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Transcrição:

AS PRÁTICAS DO PROFESSOR PERANTE AS QUESTÕES RACIAIS NO COTIDIANO ESCOLAR Janete de Carvalho da Silva 1 Heldina Pereira Pinto 2 RESUMO: Este trabalho apresenta o processo de investigação sobre as práticas do professor perante as questões raciais no cotidiano escolar. Observando suas praticas perante o silenciamento que incidem frente às questões raciais na escola da comunidade quilombola de Pau-ferro no município de Caetité- BA, (cidade localizada no sudoeste baiano há 757 km. de Salvador). Neste sentido, busca-se identificar se há as possíveis articulações entre diversidades culturais e as concepções de identidade racial que o professor reforça ou não na sala de aula, tomando por base de um lado as pesquisas de campo, como entrevistas, observações em sala de aula e de outro, os estudos e a interlocução com os autores pesquisadores da área como Cavalleiro (2003), Munanga (2008), Souza (1983), dentre outros, para assim tentar chegar ao nosso objetivo de compreender como as práticas discriminatórias incidem sobre a escola, seus sujeitos e suas ações. Palavras-chaves: Silenciamento. Praticas do professor. Questões raciais. INTRODUÇÃO Perante o silenciamento atribuído pelo professor na sala de aula quanto às questões raciais e discriminatórias, busca-se identificar se há as possíveis articulações entre diversidades culturais e as concepções de identidade racial que o professor reforça ou não na sala de aula, tomando por base, de um lado as pesquisas de campo, como entrevistas e observações em sala de aula e de outro os estudos e a interlocução com os autores pesquisadores da área, para assim tentar 1 Graduanda do curso de pedagogia- docência e gestão de processos educativos, na Universidade do Estado da Bahia, campus XII. 2 Professora doutora em currículo, da Universidade do Estado da Bahia, campus XII.

chegar ao nosso objetivo de compreender como as práticas discriminatórias incidem sobre a escola, seus sujeitos e suas práticas. Tendo em vista, segundo Cavaleiro (2003), que o silêncio dos professores perante as situações de discriminação impostas pelos livros escolares acaba por vitimar os estudantes negros. Esse ritual pedagógico que ignora as relações étnicas estabelecidas no espaço escolar pode estar comprometendo o desempenho e o desenvolvimento da personalidade de crianças e adolescentes negros, bem como estar contribuindo para a formação de crianças e de adolescentes brancas com sentimento de superioridade. Partindo da necessidade de aprimorar os conhecimento e esclarecer o que foi adquirido no processo acadêmico, nos propomos a conhecer as iniciativas, Práticas e ações dos educadores e gestores atribuídas especificamente a rede de ensino desta comunidade quilombola quanto à inserção dos temas afro brasileiro bem como a discriminação racial dentro e fora do espaço escolar. A relevância de tal estudo, portanto, insere-se no debate de que está sendo realizado de acordo ao que é proposto na lei 10.639/03 da Lei de diretrizes e Base da Educação, principalmente por se tratar de um tema fundamental no processo educativo: historia e cultura afro-brasileira. Apesar da existência de campanhas e mobilização voltada para a discriminação racial, verifica-se ainda, a inconsistência de tais propostas nos seus aspectos teórico-metodológicos em que sempre pode ser notado o silenciamento dos educadores na sala de aula quando se trata de temas a respeito das questões afros e discriminação racial. Como campo de investigação, elegemos a rede de ensino fundamental I, por entender ser esta etapa da escolarização a mais significativa para o sujeito que está em fase de formação de sua identidade pessoal (DEMO, 2000). Pretendemos também com este trabalho de conclusão de curso compreender a dificuldade que leva os professores a silenciarem estes temas na sala de aula, bem como a reação do educador e do estudante perante as situações de discriminação racial. Acreditamos que a medida que conhecemos as realidades vivenciadas pelos alunos, diante a discriminação e reação dos professores perante essas questões poderemos proporcionar a formulação de políticas e métodos que ajude na formação da identidade do individuo evitando o silenciamento e o medo de reagir contra a discriminação e o preconceito racial.

METODOLOGIA A compreensão dos dados fundamenta-se nos pressupostos da abordagem qualitativa. Do ponto de vista técnico-metodológico, inicialmente será feito um levantamento bibliográfico para a construção da fundamentação teórica, definido as literaturas, utilizaremos como instrumentos de coleta de dados a análise de documentos oficiais sobre políticas e propostas de educação para esses estudantes na Secretaria municipal de Educação de Caetité Bahia; bem como a leitura e análise dos documentos (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, Diretrizes Nacionais da Educação e parâmetros curriculares). Dado esses primeiros passos, partiremos para a entrevista semiestruturada com os educadores da rede de ensino, onde a pesquisa será realizada, tendo como instrumento de entrevista um questionário e roteiro de entrevista semiestruturada previamente elaborado. Utilizaremos como recursos da pesquisa câmeras fotográficas e gravadores. E por fim, os dados serão analisados levando em consideração os confrontos com as literaturas e dados analisados no inicio e durante toda a pesquisa. DISCUSSÃO A sociedade brasileira caracteriza-se de uma pluralidade étnica, fazendo parte deste cenário; portugueses, índios e negros de origem africana. O contato desses povos favoreceu o intercurso dessas culturas, levando a construção de um país inegavelmente miscigenado, marcado pelo antagonismo e pela imprevisibilidade. Nota-se que esse contato desencadeou em desencontros, aumentando as diferenças e levando a formação de uma hierarquia de classe, o que nos deixa bem claro a historia sobre a distância e a indiferença social entre colonizadores e colonos, vivenciado pelos índios e especialmente os negros, tornando-os sujeitos alheios ao exercício de cidadania. É perceptível que esse acontecimento inicial tem contribuído fortemente para o quadro situacional do negro, trazendo para a sociedade a preconização do racismo, do descredito e preconceito. Neste sentido, buscamos com este trabalho

compreender como as práticas discriminatórias incidem sobre um dos espaços da superestrutura social do país, que é a escola, sobre seus sujeitos e suas práticas. Tendo a escola como um espaço de socialização, em que se estabelecem relações com diferentes núcleos familiares se não for bem trabalhado, conscientizado de suas diferenças culturais, poderá ser um espaço de vivência das tensões raciais, pois como podemos notar em vários resultados de pesquisas realizadas por teóricos da área, a relação estabelecida entre crianças brancas e negras numa sala de aula vem acontecendo de modo tenso, ou seja, segregando, excluindo, possibilitando que a criança negra adote em alguns momentos uma postura introvertida, por medo de ser rejeitada ou ridicularizada pelo seu grupo social como podemos analisar na citação a seguir: (...) em outra situação questiono a menina Vera (negra): como você é?. Ela responde: eu tenho uma franjinha abaixada, sou gordinha, meu pezinho é gordo porque eu puxei meu pai. Pergunto: como voce é: preta ou branca...? rapidamente afirma: morena. Digo, então: voce gostaria de ser diferente? Hum... eu gostaria de ser branquinha! (CAVALEIRO, 2003; p. 65) Percebemos claramente nessa situação a insatisfação e a vergonha da criança negra em relação a si proprio, a vontade de ser branca ou de ser outra pessoa. É notório a existencia de tal situação decorrente do silenciamento do professor ao se deparar diante de tal situação e na sua maioria pelo fato de estar despreperada para lidar com a situação e prefere atribuir a responsabilidade do problema à familia, como se fosse um problema individual, dando exemplos mesquinhos, evitando conversar com a criança e pensa ter resolvido o problema. Situaçoes como estas caracterizam o silenciamento atribuido pelo professor na sala de aula. Numa sociedade como a nossa, na qual predomina uma visão negativamente preconceituosa, historicamente construída, a respeito do negro e, em contrapartida, a identificação positiva do branco, a identidade estruturada durante o processo de socialização terá por base a precariedade de modelos satisfatórios e a abundância de estereótipos sobre o negro (CAVALLEIRO 2003:19).

Tendo em vista os argumentos da autora podemos perceber que o mesmo acontece no nosso dia-a-dia em que o negro é visto como ser inferiorizado. É possível perceber isso visivelmente nos livros didáticos onde o negro quase não está presente e quando aparece algum personagem está associada à maldade, sujeira, atrasado, preguiçoso e tragédia e consequentemente a criança no seu processo de formação internaliza essas projeções, o que pode contribuir para o fenômeno do embranquecimento dos negros (SOUZA, 1983). O livro didático de forma geral omite ou apresenta o negro de forma simplificada ou falsificada, como pode-se observar, o negro como escravo, sem referência ao seu passado de homem livre antes da escravidão. Percebemos que exclusão só esta relacionada a rejeição de quem e portador de algum tipo de necessidade especial, e isso acontece nos livros didáticos com a cristalização em funções e papeis estigmatizados pela sociedade, a auto rejeição e a baixa autoestima, que dificulta a organização política do grupo estigmatizado. Outro ponto raramente observado em relação ao professor é o seu papel de mediador do conhecimento, onde o mesmo deixa de ser detentor do conhecimento e passa a compartilhar histórias de vida das comunidades negras a fim de poder traçar um vínculo com o material didático, para assim poder ser um profissional que atendesse as diretrizes que norteiam o ensino de questões afro. Os professores a quem é atribuído a ação de admirar as diferenças culturais na sua pratica pedagógica, poderiam ter internalizado o senso comum da desigualdade dessas diferenças supracitadas e não comprovar na sua prática essa ação. Podemos perceber que isso acontece porque o professor não tem uma formação especifica, com o objetivo de prepará-lo para a sala de aula lidar com questões como preconceito e discriminação racial, que podem interferir na práxis do profissional. É necessário que o professor traga para sua prática pedagógica jogos que privilegiem interações, cognição e cumplicidade, estando sempre atento para intervir nas relações estabelecidas. Nota-se que fazer uso das referencias cientificas ás características físicas, como o nariz, a cor da pele, o cabelo crespo, como estratégia de valorização do pertencimento racial dos estudantes negros, se dá como uma forma de eleger a afetividade como uma dos instrumentos pedagógicos eficazes para uma socialização positiva dos mesmos.

Segundo BORGES: O corpo é na criança, o elemento básico de contato coma a realidade exterior. Portanto, para que ela possa chegar às capacidades de analise e síntese, de representação mental do mundo e de construção das operações logico-matemática, faz-se necessário que essas funções tenham sido realizada previamente, de forma corporal, através da ação corporal (BORGES 1991:161) Neste sentido, o incentivo ao trabalho e aprendizagem com o próprio corpo, com as emoções e cognição são os propósitos que deverão serem efetivados com os estudantes negros, incentivando-os a assunção de sua negritude, podendo permitir que eles se orgulhem de seu pertencimento racial. Entende-se que as peculiaridades raciais, corporeidade expressa pelo tipo físico, não deve ser elemento de rejeição entre pares, mas de reconhecimento e de valorização dos traços étnicos e de pertencimento racial como constituinte de sua identidade. Dessa forma é necessário construir na escola estratégias pedagógicas em que a criança possa ser acolhida e respeitada em sua corporeidade. E pensando nisso, acolher e tomar decisões embasadas pedagogicamente quando ac crianças negras forem expostas a situações desumanizantes de discriminação racial no ambiente escolar, não escolhendo o silencio como estratégia diante da situação. RESULTADOS ESPERADOS Pretende-se com este trabalho perceber de que forma o professor lida com as questões AFROS na sala de aula bem como entender como é trabalhado essas questões a partir do livro didático. Percebe-se que as questões raciais são somente trabalhadas como tema transversal e em datas comemorativas a exemplo da Consciência Negra, daí as questões AFROS, serem deixadas de lado e omitidas pelo professor na sala de aula uma vez que o tema não é trabalhado constantemente como componente curricular obrigatório como é proposto a Lei 10639/03 inserida na LEI 9394/96 (LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO). Neste sentido espera-se o professor cumpra com o seu papel de mediador de conhecimento e não de detentor do conhecimento e passe a compartilhar histórias de vida das comunidades negras a

fim de poder traçar um vínculo com o material didático, para assim poder ser um profissional que atenda as diretrizes que norteiam o ensino de questões AFROS. Pois compreende se que se os docentes cumprirem corretamente com o seu papel como aborda as leis, não presenciaremos o forte silenciamento que tem sido um fator que tem internalizado o senso comum de desigualdade das diferenças supracitadas neste trabalho.

REFERÊNCIAS CAVALLEIRO, Eliane. Do silencio do Lar ao Silencio Escolar: Racismo, Preconceito, discriminação na educação infantil. 2 ed. São Paulo: contexto, 2003. SILVA, Ana Celia Da. A desconstrução da discriminação no livro didático. In MUNANGA Kabengele (orgs.). Superando o racismo na escola. 2 ed. Revisada. Brasilia: Ministério da educação, Secretaria da educação continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008. SANTANA, Antônio Olímpio de. história e conceitos básicos sobre o racismo e seus derivados. In MUNANGA Kabengele (orgs.). Superando o racismo na escola. 2 ed. Revisada. Brasília: Ministério da educação, Secretaria da educação continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008. SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se Negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Graal, 1983. DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. 8 ed. Campinas SP: Autores Associados, 2007. PIAGET, Jean. In BORGES, Tereza Maria Machado. A criança em Idade Préescolar: desenvolvimento e educação. Uberaba: Rotal Editora e Gráfica, 1991.