ISSN: 1981-3031 O IDOSO EM QUESTÃO: ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS MOSTRAM SUA VISÃO SOBRE O QUE É SER IDOSO NA ATUALIDADE Eva Pauliana da Silva Gomes 1. Givanildo da Silva 2. Resumo O presente trabalho apresenta-se na perspectiva de mostrar algumas entrevistas feitas com alunos da modalidade da Educação de Jovens e Adultos. A proposta das entrevistas partiu do interesse de fazer uma análise sobre a visão diante da indagação O que é ser idoso hoje para os alunos da Educação de Jovens e Adultos?. A pesquisa deu-se a partir das aulas de Educação de Jovens e Adultos II, nas quais possibilitou que estudantes do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas, pudessem ter um contato direto na escola com sujeitos que estão matriculados e cursando essa modalidade, o objetivo foi identificar e interpretar os sentidos do envelhecimento para os alunos da EJA nos dias atuais. Após as entrevistas foram realizadas discussões em sala de aula e conseguimos mostrar que o idoso tem um papel fundamental na sociedade a partir de uma reflexão a cerca de sua história valorizando seu tempo, seu espaço e sua cultura. Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos - analfabetismo - idoso. Introdução O presente trabalho apresenta-se na perspectiva de mostrar algumas entrevistas feitas com alunos da modalidade da Educação de Jovens e Adultos. A proposta das entrevistas partiu do interesse de fazer uma análise sobre a visão diante da indagação O que é ser idoso hoje para os alunos da Educação de Jovens e Adultos?. A pesquisa deu-se a partir das aulas de Educação de Jovens e Adultos II, nas quais possibilitou que estudantes do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas, pudessem ter um contato direto na escola com sujeitos que estão matriculados e cursando essa modalidade, o objetivo foi identificar e interpretar os sentidos do envelhecimento para os alunos da EJA nos dias atuais. O trabalho em questão trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada em uma escola no município de Messias em Alagoas, é importante ressaltar que os alunos freqüentam a
1 Graduanda do 7º Período de Pedagogia da UFAL. Contato: e.pauliana@gmail.com 2 Graduando do 7º Período de Pedagogia da UFAL. Contato: givanildopedufal@gmail.com
2 segunda etapa que corresponde ao 2º e 3º ano do ensino fundamental. Os sujeitos 3 que se submeteram a tal entrevista representam vinte e cinco por cento (25%) da turma, sendo constituídos dos sexos masculinos e femininos, todos de classe baixa e tendo em média a faixa etária de 36 anos. A fundamentação teórica que embasou a pesquisa foram: Coura (2008), Paulo Freire (2003), (Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, 9394/96), Estatuto do Idoso (2003) e dados do IBGE (2009). As entrevistas realizadas foram de grande relevância para percebermos a visão que muitos alunos têm sobre o idoso, principalmente sua inserção no espaço escolar, pois atualmente podemos compreender que existe um alto índice de analfabetismo no Brasil. De acordo com os dados do IBGE (2009) A taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade baixou de 13,3% em 1999 para 9,7% em 2009. Em números absolutos, o contingente era de 14,1 milhões de pessoas analfabetas. Destas, 42,6% tinham mais de 60 anos, 52,2% residiam no Nordeste e 16,4% viviam com ½ salário mínimo de renda familiar per capita. Diante desses dados podemos observar que a presença do analfabetismo sobre os idosos é de 42,6%, nos quais não sabem ler e escrever tornando-se excluídos da cultura letrada e do processo de escolarização. Segundo Freire (2003, p.28) [...] o caráter mágico emprestado à palavra escrita, vista ou concebida quase como uma palavra salvadora, é uma delas. O analfabeto, porque não a tem, é um homem perdido, cego, quase fora da realidade. É preciso, pois, salválo, e sua salvação está em receber a palavra uma espécie de amuleto que a parte melhor do mundo oferece benevolamente. As entrevistas realizadas foram de grande relevância para tal conhecimento possibilitado pela pesquisa, pois percebemos a visão que muitos alunos têm sobre o idoso, principalmente sua inserção no espaço escolar. 3 Os nomes atribuídos aos sujeitos são todos fictícios.
3 O idoso na sociedade e no espaço escolar A oferta da educação de Jovens e adultos (EJA), segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB- 9394/96) em seu artigo 37 inciso 1º assegura que os sistemas de ensino ofertarão gratuitamente aos jovens e adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho. Sabendo da lei que assegura a escolaridade do sujeito que permeia essa modalidade de educação, EJA, nos detemos perceber até que ponto e como está sendo implantada essa educação partindo dos pressupostos descritos na LDB. Nas últimas linhas do inciso 1º do artigo 37, está escrito oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho. É necessário chamar atenção para tais aspectos que caracteriza o aluno da EJA, saber sua origem, sua história de vida e principalmente, saber o processo de escolarização que esse sujeito teve (se teve) na infância, as oportunidades que a eles não foram dadas, para então saber quais características a esses sujeitos podem ser atribuídas. O idoso também está inserido na modalidade de jovens e adultos, possibilitando sua inserção na educação básica e assegurando-lhe o direito de ir à escola. A ida (ou volta) do idoso a escola, muitas vezes, se dá por um único motivo o desejo de aprender a escrever seu nome. Seu Antônio aos 58 anos freqüenta uma sala de EJA na 2ª etapa e nos diz que a única coisa que quer aprender é seu nome, pois tem vergonha de assinar no dedo. Percebe-se o desejo da autonomia que aparece na fala de Antônio. Ao conseguir assinar o nome ele estará mostrando seu conhecimento e deixando de lado a vergonha, não apenas ele, mas outros idosos, também pensam iguais e carregam consigo o mesmo desejo. O perfil demográfico do Brasil apresenta mudanças significativas em relação a idade e as características dos brasileiros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta um número crescente de idosos onde cerca de 8,6% da população brasileira corresponde a pessoas com 60 anos ou mais. Tais dados estatísticos são possíveis, provavelmente a partir da criação de políticas públicas que foram implantadas ao longo da história para possibilitar aos idosos uma vida
4 mais digna, tendo acesso a cultura e aos direitos que lhes são reservados. Em 1994, o Brasil passou a ter uma política nacional do idoso com a lei de nº 8.842, já em 1999 é constituída uma lei de política nacional de saúde do idoso sob a portaria MS 1.395/99, e recentemente em 2003, é criado o Estatuto do Idoso que tem como função principal estabelecer direitos para os idosos destacando o respeito e a luta pela dignidade, por meio de leis que lhes asseguram o direito a educação, esporte, lazer, saúde dentre outros aspectos que são necessários para o desenvolvimento saudável em suas vidas. Entretanto, apesar das leis e respaldos estabelecidos, percebe-se que o idoso tem sofrido vários preconceitos e não tem seus direitos respeitados na sociedade. Apesar de tantas discriminações e preconceitos para com os idosos, nota-se que pouco a pouco eles estão ocupando seu espaço, ou seja, na família, escolas, universidades, ou melhor, cada vez eles usam seus direitos e ocupam espaços que lhes pertencem por natureza. No capítulo V do estatuto do idoso (2003) refere-se aos direitos que as pessoas mais velhas têm em relação a educação, cultura, esporte e lazer. 1. Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade. 2. Art. 21. O poder público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados. 3. Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços e horários especiais voltados aos idosos, com finalidades informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo de envelhecimento. 4. Art. 25. O poder público apoiará a criação de universidade aberta para pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual. (Estatuto do Idoso, 2003, p. 11-12) Nos artigos do estatuto do idoso (2003) citados acima, destaca-se principalmente, o direito ao acesso da educação a todos os idosos em todas as modalidades de ensino, desde o ensino fundamental a universidade. No entanto, em várias pesquisas constata-se o número reduzido de idosos que frequentam as escolas e universidades. Para tais dados estatísticos, são várias as hipóteses que podemos citar, entre elas a vergonha de ir a uma escola, a ideologia de que o velho não aprende mais nada, a falta de oportunidade para frequentar a escola, pois alguns deixaram o estudo de lado para sustentar a família no trabalho, outros iniciaram os estudos, mas por vários motivos evadiram.
5 Nos diálogos realizados em nossa pesquisa, ao perguntarmos o que é ser idoso para cada um hoje as respostas se encontram com tais hipóteses citadas acima. Seu Antônio diz que: André diz que: o idoso tem mais de 60 anos, diferente dos jovens, o idoso tem história, dá conselhos aos mais novos. Carlos diz que: ser idoso é uma pessoa que tem muito a ensinar, já viveu muito e que merece respeito de todo mundo. são os velhinhos que ainda estão vivos e tem muito a ensinar, aconselhar e ajudar, já Maria é uma pessoa velha que já viveu muito. Carla se emociona ao falar o que é ser idoso ser idoso é uma idade muito bonita. Em meio as palavras dos entrevistados sobre tal indagação, percebe-se o respeito que eles têm a uma pessoa mais velha e suas visões sobre o que é ser idoso é igual a definição encontrada no dicionário Aurélio (1989) Idoso é quem tem bastante idade, velho. Faz-se necessário enfatizar que o idoso é um sujeito social que tem seus direitos aparados por lei e que são pessoas que carregam dentro de si sonhos e desejos, porém pela idade eles acreditam não ser mais possível realizar. Sobre tal questão Coura (2008, p. 02) destaca que ao envelhecerem, muitas pessoas chegam a acreditar que realizar seus sonhos não é mais possível, que o tempo que têm pela frente não seria suficiente para concretizar seus direitos. A sociedade está enraizada de um preconceito com pessoas da terceira idade e cada vez mais contamina a todos sem exceção de idade. Em nosso trabalho perguntamos aos entrevistados se eles aconselhariam o idoso a estudar e o porquê de tal resposta. Notamos nas falas das pessoas que há preconceito e discriminação sobre até onde o idoso consegue chegar e sua disposição em querer (poder) aprender. André 36 anos, explica: eu acho que o idoso não aprende mais não, porque já passou da idade. Carlos 23 anos, se limita apenas a responder que sim, porque ia ser bom para eles.
6 Maria responde: sim, porque ele vai se distrair e aprender mais um pouco, pelo menos o nome, porque tem tanto idoso que não sabe fazer nada, né? É notável a visão de inutilidade que as pessoas têm em relação ao processo de aprendizagem do idoso, bem como nas práticas sociais no dia a dia. É necessário que toda a sociedade perceba o valor do idoso, principalmente sua importância nos aspectos históricos e culturais, pois eles trazem indícios e relatos de uma cultura vivida por muitos que faz parte da nossa história. De acordo com Coura (2008, p. 03) Não basta garantir a eles (idosos) acesso a lugares como teatros, cinemas, transportes gratuitos e educação. É importante garantir também respeito para que eles possam usufruir seus benefícios. As pessoas de um modo geral, precisam perceber essas pessoas como ser social que são. Sujeitos que precisam de lazer, de cultura e de se relacionar socialmente como qualquer outro ser humano em qualquer outra etapa da vida. Precisam perceber que as pessoas idosas fazem e vão, cada vez mais, fazer parte da sociedade. Partindo da visão da autora, nota-se a importância que o idoso tem na sociedade e a necessidade que as pessoas têm de valorizá-lo e respeitá-lo para que de fato venham a sentirem sujeitos capazes de realizar seus sonhos e desejos. De um modo geral, compreendemos que os idosos precisam mais de atenção, tanto em momentos de lazer onde estes possam favorecer o bem estar, para frequentarem os lugares, tornando assim uma vida tranquila e sossegada, e também a questão do respeito das pessoas para com eles, em que a sociedade venha ter um olhar mais amplo em que haja uma valorização, onde o aprofundamento do conhecimento seja concretizado analisando a capacidade que o idoso carrega consigo para desenvolver suas habilidades nos dias atuais. Considerações finais O trabalho foi de suma importância para enriquecer as discussões tidas em sala de aula elevando nosso conhecimento, pois pudemos perceber a trajetória histórica que perpassa a vida dos alunos da EJA e vivenciamos um momento ímpar na disciplina eletiva de Jovens e
7 Adultos II, podendo está em contato direto com sujeitos que permeiam tal modalidade de ensino. Em relação, ao objetivo do trabalho que era destacar a visão dos alunos sobre o que é ser idoso hoje interpretando e identificando os sentidos do envelhecimento, podemos dizer que ainda prevalece a idéia de que o idoso é inútil para realizar muitas atividades, destacando principalmente, que ele não pode está inserido numa de sala aula porque não consegue mais aprender por conta da idade como interpretamos as respostas dos alunos na modalidade de EJA. É necessário conscientizar a sociedade a importância do idoso e seu papel diante da história para erradicar a visão preconceituosa que as pessoas têm em relação a sua aprendizagem e sua vida como um todo. A partir de tal acontecimento conseguimos mostrar que o idoso tem um papel fundamental na sociedade. A questão do envelhecimento torna-se presente como uma característica diferenciada em relação o tempo, o espaço e a cultura na sociedade em que vivemos. Diante disso o idoso precisa de equilíbrio, pois assim ele pode se engajar em atividades produtivas, como por exemplo, desenvolver um trabalho voluntário, entre outras nas quais possam possibilitar o idoso a terem uma velhice tranquila sobre um mundo de tantas controvérsias existentes para a população. Portanto, descobrimos que a mudança do entendimento da velhice é necessária para deixar de lado a triste realidade, onde muitos conhecem que o idoso, é um sujeito desnecessário para a sociedade, pois ele já pôde usufruir das coisas do mundo e espera apenas a morte. Referências: BRASIL. Lei n.9394/96 de 20 de dezembro de 1996. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Imprensa Oficial, 1996.
8 COURA, Isamara Grasielle Martins. Entre medos e sonhos nunca é tarde para estudar: a terceira idade na educação de Jovens e Adultos. In: 31[ reunião da Anped, 2008. Disponível em <http//:www.anped.org.br/reuniões/31ra/trabalho GT18-4504-int.ped>. Acesso em 03 de Julho de 2009. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio século XXI escolar: O miniaurélio da Língua Portuguesa. 4. ed. ver. Ampliada- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se contemplam. São Paulo. Cortez, 2003. Governo do estado de Alagoas. O Estatuto do Idoso e Outros atos legais: Política nacional do Idoso. Alagoas, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA. SIS 2010. Mulheres mais escolarizadas são mães mais tarde e têm menos filhos. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/homr/presedencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1717&i dpagina=1>. Acesso em: 9 out. 2010.