Projeto: Política cultural: memória e história a recuperação dos arquivos dos conselhos federais de cultura Dra. Lia Calabre Pesquisadora do Setor de Política Cultural Apresentação No Palácio Capanema, sob a guarda da Representação Regional do Rio de Janeiro, encontra-se o acervo documental dos diversos conselhos federais de cultura que atuaram no país de 1938 a 1990. O acervo encontra-se em péssimo estado de conservação. Trata-se de material de valor inestimável que permite a reconstituição da história da ação do governo federal no campo da cultura. Devido a ataques de naturezas diversas percebe-se que parte do acervo já se perdeu. Este projeto tem por objetivo a complementação do trabalho de higienização (que vêm sendo realizado por dois bolsistas), e em especial das etapas de identificação provisória, avaliação, organização, descrição e acondicionamento do acervo. O trabalho se encontra regulamentado pela portaria ministerial 101, de 01 de dezembro de 2006, que criou uma comissão de trabalho, coordenada pela Fundação Casa de Rui Barbosa tendo como representante Lia Calabre de Azevedo. Para a continuidade do trabalho solicito: - dois bolsistas graduados nas seguintes áreas: arquivologia, história ou de outros cursos da áreas ciências humanas e sociais Tendo em vista que o trabalho será desenvolvido no próprio arquivo, não será necessária a apresentação de projeto de pesquisa. Solicita-se experiência no trabalho em arquivos e familiaridade tanto com o tema quanto com o período histórico 1
Contextualização geral do projeto e do campo de estudo As relações entre o Estado e a cultura sempre foram objeto de controvérsias políticas e debates acadêmicos. A esfera da cultura possibilita a criação e divulgação de valores, ou seja, de crenças capazes de conferir legitimidade não só aos governos mas à forma de viver das sociedades. Questões de identidade nacional e de coesão social foram e são centrais na atuação crescente dos governos na área cultural ao longo do século XX. A revolução tecnológica em curso e a ampliação da esfera da indústria cultural só fazem crescer o espaço do campo cultural nas sociedades chamadas pós-modernas. Assim cultura que durante muito tempo era identificada como um bem de elite, passa a ser entendida como parte significativa do processo de democratização, de cidadania e de inclusão social no mundo contemporâneo. Na última década foram intensificadas as discussões acerca da responsabilidade do Estado sobre a produção cultural e dos princípios que devem reger a elaboração das políticas públicas de cultura. Seguindo as tendências internacionais, que têm deslocado a discussão sobre a cultura de uma posição secundária para uma posição estratégica dentro das políticas de governo, o Ministério da Cultura brasileiro, nos últimos oito anos, realizou processo de reformulação de sua estrutura, com a criação de novas secretarias e ampliou o conjunto e alcance de suas ações. Dentre as principais discussões promovidas no processo de reformulação ministerial está a que coloca a cultura como um elemento fundamental de inclusão social. A elaboração de estudos retrospectivos sobre a relação entre o estado e a cultura nas últimas décadas se torna uma tarefa urgente e prioritária. Por política pública cultural estamos considerando um conjunto ordenado e coerente de preceitos e objetivos que orientam linhas de ações públicas mais imediatas no campo da 2
cultura. A recuperação da política cultural levada a cabo por um determinado governo ou em um período da história de um país pode ser realizada através do mapeamento das ações do Estado no campo da cultura, ainda que este não as tenha elaborado ou reunido como um todo coerente, como uma política determinada. O mapeamento de tais ações deve ter como foco os âmbitos da produção, da circulação e do consumo culturais. Objetivos O principal objetivo do projeto e o de permitir a analise do modo e dos caminhos pelos quais o Estado atuou no campo da cultura criando, divulgando e incentivando o consumo de bens culturais, entre as décadas de 1960 e 1980, através da recuperação e disponibilização dos documentos que integram o arquivo do Conselho Nacional de Cultura, do Conselho Federal de Cultura e do Conselho Nacional de Políticas Culturais que se encontram sob a guarda da Representação Regional. Justificativa O conjunto documental em sua grande maioria data da década de 1970 e 1980, período da vigência do Conselho Federal de Cultura(CFC). O CFC foi criado em 1966 com os objetivos de formular uma política cultural, articular-se com os órgãos estaduais e municipais e elaborar um plano nacional de cultura, entre outros. O acervo documental ainda existente registra não só a atuação do CFC como mantém pesquisas, registros e informações diversas sobre a área cultural de todo o país. Somados os documentos dos três conselhos registram a memória da ação pública federal da cultura do país no século XX. Com o golpe militar de 1964, o país passa a viver um período de repressão e censura que resultou no desmantelamento da grande maioria dos projetos culturais em curso. O final da década de 1960 e os anos 1970 podem ser visto como um momento privilegiado no campo da ação do governo federal sobre a cultura. Gabriel Cohn ao buscar efetuar uma 3
periodização das ações do estado na área da cultural na década de 1970, caracteriza a primeira metade como o período de elaboração de propostas programáticas mais abrangentes mas com efeitos escassos e a segunda metade como a de um processo de diversificação e redefinição do temas relevantes numa ótica mais operacional e cada vez mais propriamente política é um momento de alterações no quadro institucional que tem como marco a criação da Funarte. 1 Os governos militares passaram a lidar com o campo da cultura assim como o da ciência ligando-os ao princípio da segurança nacional. A institucionalização da política cultural brasileira que teve impulso extraordinário no governo Geisel (1974-1979) com a criação de órgãos públicos de gestão cultural, foi possível pelo incentivo e fomento às instituições da cultura e de ciência. Um processo que alterou os termos que ungiram as instituições ou os projetos da década de 1950 e início de 1960. A mística que presidiu as fundações anteriores deveria ceder lugar à profissionalização de instituições da cultura. Com relação a esse período da história temos muitos artigos e livros que destacam predominantemente os movimentos intelectuais de esquerda e a censura e a repressão enfrentadas por eles. Campos culturais específicos como cinema, jornal, literatura, música, televisão têm sido também objeto de pesquisas mas poucos são os trabalhos dedicados à análise da montagem das políticas públicas que se dedicaram a estimular a criação, divulgação e consumo de bens culturais nesse período. A abertura política fomentou novos formatos organizacionais no campo das políticas culturais entre eles a institucionalização dos Fóruns Nacionais dos Secretários de Cultura, criação do Ministério da Cultura e a implantação de Leis de incentivo apresentadas como alternativas ao financiamento estatal direto. Este tema está aí nas páginas dos jornais dos dias de hoje e suscita acalorados debates. 4
Programa de trabalho Etapas 1- Complementação da higienização remoção de poeira, clips, grampos de metal, etc. 2- Complementação da estapa de identificação e separação da documentação de natureza diversa. 3 Complementação do acondicionamento da documentação 4 Avaliação e destinação dos documentos duplicados e dos pertencentes a outros órgãos que se encontram misturados com o material dos conselhos. 5 Criação de um instrumento de pesquisa. Bibliografia sobre o tema Periódicos Boletim do Conselho Federal de Cultura Cultura Revista Brasileira de Cultura Revista do Patrimônio histórico e Artístico Nacional Livros e artigos ADONIAS FILHO, O Conselho Federal de Cultura. Brasília: MEC, 1978 AMÂNCIO, Tunico. Arte e manhas da Embrafilme: cinema estatal brasileiro em sua época de ouro (1977-1981). Niterói: Eduff, 2000. BRASIL. Ministério da Cultura. Legislação cultural brasileira anotada. Supervisão e organização da pesquisa Theo Pereira da Silva, coordenação e pesquisa Yberê Eugênio Veiga. Brasília: MinC, 1997. 5
BOLÁN, Eduardo Nivón. La política cultural. Temas, problemas y oportunidades. México: CONACULTA/FONCA. 2006. BOTELHO, Isaura. Romance de formação: FUNARTE e Política Cultural. 1976-1900. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rio Barbosa, 2000. CALABRE. Lia. O conselho Federal de Cultura, 1971-1974. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 37, janeiro-junho de 2006, p.81-98.. A ação federal na cultura: o caso dos conselhos. In: O público e o privado. Fortaleza V. 9 p. 49-65 - 2007. Políticas e Conselhos de Cultura no Brasil. 1967-1970. I: Políticas Culturais em Revista.[on-line] V.1, 2008. Políticas culturais no Brasil: dos anos 1930 ao século XXI. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009.. Política culturais no Brasil: história e contemporaneidade. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2010. CANCLINI, Nestor Garcia. Cultura híbridas. São Paulo: Edusp, 1994. CANCLINI, Nestor G. et alii. Políticas culturais para o desenvolvimento: uma base de dados para a cultura. Brasília: UNESCO, IPEA, SEBRAE, CCBB, IBGE, Fundação Joaquim Nabuco. 2003. CHAUÍ, Marilena et alii. Política cultural. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985. 6
FICO, Carlos. Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginário social. Rio de Janeiro, FGV, 1997. FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo. Rio de Janeiro, UFRJ/Minc-Iphan, 1997. GASPARI, Elio; HOLANDA, Heloisa Buarque de; VENTURA, Zuenir. Cultura em trânsito: da repressão à abertura. Rio de Janeiro, Aeroplano, 2000. MAGALHÃES, Aloísio. E o triunfo? A questão dos bens culturais no Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/Fundação Nacional Pró-Memória, 1985. MICELI, Sérgio (org). Estado e cultura no Brasil. São Paulo, Difel, 1984. MICELI, Sérgio e GOUVEIA, Maria Alice. Política cultural comparada. Rio de Janeiro/São Paulo, FUNARTE/FINEP/IDESP, 1985. ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985. UFALINO, Philippe. L Histoire de la politique culturelle. In: Rioux, Jean-Pierre e Sirinelli, Jean-François. Pour une histoire culturelle. Paris: Ed. du Seuil, 1997. PLANO DE TRABALHO A SER DESENVOLVIDO PELOS 2 (DOIS) BOLSISTAS Etapa 1 Aprofundamento do conhecimento do tema - leitura do projeto e de bibliografia específica sobre o CFC (que integra o projeto) 7
Etapa 2 Higienização e ordenamento da documentação - Trabalho de complementação de higienização objetivando criar familiaridade com a documentação. - Processo de ordenação da documentação higienizada Etapa 3 - Levantamento de documentação complementar Levantamento, leitura, fichamento sobre a repercussão pública da implementação das ações governamentais, em especial dos conselhos cujos arquivos estão sendo tratados, para a construção de um histórico mais ampliado sobre a ação dos conselhos. Etapa 4 Elaboração de relatório final CRONOGRAMA 24 meses Atividades / meses 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Leitura da bibliografia selecionada x Higienização e ordenamento da x x x x x x x x x x documentação Relatórios parciais x x x Artigos e apresentações nas x x jornadas Levantamento de documentação x x x complementar Redação de relatório final x 1 COHN, Gabriel. A concepção oficial da política cultural nos anos 70. In: MICELI, Sérgio (org.). Estado e cultura no Brasil. São Paulo: Difel, 1984. p. 87 8