Formação em Protecção Social



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Transcrição:

Formação em Protecção Social Sessão 3 A dimensão económica da PS e a relação com outras áreas da política Bilene, Moçambique, 5, 6 e 7 de Maio de 2010

A importância do investimento Ao nível da intervenção pública, o investimento dos países com a protecção social é muito variável, mesmo entre os países que apresentam níveis idênticos de desenvolvimento económico

Investimento em PS a nível mundial Representa em média 17,2% do PIB. Países da OCDE direccionam entre 10% e 30% da sua riqueza à PS, o que representa entre um terço e a metade do valor total da sua despesa pública. Nos países em desenvolvimento o investimento público em PS não ultrapassa, em média, os 5% do PIB.

Argumentos que defendem a contribuição da protecção social para o desenvolvimento económico Capital humano: o investimento na saúde e educação conduz a um aumento do bem-estar dos cidadãos, da produtividade dos trabalhadores e da competitividade internacional; Coesão social: a redução da pobreza e das desigualdades reduz a economia informal, o malestar social e a criminalidade; além de criar um clima favorável a investimentos e atrair investimentos internacionais.

Argumentos que defendem a contribuição da protecção social para o desenvolvimento económico Investimento em activos produtivos: as transferências recebidas pelas famílias permitem a estas de investir em meios de produção; Reactivação do consumo: os gastos em protecção social injectam-se na economia e permite aumentar e manter o nível de consumo, útil para a expansão do mercado e geração de empregos; As prestações de segurança social exercem também no plano económico um efeito de amortecimento em períodos de recessão ou de crise

O Que diz a história... os países que obtiveram maior êxito em termos de um crescimento sustentável a longo prazo e de redução de pobreza tinham estabelecido sistemas extensos de protecção social Os países da OCDE decidiram investir muito em protecção social, como parte de suas estratégias de crescimento a longo prazo e de redução da pobreza. E começaram a fazê-lo quando encontravam-se em uma situação de pobreza. Está demonstrado que o livre funcionamento das forças de mercado tende a gerar desigualdades, não possibilitando que os mais pobres consigam partilhar dos ganhos decorrentes do crescimento económico

Mito Há quem considere que os sistemas de protecção social que exigem um nível elevado de despesa pública não são sustentáveis, podendo constituir um entrave ao crescimento económico dos países. Realidade A realidade de alguns países que possuem sistemas de protecção social bastante desenvolvidos não validam este tipo de afirmações.

Mito Para o caso específico dos países mais pobres, estes pura e simplesmente não poderão pagar este tipo de programas. Os países pobres, para serem competitivos no mercado mundial, deveriam manter os seus impostos e a despesa pública em níveis relativamente baixos, de modo a conseguir captar o investimento estrangeiro e a manter as suas exportações a um preço de mercado baixo. Realidade Este tipo de modelo nem sempre tem contribuído para inverter ou aliviar a situação de pobreza nos países mais pobres. Ao contrário, evidências empíricas demonstram que os países mais competitivos são também os países com maior investimento em protecção social.

Mito Realidade O excesso de segurança, nomeadamente, a segurança do rendimento, tende a criar desincentivos para que as pessoas em idade activa participem nas actividades económicas, deixando de ser produtivos Com um nível de rendimento seguro os mais pobres têm possibilidade de assegurar um nível de consumo constante e de assumir mais riscos, isto é, de apostar em actividades produtivas que lhes garantam melhores rendimentos e melhores condições de vida.

Protecção social: o que nos dizem os estudos.. As evidências demonstram que o investimento em protecção social constitui, para os países de baixo e médio rendimento, um pré-requisito para o desenvolvimento económico sustentável e com equidade. Elas demonstram ainda que as despesas de protecção social podem ser consideradas como um investimento a médio e longo prazo para o desenvolvimento do país e não apenas como um custo adicional que pode afectar negativamente o desempenho económico.

Protecção Social e outras áreas de política Não se pode compreender a protecção social sem reconhecer a existência de uma clara relação entre o domínio da protecção social e outras áreas de política, como as políticas de emprego, educação, saúde ou a fiscalidade. É necessário que sejam promovidas articulações com políticas na área da educação, saúde, agricultura, formação profissional.

Protecção Social e outras áreas... Uma transferência social pode ter um efeito positivo na promoção do acesso aos serviços de saúde, por exemplo, através do financiamento de medicamentos. Contudo, é necessário garantir que as farmácias têm o medicamento disponível. Da mesma forma, pode promover a participação de crianças na escola, mas ao mesmo tempo é necessário que a escola disponibilize os serviços. No sentido inverso, o serviço de saúde pode fazer o reconhecimento de uma pessoa mal nutrida. Neste caso, será necessário garantir que existe um serviço social apto a garantir uma resposta para esta pessoa. Na área das infraestruturas, podem ser desenvolvidos programas que combinam transferências sociais com construção ou manutenção de infraestruturas. Se a esta dimensão adicionarmos a dimensão formação), então a relação com as políticas de formação profissional e emprego é bastante importante.

Protecção Social e Políticas Fiscais Todas as intervenções públicas são financiadas a partir dos mesmos recursos: uma parcela que é retirada do rendimento das famílias e dos lucros das empresas. A quota-parte disponível para o financiamento da protecção social é finita e encontra-se limitada a uma parcela dos recursos globais. Há ainda que ter em mente que existem inúmeros usos concorrentes para os recursos escassos que se conseguem obter através da cobrança dos impostos ou das ajudas internacionais Cada vez que tem lugar uma discussão sobre o orçamento da protecção social, estamos na realidade a discutir o orçamento de todos os sectores.

Necessidade de visões integradas A discussão sobre o orçamento, é uma discussão sobre políticas económicas. A forma de financiar a protecção social tem impactos directos na economia Outras opções políticas têm um peso importante. Por exemplo, se um país promove uma forte política de descentralização, esse é um aspecto muito importante na definição das políticas de protecção social e no papel que os agentes locais deverão desempenhar.