Patrícia Mara de Carvalho Costa Leite



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Transcrição:

Patrícia Mara de Carvalho Costa Leite YES, VAMOS CORRER PARA DOMINAR A LÍNGUA: COMO A LÍNGUA INGLESA É REPRESENTADA EM DOIS TEXTOS DA VEJA PROGRAMA DE MESTRADO EM LETRAS Teoria Literária e Crítica da Cultura Abril de 2013

Patrícia Mara de Carvalho Costa Leite YES, VAMOS CORRER PARA DOMINAR A LÍNGUA: COMO A LÍNGUA INGLESA É REPRESENTADA EM DOIS TEXTOS DA VEJA Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Letras da Universidade Federal de São João del-rei como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras Área de Concentração: Teoria Literária e Crítica da Cultura Linha de Pesquisa: Discurso e Representação Social Orientadora: Profa. Dra. Dylia Lysardo-Dias PROGRAMA DE MESTRADO EM LETRAS: TEORIA LITERÁRIA E CRÍTICA DA CULTURA Abril de 2013

The limits of my language mean the limits of my world. (WITTGENSTEIN, 1994, p. 245)

Dedico este trabalho a todos os que acreditaram e me apoiaram nesta empreitada audaciosa. Ao meu marido Eduardo, pois a conquista é nossa.

AGRADECIMENTOS À minha orientadora Dylia, por acreditar no meu trabalho e sempre me orientar com qualidade e presença! Obrigada pelo respeito, paciência, ótimas sugestões e por ampliar meu olhar! Aos demais professores do Programa de Pós-graduação, em especial aos que foram meus professores, pelos encontros ricos e interessantes. Aos amigos do mestrado; quantos desabafos e angústias nós nos confiamos, quantas risadas gostosas dividimos. À minha família, pelo muito que me ensinou e incentivou. Por acreditar em mim, quando eu mesma duvidava. Por me fornecer o necessário para que eu crescesse em tamanho, espírito e inteligência. Mãe e pai, vocês foram meu alicerce e são meu suporte para toda a vida! Obrigada! Ao meu companheiro, amigo, confidente, amor de todas as horas. Eduardo, sem você não há porquê! Obrigada por confiar em mim e me apoiar em cada passo! Pelos conselhos, piadas, shows, carinho e paciência! Aos meus filhos de coração, por me acompanharem, me manterem alegre e motivada para escrever. Aos amigos, porque souberam compreender minhas ausências. Em especial, Pablo e Cainara, que me incentivaram nesta empreitada e me fizeram companhia. Aos meus colegas de trabalho, pela experiência, ensinamentos, ombros amigos e tempo! Em especial, Sirley, Magda e Adriano, vocês são grandes amigos. Ao revisor Rogerio Lucas de Carvalho. A Deus, pelas bênçãos concedidas a cada amanhecer!

RESUMO Buscamos, neste trabalho, identificar e analisar como a língua inglesa é representada em dois textos, texto 1- Yes, nós somos bilíngues e texto 2- A corrida pelo domínio da língua, da revista VEJA na seção Educação. De maneira mais específica, objetivamos identificar e analisar as representações sociais acerca da língua inglesa presentes nos textos da VEJA de forma a apresentar uma discussão sobre a língua inglesa do ponto de vista da crítica da cultura. A fundamentação teórica contempla estudos diversos sobre as representações sociais e sobre a dimensão sócio-histórica, educacional e acadêmica da língua inglesa. O levantamento de dados foi feito por meio do acervo digital da VEJA entre 2005 e 2010, por meio do qual, foram coletados somente os textos que estavam na seção Educação e versavam sobre a língua inglesa. Os resultados obtidos mostram que os textos representam a língua inglesa de vários modos que se assemelham: como passaporte para subir na vida tanto pessoal, quanto profissional e socialmente; como a língua do mundo globalizado; como a língua obrigatória, principalmente na infância; como impossibilitada de ser aprendida na escola regular; como a língua do nativo; como a língua que deve ser aprendida rapidamente por todos e como sendo uma fonte de prazer. Palavras-chave: Revista VEJA, Representação Social, Língua Inglesa.

ABSTRACT The aim of this research is to identify and analyze how the English language is represented in two different texts, 1- Yes, nós somos bilíngues and 2- A corrida pelo domínio da língua both taken from VEJA s magazine Educational section. The theoretical basis is backed up by studies about social representation and studies about the social-historical, educational and academic dimension of the English language. The data collection was done through VEJA digital pages between the years of 2005 and 2010 where only texts that were, at the same time, in the Educational section and whose theme was the English language were chosen. The results show that the texts represent the English language in many ways that proved to be alike, such as: as the key to personal, social and professional development; as the globalized world language; as a mandatory language, especially in the childhood; as being impossible to be learnt at regular school; as the language which belongs to the native speaker; as the language which should be learnt fast and as a source of pleasure. Key-words: VEJA Magazine, Social Representation, English language

ABREVIATURAS UTILIZADAS CBC- Conteúdo Básico Comum EB- Escola bilíngue EI- Escola de idiomas ER- Escola regular LDB- Lei de Diretrizes e Bases LE- Língua estrangeira LF- Língua franca LI- Língua inglesa LM- Língua materna MEC- Ministério da Educação PCN- Parâmetros Curriculares Nacionais RS- Representação social SL- Segunda língua

LISTA DE QUADROS Quadro 1- Levantamento dos temas para discussão Quadro 2- Ocorrências dos termos inglês e LI na VEJA Quadro 3- Ocorrências de palavras relacionadas à natureza (T1) Quadro 4- Maneiras para se aprender a LI (T1 e T2) Quadro 5- Ocorrências de palavras relacionadas à fluência (T2) Quadro 6- Características associadas à aprendizagem da LE quando criança e quando adulto (T1) Quadro 7- Vocábulos relacionados ao mercado de trabalho (T1 e T2)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...07 CAPÍTULO 1- A presença inglesa no Brasil...15 1.1 A língua inglesa no Brasil: Um breve histórico...15 1.2 O advento das escolas de idiomas e seu ensino nas escolas brasileiras.20 1.3 A língua inglesa e a mídia...31 1.4 A língua inglesa e a revista VEJA...38 CAPÍTULO 2- Discurso, Língua e Representações Sociais...43 2.1 Discurso...43 2.2 Língua e as línguas...44 2.2.1 Que língua inglesa é essa?...48 2.3 Representações Sociais...53 CAPÍTULO 3- Estudo das Representações Sociais...63 3. 1. Os temas...63 3.1.1 A globalização e a língua inglesa...63 3.1.2 O modelo de língua inglesa do nativo...77 3.1.3 A aprendizagem da língua inglesa quando criança e quando adulto..89 3.1.4 As maneiras de aprender a língua inglesa...102 3.1.5 A língua inglesa e a ascensão pessoal, social e profissional...114 3.1.6 O tempo de aprendizagem da língua inglesa...124 3.1.7 A relação com a aprendizagem...132 3.2 As representações sociais da língua inglesa no presente estudo...143 CONSIDERAÇÕES FINAIS...148 REFERÊNCIAS...154 ANEXOS...171

INTRODUÇÃO No Antigo Testamento da Bíblia Sagrada (1990), no livro de Gênesis (11, 1-9, p. 22) com a construção da torre de Babel, os homens almejavam subir ao céu, como se a criatura pudesse reinar no mesmo lugar de seu criador. Tal empreitada fez-se plausível pelo fato de todos os homens falarem a mesma língua. No entanto, o criador ceifa a prepotência, o orgulho humano, disseminando várias línguas pela Terra e retalhando, consequentemente, o desejo humano de ser Deus. O significado de Babel remete à confusão, haja vista que os homens não se entendiam mais e não podiam levar seu plano soberbo adiante. Essa passagem bíblica expõe o desejo humano de poder e de unicidade. Unicidade de língua que os levaria ao tão almejado sucesso. Na atualidade, é como se a Língua inglesa 1, no status de língua global, pudesse garantir a unicidade, uma subida ao topo, se dominada 2. Do mesmo modo que a construção da Torre de Babel almejava o céu, a vontade de ter a LI se configura na vontade de chegar ao topo, de ter poder. Poder de falar a língua do outro, de gozar com o outro, de ser alguém na vida. A motivação primeira do estudo sobre a LI advém de meu relacionamento íntimo com a língua desde o início da adolescência. Aos 12 anos de idade, iniciei meu estudo de LI na Escola regular 3. Sempre fui uma aluna dedicada e exigente. Levada por uma representação da ER como o lugar em que não se aprende a LI, pedi meus pais para que me matriculassem em uma escola de idiomas 4. A barreira financeira só foi transposta porque minha avó arcou com o curso. Desde então, não interrompi mais o fluxo da LI em minha vida, tornando-me professora para crianças aos 19 anos. Atualmente, leciono em uma EI, para todas as idades, há nove anos. O curso de Psicologia também foi importante para embasar e agregar conhecimento ao meu ensino. Intrigada pela relação imbricada entre educação e economia, entre LI e sucesso, e entre LI fluente e EI, primordialmente, deparei-me com um dos textos de análise: A corrida pelo domínio da língua, da VEJA de 2009. A palavra corrida foi a que mais me captou no momento da leitura e comecei a me interessar pelas escolhas dos autores 1 Doravante LI. 2 A representação social da língua passível de dominação será abordada em nosso estudo, inclusive a própria palavra domínio está presente no título do texto 2 de nossa análise. 3 Doravante ER. Utilizaremos a abreviatura ER para tratar tanto da ER quanto privada. 4 Doravante EI. 7

em relação à Representação Social 5 da LI. Desse interesse e diante da possibilidade de transformar minha inquietação em um trabalho acadêmico, surgiu uma proposta de pesquisa, que ora apresento e cujos objetivos são: identificar as RS em dois textos da revista VEJA sobre a LI: Yes, nós somos bilíngues 6 e A corrida pelo domínio da língua 7, a partir da análise de temas semelhantes entre os textos 8. Buscamos mapear como essa revista, um dos veículos midiáticos de maior circulação no Brasil, trata o saber a LI, considerando o impacto que esse veículo assume. Assim, realizamos uma discussão sobre a língua como produto cultural. Para a escolha do material de análise, foi feita uma pesquisa no acervo digital da revista VEJA. Foram utilizados os termos inglês (somente os que se relacionassem ao idioma) e LI para efetuarmos a busca em cada edição de 2005 a 2010. Selecionamos dois textos: Yes, nós somos bilíngues e A corrida pelo domínio da língua por pertencerem à seção Educação da revista. A partir da seleção dos textos, nós os nomeamos de acordo com a ordem de publicação: texto 1- Yes, nós somos bilíngues, de 2007, e texto 2- A corrida pelo domínio da língua, de 2009, para melhor identificação na análise. Optamos por agrupar enunciados que tivessem temas semelhantes, a fim de chegarmos às RS da LI. Os enunciados foram elencados por números e diferenciados entre textos 1 e 2 por meio das entradas (T1) e (T2). Em termos de procedimento de análise, analisamos primordialmente o estrato verbal dos textos 1 e 2, porém mencionamos o estrato visual em consonância com o verbal pela relação que entre eles se estabelece. O material de análise se constitui primordialmente dos textos 1 e 2 da VEJA, no entanto, para que a análise seja mais ampla, mencionamos algumas publicidades de EI e artigos de revistas 9 que versam 5 Doravante RS. 6 Texto retirado da revista VEJA do dia 22 de agosto de 2007, seção Educação, p. 100-103, de autoria de Camila Antunes e Marcos Todeschini. O texto se encontra no anexo 3. 7 Texto retirado da revista VEJA do dia 4 de março de 2009, seção Educação, p. 96-98, de autoria de Renata Moraes. O texto se encontra no anexo 3. 8 Os grupos de enunciados estão organizados de acordo com os temas: a globalização e a LI; o modelo de LI do nativo; aprendizagem da LI quando criança e quando adulto; LI e a ascensão pessoal, social e profissional; as maneiras de aprender a LI; o tempo de aprendizagem e a relação com a aprendizagem, (Quadro 1 em anexo). Só foram selecionados para a análise os tópicos que fossem encontrados pelo menos uma vez em cada texto. Destaco que o Quadro 1 apresenta um levantamento inicial dos enunciados, cuja temática fosse similar aos dois textos. Durante a análise, outros enunciados foram adicionados à medida que a discussão requeria. 9 As publicidades se encontram no anexo 4, ao passo que, os artigos de revista, cujos excertos foram utilizados em nosso estudo, estão no anexo 5. Tantos as publicidades (impresas) quanto os artigos fazem parte de um arquivo pessoal coletado ao longo do período em que estava escrevendo a dissertação, 2010-2012. A coleta foi realizada através do site google e das entradas publicidade de escola de idiomas ; publicidade de escolas de inglês ; publicidade de cursos livres. Coletei artigos de revistas das próprias 8

sobre o mesmo tema abordado, no intuito de enriquecer o estudo 10 e, também, no sentido de estabelecer um diálogo entre os textos. A dissertação está assim organizada: no capítulo 1, foi feito um breve estudo da LI no contexto sócio-histórico e cultural da educação nacional, com o intuito de rastrearmos a LI no seu histórico de uso, de ensino-aprendizagem e de políticas educacionais no Brasil, bem como de termos um panorama mais amplo da LI no Brasil. Versamos também sobre a relação da LI e a mídia, bem como a LI e a revista VEJA, a fim de conhecermos mais profundamente o veículo de circulação dos textos 1 e 2. Em relação à mídia, tratamos brevemente do conceito de mídia e fizemos algumas considerações sobre as aparições, bem como RS da LI na mídia. Já no tocante à revista VEJA, abordamos a revista em termos de criação, objetivos, seções, tiragem mensal, público-alvo, a LI na revista VEJA em relação ao número de aparições e abordagens, por exemplo. O objetivo do capítulo 1 foi contextualizar nosso estudo, uma vez que, quando se analisa o discurso, o contexto histórico-cultural, bem como as condições sociais de produção são cruciais para a análise. No capítulo 2, foram abordados brevemente os conceitos de discurso, língua, língua materna 11, língua estrangeira 12, língua adicional 13, língua franca 14, segunda língua 15 e primeira língua 16 no intuito de analisarmos o modo como a LI é representada pelos textos 1 e 2. Em princípio, apresentamos o conceito de discurso, pois ele se constitui em nosso objeto central de análise, sem, no entanto, discuti-lo de modo exaustivo, o que extrapolaria nosso objetivo. Depois, tratamos do conceito de língua de modo a esmiuçarmos suas caracterizações e denominações, como LM, LE, SL, LA, LF e L1, bem como a relação do modo como a língua é representada socialmente e sua denominação. Contemplamos, também, a conceituação de RS e a diferenciação desse conceito em relação ao conceito de estereótipos, crenças e imaginários sociodiscursivos, a fim de exemplificarmos o conceito de RS neste estudo e justificarmos nossa escolha. revistas impressas e de revistas digitalizadas que encontrei ao longo de minha pesquisa. As escolhas foram motivadas por textos que tratassem da aprendizagem de inglês, predominantemente. 10 Uma vez que, segundo Grigoletto (2010), há uma relação implícita entre a publicidade e a mídia informativa na atualidade, culminando em um viés propagandístico presente em alguns artigos de cunho informativo, vislumbramos a possibilidade de estabelecer um diálogo entre os textos publicitários e os textos de cunho informativo sem compromisso com a análise das publicidades separadamente. 11 Doravante LM. 12 Doravante LE. 13 Doravante LA. 14 Doravante LF. 15 Doravante SL. 16 Doravante L1. 9

Assim, o interesse foi demarcar nossa perspectiva de estudo sem discutir de modo mais extenso o conceito de RS, uma vez que esse termo não oferece um entendimento único sobre seu significado, sobretudo se considerarmos seu histórico. O objetivo do capítulo 2 foi apresentar a base teórica que fundamentou nossa análise. No capítulo 3, agrupamos os enunciados dos textos 1 e 2 pelos temas de que tratam: a globalização e a LI; o modelo de LI do nativo; a aprendizagem da LI quando criança e quando adulto; as maneiras de aprendizagem; LI e a ascensão pessoal, social e profissional; o tempo de aprendizagem e relação com a aprendizagem, bem como a discussão sobre as RS da LI em ambos os textos. A partir da análise dos temas que apareceram, pelo menos uma vez, em cada texto, pudemos chegar às RS da LI, que se constituem em nosso objetivo geral. O objetivo do capítulo 3 foi a análise dos enunciados dos textos 1 e 2, agrupados em temas já mencionados, levando em consideração seu contexto sócio-histórico e cultural, e identificando o que está implícito e o que foi silenciado, a fim de identificarmos as RS da LI 17. Os temas serão elencados, a seguir. O primeiro tema relaciona a LI à globalização. Para embasar nosso estudo, utilizamos os seguintes autores: Capucci (1999), Robertson (2003 apud MOITA LOPES 2006), Bauman (1989) e Pereira, Daflon e Santana (2000), que abordam a temática da globalização, dos sujeitos locais e globais. Carmagnani (2001, 2008) e Coracini (1991, 2003, 2007) 18 foram utilizadas ao longo das análises, uma vez que vislumbramos interseções entre seus estudos sobre publicidades, sala de aula de LE e nosso material de análise. Authier-Revuz (2004) contribuiu para a análise do uso de aspas em enunciados dos textos 1 e 2. Hall (1997) contribuiu com nossa análise, uma vez que discute a diferença entre natureza e cultura. Santos (2006) versa sobre a música Yes, nós temos bananas relacionada ao texto 1 Yes, nós somos bilíngues, ao que Lysardo-Dias (2001) ajudou-nos a teorizar sobre o efeito da paródia. Bauman (2001) trata de indivíduos moderno-líquidos, embasando nossa discussão sobre a LI nessa sociedade. Realçamos a LI na qualidade de LA, utilizando as ideias de Graddol (2006). Finalmente, Jordão (2006, 2011), bem como Moita Lopes (2008) contribuíram para a discussão sobre os ganhos reais da aprendizagem de uma LE. 17 Os textos versam sobre idiomas, EI, mas as marcas linguísticas privilegiam a LI grande parte do tempo. Por exemplo, no próprio título do texto 1, há um vocábulo em LI Yes. Já no texto dois, a corrida é pelo domínio da língua, qual língua? O subtítulo esclarece ao tocar no assunto inglês básico. Enfim, apesar de mencionarem remotamente outras línguas, a que prevalece é a LI. 18 As autoras Carmagnani e Coracini serão mencionadas somente no tópico um, para evitar repetições desnecessárias, mas aparecem em todos os tópicos de análise. 10

O segundo tema se refere ao mito da natividade. Utilizamos Chomsky (1972 apud RAJAGOPALAN, 2001), uma vez que um aspecto central em sua teoria é o ideal de nativo, e Stern (1997 apud FIGUEIREDO, 2011), que elenca as características do nativo descritas por Chomsky. Freyre (2000) traz aspectos históricos da LI no Brasil, citando anúncios de aulas de LI por nativos ingleses no Brasil Império. Vidotti (2010), Fink (1998) e Fortes (2008) tratam da primazia da língua do nativo e o desejo de possuíla, principalmente por seu valor social. Kachru e Nelson (1996), Canagarajah (1999), Rajagopalan (1997, 2002, 2004), Phillipson (2003), Graddol (2006) e Passoni, D Almas e Audi (2009), que abordam a crença no nativo como os donos da língua. Medgyes (1992) foi mencionado por acreditar que não há como os não-nativos alcançarem o padrão dos nativos, sua criatividade e imenso vocabulário. O terceiro tema versa sobre a aprendizagem adulta e infantil da LI. Pinker (2004) embasa a ideia de tábula rasa mencionada na análise. Bauman (1989, 2001) foi citado novamente, a fim de tratarmos dos indivíduos moderno-líquidos, de globais e locais. Garcia (2011) estuda a aprendizagem infantil e contribuiu para nossas considerações sobre os enunciados dos textos 1 e 2. Maingueneau (1997) nos auxiliou na reflexão sobre o papel dos discursos legitimadores que conferem veracidade ao discurso. Dias e Mourão (2005) pontuam ganhos socioculturais, linguísticos e pessoais que advêm do estudo de uma LE. Almeida Filho (1999) concebe a ideia de língua produto. E, por fim, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em Brasil (1999). Já Guilherme de Castro (2004) e Ferreira (2010) mencionam o destaque da oralidade da mídia sobre LI. O quarto tema de análise versa sobre as maneiras para aprender a LI. Grigoletto (2010) inicia a discussão uma vez que trata da questão do silenciamento da escola regular na seção Educação de jornais e revistas, citando inclusive o texto 2 de análise. Orosco (2012) foi citado, haja vista que enuncia sobre a precariedade do ensino da LI na ER em um artigo da VEJA de 2012: Solte seu inglês. Para abarcar a parte histórica, buscamos os estudos de Carneiro Leão (1935), Brasil (1999), Dias (1999), Razzini (2000), Leffa (2003), Chaves (2004) e Oliveira (2011), que nos auxiliaram na reflexão sobre o percurso da LI na ER desde sua instituição como matéria escolar, bem como a conceber mais uma vez o foco na oralidade da LI pela mídia. Bueno (2003) postula que as causas das mazelas sociais são imputadas ao pouco esforço dos indivíduos. Desse modo, refletimos sobre o fracasso, utilizando também os estudos de Charlot (2000) em aprender a LI e a culpa do aluno. 11

Para iniciarmos o quinto tema, que é a LI como forma de ascensão pessoal, social e profissional, utilizamos o estudo de Valente (1997), Rosa (2003), Homem e Nascentes (2007) e Ministério da Educação (MEC) (2011), que relacionam trabalho e educação. Há a citação da própria Constituição Federal de 1988, artigo 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mercado (HOMEM; NASCENTES, 2007, p. 61) e também na própria Lei de Diretrizes e Bases (LDB) Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1971). Dias (1999), Mota e Lopez (1995) e Pallares-Burke (2000) tratam de aspectos históricos da relação educação e mercado de trabalho. Augusti (2008) contribuiu para nossa pesquisa na medida em que realizou um estudo sobre a VEJA, concluindo que mais de 50% dos artigos da revista, por ele analisados, valorizam a inteligência como caminho para a autorrealização. No caso de nosso estudo, o saber a LI para obter o sucesso profissional. Grigoletto (2010) aborda a representação da língua como produto. A partir da compra desse produto, há a convicção de que o sujeito transitará livremente no mundo de negócios, segundo Nóbrega e Sousa (2007). Rosa (2003) cita a rotulação dos indivíduos em qualificados (se souber a LI) e desqualificados (se não a souber) e Garcia (2011) também trata da exclusão dos que não possuem a LI. Porém, Alves (2001) menciona que, mesmo se todos a soubessem, não haveria um posto de trabalho para todos, uma vez que não há como o mercado absorvêlos. Finalmente, Ariès (1971) foi utilizado para tratar da situação da criança cujos pais são interpelados desde cedo a prepará-las para o mercado de trabalho, como se fossem os miniadultos da Idade Média. O sexto tema é a pressa em dominar a LI. A corrida pelo domínio da língua foca o fator tempo, que, segundo Carmagnani (2008), aparece em muitas publicidades de EI que oferecem cursos rápidos e a LI em até três meses. Para asseverar a verdade de seus argumentos, a revista VEJA faz uso de quadros, números e tabelas, ao que Sacchi dos Santos (2002) nomeia de episteme da quantificação. Camozzato (2007) acredita que quantificar é uma estratégia poderosa para tentar garantir a aderência dos sujeitos aos discursos e dominá-los, segundo Picanço (2006). Rajagopalan (1997), Garcia (2011) e Ghiraldelo (2011) embasam a reflexão sobre a língua, que deve ser dominada e parece ser externa ao sujeito. Orlandi (2001) pondera sobre os efeitos do discurso no sujeito, ampliando nossa reflexão. Justo (2005) e Bauman (1989), por sua vez, assinalam que o 12

imediatismo é uma das marcas da contemporaneidade e o consumo da LE diferencia os sujeitos (CARMAGNANI, 2008). O sétimo e último tema é a relação do aprendiz com a LI. Partimos do conceito de indivíduos moderno-líquidos de Bauman (2001) para abordarmos o consumo da LI e o desejo de ser como o outro que possui a língua e por isso parece ser melhor, mais feliz e obter mais prazer em sua existência. Ao que Augusti (2008) acrescenta a respeito de em mais de 50% do discurso da VEJA estar presente o assunto prazer. Prasse (1997) acredita que o desejo de aprender LE advém da busca pelo prazer do outro e também da vontade de sair do lugar de sua LM. Aliado a isso, segundo The British Council (1976), a busca pela LI reside na ideia de ser mais elegante e ter um status social diferenciado, ideia corroborada por Pennycook (1998) e Tavares (2002). Moita Lopes (2008) já entende a LI como parte da educação básica, e não mais como um atributo louvável e diferenciado. Rajagopalan (1999) e Ruiz (1984) foram utilizados para refletir sobre a invasão da LI, notadamente no pós-segunda Guerra. Uma vez que a LI passa a ser consumida na qualidade de produto, podemos falar em comodificação, apropriando-nos das ideias de Fairclough (2001). Peters (1994) e Fortes (2009) tratam da comodificação e das implicações desse discurso: por exemplo, conferir somente ganhos econômicos ao aprendizado de uma LE. Finalmente, Garcia (2011) contribuiu para a discussão da repercussão de representar socialmente a LI como fonte de prazer e passaporte para subir na vida para os pais, haja vista que eles são interpelados a matricular seus filhos em uma EB ou EI como se isso significasse um ato de amor pela prole. Apresentamos, pois, as RS da LI que foram observadas durante a análise dos enunciados dos textos 1 e 2. Nas considerações finais, procuramos relacionar as RS elencadas a questões mais amplas, tais como: ao ensino-aprendizagem da LI; a questões de autoridade; à relação do aluno com a LI, bem como do professor; e a questões ideológicas, históricas, por exemplo. Esta análise objetivou compreender como o ser humano tem acesso a informações, partilha visões de mundo, produz conhecimento e interage com seus parceiros em diversas situações discursivas (CHARAUDEAU, 2009, p. 10). Mencionamos diferentes autores utilizados para a análise dos sete temas propostos. Destarte, nem todos os autores apontados [...] formam um bloco homogêneo de concepções e entendimentos. No entanto, há nuances que os aproximam e cada um, por ângulos peculiares (MOMO, 2007, p. 29). Ressaltamos ainda que as RS dizem respeito aos textos 1 e 2, mas podem estar presentes em outros textos. Dessa maneira, 13

procuramos estabelecer um diálogo entre o nosso material de análise, publicidades de EI e textos de revista sobre a LI. Esse diálogo nos permitiu uma contextualização mais ampla das RS da LI. 14

CAPÍTULO 1 A LÍNGUA INGLESA NO BRASIL 1.1 A Língua inglesa no Brasil: um breve histórico O relacionamento do Brasil e da Inglaterra vem de longa data. Acredita-se que o vínculo entre os países tenha se iniciado em 1530 com William Hawkins, um traficante de escravos inglês que desembarcou na costa brasileira e teve contato com portugueses e nativos (LIMA, 2009). Segundo Freyre (2000), Portugal, por pouco, não se tornou uma colônia da Grã- Bretanha no séc. XIX. Desse modo, a presença da cultura britânica no desenvolvimento do Brasil, no espaço, na paisagem, no conjunto da civilização do Brasil, é das que não podem ou não devem? ser ignoradas pelo brasileiro interessado na compreensão e na interpretação do Brasil (p. 46). Inglaterra e Brasil começaram a estreitar seus laços em 1654 quando, por meio de um tratado, a Inglaterra reservou à sua marinha o direito de comercializar as mercadorias inglesas de modo soberano, rompendo o domínio português no Brasil (NOGUEIRA; HEIMAS, 2007). No entanto, o Bloqueio Continental decretado à Inglaterra foi o que fortaleceu os laços entre os dois países. Para termos um panorama global, cabe salientarmos que a Europa do início do século XIX se configurava do seguinte modo: o imperador francês, Napoleão Bonaparte, implementou uma política expansionista no intuito de estender seu domínio por toda a Europa. A Inglaterra era a maior potência industrial europeia e resistiu às tentativas de conquista por parte da França napoleônica. Nesse ínterim, Bonaparte tentou sufocá-la economicamente, proibindo os países europeus de comercializarem com os ingleses ao decretar, em 1806, o Bloqueio Continental. Bonaparte obrigou Portugal, outrora aliado da Inglaterra, a fazer oposição a ela. Mas a Inglaterra tinha fortes laços comerciais com Portugal. Os ingleses, então, pressionaram os portugueses para que assinassem uma convenção secreta, que asseguraria a Portugal a transferência da sede da monarquia lusitana para o Brasil, o que ocorreu em princípios de março de 1808, já transformando a Colônia em Reino (CANCIAN, 2009). Devido à chegada da Corte Real em Salvador com destino ao Rio de Janeiro, obras foram realizadas, tais como: construção do Teatro Real São João, da Biblioteca Pública e do Museu Nacional, por exemplo, a contratação de técnicos estrangeiros para 15

pesquisas minerais (Varnhagem, Von Eschwege), a implantação de uma imprensa (Imprensa Régia), na qual seria publicado o primeiro jornal do país, e a criação da Gazeta do Rio de Janeiro (OLIVEIRA, 1999). Os ingleses puderam estabelecer casas comerciais em território brasileiro, aumentando ainda mais o poder econômico da Inglaterra naquela época. Segundo Dias (1999), naqueles anos, muito mais influentes e poderosos que a esquadra britânica eram os escritórios comerciais dos ingleses (p. 31). A Inglaterra causou mudanças significativas no Brasil Império, uma vez que era dos ingleses o controle do comércio; o predomínio técnico [...] e, fundamentalmente, o capital financeiro que assegurava os primórdios do progresso industrial (p. 51). É interessante a comparação feita entre o conjunto de navios de guerra dos ingleses e o comércio inglês em terras tupiniquins, uma vez que o bélico, na frase, é sobrepujado pelo econômico e este se mostra soberano. Percebemos que a presença inglesa no Brasil Império era considerável, uma vez que influenciavam econômica e culturalmente o povo brasileiro. Uma vez que a Revolução Industrial se iniciou na Inglaterra no séc. XVIII e pelo fato de esse país ser muito mais velho que o Brasil, os ingleses se encontravam em posição de grande vantagem em relação ao desenvolvimento tecnológico e científico. Assim, as primeiras fundições modernas, o primeiro cabo submarino, as primeiras estradas de ferro, os primeiros telégrafos, as primeiras moendas de engenho moderno de açúcar, a primeira iluminação a gás, os primeiros barcos a vapor, as primeiras redes de esgoto, a substituição das tradicionais venezianas de madeira pelas vidraças, dos sucos de frutas tropicais pela cerveja e chá, dos xales orientais pelas capas e chapéus foram quase todas obras dos ingleses no Brasil (FREYRE, 2000). Outras evidências de influência intelectual dos ingleses vamos encontrar nos anúncios de professores e até professoras inglesas e de língua inglesa. Também de governantes, de colégios ingleses, de métodos ingleses de ensino, de livros ingleses (p. 265). O domínio dos ingleses no Brasil culminou em manifestações nacionalistas por parte do povo brasileiro em que até os intelectuais ciosos de nossa brasilidade se queixavam que se estava londonizando nossa terra (PALLARES-BURKE, 2000, p. 228, itálico do autor). Para que tais expressões populares se findassem, as companhias inglesas começaram a admitir engenheiros, funcionários e técnicos brasileiros em geral, como é relatado por Dias (1999, p. 83). Porém, os candidatos deveriam entender instruções em LI e receber treinamento. Aliada a essa conjuntura, com a abertura dos portos brasileiros para o comércio estrangeiro em 1808 e o consequente aumento das 16