O FENÔMENO BULLYING NA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES



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Transcrição:

O FENÔMENO BULLYING NA PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES Cristian Ericksson Colovini 1 Mara Regina Nieckel da Costa 2 RESUMO O presente trabalho apresenta um estudo sobre a relação entre o Fenômeno Bullying e o comportamento dos profissionais da educação diante do problema. O Bullying, segundo Felizardo (2007), é o conjunto de atitudes agressivas repetitivas, que não tem motivação aparente, perpretadas por um aluno ou grupo contra outro, causando sofrimento e angústia e dor. É toda a forma de violência através de atitudes agressivas e está presente em todas as escolas. Na delimitação do tema desta pesquisa, foi de grande influência o fato ocorrido na Universidade Virgínia Tech, em abril de 2007, tendo em vista que está tornando-se cada vez mais freqüente a ocorrência desse tipo de violência. A pesquisa concluiu que, no contexto das instituições estudadas, os comportamentos relacionados ao Bullying são tradicionalmente admitidos como naturais, sendo habitualmente ignorados ou não valorizados, tanto por professores e funcionários como pela própria família dos envolvidos. PALAVRAS-CHAVE: Bullying; Agressividade; Comportamento; Violência Escolar INTRODUÇÃO Atualmente, a violência escolar é o tema que mais exige atenção dos profissionais da educação. Entretanto, quando pensamos em violência escolar, logo nos vêm em mente cenas de alunos trocando xingamento, socos, chutes; ou então, grupos de alunos ou ex-alunos depredando 1 Acadêmico do Curso de Psicologia ULBRA/Guaíba 2 Professora do Curso de Psicologia ULBRA/Guaíba e orientadora do trabalho

2 o patrimônio, munidos de armas ou drogas, comprometendo a integridade da vida escolar. Neste contexto, queremos chamar a atenção para um modo de violência não menos cruel, nem menos incidente que está presente em todas as escolas, sejam elas da rede pública ou privada e envolve significante número de alunos. Trata-se do Fenômeno Bullying, que se define como um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotas por um ou mais alunos contra outro(s), sem motivação evidente, causando dor, angústia e sofrimento. Há especialistas que afirmam ser o Bullying a forma de violência mais cruel, pois tal nível de agressividade torna suas vítimas reféns da ansiedade e de emoções que interferem negativamente nos seus processos de aprendizagem e convívio social, devido à excessiva mobilização de emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida; o que pode ser decisivo no incentivo à evasão escolar e ao ingresso destes alunos no mundo das drogas e do crime; ou então a geração de pessoas psicologicamente desestruturadas, que poderão vir a cometer violência doméstica e adotar características anti-sociais. OCORRÊNCIA DO FENÔMENO BULLYING Segundo Lopes Neto (2005), os motivos que levam a esse tipo de violência são extremamente variados e estão relacionados com as experiências que cada aluno tem em sua família e/ou comunidade e se dá perante o uso do poder para intimidar o outro. A ocorrência deste fenômeno é mais freqüente na convivência escolar, mais especificamente entre a 5º e 8º séries. Também no Ensino Médio o fenômeno está bastante presente no dia-a-dia dos jovens. Palácios & Rego (2006) alertam para o fato de que também em outros ambientes o bullying está presente de forma devastadora. Uma pesquisa realizada em países com diferentes graus de desenvolvimento socioeconômico (Brasil, África do Sul, Bulgária, Tailândia, Líbano, Portugal e Austrália), buscou quantificar e qualificar o fenômeno da violência em ambiente de trabalho. Os resultados foram precisos e identificaram de modo claro a violência entre colegas e entre chefes e subordinados. Embora a violência física também tenha sido observada, foi a violência moral, denominada assédio moral, a que mais chamou a atenção dos pesquisadores.

3 Esse assédio moral refere-se a um comportamento ofensivo, humilhante, que desqualifica ou desmoraliza, repetido e em excesso, através de ataques vingativos, cruéis e maliciosos que objetivam rebaixar um indivíduo ou grupo de trabalhadores ou trabalhadoras. Sabe-se que o bullying atinge principalmente os indivíduos que estão na adolescência, que é a fase mais difícil de serem educados, de acordo com relatos de profissionais da área da educação. A adolescência é o período da vida que se caracteriza entre a infância e a idade adulta. Tem início na puberdade com o surgimento das características sexuais secundárias e termina com o fim do crescimento. Entretanto, Bee (1997) afirma fazer mais sentido pensar na adolescência como o período que se situa, psicológica e culturalmente, entre a meninice e a vida adulta, ao invés de uma faixa etária específica. Dreyer (2005) reflete que além de causar danos cruéis, o Bullying está disseminado em todas as escolas, tanto públicas como particulares, e seus comportamentos característicos tendem a aumentar rapidamente com o avanço da idade dos alunos. Trabalhos internacionais têm demonstrado que a prática do Bullying pode ocorrer a partir dos três anos de idade, quando a intencionalidade desses atos já pode ser observada, afirma Lopes Neto (2005). Outra forma de Bullying, também muito presente e violenta é a que se dá através dos meios de comunicação, em especial a Internet. Atualmente o Orkut é o principal meio virtual de agressões, ridicularizações, fofocas e outros modos de Bullying entre os jovens. A essa modalidade de agressão, dá-se o nome de cyberbullying ou Bullying Virtual, como abordado pela reportagem exibida pela Rede Globo, no Fantástico, dia 29 de abril de 2007 e explicado por Lopes Neto (2005). Em se tratando de dados, temos a recente pesquisa realizada pela ABRAPIA (2003) no município do Rio de Janeiro, em onze escolas nove públicas e duas particulares a qual apresenta resultados riquíssimos que servem de base para o desenvolvimento de vários projetos anti-bullying e estudos acadêmicos. Através destes resultados é possível, inclusive, qualificar os envolvidos pelo Bullying em: Autores, Alvos/Vítimas e Testemunhas.

4 Os Autores de Bullying são aqueles que só praticam a violência; são jovens que vêm de famílias geralmente desestruturadas, em que há pouco relacionamento afetivo entre os membros. São indivíduos que têm pouca empatia e admite-se que esses jovens têm grande probabilidade de se tornarem adultos com atitudes anti-sociais e/ou violentas, podendo virem a adotar, inclusive, atitudes delinqüentes ou criminosas. Os Alvos ou Vítimas são aqueles que só sofrem a violência, são aqueles que arcam as conseqüências do comportamento violento dos colegas e não dispõem de recursos, ou habilidade para se defenderem. São jovens pouco sociáveis movidos por grande sentimento de insegurança, falta de esperança e baixa auto-estima; apresentam grande dificuldade em adequar-se e permanecer na escola, são fortes candidatos a desenvolverem traumas e doenças psíquicas. Em extrema depressão, muitos jovens acabam tentando ou cometendo o suicídio ou homicídios em decorrência da raiva que o Bullying gera. Atribui-se a essas vítimas grande parte dos massacres realizados em escolas. As Testemunhas são aqueles que não sofrem nem praticam o Bullying, mas convivem em um ambiente onde o fenômeno ocorre. Representa a grande maioria dos alunos, que presenciam a violência, mas não tomam nenhuma atitude contrária devido o temor de tornaremse alvos. Cultivam grande insegurança a cerca do que fazem na presença dos demais colegas em razão do temor de se tornarem as próximas vítimas ; essa insegurança pode influenciar negativamente sobre a capacidade de progressão acadêmica e social destes alunos. A SOCIEDADE E O BULLYING Na nossa sociedade, temos três documentos legais que formam a base do entendimento com relação ao desenvolvimento e educação de crianças e adolescentes, afirma Lopes Neto (2005). São eles: a Constituição da República Federativa, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas. Em todos esses documentos estão previstos os direitos ao respeito e à dignidade, sendo a educação entendida

5 como um meio de prover o pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania. Segundo os resultados da pesquisa realizada pela ABRAPIA (2003), a comunidade em geral além de não reconhecer o problema pelo nome: Bullying, muitas vezes é quem motiva comportamentos agressivos. Por exemplo, grande número de jovens que na escola são populares, de grande influência e autores de bullying, em casa, junto à família, são vítimas de assédios, chacotas, servem de bode expiatório, etc. As situações de bullying estão diretamente ligadas a casos de vitimização, explica Seixas (2005). Qualquer comportamento de Bullying é manifestado por alguém e tem como alvo outro indivíduo. Sendo assim, encontra-se sempre subjacente o envolvimento de dois sujeitos: um autor que agride e aquele que é alvo de tal agressão. Nesta perspectiva, quando ocorre um episódio de Bullying, ocorre simultaneamente uma situação de vitimização. Apesar de ocorrer casos de Bullying em setores de trabalho coletivo e em outras diversas situações, é na escola que o fenômeno ocorre com maior intensidade e assiduidade; com maior gravidade entre a 5ª e 8ª séries e no período do Ensino Médio, explica Lopes Neto (2005). O ESTUDO A pesquisa teve caráter qualitativo de cunho exploratório e objetivou identificar a percepção dos profissionais da educação sobre os sintomas característicos do Fenômeno Bullying. Os sujeitos foram dois profissionais da educação da rede pública de ensino do Município de Guaíba, Rio Grande do Sul. Para a coleta dos dados, que serviram de base para esta pesquisa, foi aplicada uma entrevista semi-estruturada, realizada individualmente com cada sujeito. As conclusões do estudo levam-nos a refletir sobre a fragilidade que temos diante do Fenômeno Bullying, pois ele está presente em todas as escolas, faz adolescentes sofrerem em silêncio ou não e gera indignação e angústia às suas vítimas. Contudo, a vontade e os esforços de poucos que lutam por mudanças e maior dignidade no ambiente escolar torna-se insuficiente diante da opressão, da angústia, da dor e do sofrimento causado pela vitimização.

6 No contexto real em que atuam, os profissionais envolvidos neste estudo são capazes de identificar os sintomas característicos do fenômeno, mas não têm instruções de como agir, nem conhecimento a cerca do Bullying. Mesmo sem saberem que seus alunos estão envolvidos pelo Fenômeno Bullying, procuram agir com cautela e amenizar a situação, admitindo que muitas vezes não é fácil, tendo-se que tomar atitudes mais severas envolvendo a direção da escola e a família do aluno. Também ficou evidente a falta de informação dos profissionais da educação em relação ao Bullying. O tema ainda é muito pouco explorado no Brasil, diferente de outros países onde o Estado, através de equipes especializadas, dá formação de como agir e prevenir o Bullying. Em vista disso, a literatura que fala sobre o assunto é majoritariamente estrangeira, mais especificamente em inglês, idioma do qual se origina inclusive o termo bullying, o que dificulta o estudo e a disseminação do assunto entre os profissionais. Estudos recentes evidenciam a gravidade dos traumas causados pelo bullying na vida de muitos jovens; segundo alguns relatos, vários professores que foram vítimas de bullying quando crianças têm grande dificuldade em falar sobre a problemática decorrente do fenômeno em sala de aula, pois ainda sentem receio até mesmo de lembrar o sofrimento moral e psicológico pelo qual passaram. Não podemos deixar de considerar o número de jovens e também crianças que precocemente entram em depressão por não saberem lidar com as excessivas emoções de angústia e raiva reprimida, decorrentes da vitimização e do bullying. Os profissionais da educação e a sociedade em geram ainda desconhecem o termo bullying e também suas conseqüências na sociedade; cremos que em breve, quando todos tiverem acesso a informações sobre o bullying, o fenômeno será reconhecido como um problema universal e exige atitude, principalmente por parte dos profissionais da educação, que são as pessoas que mais intensamente vivenciam e presenciam o fenômeno em sala de aula. Por fim, é importante ressaltar a necessidade de outros estudos acerca do assunto, com o objetivo de facilitar e divulgar o conhecimento aos educadores e à sociedade, para que todos tenham melhores condições de lidar com as questões problemáticas decorrentes do Bullying.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAPIA Associação Brasileira de Multiprofissionais de Proteção à Criança e ao Adolescente. Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Disponível em: http://www.bullying.com.br/. Rio de Janeiro. 2003. [Acesso em abril de 2007]. BEE, H. O ciclo vital. Trad. Regina Garcez. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. DREYER, Diogo. A brincadeira que não tem graça. Portal Educacional. 2005. Disponível em: http://www.educacional.com.br/. [Acesso em abril de 2007]. FELIZARDO, Mário. O Fenômeno Bullying como causa dos massacres em escolas. Iniciativa por um Ambiente Escolar Justo e Solidário. 2007. Disponível em: http://www.diganaoaobullying.com.br/secao_dicas/artigos/artigo _7_eua.htm. [Acesso em abril de 2007] LOPES NETO, A.A. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria Online. Vol. 81, nº 5 (supl.), p. 164-172, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0021-5572005000700006&lng= pt&nrm=iso&tlng=pt. [Acesso em abril de 2007] PALACIOS, Marisa; REGO, Sergio Tavares de Almeida. Bullying: mais uma epidemia invisível? Rer. Bras. Educ. Méd. Vol. 30 nº1. Rio de Janeiro, 2006. SEIXAS, Sonia Raquel. Violência escolar: Metodologias de identificação dos alunos agressores e/ou vítimas. Análise Psicológica XXIII, 2005. Disponível em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v23n2/v23n2a03.pdf. [Acesso em abril de 2007]