabricação de bens, mas de etapas do processo produtivo. Essa fragmentação da produção redesenhou o mapa da produção industrial. Países sem um parque industrial estruturado e integrado, mas capazes de produzir a baixo custo e entregar em pouco tempo, têm agora a oportunidade de participar de cadeias globais de valor. Países mais desenvolvidos podem se concentrar em etapas de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Nesse cenário, como se insere o Brasil? Embora tenha a sétima economia mundial, o Brasil só figura como o 22º colocado no ranking de países exportadores. Marcelo Souza Azevedo é da Gerência-Executiva de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria CNI. 40 RBCE - 119

E, ao se analisar somente as manufaturas, a situação é ainda mais desfavorável: ocupamos o 29º lugar. As vendas externas brasileiras representam pouco mais de 1% do total mundial, participação que cai para 0,7% no caso dos manufaturados. Por que esse desempenho? Os resultados da pesquisa Entraves às Exportações Brasileiras, realizada pela Confederação Nacional da Indústria, mostram que as empresas exportadoras brasileiras não enfrentam apenas uma, mas uma série de dificuldades no processo exportador. OITO EM CADA DEZ EMPRESAS EXPORTADORAS ENCONTRAM PROBLEMAS PARA EXPANDIR AS EXPORTAÇÕES 83,6% dos empresários consultados na pesquisa Entraves às Exportações Brasileiras identificaram dificuldades à expansão das vendas externas. A taxa de câmbio (que se encontrava em R$ 2,10/US$ no momento da pesquisa) foi apontada como o principal obstáculo para o crescimento das exportações, assinalado por 46,3% dos empresários que encontram dificuldades. A elevada assinalação desse problema mostra o quão fundamental se torna a superação de todos os outros problemas para o setor exportador. Como a valorização do câmbio reduz a competitividade dos produtos exportados, qualquer redução de custo, seja na produção, seja na logística, seja no processo exportador, torna-se fundamental. Gráfico 1 PRINCIPAIS ENTRAVES À EXPANSÃO DAS EXPORTAÇÕES* (EM %) Taxa de câmbio Burocracia alfandegária / aduaneira Burocracia tributária Greves na movimentação e liberação de cargas Frete internacional Tributos e ressarcimento de créditos tributários Adequação de produtos e processos Barreiras tarifárias ao produto no mercado de destino Operações portuárias e/ou aeroportuárias Acesso ao financiamento das exportações Financiamento da produção Barreiras técnicas ao produto no mercado de destino Transporte interno Serviços de apoio à promoção das exportações Exigências/adequações no canal de comercialização Seguro de crédito Manuseio/embalagem/armazenagem fora do aeropot. Outros BUROCRACIA É UM DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS A SE ENFRENTAR O segundo principal entrave para a expansão das exportações é a burocracia alfandegária e aduaneira, assinalado por 44,4% dos empresários que encontram dificuldade para exportar. Explorando mais o problema da burocracia, a pesquisa revela que 78,9% das empresas afirmaram que algum processo alfandegário/ aduaneiro afeta negativamente as operações de exportação. Esse percentual aumenta de acordo com a participação das exportações no faturamento da empresa, alcançando 88,7% no caso das empresas cujas exportações respondem por mais de 50% do faturamento. O processo alfandegário/ aduaneiro que mais afeta negativamente as exportações é a liberação de cargas 3,6 * Percentual sobre total de empresas que identifi cam difi culdades para a expansão das exportações. 5,4 9,0 8,4 9,7 12,9 12,9 12,0 15,9 18,5 18,4 17,6 20,4 23,0 28,3 27,2 44,4 46,3 (desembaraço aduaneiro), assinalado por 58,9% das empresas afetadas negativamente por processos alfandegários/aduaneiros. O pagamento de honorários e taxas aduaneiras ficou no segundo lugar. O ranking completo encontra-se no Gráfico 2. As empresas são fiscalizadas por, em média, 4,3 órgãos anuentes/ intervenientes/ fiscalizadores durante o processo de exportação. O principal problema das empresas ao lidar com esses órgãos é o número excessivo de documentos exigidos, assinalado por 53,3% das empresas cujas operações de exportação são impactadas negativamente por processos alfandegários/ aduaneiros. O problema é maior, sobretudo, entre as empresas de menor porte, que muitas vezes têm um grupo limitado de profissionais voltados para lidar com essas questões. RBCE - 119 41

Como a valorização do câmbio reduz a competitividade dos produtos exportados, qualquer redução de custo, seja na produção, seja na logística, seja no processo exportador, torna-se fundamental Gráfico 2 PROCESSOS CUJA BUROCRACIA ALFANDEGÁRIA/ADUANEIRA MAIS IMPACTAM NEGATIVAMENTE AS EXPORTAÇÕES (EM %)* Liberação de cargas/desembaraço aduaneiro Pagamento de honorários e taxas aduaneiras Processamento de documentos e parametrização Inspeção aduaneira de mercadoriais 34,7 38,9 38,5 58,9 Inspeção física de mercadorias 27,4 Obtenção de anuencia pelos órgãos competentes 25,6 Obtenção de certificados fitossanitários 13,3 Outros 2,0 * Percentual sobre total de empresas cujas operações de exportação são impactadas negativamente por algum processo alfandegário/aduaneiro. Gráfico 3 IMPACTO NEGATIVO NAS EXPORTAÇÕES DE EMPRESAS FISCALIZADAS (EM %)* Número excessivo de documentos exigidos 53,3 Baixa agilidade na análise/resposta 41,9 Demora na vistoria/inspeção 37,8 Falta de coordenação/comunicação entre os outros órgãos 25,4 Baixa capacidade de atendimento 17,7 Repetição de documentos exigidos entre os outros órgãos 12,8 Dificuldade de agendamento de vistorias/inspeções Horários de atendimento insuficientes Baixa divulgação das normas e exigências Falta de transparência Defasagem tecnológica Necessidade de deslocamentos Prazos inexequíveis para atendimento das exigências Outros 9,2 9,2 9,0 7,7 6,1 4,4 4,1 4,4 * Percentual sobre total de empresas cujas operações de exportação são impactadas negativamente por algum processo alfandegário/aduaneiro. Em seguida, a baixa agilidade na análise resposta, assinalado por 41,9% das empresas e demora na vistoria/inspeção, assinalado por 37,8% das empresas são, respectivamente, o segundo e terceiro procedimentos que mais atrapalham o processo exportador. Esses problemas ganham importância de acordo com o porte das empresas. A baixa agilidade de resposta é o principal problema 42 RBCE - 119

para as grandes empresas, assinalado por 60,9% delas. SISTEMA TRIBUTÁRIO REDUZ COMPETITIVIDADE E CRIA BUROCRACIA O sistema tributário prejudica a atividade exportadora de duas formas. Primeiro, com a burocracia tributária, considerada o terceiro principal entrave enfrentado pelas empresas para expandir suas exportações (assinalado por 28,3% das empresas). Em segundo lugar, os tributos em si e os problemas enfrentados pelas empresas quando procuram receber ressarcimento de créditos tributários (entrave assinalado por 20,4% das empresas). Praticamente a totalidade das empresas consultadas (98,1%) afirmam que pelo menos um imposto entre o IPI, ICMS, PIS/ Cofins, INSS e o ISS afetam negativamente a competitividade externa de seus produtos. 39,9% das empresas consultadas na pesquisa afirmam que esse impacto é grande. Mesmo os tributos que possuem mecanismos de ressarcimento afetam a competitividade porque são demorados e ineficientes. Pouco mais de um terço das empresas exportadoras consultadas (34,3%) possuem créditos tributários de PIS/COFINS, IPI e/ou ICMS acumulados e não ressarcidos por um período superior a três meses. O percentual é crescente de acordo com o porte e, principalmente, com a participação das exportações na receita da empresa. Para as empresas predominantemente exportadoras (acima de 50% do faturamento representado por exportação) são 58,8% (PIS/Cofins), 43,3% (IPI) e 54,6% (ICMS). A maioria das empresas com créditos acumulados conhece Gráfico 4 DIFICULDADES ENFRENTADAS NOS MECANISMOS DE RESSARCIMENTO - PIS/COFINS E IPI (EM %) Demora no ressarcimento dos créditos em espécie Demora na homologação dos pedidos de compensação Impossibilidade da transferência dos créditos para terceiroso Dificuldades na apuração (no cálculo) do crédito a ser ressarcido Não recebimento do ressarcimento dos créditos em espécie Impossibilidade da transferência dos créditos para empresas do mesmo grupo Outras Percentual sobre total de empresas com créditos acumulados e não ressarcidos por mais de três meses, que conhecem os mecanismos e enfrentam difi culdades para utilizá-los. Gráfico 5 DIFICULDADES ENFRENTADAS NOS MECANISMOS DE RESSARCIMENTO - ICMS (EM %) Dificuldades para transferência dos créditos para terceiros Não recebimento do ressarcimento dos créditos em espécie Demora no ressarcimento dos créditos em espécie Dificuldades para transferência dos créditos para outra empresa do mesmo grupo Outras Percentual sobre total de empresas com créditos acumulados e não ressarcidos por mais de três meses, que conhecem os mecanismos e enfrentam difi culdades para utilizá-los. os mecanismos de ressarcimento (88,3% conhecem o mecanismo de PIS/Cofins e IPI, 89,8% conhecem o mecanismo do ICMS). Contudo, uma minoria das empresas que conhece o mecanismo não encontra dificuldades no seu uso: apenas 13,0% das empresas que conhecem o mecanismo e têm créditos acumulados no caso do PIS/Cofins e IPI e 16,4% no caso do ICMS. 4,1 8,2 13,3 14,3 22,7 21,6 25,8 44,9 42,9 49,5 47,4 63,3 Essas dificuldades que as empresas vêm enfrentando nos mecanismos de ressarcimento geram longos períodos de espera às vezes infrutíferos para o recebimento de créditos. Um terço das empresas leva mais de um ano para reaver seus créditos, enquanto mais de um quarto das empresas nunca recebeu os créditos solicitados. RBCE - 119 43

Investimentos na melhoria da infraestrutura portuária, portanto, trariam o maior benefício para a indústria, mesmo considerando as empresas que hoje não utilizam esse modal Gráfico 6 TEMPO MÉDIO PARA USUFRUIR DE CRÉDITOS APÓS SOLICITAÇÃO DE RESSARCIMENTO - PIS/COFINS E IPI* 21,6 10,5 10,5 25,7 8,2 7,0 Nunca recebi Até 2 meses De dois a seis meses De seis a 12 meses 6 De 12 a 24 meses 7 Mais de 24 meses 16,4 * Percentual sobre total de empresas com créditos acumulados e não ressarcidos por mais de três meses. Gráfico 7 TEMPO MÉDIO PARA USUFRUIR DE CRÉDITOS APÓS SOLICITAÇÃO DE RESSARCIMENTO - ICMS* 16,1 14,2 14,2 25,2 8,4 6,5 Nunca recebi Até 2 meses De dois a seis meses De seis a 12 meses 6 De 12 a 24 meses 7 Mais de 24 meses 15,5 * Percentual sobre total de empresas com créditos acumulados e não ressarcidos por mais de três meses. GANHOS COM INVESTIMENTOS NA INFRAESTRUTURA SERIAM SIGNIFICATIVOS Outro problema com o qual as empresas exportadoras precisam lidar é a infraestrutura. As condições atuais da infraestrutura brasileira, de forma geral, mais atrapalham do que ajudam as empresas exportadoras. Foram investigadas cinco modalidades de infraestrutura ligadas ao transporte de mercadorias (portos, rodovias, aeroportos, ferrovias e hidrovias), além de energia elétrica e telecomunicações. Das modalidades de infraestrutura ligadas ao transporte, também há resultados considerando somente as respostas das empresas que utilizam a modalidade, seja no transporte interno de suas mercadorias, seja no externo. Os resultados seguem nas Tabelas 1 e 2. Apenas em telecomunicações, o percentual de empresas que afirma que as condições da infraestrutura ajudam a exportar supera a proporção 44 RBCE - 119

Tabela 1 IMPACTO DAS CONDIÇÕES ATUAIS DE INFRAESTRUTURA (%) Condições atuais Atrapalha Nem atrapalha, nem ajuda Ajuda Portos 46,2 25,0 17,8 11,0 Rodovias 45,5 30,2 17,4 6,9 Energia elétrica 28,2 41,3 13,6 16,9 Aeroportos 25,5 40,4 17,2 16,9 Ferrovias 22,5 55,2 1,9 20,3 Hidrovias 13,5 60,1 1,7 24,7 Telecomunicações 13,0 40,1 26,8 20,2 Tabela 2 IMPACTO DAS CONDIÇÕES ATUAIS DE INFRAESTRUTURA - SOMENTE EMPRESAS QUE UTILIZAM MODALIDADE ESPECÍFICA DE INFRAESTRUTURA NO TRANSPORTE INTERNO E/OU EXTERNO (EM %) Condições atuais Atrapalha Nem atrapalha, nem ajuda Ajuda Ferrovias 66,7 19,0 4,8 9,5 Portos 58,2 15,5 22,1 4,2 Rodovias 46,7 30,3 17,5 5,5 Aeroportos 32,5 30,1 32,5 4,8 Hidrovias 20,0 70,0 0,0 10,0 Tabela 3 EFEITOS DE MELHORIA DA INFRAESTRUTURA NA COMPETITIVIDADE Aumento da competitividade com melhorias nas: Média (0-10) Todas empresas Ran- -king Somente empresas que utilizam a modalidade específica Média (0-10) Ranking Portos 6,60 1 7,63 1 Rodovias 5,92 2 5,98 4 Energia elétrica 5,41 3 - - Aeroportos 5,03 4 6,75 3 Telecomunicações 4,70 5 - - Ferrovias 3,64 6 7,14 2 Hidrovias 1,85 7 2,57 5 que afirmou que atrapalham. No caso de aeroportos, entre as empresas que utilizam o modal, o percentual que afirmou que as condições da infraestrutura atrapalham é igual a que afirma que atrapalham. Em todas as outras modalidades de infraestrutura destacando as ferrovias o percentual de empresas que afirma que as condições da infraestrutura atrapalham supera o percentual que afirma que as condições ajudam. A pesquisa também mostra o impacto positivo que uma melhoria nas modalidades de infraestrutura exerceria sobre a competitividade das exportações da indústria. As empresas foram instadas a indicar a intensidade do impacto sobre a competitividade de suas exportações de uma melhoria em cada uma das diferentes modalidades pesquisadas. Foram atribuídas notas de 0, 2, 4, 6, 8 ou 10, onde zero significa que o impacto seria nulo, dois significa que o impacto seria muito pequeno e dez significa que o impacto seria muito grande. A Tabela 3 mostra as notas médias (ponderadas pelas frequências relativas de respostas), tanto do total da indústria quanto das empresas que utilizam a infraestrutura para o escoamento dos produtos (novamente, energia elétrica e telecomunicações ficam fora dessa segunda análise). Investimentos na melhoria da infraestrutura portuária, portanto, trariam o maior benefício para a indústria, mesmo considerando as empresas que hoje não utilizam esse modal. Os portos receberam uma nota média elevada (6,6 pontos), nota que se eleva para 7,6 pontos quando considerados somente as empresas que utilizam os portos no transporte de suas mercadorias. A nota atribuída às ferrovias (7,14 ao se considerar as empresas que utilizam o modal) também merece destaque. RBCE - 119 45

MAIS DA METADE DAS EMPRESAS QUE UTILIZAM PORTOS NO ESCOAMENTO DE SUAS EXPORTAÇÕES ENFRENTAM PROBLEMAS NAS OPERAÇÕES PORTUÁRIAS Dada a importância dos portos como forma de saída dos produtos do território brasileiro (46% das empresas e 82,7% do valor exportado), os problemas nas operações portuárias têm grande impacto nas exportações. Uma em cada oito empresas que utilizam portos para o transporte interno e/ou externo de seus produtos encontram problemas significativos nos portos. Os problemas são vários: seis diferentes problemas foram apontados por pelo menos um quinto dos respondentes, como se pode ver no Gráfico 8. A principal dificuldade são as greves dos trabalhadores envolvidos no processo de movimentação e liberação de cargas, assinalada por 56,5% das empresas que utilizam portos e encontram entraves. A burocracia dos órgãos intervenientes na liberação da carga é a segunda principal dificuldade, assinalada por 52,7% das empresas. Em seguida, a falta de navios/espaço em navio (32,3%). Outros três problemas foram assinalados por mais de 20% das empresas: infraestrutura de acesso ao complexo portuário, a capatazia (THC) e a armazenagem de cargas no porto. É PRECISO NÃO SÓ ENFRENTAR CUSTOS, MAS IMPEDIR O DESPERDÍCIO DE TEMPO A pesquisa mostra que existe muito para ser feito para se eliminar os entraves à exportação. Os resultados explicitam que as empresas exportadoras não estão preocupadas somente com Gráfico 8 PRINCIPAIS DIFICULDADES QUE AFETAM AS EXPORTAÇÕES NAS OPERAÇÕES PORTUÁRIAS* (EM %) Greves de trabalhadores envolvidos no processo de movimentação e liberação de cargas Burocracia de órgãos públicos intervenientes na liberação da carga Falta de navios / espaço em navios Infraestrutura de acesso ao complexo portuário Capatazia/ THC Armazenagem de cargas no porto Estadia do navio / operação portuária Tempo de movimentação da carga no porto Custo de mão de obra Mão-de-obra avulsa Roubo/furto de carga no porto Outra Percentual sobre total de empresas que utilizam portos para escoar a produção (transporte interno e/ou externo) e encontram problemas signifi cativos nos portos. 1,2 0,4 0,8 11,2 13,5 18,1 23,8 26,9 29,2 32,3 52,7 56,5 os impactos dos entraves nos custos das empresas. Há uma preocupação também com a influência desses entraves sobre o tempo. Esse é o fator a ser solucionado para o País buscar maior inserção em cadeias globais de produção. O compromisso com a entrega, não só com preços competitivos, mas com a garantia de pontualidade em prazos curtos, sem imprevistos, é fundamental. Melhorar a infraestrutura e atacar a burocracia significa eliminar os principais entraves à expansão das exportações e reduzir o tempo desperdiçado no processo exportador. É preciso buscar um equilíbrio entre as necessidades de controle de entrada e saída de mercadorias e as necessidades de agilidade pelas empresas. Para tal é necessário promover a melhor interação entre os órgãos fiscalizadores, com vistas a simplificar e racionalizar os procedimentos aduaneiros. Há um excesso de documentos e uma baixa agilidade na análise de toda a documentação. A redução no número de documentos permite aos órgãos fiscalizadores otimizar o uso de recursos para casos realmente relevantes. É também preciso buscar incessantemente a desburocratização tributária. Não é apenas uma questão de se buscar a desoneração da exportação. Também é necessário promover uma melhoria dos mecanismos de ressarcimento, atualmente demorados e ineficientes. Em um mundo cada vez mais competitivo não há espaço para custos desnecessários, burocracia excessiva ou insegurança jurídica. 46 RBCE - 119