ISBN 978-85-7846-516-2 INTEGRAÇÃO AVALIATIVA: MAPAS CONCEITUAIS E PRODUÇÕES TEXTUAIS, CAMINHOS PARA A ORGANIZAÇÃO E EXPRESSÃO DE CONHECIMENTOS Leandro Afonso da Silva UEL E-mail: lafonso.bio@gmail.com Michely da Silva Bugança UEL E-mail: myybug@gmail.com Mariana A. Bologna Soares de Andrade UEL E-mail: mariana.bologna@gmail.com Eixo 1: Didática e Práticas de Ensino na Educação Básica Resumo A quantidade de informações do conteúdo formal do ensino básico requer a apropriação do aluno sobre metodologias que o permita organizar e expressar seus conhecimentos, estas constituem importantes fontes para avaliações formativas, como elaboração de mapas conceituais e textos. Este trabalho objetivou analisar a relevância da integração de diferentes propostas avaliativas ao processo de ensinoaprendizagem, pelo estudo de uma sequência didática aplicada ao 8º ano sobre o sistema digestório. A sequência didática constituiu-se de 4 encontros abordando a introdução e importância do sistema digestório, caracterização do processo de digestão, elaboração do mapa conceitual e elaboração dos textos. Os alunos foram instruídos para a elaboração dos mapas conceituais, individualmente, e os textos em duplas. Analisou-se a quantidade e qualidade de conceitos em 6 duplas (n=12). Observou-se aumento significativo na qualidade dos conceitos nos textos, demonstrando a importância do trabalho colaborativo e da integração avaliativa. Notou-se que as maiores dificuldades para a elaboração dos mapas relacionavamse a ausência da função de produtos de órgãos/estruturas, a inversão de sequências lógicas, o enfoque anatômico e aleatoriedades na estrutura do mapa. Conclui-se que avaliações formativas realizadas com propostas diferentes podem evidenciar e proporcionar meios para que os alunos explicitem seus saberes acerca de temas específicos. Palavras-chave: Avaliação, mapas conceituais, sistema digestório. Introdução A vasta quantidade de informações disponíveis do conteúdo formal do ensino básico requer a utilização de metodologias ativas e nas quais os alunos 183
sejam instruídos para o uso de ferramentas de organização do conhecimento como mapas conceituais, organogramas e fluxogramas, produções de texto, elaboração de comunicações orais, relatórios científicos, entre outros. Essas ferramentas podem ser utilizadas também como instrumento avaliativo ao longo do processo de ensino-aprendizagem, sendo distinto seu objetivo em relação a concepção tradicional de avaliação, que segundo Freitas, Costa e Miranda (2014), [...] é usada como instrumento de controle, de medida, de comparação e classificação.. A avaliação formativa (BLOOM; HASTINGS; MADAUS, 1983) se enquadra na proposta descrita, sendo realizada continuamente, de diversas maneiras e oferece subsídios ao professor para analisar se os objetivos foram alcançados pelos alunos, e quais aspectos podem interferir na aprendizagem levando ao aperfeiçoamento de seus procedimentos e elaboração de trabalhos para a recuperação (FREITAS, COSTA E MIRANDA; 2014; HAYDT, 2000). Levando em consideração os desafios da educação na contemporaneidade o objetivo deste trabalho é analisar a relevância da integração entre propostas diferenciadas de avaliação para o processo de ensinoaprendizagem, baseado no estudo de uma sequência didática aplicada ao 8º ano do ensino fundamental sobre a temática sistema digestório. A sequência didática A sequência didática foi aplicada a uma turma de 8ª série, sendo constituída de 4 encontros, 2 h/a por encontro, tendo suas descrições abaixo. 1º Encontro Introdução e importância do sistema digestório: Inicialmente, foi retomado o conteúdo sobre nutrição, contextualizando a importância da digestão a partir das asserções dos alunos; Em seguida, foi utilizado um banner e em dinâmica os alunos precisavam indicar a localização dos órgãos deste sistema; Por fim, os alunos preencheram uma imagem indicando os nomes dos órgãos. 2º Encontro Caracterização do processo de digestão: Inicialmente foi retomado o conteúdo passado dando maiores detalhes sobre o tema; Foram trabalhados a anatomia e fisiologia do sistema digestório utilizando vídeos e imagens; Ao final, discutiu-se a importância da visualização das fezes. 184
3º Encontro Elaboração do mapa conceitual: Ao início da aula foram retiradas dúvidas e os alunos foram instruídos para a elaboração de um mapa conceitual que apresentasse os principais aspectos e processos do sistema digestório. Os mapas conceituais foram elaborados individualmente, tendo sido disponibilizadas instruções para elaboração do mesmo, visto que os alunos nunca haviam trabalhado com este método. Nesta atividade poderiam ser consultados os conteúdos nos materiais disponíveis. 4º Encontro Elaboração dos textos: Ao início da aula foi realizado o feedback sobre a atividade dos mapas conceituais. Seguidamente, os alunos se organizaram em duplas para a elaboração dos textos sobre o sistema digestório, com consulta apenas nos mapas elaborados. Análise das avaliações Para a análise dos mapas e textos utilizou-se uma adaptação da metodologia descrita por Ruiz-Moreno et al. (2007), tendo como critérios a quantidade de conceitos e qualidade de conceitos. A quantidade de conceitos representa o número de conceitos apresentados, sendo determinados conceitos essenciais: Boca, glândulas salivares, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, fígado, vesícula biliar, pâncreas, intestino grosso e ânus. A qualidade de conceitos foi avaliada atribuindo as classificações Não satisfatório, àquelas que possuíam erros ou conceitos muito gerais, Satisfatório, àquelas que possuíam uma resposta correta e parcialmente completa, e Plenamente satisfatório para as respostas corretas e completas. Outro critério para a avaliação foi a utilização de duplas que completaram as duas atividades, resultando em um n=6 duplas (12 alunos). Desenvolvimento A análise dos dados foi feita inicialmente nos mapas conceituais e posteriormente nos textos produzidos pelas duplas. Com o objetivo de relacionar a quantidade e qualidade dos conceitos em ambas produções foi proposto o Quadro 1. Quadro 1 - Análise da quantidade e qualidade de conceitos por grupo e por alunos para os mapas conceituais e produções textuais. ID. MAPA CONCEITUAL PRODUÇÃO TEXTUAL 185
GRUPO 6 GRUPO 5 GRUPO 4 GRUPO 3 GRUPO 2 GRUPO 1 A B C D E F G H I J K L 7 conceitos: I(5) S(2) PS(0) Obs: Enfoque anatômico, definições antes do conceito, inversão/ausência de sequências lógicas. conceitos: I(6) S(4) PS(1) Obs: Ausência da função dos produtos de órgãos/estruturas, conceitos errôneos, pontos desorganizados no mapa. conceitos: I(0) S(3) PS(8) Obs: Modelo de mapa diferenciado. 10 conceitos: I(2) S(3) PS(5) Obs: Modelo de mapa diferenciado, inversão/ausência de sequências lógicas, uso de palavras de enlace. conceitos: I(4) S(3) PS(4) Obs: Ausência da função dos produtos do órgão/estrutura 10 conceitos: I(6) S(4) PS(0) Obs: Ausência da boca, inversão/ausência de sequências lógicas, ausência da função dos produtos do órgão/estrutura, enfoque anatômico. 10 conceitos: I(1) S(1) PS(8) Obs: Ausência da boca, modelo de mapa diferenciado, aleatoriedade na estrutura do mapa. conceitos: I(7) S(2) PS(2) Obs: Aleatoriedade na estrutura do mapa, ausência da função dos produtos do órgão/estrutura, enfoque anatômico. conceitos: I(0) S(4) PS(7). conceitos: I(0) S(3) PS(8) 7 conceitos: I(3) S(2) PS(2) Obs: Mapa incompleto. conceitos: I(5) S(3) PS(3) Obs: Inversão/ausência de sequências lógicas, ausência da função dos produtos do órgão/estrutura. 5 conceitos: I(2) S(1) PS(2) Obs: Texto incompleto. 9 conceitos: I(1) S(2) PS(6) Obs: Ausência da boca e vesícula biliar, ausência de formato textual típico. É notável o aumento significativo, principalmente da qualidade de conceitos para a categoria plenamente satisfatória, excetuando-se o grupo 4, todos 186
os outros demonstraram um maior número de conceitos na elaboração do texto nesta categoria, o que pode ser atribuído a natureza dos mapas conceituais pautada na construção do conhecimento pelo aluno e estabelecimento de relações entre os significados e externalização dos mesmos (ELIAS; LUCAS,2014). Um fator a ser observado é a importância do trabalho colaborativo, onde a troca de saberes propicia a elaboração de novos conhecimentos e a elaboração expressiva dos já existentes, podendo ocorrer mudanças de concepções e até mesmo ressignificações (INOCÊNCIO; CAVALCANTI, 2005). Grupos como o 3, 6 e 1 evidenciam as potencialidades dos mapas para organizar as ideias que foram discutidas pelos alunos na hora de elaborar o texto ume vez que a somatória dos conceitos plenamente satisfatórios nos mapas, por exemplo, são aproximadamente a metade dos obtidos nos textos. Tal atividade também reflete o papel das aulas anteriores a esses momentos, por possibilitarem a articulação dos conhecimentos, sendo os resultados reflexos da compreensão dos alunos e não somente a cópia dos mapas. Levando em consideração que este foi o primeiro contato dos alunos com a metodologia de elaboração de mapas conceituais sobre o sistema digestório, seus processos e constituintes, obteve-se observações relevantes ao estudo indicando as principais dificuldades dos alunos na elaboração dos mesmos, sendo estas: Ausência da função de produtos de órgãos/estruturas (4), onde se observa apenas o que é produzido pelo órgão e não como a substância atua no processo de digestão; Inversão de sequências lógicas (3), onde se observa concepções errôneas sobre caminho pelo trato digestório; Enfoque anatômico (3), onde se observa apenas a caracterização morfológica; Aleatoriedade na estrutura do mapa (2), mapas que não tem um caminho e os processos não apresentam sequência ou relação. Para superar estas dificuldades, os momentos de feedback e de orientação sobre como fazer os mapas conceituais são cruciais para futuras atividades similares, correções e novas compreensões acerca da metodologia e do tema. Sobre a utilização das produções textuais Souza e Arroio (2007) indicam que ao argumentar por meio de textos, os alunos estão apresentando o resultado do seu processo cognitivo. A partir desta reflexão é possível inferir a 187
importância da escrita como mediadora da expressão dos conhecimentos dos alunos, podendo ser aplicada inclusive em situações de avaliação. Tendo em vista o exposto, nota-se a importância de avaliações formativas e que utilizem diversos métodos para as mesmas, sendo possível afirmar que a sequência didática aplicada e as atividades proposta atingiram resultados satisfatórios. Conclusão A partir dos resultados obtidos conclui-se que a avaliação formativa realizada com diferentes propostas pode evidenciar e proporcionar meios para que os alunos explicitem seus saberes acerca de temas específicos. Foi verificado que houve um aumento significativo da qualidade dos conceitos na produção de textos em relação aos mapas conceituais o que indica o potencial desta metodologia para a expressão de conceitos pelos alunos possibilitando entender, inclusive, as dificuldades dos mesmos na elaboração das atividades e suas habilidades para as mesmas. Referências Bibliográficas BLOOM, B. S.; HASTINGS, J. T.; MADAUS, G. F. Manual de avaliação formativa e somativa do aprendizado escolar. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1983. ELIAS, L. C. B.; LUCAS, L. B. mapas conceituais via CmapTools: uma sequência didática para o ensino do sistema digestório. In: HASPER, R.; NASCIMENTO, D. R.; LUDWIG, S. M. O. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE. 1 ed. Paraná: SEED/PR, 2014. P 2-17. FREITAS, S. L.; COSTA, M. G. N.; MIRANDA, F. A. Avaliação Educacional: formas de uso na prática pedagógica. Meta: Avaliação, Rio de Janeiro, v. 6, n. 16, p. 85-98, jan./abr. 2014. HAYDT, R. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. Ática: São Paulo, 2000. 160 p. INOCÊNCIO, D.; CAVALCANTI, C. M. C. O trabalho em grupo como metodologia de ensino em cursos e disciplinas on-line. In: CONGRESSO INTERNACIONAL ABED DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, 12, 2005, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2005. RUIZ-MORENO, L.; SONZOGNO, M. C.; BATISTA, S. H. S.; BATISTA, N. A. Mapa conceitual: ensaiando critérios de análise. Ciência & Educação, v. 13, n. 3, p. 453-463, ago. 2007. 188
SOUZA, D. D. D.; ARROIO, A. Produção de textos de comunicação em ciências nas aulas de química em uma escola de ensino médio. In: ENPEC - ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 6, 2007, Anais... Florianópolis: ABRAPEC, 2007. 189