O ESTIGMA PROVENIENTE DO ACOLHIMENTO INTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM DESAFIO PARA O PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL 1



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Transcrição:

O ESTIGMA PROVENIENTE DO ACOLHIMENTO INTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM DESAFIO PARA O PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL 1 TASCHETTO, Ketheni Machado²; LEAL, Francine Ziegler³; BERNARDON, Andressa Corrêa 4. 1 Trabalho desenvolvido através de uma experiência em estágio curricular. 2 Acadêmica do 7 semestre do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). 3 Acadêmica do 7 semestre do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). 4 Orientadora e Professora do Curso de Serviço Social do Centro Universitário Franciscano. E-mail: kethenitascheto@gmail.com, francineziegler@bol.com.br, andressass@unifra.br. RESUMO O presente trabalho versa debater a cerca do estigma sofrido por crianças e adolescentes acolhidos, é produto de experiências em estágio curricular em serviço social em uma instituição de acolhimento do município de Santa Maria, associado a pesquisas bibliográficas, análise documental, e observação participativa. Este trata do processo de construção da relação do estigma com o acolhimento, observa-se que este não é fruto da contemporaneidade, o preconceito vivido por este segmento populacional neste contexto, é constatado desde as primeiras ações para proteção a crianças e adolescentes no país. O estigma sofrido por este grupo populacional apresenta-se como um grande desafio a ser trabalho pelo assistente social que se insere em instituições de Proteção integral, que estão no contexto de acolhimento pra crianças e adolescentes. A profissão visa atender as necessidades desse segmento populacional, busca compreender as questões que desencadearam o acolhimento e intervir de forma crítica e criativa. Palavras-chave: Estigma; Crianças e Adolescentes; Acolhimento institucional; Serviço Social. 1. INTRODUÇÃO Atento aos desafios do contexto contemporâneo e aos estigmas presentes na relação da criança acolhida, onde a criança é compreendida herança ancestral, a memória doa avós, a infância dos seus pais, a sociedade moldada pela economia e pela cultura dos séculos precedentes. Também é futuro, o sonho, o desejo, a esperança, a pátria de amanhã. (TRINDADE, 1999), ou seja um ser em desenvolvimento, em que a sua primeira 1

socialização é realizada pela família, onde os laços vão se estreitando e inicia um processo de cumplicidade entre ambos, bem como, a comunidade em geral auxilia na formação do desenvolvimento psicossocial dessas crianças. E quando a família não pode mais ofertar as condições necessárias para um desenvolvimento saudável para esta criança, colocando-a em situação de risco social, o Estado visa suprir a Proteção Integral a esta criança através das instituições de acolhida que tem como objetivo principal desempenhar as medidas protetivas estabelecidas no E.C.A, na qual o desenvolvimento integral dessas crianças e adolescentes também ficam fragmentados, até que a família possa ou retomar seus laços com a criança ou mesmo possa suprir as necessidades da mesma retomando o Poder Familiar, ou não ficando assim as crianças sob a Proteção do Estado. Assim, o presente trabalho apresentará o histórico da questão do acolhimento institucional, posteriormente realizará uma relação com o começo do estigma sofrido pelas crianças e adolescentes, acolhidos em caráter temporário ou não. Ressalta-se que o artigo 101 do ECA (BRASIL, 1990) define o abrigamento como última medida, de caráter provisório e excepcional, consideradas todas as possibilidades de a criança permanecer com familiares. Ou seja, ocorre quando todas as outras formas possíveis de convivência de (re) estabelecimento de vínculo familiar em um mesmo espaço territorial, é sanada, sem sucesso, devido as múltiplas expressões da questão social vivenciada por estas crianças e adolescentes em seu contexto social (escola, família, comunidade, e outros meios de socialização). E quando abordamos o impacto da institucionalização nas vidas destas crianças e adolescentes, devemos levar em conta entre outros aspectos, o estigma que eles carregam por suas vida este foi consolidado historicamente, sendo assim, necessário buscar a compreensão da historicidade desse tema com o objetivo de compreender sua evolução. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Crianças em situação de acolhimento: fragmentações da questão social na sociedade contemporânea A história nos apresenta que a questão do abandono ocorre desde a colonização, com a roda dos expostos, roda giratória na parede, que permitia que a criança rejeitada 2

fosse colocada para dentro de instituições que naquela época eram vinculadas a Igreja Católica, portanto ações de cunho assistencialista e de caridade, na qual na Roda dos expostos não ocorria a identificação da (s) pessoa (s) que deixavam suas crianças ali, retraindo os grandes índices de abandono de crianças, nas ruas e consequentemente os índices de mortalidade infantil. Reconhece-se que a Roda dos Expostos, teve sua contribuição na Proteção das crianças, foi a primeira forma instituída no Brasil, como Proteção de crianças abandonadas, seja, devido a pobreza da família ou dos filhos ilegítimos. Nessa fase a demanda do acolhimento era vista no âmbito do aspecto caritativo não havia um olhar de proteção social, nem por parte da sociedade nem por parte do Estado em relação às crianças e adolescentes. Sob influência da Revolução Francesa no século XIX, os asilos para crianças pobres começam a ter gradativas mudanças no que diz respeito a questão da educação, com o objetivo de formação profissional aos meninos pobres, pois para eles restava aos sete anos de idade o trabalho, e para as crianças filhos dos burgueses neste idade a escola. No período republicano a questão visada não era mais a formação da força de trabalho, mas sim identificar e estudar as categorias necessitadas de proteção e reforma, com o intuito de melhorar o aparelhamento institucional capaz de salvar a infância brasileira no século XX. Neste contexto surge a categoria menor para definir as crianças órfãos e abandonadas, a partir da vasta categoria menor abandonado, definida tanto pela ausência dos pais quanto pela incapacidade da família de oferecer condições apropriadas de vida a sua prole (RIZZINI 2004, p.29). Neste período temos uma forte intervenção do Estado nas políticas de atendimento ao menor, a preocupação do Estado neste momento era com o desenvolvimento da sociedade, e como ele tinha o entendimento de que os menores estariam mais propensos a cometer delitos e colocar a sociedade em situação de risco, desenvolveu políticas de atendimentos a este segmento populacional. Em 1927, foi efetivado o primeiro Código de Menores e em 31 de Dezembro de 1924, a aprovação da Lei n.2.059 instituiu a figura do Juiz de Menores, na Comarca da capital do Estado de São Paulo. Esse Juiz tinha a finalidade de prestar: Assistência e proteção aos menores de dezoito anos, de ambos os sexos, abandonados, bem como, processo e julgamento dos delinquentes de quatorze e menores de dezoito 3

anos(davidovich, 1991, p.46). Nessa perspectiva, verifica-se uma preocupação apenas com duas categorias de crianças e adolescentes: os abandonados e os delinquentes. No período vigente do Código de Menores (1927-1979) temos uma política de atenção a crianças e adolescentes pautada na concepção de tutela e coerção e neste sentido a internação em instituições para menores era uma prática corrente. O Serviço de Assistência ao Menor - SAM, criado em 1941 tinha o objetivo de proporcionar assistência social aos menores abandonados e infratores, através da educação pela coerção. O Código de Menores e o SAM podem ser considerados marcos importantes na história constitucional e social da infância e juventude no Brasil, pois significaram o reconhecimento do Estado e da sociedade do problema do menor como expressão da questão social. O SAM tinha uma proposta de oferecer assistência aos menores, no entanto, não atingiu seus objetivos em função da falta de recursos financeiros e devido à prática da coerção, disciplina e maus tratos nas instituições de reeducação. O órgão foi extinto em 1964, sendo então criada Fundação Nacional de Bem-estar do Menor FUNABEM. No período de vigência da Fundação Nacional de Bem-estar do Menor (FUNABEM) e da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM) a grande maioria dos jovens acolhidos às entidades de internação do sistema no Brasil, era formada por crianças e adolescentes, "menores", que não eram autores de fatos definidos como crime. Estavam no local para controle da pobreza no país. Com o novo Código de Menores (1979), pouca coisa mudou. As crianças e os adolescentes privados de condições essenciais a sua subsistência eram considerados em situação irregular e as políticas implantadas para atender a infância e juventude tinham um caráter assistencialista, compensatório, centralizado e sem articulação com as demais políticas sociais. O Código continuava atuando no sentido de reprimir, e corrigir os menores. Nos anos 1980 a história do acolhimento de crianças e adolescentes começa a mudar. Começam a ser questionadas as práticas que ocorriam até então, ocorre junto ao processo de redemocratização do país com o fim da ditadura militar. Em 1988 é implantada a Constituição Federal, e com os movimentos sociais que começaram a chamar a atenção e dar visibilidade para a sociedade de como estava sendo compreendida o contexto social dos menores. No ano de 1990 entra em vigor o Estatuto da Criança e do Adolescente, este que viria para substituir o Código de Menores de 1979, e ocasionar um novo enfoque doutrinário, 4

instituindo enquanto princípio a Proteção Integral à criança e ao adolescente. Essa nova compreensão denota um grande progresso na legislação no sentido de que não estabelece mais à criança e ao adolescente a condição de controle e coerção, mas sim a condição de sujeitos de direitos e deveres, ou seja, sujeitos em desenvolvimento. Em 2009 é sancionada a Nova Lei Nacional de Adoção está vem para a ampliar o direito de crianças e adolescentes permanecerem prioritariamente com suas famílias e perto da comunidade onde nasceram. 3. METODOLOGIA O conhecimento sobre o estigma proveniente da situação da criança em acolhimento institucional, faz-se através da leitura de realidade na qual elas estão inseridas, e o processo desencadeador de tal situação, por meio de processos de abstração e aproximação às suas determinações e relações históricas para a compreensão da totalidade da questão e assim, com o método dialético crítico desvelar a realidade sem a pretensão de esgotar a dinamicidade dessa expressão da questão social. Ressaltamos que para Kosik (1976,p.49), cada fenômeno é particular, devido a sua constituição específica mas ganhará significado histórico se sua essência for compreendida em uma totalidade complexa ou seja, as relações sociais que desencadearam a situação de acolhimento a estas crianças e o papel das instituições diante desta. Para tanto, utilizou-se a observação participante realizada em uma Instituição que atende crianças e adolescentes acolhidos no município de Santa Maria-RS, Segundo Gil (1991), a técnica da observação participante consiste na inclusão do observador na realidade de vida do ator ou grupo observado, ocupando o papel de membro grupal, para conhecer a vida do grupo em questão a partir do contexto do mesmo. Também foram utilizadas pesquisas bibliográficas e análise documental sobre a temática. 4. RESULTADOS E DISCUSSÔES Através da contextualização histórica podemos identificar que durante um longo período as crianças e adolescentes acolhidos eram reconhecidos como menores, e consequentemente como marginais, delinquente ou meninos de rua. Neste contexto já 5

surge o estigma a jovens acolhidos. O rótulo a este grupo, que surge ainda neste período persiste até a atualidade. São comuns fatos em que crianças acolhidas sofrem Bullying 1 na escola pela condição em que se encontram de institucionalização; Atribui-se a este fato, a escola, por muitas vezes não compreende a existência de um conflito instalado em sua própria instituição, acusando apenas a criança e o ambiente em que ela vive enquanto abrigado como desencadeadores de tais situações, perpetuando e reproduzindo assim o estigma social que permeia a criança acolhida. Ressata-se que, a institucionalização não é exemplo, é apenas um difícil atalho que disponibiliza tempo para a reestruturação das famílias vulnerabilizadas, abandonadas pelas políticas sociais de proteção (FANTE; CASSAB, 2007, p.14), Assim, neste contexto, as instituição de acolhimento institucional devem privilegiar as ações, estratégias de resgate dos vínculos familiares, de (re) estruturação familiar para que estas crianças possam retomar as suas origens, evitando as ações que distanciam as famílias dessas instituições, para que estas crianças não retornem mais para estas instituições, e possam desenvolver sua afetividade, sua identidade, sua personalidade e referências dentro do seu âmbito familiar. 5. CONCLUSÔES Neste contexto um dos grandes desafios para a intervenção do Assistente Social é compreender esta situação em sua totalidade, é afirmar a profissão na luta pelo direito e proteção integral deste segmento populacional, comprometida na democratização da vida social destes sujeitos e de seu contexto social, requer trabalhar em cima das potencialidades destas crianças e adolescentes, no resgate dos vínculos familiares, na desmistificação que criança e adolescente em situação de institucionalização são sinônimos de futuros marginais, e outros estigmas atribuídos a eles, uma proposta de trabalho que venha trazer novas condições de vida para criança e adolescente ou mesmo transformação 1 Segundo Silva compreende comportamentos com diversos níveis de violência que vão desde chateações inoportunas ou hostis até fatos francamente agressivos, em forma verbal ou não, intencionais e repetidos, sem motivação aparente, provocados por um ou mais estudantes em relação a outros, causando dor, angústia, exclusão, humilhação e discriminação. 6

social do contexto no qual ele está inserido, faz-se também necessário o fortalecimento da autoestima do usuário, o desenvolvimento de sua autonomia, propor ações que possam levar a construção de novos vínculos familiares e comunitários em caso de rompimento dos vínculos de origem. Ao mesmo tempo, necessita-se também qualificar os profissionais, tais como, professores, técnicos, educadores dos abrigos, na tentativa de desconstruir preconceitos existentes e de evitar atitudes de exclusão dentro dessas instituições com relação à criança acolhida. Portanto, [...] apreender a questão social é também captar as múltiplas formas de pressão social, de intervenção e de reinvenção da vida cotidiana, pois, é no presente que estão sendo recriadas formas novas de viver, que apontam para um futuro sendo germinado. (IAMAMOTO, 2003, p.28). REFERÊNCIAS: BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lei Federal n. 8.069/90, 13 de julho de 1990. São Paulo: CBIA - SP, 1990..Constituição Federal da República Federativa do Brasil.1988. BUFFA, Carolina Gobato Et al. Vivências de exclusão em crianças abrigadas. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1516-36872010000200003#end. Acesso em 12 de abr. de 2012. DAVIDOVICH, Therezinha Z. Histórico do Serviço Social no Tribunal de Justiça de São Paulo. Manual do curso de iniciação funcional para assistentes sociais e psicólogos judiciários. 1991. FANTE, Ana Paula; CASSAB, Latif Antonia. Convivência Familiar: Um direito a criança e ao adolescente institucionalizado. Revista Virtual Textos e Contextos. PUC. N.7 de julho de 2007. GIL, Antônio Carlos, - Como elaborar projetos de pesquisa/antônio Carlos Gil. - 3. ed. - São Paulo : Atlas, 1991. IAMAMOTO, M.V. Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profisional. 6ed. São Paulo, Cortez, 2003. KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Trad. de Célia Neves e Alderico Toríbio, 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. RIZZINI, I; RIZZINI, I. A institucionalização de crianças no Brasil. Rio de Janeiro: PUC, 2004. SILVA ABB. Mentes perigosas. Rio de Janeiro: Fontanar; 2008. TRINDADE, Judite Maria Barboza. O abandono de crianças ou a negação do óbvio. Revista Brasileira de História. vol.19 n.37 São Paulo 1999. 7