OCORRÊNCIA DE MÚLTIPLAS E DISTINTAS FORMAÇÕES CUTÂNEAS EM CÃO: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO ANATOMOPATOLÓGICO



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Transcrição:

OCORRÊNCIA DE MÚLTIPLAS E DISTINTAS FORMAÇÕES CUTÂNEAS EM CÃO: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO ANATOMOPATOLÓGICO JULIANA BRONDINO 1, LUCIANE DOS REIS MESQUITA 2, GUILHERME COUTINHO VIEIRA 3, LUIS GUILHERME DE FARIA 4 PHILIPI COUTINHO DE SOUZA 5 RESUMO: As neoplasias cutâneas são as mais comumente diagnosticadas na clínica de pequenos animais principalmente porque a pele é o maior e mais facilmente observado órgão do corpo. Os tumores podem ter origem hiperplásica, displásica, metaplásica e neoplásica e podem se originar a partir de células epiteliais, mesenquimais, redondas e melanocíticas. As neoplasias cutâneas são mais frequentes em animais idosos (6-10 anos), de pouca pigmentação cutânea, sendo as raças poodle, boxer e pastor alemão as mais predispostas. O presente relato tem como objetivo ilustrar o caso de um paciente apresentando múltiplas formações cutâneas com diferentes diagnósticos histológicos e significados clínicos distintos. Um cão, macho, boxer, de 10 anos de idade foi encaminhado para consulta veterinária devido a presença de seis nódulos cutâneos ao longo da pele. Sob anestesia geral, realizou-se a exérese total dos tumores e os mesmo foram encaminhados para análise histopatológica. Os seis nódulos cutâneos apresentaram diagnósticos diferentes, variando de lesões infecciosas/inflamatórias, neoplasias benignas e uma neoplasia maligna. O presente acontecimento ressalta a importância da histopatologia de todas as lesões presentes no paciente, já que podem ser diferentes entre si e influenciar na escolha do tratamento definitivo. Palavras-chave: Neoplasias cutâneas, Boxer, Mastocitoma, Nevo, Tumor neural INTRODUÇÃO As neoplasias cutâneas são as mais comumente diagnosticadas na clínica de pequenos animais. Esse fato se deve a grande incidência de tumores nessa região devido a pele ser o maior e mais facilmente órgão observado do corpo, além de sua maior exposição a agentes oncogênicos como a radiação, os irritantes crônicos e os poluentes ambientais. Este órgão também é um tecido de alto índice de renovação celular proporcionando, assim, maiores oportunidades de mutações (PULEY; STANNARD, 1990). Em dermatologia a nomenclatura tumor é utilizada para indicar um aumento de volume na pele que pode ter origem hiperplásica, displásica e metaplásica, as quais são incluídas na categoria de tumores não neoplásicos; e origem neoplásica que corresponde à neoplasia propriamente dita (SCOTT et al., 2001). As neoplasias podem ainda se originar a partir de células epiteliais, mesenquimais, redondas e melanocíticas (CHALITA et al., 2002). A incidência de tumores pode variar de acordo com a raça, a idade e até mesmo a cor da pelagem do animal. Assim, os fatores de risco para a maior incidência de neoplasmas cutâneos são a idade entre seis a 10 anos, a pelagem pouco pigmentada e animais das raças poodle, pastor alemão, boxer e cocker spaniel (BELLEI et al.,2006; SILVEIRA et al., 2006; MEIRELLES et al., 2010). A histopatologia e a citologia aspirativa por agulha fina são os principais métodos auxiliares no diagnóstico, portanto, são fundamentais para a escolha terapêutica e o estabelecimento do prognóstico (VAIL; YOUNG, 2007). Os tumores mais frequentemente diagnosticados são os mastocitomas, o histiocitoma, o melanoma, carcinoma de células escamosas e o tumor venéreo transmissível, porém esses dados podem ser divergentes em alguns estudos, pois dependem da população em que foi realizado o estudo (ROSSETO et al.,2009; DE SOUZA et al.,2006) Atualmente o tratamento mais comum para a maior parte dos tumores sólidos é a ressecção cirúrgica com margem ampla e dos linfonodos regionais caso estejam acometidos (O BRIEN, 2007) A associação da cirurgia a algum outro tratamento, principalmente a quimioterapia pode ser indicada (CAMARGO et al., 2008). 1 Médica Veterinária Autônoma, brondinoo@gmail.com 2 Doutoranda Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ/UNESP, Campus Botucatu, lrmesquita@yahoo.com.br 3 Acadêmico do curso de Medicina Veterinária UFLA, guilhermecouvieira@gmail.com 4 Doutorando Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária FCAV UNESP. Jaboticabal, SP. lgfaria.medvet@ymail.com 5 Doutorando Departamento de Anatomia Patológica, Laboratório de Farmacologia do Câncer UNICAMP, souzaphilipi@gmail.com

O presente relato tem como objetivo ilustrar o caso de um paciente apresentando múltiplas formações cutâneas com diferentes diagnósticos histológicos e significados clínicos distintos. MATERIAL E MÉTODOS Um animal da espécie canina, da raça Boxer, macho e com dez anos de idade, foi conduzido para consulta veterinária devido à presença de vários nódulos ao longo da pele. O proprietário havia notado somente o maior nódulo, situado na região metatarsica de membro pélvico esquerdo (MPE), medindo 5cm de diâmetro e com progressão há cinco meses. O paciente estava com todas as vacinas e desverminação atualizadas, apresentava normoúria, normodipsia, normofagia, normoquesia e não apresentava nenhuma alteração digna de nota. No exame físico notou-se animal ativo, mucosas normocoradas, bom escore corporal, tempo de repreenchimento capilar inferior a dois segundos, frequência cardíaca de 140 bpm e ofegante. Foi observado a presença de seis nódulos cutâneos, distribuídos em diferentes localizações. Como o animal já apresentava idade avançada foi optado por realizar um hemograma, perfil bioquímico e ultrassom para avaliação geral mais detalhada. No hemograma as alterações encontradas foram eritrocitose (8,8x10 6 /µl), aumento de proteínas plasmáticas (9,2g/dl) e leve leucocitose (17 x10 3 /µl). No exame de perfil bioquímico o nível de creatinina estava no limítrofe (1,6 mg/dl) e a ureia um pouco aumentada (39,8mg/dl) apenas. No exame ultrassonográfico não fora detectada nenhuma alteração. Devido ao bom quadro clínico do animal foi optado pela excisão total dos nódulos, com margem de segurança adequada, para posterior envio do material para exame histopatológico. Para a avaliação microscópica foram enviados os seis nódulos: (1) nódulo em região de abdome ventral, não ulcerado, rígido, aderido ao subcutâneo, medindo 1,2 cm de diâmetro diagnosticado como tricogranuloma; (2) nódulo em face externa da região média do membro pélvico direito, medindo 2,2 cm de diâmetro, ulcerada, diagnosticado como mastocitoma de baixo grau (bem diferenciado), de acordo com a classificação de Kiupel (2011); (3), nódulo em região dorsolombar, medindo 0,5 cm, diagnosticado como nevo intradérmico simples; (4) nódulo em região lateral distal de membro pélvico esquerdo, medindo 5,0x4,0x3,5 cm, com alopecia central, tumor benigno da bainha neural periférica (neurofibroma); (5) nódulo em face, em topografia de parótida, medindo 0,5 cm de diâmetro, ulcerado, com exsudato purulento drenante, diagnosticado como foliculite superficial reativa crônica; (6) nódulo localizado acima do espelho nasal, medindo 0,4 cm de diâmetro, alopécico, diagnosticado como nevo melanocítico (nevo azul). Todas as formações apresentavam ao menos 0,5 cm de margens macroscópicas livres. Após 10 dias do procedimento cirúrgico fora feito a retirada da sutura, sem sinais de deiscência, infecções ou recidivas locais. RESULTADOS E DISCUSSÃO O animal era da raça boxer, uma das mais acometidas por neoplasias em geral e participava da faixa etária mais acometida por neoplasias (7-10 anos) como já relatado por Bellei (2006), Silveira (2006) e Meirelles (2010). Uma das neoplasias diagnosticadas foi mastocitoma (Figura 1) que é a neoplasia de pele mais observada em cães e é descrita como a mais frequente em Boxer (MEIRELLES et al., 2010; LONDON; SEGUIN, 2003). A classificação desta neoplasia foi realizada de acordo com Kiupel (2011) em que a classificação histológica é dividida em baixo e alto grau histológico que atualmente é mais indicado que a classificação de Patnaik (1984) já que diminui a subjetividade e assim os diagnósticos diferentes entre patologistas e assim é possível indicar o tratamento mais adequado e poder dar o prognóstico preciso.

Figura 1. Masctocitoma Canino. A) Neoplasia invasiva, composta por densos lençóis de células redondas (HE, 40x), B) Células neoplásicas arranjadas em cordões, exibindo núcleos redondos e regulares e citoplasma ligeiramente granular (HE, 400x). Outras duas formações encontradas, eram as neoplasias do tipo nevo, sendo o azul uma proliferação benigna de melanócitos dérmicos com produção ativa de melanina usualmente menor que 0,5 cm caracterizado por pápula ou mácula (BITTENCOURT, 2009). Já o nevo intradérmico é aquele localizado na derme, mas cuja célula névica é incerta (BONALUMI FILHO et al., 2010). A neoplasia diagnosticada na pata como neurofibroma ou tumor benigno da bainha neural periférica que, apesar do nome, podem ocorrer em qualquer lugar do corpo. Os cães mais afetados são idosos, acima de sete anos de idade, e a sua incidência em cães é pequena (BOOS, 2013). Visto que as lesões foram todas retiradas com margem de segurança e que todas tinham aspecto benigno não foi necessário associação de quimioterapia. CONCLUSÃO É importante que os nódulos coletados sejam acondicionados em potes individualizados e com descrição do local onde foi retirado cada um, pois caso o tumor seja maligno e houver cometimento de margem o cirurgião pode aumentar as margens posteriormente ao resultado do histopatológico. O presente acontecimento ressalta a importância da histopatologia de todas as lesões presentes no paciente, já que podem ser diferentes entre si e influenciar na escolha do tratamento definitivo. REFERÊNCIAS

BELLEI, M. H. M.; NEVES, D. S.; GAVA, A.; LIZ, P. P.; PILATI, C. Prevalência de neoplasias cutâneas diagnosticadas em caninos no estado de Santa Catarina, Brasil, no período entre 1998 a 2002. Revista de Ciência Agroveterinárias, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 73-79, jan. 2006. BITTENCOURT, F.V. Nevo azul. Boletim Informativo do Grupo Brasileiro de Melanoma, São Paulo, v. 12, n. 47, p. 1, nov-dez. 2009. Disponível em: <http://www.gbm.org.br/gbm/boletim/edicao47.pdf>. Acesso em: 20 de set. 2014. BONALUMI FILHO, A.; DARRIGO JR, L. G.; AVELLEIRA, J. C. R.; KAC, B. K.; AZULAY, D. R. Nevo intradérmico cerebriforme como causa de Cutis verticis gyrata. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 56, n. 6, p. 639-641, jun. 2010. BOOS, G.S. Tumores de bainha de nervo periférico na pele em cães: aspectos histológicos, imuno-histoquímicos e prognóstico. 2013. 79p. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. CAMARGO L.P.; CONCEIÇÃO L.G; COSTA P.R.S. Neoplasias melanocíticas cutâneas em cães: Estudo retrospectivo de 68 casos (1996-2004). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 45, n. 2, p. 138-152, 2008. CHALITA, M. C. C.; MATERA, J. M. ; ALVES, M. T. S. ; LONGATTO FILHO, A.. Tumores em pele e partes moles de cães. Estudo clínico e cito-histológico. Revista da Educação Continuada do CRMV-SP, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 171-180, fev. 2002. DE SOUZA, Tatiana Mello; FIGHERA, Rafael Almeida; IRIGOYEN, Luiz Francisco. ESTUDO RETROSPECTIVO DE 761 TUMORES CUTÂNEOS EM CÃES. Ciência Rural, v. 36, n. 2, p. 555-560, 2006. KIUPEL, M.; WEBSTER, J.D.; BAILEY, K.L.; BEST, S.; DELAY, J.; DETRISA,C. C.J.; FITZGERALD, S.D.; GAMBLE, D.; GINN, P.E.; GOLDSCHMIDT, M.H.; HENDRICK, M.J.; HOWERTH E.W., JANOVITZ E.B., LANGOHR I., LENZ S.D., LIPSCOMB T.P., MILLER M.A., MISDORP, W.; MOROFF, S.; MULLANEY, T.P.; NEYENS, I.; O'TOOLE, D.; RAMOS-VARA, J.;, SCASE, T.J.; SCHULMAN, F.Y.; SLEDGE, D.; SMEDLEY, R.C.; SMITH, K.; SNYDER, P.W.; SOUTHORN, E.; STEDMAN, N.L.; STEFICEK, B.A.; STROMBERG, P.C.; VALLI. Proposal of a 2-tier histologic grading system for canine cutaneous mast cell tumors to more accurately predict biological behavior. Veterinary Pathology Online, Massachussets, v. 48, n. 1, p. 147-155, jan. 2011. LONDON, C.A.; SEGUIN, B. Mast cell tumors in the dog. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, Philadelphia, v. 33, n. 3, p. 473-489, mar. 2003. MEIRELLES, A. E. W. B.; OLIVEIRA, E. C.; RODRIGUES, B. A.; COSTA, G. R.; SONNE, L.; TESSER, E. S.; DRIEMEIER, D. Prevalência de neoplasmas cutâneos em cães da região metropolitana de Porto Alegre, RS: 1017 casos (2002 a 2007). Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 30, n. 11, p. 968-973, nov. 2010. O BRIEN, M.G. Pele e tecido subcutâneo. In: SLATTER, D.; HAKANSON, N. Manual de cirurgia de pequenos animais. 3.ed. São Paulo : Manole, 2007. vol.2. Cap.166, p.2359-1368. PATNAIK, A. K.; EHLER, W. J.; MACEWEN, E. G. Canine cutaneous mast cell tumor: morphologic grading and survival time in 83 dogs. Veterinary Pathology Online, v. 21, n. 5, p. 469-474, 1984.

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