Aspectos do atual processo de urbanização de Brumadinho.



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Transcrição:

Floriana de Fátima Gaspar Aspectos do atual processo de urbanização de Brumadinho. Orientadora: Prof ª. Drª Jupira Gomes de Mendonça BELO HORIZONTE ESCOLA DE ARQUITETURA DA UFMG 2005

APRESENTAÇÃO O presente trabalho é resultado da pesquisa realizada entre abril de 2004 e março de 2005, como parte das atividades desenvolvidas dentro do Programa de Educação Tutorial (PET), sob a coordenação da Profª Drª Celina Borges Lemos e orientação da Profª Drª Jupira Gomes de Mendonça. O trabalho se insere ainda em um projeto mais amplo desenvolvido em conjunto pelos Departamentos de Urbanismo da Escola de Arquitetura, Instituto de Geociências e Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), denominado: A expansão metropolitana de Belo Horizonte: dinâmicas e especificidades no Eixo Sul (Projeto Eixo Sul).

Ao Fabrício e à minha família que tanto me incentivam com o seu amor.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Região Metropolitana de Belo Horizonte e Colar Metropolitano. 17 Figura 2 Brumadinho: Principais vias de acesso... 23 Figura 3 Estrada de Ferro Central do Brasil... 26 Figura 4 Vale do Paraopeba - Brumadinho... 28 Figura 5 Ligação Rodoviária Belo Horizonte São Paulo... 29 Figura 6 Áreas afins do município de Brumadinho... 33 Figura 7 Brumadinho: Crescimento demográfico 1991/2000...42

LISTA DE TABELAS Tabela 1. Região Metropolitana de Belo Horizonte População por município e taxa de crescimento 1970-1980-1991-2000.... 12 Tabela 2 - Famílias residentes em domicílios particulares por rendimento médio mensal familiar-1980... 19 Tabela 3 - Evolução da população e urbanização de Brumadinho... 19 Tabela 4: Evolução da população de Brumadinho... 20 Tabela 5. Loteamentos aprovados na sede do município de Brumadinho.. 37 Tabela 6 - Brumadinho: áreas de preservação ambiental... 35 Tabela 7 - Loteamentos aprovados na região dos condomínios em Brumadinho... 39

SUMÁRIO Capítulo 1: Introdução... 7 Capítulo 2: O processo de expansão metropolitana em Belo Horizonte... 9 Capítulo 3: O município de Brumadinho no contexto da metropolização...16 3.1.A formação histórica de Brumadinho...23 3.2.A História dos Distritos de Brumadinho...30 Capítulo 4: Aspectos do atual processo de urbanização de Brumadinho..32 4.2.Áreas de Mineração...34 4.3.Áreas de Preservação Ambiental...35 4.1.Área Urbana da Sede Municipal...36 4.4.Região Dos Condomínios...38 4.5.O crescimento populacional no município de Brumadinho...40 Capítulo 5: Conclusões...44 Referências bibliográficas:...47

Capítulo 1 Introdução Característica comum às regiões metropolitanas é a concentração de recursos quer demográfico, quer de capital (industrial ou comercial). A presença de uma economia de aglomeração e de grandes capitais que operam no setor de serviços possibilita a presença de um segmento moderno de atividade econômica e constitui o brilho das regiões metropolitanas e a sua atratividade para as populações.(plambel,1989) Por outro lado, a grande concentração populacional, conseqüência dessa atratividade e o contraste entre as receitas dos municípios tornam difícil um balanceamento entre a infraestrutura demandada pelo rápido crescimento populacional e a possibilidade dos governos municipais de supri-la. O resultado é o precário ou não atendimento das necessidades básicas de moradia, transporte, saúde e lazer de algumas camadas da população que se concentra nos grandes centros urbanos em busca de condições melhores de vida. A região metropolitana de Belo Horizonte, a semelhança das demais Regiões Metropolitanas, apresenta grande concentração de problemas, que se traduzem num forte quadro de desigualdade social, resultante das características do desenvolvimento brasileiro. Essas desigualdades configuram uma situação de injustiça social que é incompatível com a sociedade democrática que se busca construir e na qual se pretende que seus membros desfrutem de condições mínimas para seu crescimento e desenvolvimento pessoal, caminho imprescindível para que todos colaborem para a construção nacional. Ao longo do seu processo de expansão, a região metropolitana tem apresentado meios de ocupação bastante diversificados, mas sempre fundamentados na exclusão social e na segregação socioespacial.

O presente trabalho tem como objetivo mostrar um pouco dos impactos sobre a urbanização de Brumadinho de uma nova modalidade de expansão metropolitana, quem vem se apresentando com cada vez mais força nessa cidade e já há mais tempo em Nova Lima. Adotados pelas classes mais abastadas, os loteamentos de acesso controlado ou condomínios fechados têm se proliferado no vetor sul da região metropolitana de Belo Horizonte, como uma expansão da zona sul, ou um transbordamento de suas elites. Para elucidar as características da atual urbanização de Brumadinho, inicia-se aqui por uma breve contextualização com o processo de expansão metropolitana: suas características de permanente exclusão e suas conseqüências para a organização social no espaço urbano. A seguir, um histórico da ocupação do município, desde a fundação de seus distritos ainda no período colonial até a construção da estação ferroviária que deu vida ao povoado que hoje é a sede do município de Brumadinho, busca pistas de como as atuais características de ocupação se tornaram possíveis. E finalmente são identificadas as características da ocupação recente de Brumadinho e seus impactos no município ainda desprovido de infra-estrutura para absorver o crescimento acelerado de sua população.

Capítulo 2 O Processo De Expansão Metropolitana Em Belo Horizonte... a divisão da população em duas grandes classes, divisão essa que repousa diretamente na divisão do trabalho e nos instrumentos de produção. A cidade é o resultado da concentração da população, dos instrumentos de produção, do capital, dos prazeres e das necessidades... (OLIVEN, 1980.) O processo de expansão metropolitana no Brasil e também em Belo Horizonte tem se intensificado nas últimas décadas. Esse processo caracteriza-se por um alto grau de hierarquização do espaço e segregação social. Essa hierarquização do espaço esteve presente desde a criação da capital e seguiu sendo reforçada ao longo de sua história. E embora tenha sido planejada para crescer a partir do espaço central ordenado, moderno e dominante, para os espaços periféricos dominados, Belo Horizonte teve seu crescimento determinado pela classe trabalhadora que, excluída do espaço central, determinou a produção espacial da periferia para o centro.(monte-mor1994) Durante o planejamento da então futura capital do estado, a prioridade nos assentamentos foi dada a funcionários públicos e ex-proprietários em Ouro Preto, não sendo previsto no plano um local de moradia para trabalhadores. Excluídos do privilégio de morar dentro dos limites da cidade, a avenida do Contorno, deram origem ao primeiro processo de periferização. Longe do controle estatal e sob o julgo da especulação imobiliária, iniciaram a expansão urbana: loteamentos sem qualquer infra-estrutura se espalharam pela cidade transformando o que fora planejado para ser área de abastecimento da capital também em zona urbana. Num segundo momento do desenvolvimento da cidade, esse processo de expansão de suas fronteiras se deu juntamente com a definição de espaços especializados: a Cidade industrial de Contagem e a Pampulha. Mais tarde, essa especialização do espaço seria explicitada por Otacílio Negrão de Lima, em um

relatório apresentado na Câmara Municipal em 1949, em que ele propunha a criação de cidades satélites ao redor de Belo Horizonte, cada uma delas com função especifica. Assim o Barreiro teria função agrícola, a Cidade Industrial de centro fabril, Venda Nova, o centro residencial e a Pampulha centro de diversão. Cada uma destas cidades seria atraída pelo pólo: o centro de BH, formando um conjunto, em que a especialização garantiria o funcionamento do todo.(belo Horizonte,1994). Percebe-se que já nessa época, as tentativas de controle da formação do espaço urbano partiam da verificação das tendências de assentamentos de atividades e populações, não se contrapondo a este modelo. As conseqüências foram o reforço das tendências da formação espacial da cidade, constituindo-se também em fator de consolidação dos processos de concentração/dispersão e segregação social do espaço. Enquanto espaço dedicado ao lazer e basicamente elitizado, a Pampulha trouxe consigo um eixo viário norte, a Avenida Antônio Carlos, que cria em seu entorno, ainda pouco habitado, um vetor de periferização, possibilitando ainda expansão da cidade na direção norte, que alcançará mais tarde as cidades de Ribeirão das Neves e Santa Luzia. Contígua à capital, mas guardando ainda relativa autonomia, a instalação da cidade industrial em Contagem, então distrito do município de Betim, permitia aproveitar as vantagens locacionais: mercado, mão-de-obra, matérias primas, energia, facilidades de transporte e comunicações e um sistema bancário desenvolvido. Ao mesmo tempo a Cidade Industrial atraiu para si uma população de operários que cresceu rapidamente e deu início ao processo de conurbação. (MONTE-MÓR, 1994). A capital crescia avançando sobre seus limites, polarizando atividades e serviços, gerando dependência dos municípios vizinhos. Os espaços eram socialmente organizados considerando basicamente dois

fatores: proximidade do centro e vocação das atividades localmente desenvolvidas. (TEXEIRA, 2003) Enquanto a área central era o foco dos investimentos e do controle urbano público, a ocupação das áreas periféricas ficou a cargo do mercado imobiliário, que investiu em loteamentos populares, que na sua maioria sequer contava com infra-estrutura básica (água, luz, esgoto, transporte público, etc), definindo assim o padrão de assentamento em cada região. Esse enfoque de investimentos na área central foi desde então um forte fator de hierarquização do espaço. Uma vez que valorizava alguns setores da cidade em detrimento de outros que não eram atendidos pela mesma infraestrutura, tornando-os inalcançáveis para certos extratos da população. Já nas décadas de 70 e 80, quando o processo de urbanização do país se deu com forte aceleração, a capital já em processo de saturação de suas áreas habitáveis, começava a expulsar as populações menos favorecidas, as que chegavam de outras regiões do estados ou mesmos as já aqui estabelecidas, paras os municípios vizinhos, com menos infra-estrutura e recursos, onde o valor dos imóveis era acessível a essa população. Nessa fase, cidades como Santa Luzia, Vespasiano, Ribeirão das Neves e Ibirité, assistiram sua população crescer até três vezes mais que a média regional. Com taxas de crescimento superior a 7,3 %, chegando a 21% em Ribeirão das Neves, quando a média metropolitana nos anos setenta era de 4,68% (ver tabela 1). Esses municípios viam-se então incapazes de garantir empregos suficientes para absorver não só o crescimento natural de suas populações urbanas, mas também aquele decorrente do processo migratório entre as cidades e expulsão dos contingentes populacionais de áreas rurais, configurando-se nas chamadas cidades dormitórios. A discrepância entre os recursos municipais e as necessidades de investimentos em serviços urbanos para atender a população

crescente e a conseqüente geração de renda fora da localidade do município agravava a situação local. Tabela 1. Região Metropolitana de Belo Horizonte População por município e taxa de crescimento 1970-1980-1991-2000. Município População total Taxa de crescimento 1970 1980 1991 2000 70-80 80-91 91-00 Belo Horizonte 1.235.030 1.780.855 2.020.161 2.238.526 3,73 1,15 1,15 Betim 37.815 84.183 170.934 306.675 8,33 6,65 6,71 Brumadinho (*) 17.874 17.964 19.308 26.614 0,05 0,66 3,63 Caeté 25.166 30.634 33.251 36.299 1,99 0,75 0,98 Contagem 111.235 280.477 449.588 538.017 9,69 4,38 2,02 Esmeraldas (*) 15.698 16.206 24.298 47.090 0,32 3,75 7,63 Ibirité 19.508 Sarzedo (**) Mário Campos (**) Igarapé (*) 7.675 S. Joaquim de Bicas (*)(**) Lagoa Santa 14.053 Confins Mateus Leme (*) 11.929 Juatuba (*)(**) 39.970 92.675 160.853 7,44 7,95 6,32 16.563 27.400 42.990 8,00 4,68 5,13 19.508 29.824 42.752 3,33 3,93 4,08 18.657 27.033 40.533 4,57 3,43 4,60 Nova Lima 33.992 41.223 52.400 64.387 1,95 2,20 2,32 Pedro Leopoldo 20.670 29.999 41.594 53.957 3,80 3,02 2,93 Raposos 10.133 11.810 14.242 14.289 1,54 1,72 0,04 Ribeirão das Neves 9.707 67.257 143.853 246.846 21,36 7,16 6,18 Rio Acima 5.118 5.069 7.066 7.658-0,10 3,07 0,90 Sabará 38.167 64.204 89.740 115.352 5,34 3,09 2,83 Santa Luzia 25.301 59.892 137.825 184.903 9,00 7,87 3,32 Vespasiano 12.429 S. José da Lapa (**) 25.049 54.868 91.422 7,26 7,39 5,84 Total 1.651.500 2.609.520 3.436.060 4.259.163 4,68 2,53 2,69 Fonte:IBGE, Censos demográficos 1970, 1980, 1991, 2000 In: Teixeira, João Gabriel (*)Municípios que não faziam parte da RMBH em 1980 (**)Município emancipados posteriormente a 1991 Na década de 90, o que se observou na Região Metropolitana, foi uma ligeira queda no crescimento populacional, mesmos nos casos em que esse crescimento

ainda era bem maior que a média regional de 2,69%, sendo que a capital cresceu apenas 1,15% ao ano. Nesse período verificou-se um crescente processo de esvaziamento populacional, simultâneo ao adensamento construtivos dado pela verticalização das regiões centrais mais valorizadas e maiores beneficiárias dos investimentos públicos e privados. Confirmando as tendências à desconcentração populacional e à ocupação das periferias urbanas, que até então se dava predominantemente pelos segmentos operários e populares, a expansão se apresenta agora numa nova modalidade de ocupação, das classes média-alta e alta, que buscam regiões afastadas do centro urbano, como Lagoa Santa, Esmeraldas, Nova Lima e Brumadinho com seus refúgios de final de semana, e nos casos específicos de Nova Lima e Brumadinho também como residência principal. Com o rápido crescimento urbano e a conseqüente queda geral da qualidade de vida do cidadão metropolitano, expressa, entre outros, nos índices de violência urbana, percebe-se hoje um avanço ou mesmo migração dessas elites, que ocupavam tradicionalmente a região centro-sul da cidade, próxima à infraestrutura e dispondo de todo tipo de serviços que uma capital pode oferecer, do vetor sul da cidade já altamente adensado, para os limites da cidade com Nova Lima e que já transborda sobre Brumadinho. Esse tipo de ocupação, porém, se diferenciou por diversos fatores, tais como: proliferação dos condomínios de acesso controlado, cultura de moradia antiurbana calcadas num ideal de segurança e suposta integração com a natureza. E é neste contexto, que na última década Brumadinho viu seu crescimento populacional passar de 0,66%, para 3,63%, um crescimento bastante expressivo em tempos de desconcentração populacional. A expansão metropolitana se dá agora no seu vetor sul através dos chamados condomínios fechados, que se multiplicam a cada dia nas cidades de Nova Lima e Brumadinho. Segundo Maricato (2000), essa nova modalidade de ocupação só se tornou possível como conseqüência da globalização: a informatização e a

evolução nas comunicações provocaram uma revolução da relação espaço x distância que trouxe mudanças nos fatores que antes definiam as localizações das unidades produtivas e empregos, e conseqüentemente a localização residencial. Em Nova Lima, os chamados condomínios se estendem pelo eixo das duas rodovias que cortam a cidade: a BR-040 que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro, e a MG-030 que faz a ligação da capital com as sedes de Nova Lima, Raposos e Rio Acima. Esse processo peculiar de expansão urbana se tornou possível em Nova Lima devido à concentração de uma parte considerável das terras do município (76% de seu território, a título de reservas para a exploração de minério) nas mãos grandes mineradoras: MBR e Anglo-Gold e em menor escala a Mineração Rio Verde. Essa concentração permitiu que a parte dessas terras não utilizadas na mineração tivesse uma aparência de natureza intocada, atraindo pessoas desejosas de morar num ambiente mais saudável e ainda próximo de Belo Horizonte estabelecendo os primeiros condomínios na região. Mais recentemente, devido ao esgotamento de algumas jazidas de ouro e minério de ferro comercialmente explorável, essas mineradoras partiram para um novo ramo de negócios: o parcelamento de suas reservas com o intuito de potencializar seus ganhos financeiros. A grande concentração de terras permite a essas empresas a manutenção de seus preços: sem o excesso de oferta é possível evitar a desvalorização dos mesmos. Também o valor cênico da região, é muito explorado pelas empresas responsáveis pela execução e venda dos mesmos. Já em Brumadinho esse processo se deu de forma bem diferente de Nova Lima. Por estar um pouco mais distante da capital, não fazendo limite direto com a mesma, somente na última década Brumadinho entrou no circuito da expansão metropolitana. Sua grande extensão territorial coloca o município entre dois eixos de articulação viária: O vetor oeste através da BR-381 e o vetor sul através da BR- 040, dando-lhes as mais diversificadas características.

Essa articulação diversa permitiu ao município que se relacionasse, através de sua Sede, com a região industrial do aglomerado metropolitano, e gozasse de certo desenvolvimento enquanto polarizava municípios vizinhos que tinham seu único acesso à Belo Horizonte através de Brumadinho. E ao mesmo tempo, mantinha em sua porção leste, regiões com fortes características rurais entremeadas por pequenos povoados. A topografia difícil e as más condições de acesso a algumas áreas do município fizeram que sua ocupação fosse menos intensa, ao longo dos anos, nas áreas próximas a Serra da Moeda que circunda todo o limite do município com Nova Lima e a Rodovia BR-040, deixando, essa parte em especial do município, por muito tempo fora da rota de expansão da metrópole. O crescimento populacional observado na última década em Brumadinho, mostra que o relevo montanhoso, não somente, não tem mais se configurado em empecilho para ocupação dessa região, como tem se transformado em atrativo para os seus novos moradores, colocando Brumadinho no eixo sul da expansão metropolitana.

Capítulo 3 O Município de Brumadinho no Contexto da Metropolização. Quando as Regiões Metropolitanas foram instituídas em 1973, visava-se à integração do planejamento, da organização e da execução de serviços comuns de interesse metropolitano. O objetivo era, portanto amenizar a discrepância entre as necessidades e os recursos municipais. Uma vez que as grandes concentrações urbanas, ao se estenderem pelos municípios vizinhos geram como que uma só cidade, sob várias administrações municipais, tem-se quase que uma mesma demanda por recursos em contraste com as diferentes receitas municipais para atendê-las, conseqüência de uma distribuição desigual, entre os vários municípios, dos diversos tipos de atividades econômicas e funções urbanas. (PLAMBEL, 1993). Assim a Região Metropolitana de Belo Horizonte foi criada com quatorze municípios, Belo Horizonte, Betim, Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, municípios que se encaixavam nesse perfil de interdependência com a capital. Com o avanço das fronteiras urbanas, outros municípios foram se agregando a RMBH. E com a promulgação da Constituição do Estado de Minas Gerais em 1989, foram adicionados à região metropolitana os municípios de Igarapé, Mateus Leme, Esmeraldas e Brumadinho. A região Metropolitana de Belo Horizonte conta hoje com 34 municípios 1. 1 Os 34 municípios que hoje compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte são: Belo Horizonte, Betim, Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano. Os municípios de Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé e Mateus Leme foram incorporados pela constituição estadual de 1989. Juatuba e São José da Lapa (emancipados de Mateus Leme e Vespasiano, respectivamente) foram incluídos na RMBH em janeiro de 1993 através da lei complementar nº 26. Sarzedo e Mario Campos, emancipados de Ibirité em 1995, São Joaquim de Bicas, emancipado de Igarapé em 1995, Confins, emancipado de Lagoa Santa em 1995, Florestal e Rio Manso foram incorporados em novembro de 1997 pela Lei Complementar nº 48. Em janeiro de 2000 a lei complementar nº 56 incorporou os municípios de Baldim, Capim Branco, Itaguara, Jaboticatubas, Matozinhos, Nova União e Taquaraçu de Minas. Em janeiro de 2002 a lei complementar nº 63 incorporou o município de Itatiaiuçu, completando os 34 municípios que atualmente compõem a RMBH.

Figura 1 Região Metropolitana de Belo Horizonte e Colar Metropolitano Fonte:Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia / Instituto de Geociências Aplicadas. Adaptações da autora. No caso especifico de Brumadinho, sua inclusão na Região Metropolitana se deu devido não somente ao processo de expansão urbana que ainda não chegava de

forma expressiva a seus limites. O acesso à sua sede se dava pela MG-040, rodovia estreita e sinuosa e com intenso tráfego de caminhões que transportam o minério de ferro extraído de seu território ou por estradas não asfaltadas que levavam às rodovias BR-381 e BR-040. A principal razão para a inclusão de Brumadinho na RMBH está vinculada a questão ambiental. O município mostra total comprometimento com o processo de metropolização, já que nele se localizam recursos hídricos necessários ao abastecimento de água da RMBH: o Sistema Rio Manso. Sua densa rede hidrográfica pertence à Bacia do Rio São Francisco, e suas nascentes formam vários córregos e afluentes do Rio Paraopeba (PLAMBEL, 1991). Quando foi instituída a Região Metropolitana de Belo Horizonte, o município se caracterizava por ser basicamente rural. Sua renda era proveniente principalmente das minerações e a economia local era voltada para a produção de hortaliças e outros produtos agropecuários para abastecimento de Belo Horizonte. Até o final da década de 70 o município apresentava desenvolvimento típico da grande maioria dos municípios do interior de Minas. Ao ser incluído na RMBH, no final da década de 80, Brumadinho apresentava um baixo grau de desenvolvimento quando comparado aos demais municípios. A extração mineral respondia por cerca de 98% do valor de transformação industrial total do município, empregando mais de 85% do pessoal ocupado no setor. A atividade agrícola era desenvolvida com base na pequena produção familiar, em pequenas glebas de tamanho médio de 30 a 40 ha, com uma pauta diversificada entre culturas de subsistência e a produção de pocan, principal produto econômico. Nas atividades pastoris, a pecuária leiteira era atividade mais expressiva, com produção que girava em torno dos 10.000 litros de leite /dia segundo o censo agropecuário 1985 (PLAMBEL, 1995).

O rendimento médio da população se encontrava bem abaixo da média metropolitana. Cerca de 50% da população de Brumadinho recebia até 2 salários mínimos, enquanto em média 24% da população metropolitana situava-se nessa faixa de renda. Acima de 20% da população recebia até um salário mínimo, contra 6,8% para o conjunto da RMBH. (ver tabela 2) Tabela 2 - Famílias residentes em domicílios particulares por rendimento médio mensal familiar-1980 (%) Até De 0,5 a De 1,0 a De 2,0 a De 5,0 a Mais de Sem Sem Total 0,5 sm 1,0 sm 2,0 sm 5,0 sm 10 sm 10 sm rendimento declarar Brumadinho 6,29 15,24 25,25 31,54 12,43 7,22 1,05 0,98 100 RMBH 1,72 5,47 17,76 35,90 19,69 17,51 1,2 0,75 100 Fonte: Plambel, In: Plano Diretor da RMBH: diagnóstico das funções públicas de interesse comum dos municípios de Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé,e Mateus Leme, incorporados à RMBH por força da constituição estadual de 1989. O grau de urbanização do município era, até o inicio dos anos noventa de 59,99%, inferior à média metropolitana de 94,82 ou mesmo do Estado de Minas Gerais que chegava a 74,87%. Apesar disso, o município vem demonstrando desde a década de 70 uma redução de sua população rural e aumento expressivo de sua população urbana. Tabela 3 - Evolução da população e urbanização de Brumadinho Total Urbana Rural absoluta % Absoluta % 1950 13.018 1.827 14 11.191 86 1960 14.313 3.887 27 10.477 73 1970 17.874 7.136 40 10.738 60 1980 17.964 8.611 48 9.353 52 1991 19.308 11.583 60 7.725 40 2000 26.614 19.373 73 7.214 23 Fonte: IBGE, Censos Demográficos de Minas Gerais: 1950, 1970,1980,1991,2000; IBGE, Sinopse Preliminar do Censo Demográfico de Minas Gerais, 1960; IBGE, In: Prefeitura Municipal de Brumadinho, Lei municipal nº 1198 de 13/09/2001. Concomitante a esse processo de urbanização, Brumadinho vem apresentando um crescimento progressivo de sua população, porém pouco expressivo até a década de 90, com densidades demográficas cada vez maiores, embora ainda muito inferiores às da Região Metropolitana.

Tabela 4: Evolução da população de Brumadinho Ano População total Brumadinho Densidade demográfica (hab/ Km 2 ) Taxa de crescimento (anual) População total RMBH Densidade demográfica (hab/ Km 2 ) Taxa de crescimento (anual) 1970 17.874 28,2 1.151.500 283,5 1980 17.964 28,3 0,05 2.609.520 446,1 4,68 1991 19.308 30,4 0,66 3.436.060 587,4 2,53 2000 26.614 42,7 3,63 4.259.163 728,1 2,69 Fonte:Anuário Estatítico de MG.1983/84. Plambel As baixas densidades demográficas apresentadas pelo município ao longo de sua ocupação tiveram como conseqüência, a preservação ambiental de boa parte do território do município, tornando-o hoje bastante atraente para classes de renda média e alta, que fogem da degradação dos centros urbanos. Inúmeros loteamentos e sítios de recreio com moradores eventuais de fins de semana proliferaram ao pé da serra da moeda nas últimas décadas, e vêm se tornando cada vez mais a primeira residência de seus proprietários. As grandes mudanças nos centros urbanos, o aumento populacional vertiginoso, a piora na qualidade de vida dos cidadãos e a grande dificuldade de suprir toda essa população de suas necessidades básicas, aliadas às sucessivas crises econômicas, trouxeram mudanças drásticas ao quadro social e conseqüentemente no modo de vida das pessoas. Talvez o aumento da violência urbana, um dos problemas mais apontados nos grandes centros, tenha sido o principal fator de mudança cultural que permitiu às classes mais favorecidas e, portanto as que se sentem mais ameaçadas por essa violência, uma postura de auto segregação perante a cidade, que se iniciou com os Shoppings Centers e culminou na adoção dos condomínios fechados como novo modo de morar dessas classes.

A escolha de Brumadinho nesse caso está intimamente ligada à distancia relativa desse município, representada por seus obstáculos naturais. O que no momento de maior crescimento demográfico de Belo Horizonte e suas vizinhanças resultou na preservação de terras que eram então de difícil acesso, hoje se configura em barreira de proteção para essas classes. O clima ameno característico da serra e o aspecto de cidade interiorana encontrados em Brumadinho reforçam o caráter de fuga da cidade. Por outro lado, a ausência de relações desses condomínios com a administração municipal e com a própria população nativa evidencia a construção de uma nova cidade dentro da cidade. É uma continuidade do modo de vida urbano, porém longe dos grandes centros. O padrão de consumo é o mesmo, e tem como referência as necessidades de uma sociedade global, facilitado pela comunicação via web e as compras pela Internet. Esse padrão de consumo traz pressões para que os lugarejos e vilas da vizinhança, entre elas a sede do distrito histórico de Piedade do Paraopeba, se transformem em cenário de consumo para esses novos moradores, com a implantação de restaurantes e bares sofisticados, que nada têm em comum com a cultura local. O valor agregado às mercadorias destinadas a esse público, acaba apartando a população local do comércio ou mesmo das raras opções de lazer da região 2. Somado à privatização da natureza, que transforma cachoeiras e cursos d água antes abertos ao uso público, em áreas privadas e de acesso bastante restrito, são mudanças na dinâmica das atividades locais que diminuem as opções de lazer dos moradores de baixa renda, diminuindo também sua qualidade de vida. A mudança do uso da terra, antes dedicada à produção rural, traz grandes impactos para um município até então de bases rurais. Aliada ao aumento da 2 O preço praticado em alguns mercadinhos da região de Casa Branca para a cerveja, por exemplo, é mesmo praticado nos bares da região sul de Belo Horizonte.

dificuldade de venda dos produtos produzidos pelo pequeno produtor, a valorização das terras da região provoca pressões sobre os camponeses para venda de suas propriedades. As mudanças no uso do solo tem como conseqüência a mudança de atividade econômica. O pequeno produtor rural, que muitas vezes plantava o suficiente apenas para o consumo próprio, é hoje, junto com aqueles que migraram para o município em busca de oportunidade de trabalho, quem presta serviço nos condomínios através das atividades de caseiro, jardineiro, e outros. Antigamente, as pessoas trabalhavam na roça, tinham pomar, umas vaquinhas. Hoje é mais difícil. Antes era fácil vender: a gente ia à feira, a o mercado, e vendia. Hoje é mais difícil: precisa ter carteira de produtor, dar nota [fiscal]. Antes, o leite era levado no latão. Hoje, a cooperativa[itambé] exige o tanque. Ninguém mais pode vender pra eles. Só umas poucas fazendas que têm tanque. Lá pros lados de Brumadinho têm uns tanques comunitários. Aqui não. A maioria, quase todos, trabalha no Retiro do Chalé. Vem um ônibus da Saritur de manhã, recolhe o pessoal e traz no fim da tarde (coletânea de depoimentos de moradores).(in Mendonça et al, 2004) E se uma parte considerável do crescimento populacional do município se deve ao aumento da ocupação e do número de loteamentos de acesso controlado, há também uma grande ocupação dos povoados e loteamentos populares vizinhos aos condomínios por novos moradores que buscam estar mais próximos do novo foco de oportunidades de serviços domésticos e da construção civil. Ao mesmo tempo em que essa nova modalidade permitiu a manutenção da sobrevivência dos antigos moradores, trouxe também o aumento da demanda por infraestrutura nesses locais e o risco da ocupação predatória e irregular nos vilarejos que podem causar sérios danos ao patrimônio histórico e as reservas ambientais.

3.1.A formação histórica de Brumadinho 3 Figura 2 Brumadinho: Principais vias de acesso Fonte:Elaboração da autora O município de Brumadinho se localiza a sudoeste da capital, estando a 49 quilômetros da mesma. Seus acessos se fazem pela rodovia MG-040, BR-381 e a BR-040. Por ser um município de grandes extensões territoriais, terceiro maior da região metropolitana com 634 Km 2, Brumadinho apresenta grande diversidade em seu território. O município se caracteriza por pertencer ao complexo ambiental do Quadrilátero Ferrífero, tendo nos seus limites leste e norte o encontro de dois sistemas de montanhas ou cadeias: O Sistema da Moeda e o Sistema do Fecho do Funil. O primeiro estende-se desde Congonhas do Campo, na direção norte, 3 Este item foi descrito tendo como principais fontes JARDIM, 1982 e CRUZ, 2004.

até as vizinhanças de Belo Horizonte, quando se encontra com o segundo. Este parte daí na direção oeste, até o pico do Itatiaiuçu, no Sistema Serra Azul. O nome das serras varia, de acordo com os nomes oficiais e apelidos dados pelo povo. Algumas são por isso conhecidas por mais de um nome. A Serra da Moeda, a partir de Congonhas recebe os seguintes nomes: Santa Cruz, Palmital, dos Paulistas, da Boa Vista, da Boa Morte, do Vieira, da Barra, do Marinho, de Suzana, Varanda de Pilatos, Pedro Paulo da Calçada, do Ouro Fino e da Piedade ou Rola-Moça. Nesse trecho, o Sistema da Moeda encontra-se com o Sistema do Fecho do Funil e as serras convergem para oeste. É nesse entroncamento que está o ponto mais alto do município, com 1583 metros de altitude. A partir daí, caminhando para o oeste, as serras do Sistema do Fecho do Funil recebem os seguintes nomes: Varjão, Jangada, Samambaia, Três Irmãos, do Funil, do Candú, Saraiva ou Marinheiro, Diabo-os-Leve, Inhotim, da Bocaina, Pau de Vinho, Farofas, do Gentio, Itatiaia e Serra Azul. As serras que circundam Brumadinho juntamente com os seus mananciais são seguramente o seu mais precioso bem natural e que além do espetáculo cênico oferece ao município um imenso depósito de riquezas minerais. O município ainda é cortado em toda sua extensão pelo Rio Paraopeba, que pertence à Bacia do Rio São Francisco. Também compõem sua hidrografia o Rio Manso, importante manancial de abastecimento de água da Região Metropolitana, e outros ribeirões menores. A história do município de Brumadinho começa com a construção do ramal do Paraopeba da Estrada de Ferro Central do Brasil. O povoado cresceu e se desenvolveu com estabelecimento de uma estação da estrada de ferro próximo ao leito do Rio Paraopeba. A linha que atravessa todo o vale do Paraopeba fazia parte de um ambicioso plano, de âmbito nacional, de uma viação férrea que ligaria a então capital Rio de

Janeiro, a Belo Horizonte e São Paulo, unindo com um laço de ferro os três estados mais importantes da federação. A central integraria ainda o sudeste ao nordeste brasileiro em conjunto com a Viação Férrea do Leste Brasileiro através da linha Belo Horizonte-Monte Azul-Salvador e teria integrado também ao norte se a construção do trecho Belo Horizonte Pirapora Belém não tivesse sido abandonada no início da década de 1920. Desde a decadência da mineração do ouro, a economia do estado se mostrava bastante estagnada, praticando apenas lavoura de subsistência e uma pequena mineração. O desenvolvimento da cultura cafeeira e a possibilidade de extrair e exportar o minério de ferro através da nova ferrovia trouxe novo ânimo para a economia do estado. O crescimento das linhas interessava ainda à economia inglesa, que nessa época procurava criar novos mercados para os seus produtos manufaturados, o que explica a presença quase que maciça de construtoras de capital inglês na execução das ferrovias. Foi a existência dos grandes depósitos de minério de ferro na região que determinou a construção do ramal. Ele saía da Estação de Doutor Joaquim Murtinho, no município de Congonhas do Campo, e passando pelas estações de Belo Vale, Moeda, Brumadinho, Souza Noschese, Inhotim, Fecho do Funil, Sarzedo, Ibirité, Jatobá, Gameleira e Belo Horizonte e retornava a linha central na Estação General Carneiro, em Sabará. Com a construção do ramal por volta de 1914, começaram a surgir no local em que seria construída a estação as primeiras habitações. Até que fosse inaugurada, a estação funcionou como cabeça de trecho, local de distribuição de materiais e suprimentos para a construção da linha férrea. A estação recebeu o nome de Brumadinho devido ao antigo nome do povoado mais próximo: Brumado do Paraopeba, mas que já nessa época se chamava Conceição do Itaguá, e era sede do distrito ao qual a região pertencia.

Figura 3 Estrada de Ferro Central do Brasil Fonte: http://www.geocities.com/central_do_brasil/principal.html

Quando foi inaugurada a estação em 1917, muitos dos trabalhadores resolveram se estabelecer na região. Em 1923, o povoado que se formou ao redor da estação foi promovido a distrito, pertencendo ao Município de Bonfim. A condição distrital passou então de Conceição do Itaguá para Brumadinho. Mais quinze anos se passaram até que o distrito se transformasse em município. Brumadinho foi criado no dia 17 de dezembro de 1938 pelo Decreto-Lei Estadual nº 148, que foi baixado em decorrência da Lei Federal nº 311, de 02 de março que reorganizava o quadro territorial brasileiro. O mesmo decreto que criava o município, anexava-lhe ainda os distritos de Aranha e São José do Paraopeba, saídos do Município de Itabirito e Piedade do Paraopeba, desmembrado do Município de Nova Lima. Desde sua criação o município viveu alguns momentos de insegurança e incerteza. Muito antes da existência do município já se havia atentado para a facilidade de se fechar a garganta do fecho do funil, tornando o Vale do Rio Paraopeba um imenso lago, com notável potencial energético. O assunto ficou esquecido por alguns anos por não haver ainda uma demanda tão grande por energia na capital. Essa estória voltou perturbar os moradores de Brumadinho na década de 40, com o crescimento do parque industrial, em Belo Horizonte, que criava a previsão de um estrangulamento de energia em pouco tempo. Os estudos para sua construção foram então realizados, criando insegurança para os moradores quanto ao futuro da cidade e a queda vertiginosa do valor dos imóveis. Esses estudos revelaram que uma barragem de apenas 60 metros de altura formaria um lago artificial de 118 Km 2 de superfície, com uma potência de 140.000 Kwh, mas a idéia fora descartada pela decisão de construir a barragem maior de Três Marias.

Figura 4 Vale do Paraopeba - Brumadinho Fonte: Elaboração da autora. Na década de 50 os técnicos da CEMIG, companhia estatal que acabara de ser criada em substituição à decadente empresa de capital estrangeiro Força e Luz voltaram a se interessar pelo local. Esse episódio juntamente com a construção da Rodovia Fernão Dias, que desviava o tráfego de ligação Belo Horizonte - São Paulo para fora do município foi um duro golpe para o desenvolvimento da região. Somado ao fato de que destruía um movimentado comércio interestadual que aproveitava o entroncamento das vias férrea e rodoviária, a construção da nova rodovia ainda aumentava o temor da realização da barragem, uma vez que, para os moradores, só a sua futura e hipotética construção justificava o deslocamento do tráfego rodoviário. A construção da Barragem do Paraopeba foi finalmente descartada nessa mesma década, quando os técnicos declararam que o terreno constituído de filito, uma camada geológica que não resiste à erosão das águas, obrigaria à uma impermeabilização do solo tornando a empreitada economicamente inviável.

Figura 5: Ligação Rodoviária Belo Horizonte São Paulo Fonte: João Kubitschek de Figueiredo: Mapa rodoviário de Minas Gerais, 1957. Porém a construção da BR-381 ainda traria alguns benefícios temporários para Brumadinho, que acabou polarizando municípios sem ligação direta com a rodovia: Rio Manso, Bonfim, Piedade dos Gerais e Crucilândia. Uma vez que tinha através Brumadinho o seu único acesso a capital, a população desses municípios utilizava seu comércio, serviços de saúde, educação e serviços prestados pelos órgãos públicos aí sediados (sede de comarca, administração fazendária, escritório da COPASA, da EMATER, cartório de registro de imóveis, banco do Estado), deslocando-se para Belo Horizonte apenas para as demandas de serviços mais especializados. Com a construção da represa de Rio Manso, para abastecimento de água da região metropolitana, e a duplicação da Rodovia Fernão Dias (BR-381), esses municípios ganharam acesso direto à Rodovia, diminuindo o seu grau de interdependência e o poder de polarização de Brumadinho, que hoje se articula principalmente com Betim, Contagem e Belo Horizonte através da Região do Barreiro.

3.2.A História dos Distritos de Brumadinho Embora o Município de Brumadinho seja bastante novo, a história dos povoados que compõem seus distritos começa na primeira fase do povoamento de Minas. Piedade do Paraopeba, o mais antigo deles, é originário da época das Bandeiras. Sua historia se confunde com colonização e a descobertas das minas de ouro, conservando ainda sua igreja do período missionário jesuítico que data de 1713. Algumas versões dizem ter sido o povoado, fundado por Fernão Dias Pais Leme, bandeirante incumbido de conquistar a região e encontrar as minas de esmeraldas e a montanha de prata que os índios diziam haver por aqui. Piedade do Paraopeba servira de apoio para as a expedições bandeirantes e mais tarde como ponto de abastecimento das minas e pouso para os viajantes vindos de São Paulo e Rio de Janeiro que se dirigiam para Ouro Preto e Mariana em busca de enriquecimento. A existência do povoado antecede até mesmo a existência dessas duas grandes cidades mineradoras. A riqueza de sua igreja é um forte indicador de que ali se desenvolvera um forte ponto minerador. É absolutamente admissível supor-se que Piedade do Paraopeba tenha sido um centro maior de mineradores, porque não há outra maneira de explicar a suntuosidade de sua igreja, de seu altar muito bem trabalhado em madeira. Só um lugar que tivesse um número relativamente grande de moradores, e que ali houvesse renda suficiente, poderia propiciar a construção de tal igreja. A igreja de Piedade do Paraopeba é um monumento importantíssimo dessa primeira fase da ocupação de Minas Gerais e do primeiro período arquitetônico: o missionário-jesuíco. Não é uma simples ermida. Rivaliza em importância com as principais igrejas do Estado.(JARDIM,1982) Quase tão antigos quanto Piedade do Paraopeba, são o povoado de São José do Paraopeba, que fora fundado como São José do Salto do Paraopeba, Aranha, que se chamava Jesus, Maria e José da Boa Vista do Aranha, e Conceição do Itaguá, antigo Brumado do Paraopeba. Juntos formam o conjunto de distritos históricos do município de Brumadinho e foram fundados logo após a descoberta do Ouro em

Minas Gerais. Deles, apenas Piedade do Paraopeba conserva ainda o casario antigo e a Igreja com pouquíssimas modificações, os demais distritos tiveram seu patrimônio destruídos ou reformado a ponto de não mais conservarem as características do período. Esses distritos tiveram sua importância histórica, por serem fundamentais para o abastecimento das zonas mineradoras. As fazendas que se espalhavam no entorno da Serra da Moeda e todo o Vale do Paraopeba, eram responsáveis pelo fornecimento não apenas de gêneros agrícolas, tais como feijão, milho e farinhas de milho e mandioca, arroz e azeite de mamona, mas também de gado em pé e muares. E mesmo após a queda do ciclo do ouro a atividade agropecuária continuou intensa na região. Com a construção da ferrovia no médio Paraopeba, deslanchando a exportação de minério de ferro, fazendas com terras nas Serras dos Três Irmãos, Rola Moça e Moeda foram vendidas a companhias mineradoras, levando ao despovoamento das áreas vizinhas às serras. Grande parte dessas terras permaneceu como reservas para as mineradoras, dando oportunidade à natureza de passar por um intenso processo de recuperação, chegando mesmo a parecer intocada em algumas áreas, embora tenham sido intensamente revolvidas durante todo o século XVIII e XIX.

Capítulo 4 Aspectos Do Atual Processo De Urbanização De Brumadinho Por ser um município de grande extensão territorial, Brumadinho possui uma ocupação do espaço rarefeita e desigualmente distribuída em seu território, que se caracteriza por áreas de vocações e interesses diferenciados e que aparentemente, não apresentam grande integração entre si. O relevo caracterizado por vales encaixados e altas declividades impede a expansão urbana de forma contínua, com inúmeros povoados que se instalam nas áreas de topografia mais favorável. Estas características do relevo desfavorecem, ainda, as ligações viárias, tornando a acessibilidade a diversos pontos bastante difícil. As diretrizes para a estruturação do Espaço Urbano de Brumadinho 4 definem o município em quatro áreas: Áreas de Mineração, que se localizam por toda a extensão do Sistema do Fecho do Funil. Áreas de preservação ambiental, que cobrem uma parte considerável do município impar em sua diversidade ambiental. Estas áreas estão distribuídas por toda a extensão do município, e não raro coincidem com áreas ocupadas pelos condomínios, áreas de atividades rurais ou mesmo áreas de mineração. Áreas urbanas próximas à BR-040, na porção leste do município, com características de ocupação e padrões diferenciados núcleos de ocupação mais antiga e condomínios de acesso controlado, mantendo poucas ligações com a sede do município e com forte dependência de Belo Horizonte. Sede urbana e entorno, que se localiza na porção centro-oeste do município, com acesso pelas rodovias MG-040 e BR-381 mantendo forte ligações com o município 4 Lei Municipal nº 1198 de 13/09/2001.

de Betim, Cidade Industrial de Contagem e áreas limítrofes de Belo Horizonte, mantendo seu contato com a capital principalmente através da Região do Barreiro. Além do distrito sede, essa área inclui também a sede do distrito de Conceição do Itaguá, já em estado de conurbação urbana com a sede municipal. Além dessas, podemos ainda acrescentar as áreas rurais, que se encontram dispersas por toda a extensão do município, com pouca relação com a sede municipal e economia voltada para pequena produção agropecuária. Figura 6 Áreas afins do município de Brumadinho Elaboração da autora Fontes:

4.2.Áreas de Mineração Quanto às áreas de mineração, o processo de ocupação do território municipal esteve, desde o inicio do século, vinculado à disponibilidade de recursos minerais, sendo o minério de ferro o mais explorado. Suas principais reservas encontram-se na serra da Moeda e região do Fecho do Funil, onde se instalaram grande número de empresas mineradoras. O município apresenta uma economia que, do ponto de vista do valor, encontra-se fundada na extração mineral (setor secundário), voltado para fora do município, que, contudo não constitui o principal setor ocupador do município, perdendo para as atividades de agropecuária e comércio e serviços. As principais mineradoras presentes no município até o início da década de noventa são: FERTECO Mineração S.A, Empresa Mineração Esperança S.A (EMESA), Mineração Anselmo Santalena, MIPASA (Minas do Paraopeba LTDA), Mannesmann Mineração Ltda, Mineração Vista Alegre Ltda, Mineração Rio Bravo Ltda, Mineração Casa Branca, Extrativa Paraopeba Ltda, MBR, Mineração Fernão Dias Ltda. Algumas dessas mineradoras faliram, como é o caso da EMESA (Empresa de Mineração Esperança) que abriu falência em 1996, ou encerraram suas atividades no município deixando para trás a degradação ambiental provocada por suas atividades extrativas.

4.3.Áreas de Preservação Ambiental Quanto ao aspecto ambiental, boa parte do território municipal, quase 50%, se encontra em áreas de preservação ambiental que estão assim distribuídas: Tabela 5 - Brumadinho: áreas de preservação ambiental Nome Lei/Decreto Área Total (ha) Área em Percentagem Brumadinho (ha) localizada município APA-SUL 35.624-165.259 18.249 11,04% 08/06/1996 APE-Catarina 22.096-180 180 100% 14/06/1982 APE-Rio Manso 27.928-65.778 9.256 14,07% 15/03/1988 Parque Estadual 36.071-3.941 891 22,625 do Rola Moça 27/09/1994 APA-PAZ 1.385-1.112,5 1.112,5 100% Municipal de 02/10/2003 Inhotim Total 236.270,5 29.688,5 Fonte: Anuário Estatístico de Minas Gerais 2000/2001 no Apesar de ter boa parte de seu patrimônio ecológico protegido, a questão ambiental ainda suscita sérias preocupações no município. O afastamento e tratamento dos esgotos sanitários, a destinação final dos resíduos sólidos urbanos e aspectos relacionados à ausência de drenagem pluvial são alguns dos pontos a serem melhorados. O abastecimento de água da população dos distritos e povoados também é um sério problema na região. Uma vez que esse abastecimento é feito por poços artesianos e complementado pela água dos córregos vizinhos sem tratamento prévio, trazem vários riscos ao consumidor, como é o caso de Piedade do Paraopeba que retira sua água pra consumo do Córrego Carrapato. Também o Córrego Mãe D água é fonte de suprimento dos loteamentos Quintas da Boa Vista, Recanto da Serra I, II e III, Retiro do Chalé (em parte), e localidade de Palhano.

4.1.Área Urbana da Sede Municipal A sede urbana está às margens do Rio Paraopeba e do leito ferroviário da antiga RFFSA. Contíguo à sede e caracterizando uma conurbação urbana, está o Distrito de Conceição do Itaguá, cuja área central de ocupação mais antiga mantém ainda o traçado e as características urbanísticas do povoado de Brumado do Paraopeba, importante marco na história da cidade. É o local onde se concentram todos os principais serviços e o comércio oferecidos pelo município. O acesso é feito pela MG-040 por uma ponte sobre o Rio Paraopeba. A maior parte da área urbana está localizada à margem esquerda do Rio, e a rodovia chega pela margem direita, sendo a ponte o único acesso à cidade. Essa parte do município tem mostrado crescimento muito próximo à média metropolitana de 2,69%. Junto com a área rural que a circunda, o crescimento total foi de 2,64% ao ano. Caracteriza-se por ser uma área de ocupação progressiva. Os loteamentos que têm se espalhado pela sede, principalmente na última década, após a inclusão do município na Região Metropolitana de Belo Horizonte, oferecem em sua maioria lotes pequenos com o tamanho médio de 360 m 2, alguns deles em terrenos degradados ou mesmo áreas alagáveis durante o período das chuvas como é o caso dos loteamentos Santo Antônio e Varjão. Esse é um tipo de ocupação que se assemelha mais à expansão ocorrida também nos municípios vizinhos de Ibirité, Sarzedo, Igarapé e Mario Campo. A tabela a seguir mostra os loteamentos existentes na sede do município e o seu grau de ocupação em novembro de 2000.

Tabela 6. Loteamentos aprovados na sede do município de Brumadinho Denominação do loteamento Ano de aprovação Área Total (ha) Tamanho dos médio lotes (m 2 ) Quantidade de lotes Lotes com Edificação N.A. % Santo Antonio [2] 4,36 360 121 121 100 São Sebastião [2] 11,3 360 314 314 100 Santa Efigênia 1958 13,97 360 388 388 100 Presidente 1962 2,5 360 46 32 70 Jota 1963 12,13 360 337 303 90 Carmo 1971 7,78 780 100 70 70 Bela Vista 1980 350,12 360 553 387 70 Planalto I 1982 7,74 312 140 84 60 Planalto II 1982 11,68 318 208 125 60 São Conrado 1983 35,33 360 531 319 60 Estela Passos 1984 1,35 360 28 22 80 Lourdes 1984 13,07 360 226 113 50 Regina Célia 1985 13,97 700 20 12 60 Barroca 1989 3,93 360 58 26 45 Santa Cruz 1989 37,5 5000 99 99 100 Grajaú 1989 12 360 206 103 50 Varjão [3] 1989 20,55 360 318 Cidade Nova 1990 21,16 420 167 0 0 Jardim América 1990 1,28 360 35 9 25 Nova Barroca 1990 2,13 360 38 11 30 São Judas Tadeu 1990 4,74 360 125 31 25 Silva Prado 1990 20,06 360 324 97 30 São Bento 1991 25,93 360 399 40 10 Dom Bosco 1993 7,88 360 132 22 17 Aurora 1996 3,17 520 61 18 30 Beira Rio 1996 19,35 530 36 0 0 Total Sede 876,08 5582 59,4 0,01% Fonte: Prefeitura Municipal de Brumadinho: Lei Municipal nº 1198 de 13/09/2001. [1] Não estão incluídas aqui áreas de ocupação irregular (parcelamentos não aprovados e invasões). [2] Área de ocupação antiga, não aprovada como parcelamento. [3] Loteamento não implantado.