Contexto do usuário da Casa do Estudante Universitário (CEU) de Curitiba. The user context of the House of the University Student (CEU) from Curitiba. Dias, Bruno K; Graduando; Universidade Federal do Paraná brunokutelak@ymail.com Liesenberg, Janaina C.; Graduanda; Universidade Federal do Paraná a.silva@brasil.br Razera, Dalton; Dr; Universidade Federal do Paraná dalton@ufpr.br Resumo Apresenta a identificação de variáveis do contexto dos estudantes moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU) de Curitiba. A pesquisa foi realizada como parte do trabalho de conclusão do curso de Design de Produto da UFPR, que objetiva desenvolver uma nova mobília para a casa que atualmente encontra-se em reforma. Para identificar o contexto do usuário, realizou-se levantamento de dados bibliográficos e pesquisa de campo sobre o ambiente e o contexto dos usuários. Através de entrevistas com os mesmos, procurou-se compreender quais as intenções de uso desse espaço coletivo de morar e estudar. Palavras Chave: mobiliário; estudantes; morar. Abstract Presents the identification of variables in the students context living in the house of the University Student (CEU) from Curitiba. The research was conducted as part of the final paper of the Product Design course, UFPR, which aims to develop a new furniture for the house that is currently under renovation. To identify the user's context was held bibliographical data and field research on the environment and context of the users. Through interviews with them, to understand what the intended use of this collective space to live and study. Keywords: furniture; students; living.
Contexto do usuário da Casa do Estudante Universitário (CEU) de Curitiba
Introdução Os moradores das casas estudantis do Brasil e do mundo são, na maioria dos casos, jovens que deixaram seus lares para estudar em uma diferente cidade e que, além de se adequar ao novo sistema de morar, precisam interagir com o colega de quarto, descansar e, principalmente, dedicar-se aos estudos para alcançar o título que os fez optar por essa súbita mudança de rotina. Assim, tão importante quanto levar uma vida de hábitos saudáveis e um estado psíquico equilibrado, o ambiente deve contribuir para a eficiência da tarefa, estudar. Portanto, um mobiliário que torna possível realizar atividades como leitura, redação, desenho, uso do computador, utilizado no mesmo espaço onde se dorme e realiza refeições rápidas em um espaço compacto e compartilhado foi o desafio proposto pelos dois graduandos do curso de Design de Produto da UFPR. A escolha do local realizou-se a partir da reforma em andamento, licitada em abril de 2008 e iniciada no ano de 2009, sendo a primeira reforma geral do prédio construído em 1949. A reforma não inclui mudança arquitetônica, por se tratar de um símbolo paisagístico da cidade. Revisão bibliográfica Habitação é o espaço habitável, individual e coletivo, necessário à satisfação das exigências básicas e aspirações dos usuários, incluindo não só a unidade habitacional, mas também os equipamentos e serviços urbanos necessários ao atendimento daquelas exigências. O espaço do morar é orientado pelas necessidades sociais e culturais da integração homem-casa, que compreende a vida privada, seu conforto e intimidade, os trabalhos e as rotinas domésticas, significados e valores, desenvolvidos num espaço físico que se transforma com a evolução da família e da sociedade (Pina & Kowaltowski, 2000). As características espaciais e funcionais da habitação transformam-se nos períodos históricos com as alterações de comportamento e perfil do grupo doméstico que a habita (Rybczynski, 1996). A transição para a Universidade coloca em grande destaque os problemas dos alunos, que se desenvolvem em grande escala nesta fase da vida. Em primeiro lugar (Pereira, 1997 ABUD Ferraz & Pereira, 2002) estão os problemas pessoais como o homesikness, a solidão, a timidez, limitações nas competências sociais e tomadas de decisão, sexualidade, perturbações emocionais. Em segundo lugar são os problemas acadêmicos, tais como as dificuldades de relacionamento com professores e colegas, competências de estudo, rendimento escolar, falhar nos exames, ansiedade e stress em situação de avaliação, etc. Em terceiro lugar são os problemas financeiros e de gestão da casa com maior ênfase na acomodação e hábitos alimentares e os problemas relacionados com a segurança. Ir para a Universidade é, na maioria das vezes, a primeira vez que o jovem deixa a sua casa, enfrentando o dilema da separação parental e familiar. O homesikness, com tradução para saudades de casa encontra neste processo a sua máxima expressão, como um estado cognitivo-emocional e motivacional (Ferraz & Pereira, 2002). Este estado pode ser mais expressivo quando relacionado com a personalidade do sujeito. Segundo Ferraz & Pereira (2002), estudantes com maiores traços de personalidade de neurótica desenvolvem mais o homesickness do que aqueles com personalidade extrovertida. Este problema inerente do processo de transição que o jovem encontra-se ao ingressar no ensino superior pode agravarse também quando as expectativas de eficácia pessoal e de comportamento, manifestadas pelo sujeito quando confrontado a novas tarefas (Fontaine, 1987) não são atingidas, interferindo diretamente na obtenção de sucesso ou insucesso no contexto acadêmico.
Metodologia A pesquisa de campo iniciou-se com a visita à casa, para reconhecimento do local. Foram realizados registros fotográficos das áreas de intervenção da pesquisa os quartos e conversas informais com alguns moradores. Já na primeira visita foram levantados dados sobre o regimento interno da casa, planta baixa dos quartos e os moradores contactados demonstraram o que achavam de mais importante para a composição dos quartos o mezzanino(figuras 01 e 02). Os mezzaninos da casa foram construídos por marceneiros e serralheiros autônomos e não seguem um padrão. Algumas unidades foram construídas pelos próprios moradores, que, ao saírem da casa, vendem ou trocam os mezzaninos, já que estes são úteis para o usuário enquanto morador da casa. Figura 01: Exemplo de mezzanino da casa, piso superior Figura 02: Piso inferior do mezzanino Identificou-se que o mezzanino segmentou os quartos da casa: os que o possuem e os que não o possuem. As configurações mudam a cada quarto, mas a maioria dos que têm o mezzanino possui uma área de comer ou estudar abaixo dele e área de dormir na parte superior. Essa configuração, possível pelo fato do pé direito da casa ser alto suficiente para transformar os quartos em flats demonstra um melhor aproveitamento de espaço. Ficando
evidente que o mezzanino deve constar como um dos novos itens nos quartos da CEU. Partiu dos usuários ainda, a sugestão de remoção das unidades antigas e padronização de novos mezzaninos, harmonizando o ambiente. Em visita posterior, os pesquisadores realizaram aplicação de questionário misto, pois a tentativa anterior de aplicação online de questionário fechado não obteve sucesso. Os usuários, apesar de possuírem computadores e acesso ã internet nos quartos, não lêem ou respondem os emails do grupo de emails da CEU. A aplicação do questionário foi sob forma de entrevista e participaram 25 dos 200 moradores da casa.5 recusaram-se a responder as questões. No questionário aplicado, o primeiro grupo de questões pretendia identificar faixa etária e de que região eram os usuários. Se haviam mudado recentemente, há quanto tempo moravam na casa e se já haviam morado em outro lugar que não a casa de suas famílias. Os usuários foram questionados sobre o tempo que passavam na casa, por dia, semana e finais de semana. Aos que passavam menos tempo na casa foram questionados os motivos. Quanto às rotinas de estudo, foram identificadas as principais tarefas relacionadas com os cursos universitários dos usuários e os locais de preferência para estudo. O segundo grupo de questões dizia respeito ao colega de quarto, forma como foram selecionados e se havia uma boa convivência. Foi levantado também como os usuários mantêm a privacidade mesmo dividindo o quarto com um amigo ou estranho. O regimento da casa permite que o usuário escolha ou troque de colega de quarto, confirmando pelos resultados do questionário, que a maioria deles tem uma boa convivência com seu colega. O terceiro grupo de questões levantou dados de estilo de vida: alimentação, lazer. Estes resultados serão uma das fontes para conceituação e definição do estilo do produto final. O quarto grupo de questões pretendia identificar o volume de pertences do usuário, de que forma ele utilizava os móveis existentes na casa. A parte caracterizada como questionário fechado, levantou-se quais os móveis e objetos que os usuários gostariam de ter/ utilizar em seus quartos. Resultados e discussão Após pesquisa no ambiente de uso dos produtos a desenvolver e com os resultados dos questionários aplicados aos usuários morador da CEU claramente percebeu-se que sem a participação do usuário, o resultado poderia gerar uma insatisfação completa por parte dos mesmos. Quando construída, em 1949 pelo arquiteto Ernesto Guimarães Máximo, e compondo um conjunto arquitetônico com o Colégio Estadual do Paraná em frente, delineado pelo racionalismo italiano (Figura 03), as camas dos quartos possuíam cabeceira e estavam simetricamente distribuídas no espaço. Como é um item de mobília largamente utilizado e que necessita de substituição, na década de 80 foram inseridos os beliches na casa, sinônimo de bom aproveitamento de espaço em ambientes compactos. Atualmente, a presença dos beliches nos quartos revela a insatisfação do usuário morador da CEU. O estilo loft de morar (PADILHA, 2001), que se popularizou nas últimas décadas, permite transformar espaços reduzidos em ambientes de dois pisos e maior integração de espaços. A inserção dos mezzaninos na casa do estudante e a priorização de sua permanência demonstram que este estilo de morar está diretamente relacionado com a faixa etária dos moradores, entre 17 e 35 anos. E independentemente da classe social e poder aquisitivo, os jovens buscam por opções que priorizem sua liberdade.
Figura 03: Fachada da CEU. Fonte: Foto Olinda Quantos aos objetos que os usuários fazem questão de ter no quarto, o televisor foi descartado pela maioria, já que se pode assistir a filmes e seriados pelo computador, assim como ler notícias em páginas da internet. O refrigerador, entretanto, apesar de ocupar um espaço razoável no quarto, foi unânime, pois dessa forma os usuários não precisam catalogar seus alimentos e deslocarem-se para a cozinha coletiva da casa quando precisarem de alimentos refrigerados. Fogões não são permitidos pelo regimento da casa, e contraditoriamente o microondas não foi um item muito requisitado no questionário fechado. O conjunto de informações adquiridos até esta etapa da pesquisa serão utilizados para geração dos requisitos e estilo do produto a ser desenvolvido. Como continuidade do processo de desenvolvimento em cooperação com o usuário, a etapa de seleção de alternativas para execução será realizada em conjunto. Conclusões Os métodos de pesquisa em design que priorizam a participação do usuário no processo de desenvolvimento do produto demonstram maior eficácia para que as necessidades deste usuário sejam satisfeitas. Inicialmente, os pesquisadores desse projeto utilizaram as ferramentas de coleta de dados com os usuários imaginando confirmar o que consideravam primordial para o projeto, como por exemplo, o maior isolamento dos usuários moradores da CEU como garantia de maior privacidade. Porém percebeu-se que estes usuários sentiam falta de privacidade sim, mas respondem positivamente à divisão do espaço com o colega de quarto. Esta resposta positiva é resultado do próprio regulamento da casa que permite a escolha dos colegas de quarto e possível alteração quando necessário. Com um custo mais acessível de moradia, os usuários mostram-se satisfeitos com o período que passam na casa, declarando que é mais fácil considerá-lo agradável pois sabem que é temporário. O desafio da equipe de projeto agora é transformar essas necessidades dos usuários em requisitos do produto. A partir dos requisitos, o produto desenvolvido será validado com o usuário e apresentado à universidade e instituições para possível parceria na execução das unidades para os quartos da CEU de Curitiba.
Referências Casa do estudante universitário do Paraná revigorada. Jornal da comunicação UFPR, 2008. Disponível em: <http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/redacao3/node/203> Acesso em: 02/mar/2010. GNOATO, L. [ET.al] Proposta de Preservação da Arquitetura Moderna em Curitiba. Do_co,mo_mo.5. Disponível em: < http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/077r.pdf> Acesso em: 02/mar/2010 FERRAZ, M. & PEREIRA, A. A Dinâmica Da Personalidade E O Homesickness (Saudades De Casa) Dos Jovens Estudantes Universitários. PSICOLOGIA, SAÚDE & DOENÇAS, 149-164. Coimbra: 2002. LAUREL, B. Design research: methods and perspectives. Michigan: MIT Press, 2003. PADILHA, Juliane de Bassi. Linha Modular em Eucalipto para Loft. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Federal do Paraná: 2001 PINA, S & KOWALTOWSKI, D. Arquiteturas Do Morar: Comportamento E Espaço Concreto. Seminário Internacional Psicologia E Projeto Do Ambiente Construído. São Paulo: 2000. RYBCZYBSKI, W. Casa: Pequena História de uma Idéia. São Paulo: Ed Record, 1996.