XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista



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Transcrição:

CORPO EM DANÇA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Márcia STRAZZACAPPA Faculdade de Educação UNICAMP http://lattes.cnpq.br/1574008360415424 RESUMO: o presente artigo discute alguns resultados observados no oferecimento de uma disciplina de caráter teórico prático em que as linguagens artísticas são trabalhadas na formação de professores (pedagogos e demais licenciaturas) e cuja avaliação se dá por meio de um processo de criação artística coletiva. Trata-se de uma disciplina obrigatória da Faculdade de Educação da Unicamp, intitulada Educação, Corpo e Arte. Traz como recorte as apresentações cênico-coreográficas realizadas entre 2006 e 2010 buscando identificar quais foram as opções estéticas dos estudantes para a confecção das mesmas. PALAVRAS-CHAVE : dança, corpo, processos de criação SOMMAIRE: l article discute les resultats observés dans la formation de professeurs (pedagoggue et licenciés) après leur participation dasns une discipline théorique et pratique dont les langages artistiques sont travaillées et dont l avaluation est faite par un processus de création artistique colective. Il s agit d une discipline obrigatoire de la FAculté d Education de l université de Campinas, nomée education, corps et arts. On discute les présentations portées entre 2006 et 2010, em cherchant identifier les options esthétiques pour la confection des scènes. MOTS-CLÉS: danse, corps, processus de création Desde 2000, ministro, em parceria com outros colegas docentes da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) uma disciplina obrigatória no curso de graduação em Pedagogia, intitulada EP 158: Educação, Corpo e Arte, cuja ementa é Esta disciplina, de caráter teórico-prático, visa introduzir os(as) alunos(as) às diferentes linguagens corporais e/ou artísticas em suas relações com o processo educacional. (catálogo de graduação, 2012). Esta disciplina já foi objeto de discussão e pesquisa com resultados apresentados em congressos e encontros do campo da educação como no Congresso Brasileiro de Leitura (COLE), na reunião da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação (ANPED), no Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), no Encontro Nacional de Arte e Educação Física em Natal/RN (ENAEF), entre outros. De

um primeiro oferecimento como disciplina eletiva no curso de formação de pedagogos da Faculdade de Educação em 1997 à sua incorporação como disciplina obrigatória na Pedagogia (e eletiva nas demais licenciaturas), sua presença nos cursos de formação de professores da Faculdade gerou movimentos múltiplos: a construção de uma sala especialmente preparada/pensada para atividades corporais e artísticas, com piso de madeira, sem carteiras, com equipamentos de som, vídeo, multimídia, entre outros recursos materiais; a antecipação do período de oferecimento de disciplina que passou do sétimo semestre (último ano) para o quarto semestre (segundo ano); a criação, junto às demais universidades estaduais paulistas (UNESP e USP) de uma cadeira semelhante, fruto da divulgação do êxito da experiência com esta disciplina nos congressos e encontros supracitados; a realização, em 2011, de um primeiro encontro de estudantes e docentes que atuam na Educação, Corpo e Arte, organizado pela professora Eliana Ayoub, colega de grupo de pesquisa, Laborarte. Mais recentemente, em função da crescente demanda por matrícula nesta disciplina, soma-se mais um movimento: o oferecimento de mais uma turma da disciplina por semestre, para atender a crescente demanda por vaga na disciplina, sobretudo para os estudantes de licenciatura da área de Humanas. Hoje, são aproximadamente 135 estudantes contemplados com a disciplina, divididos em 3 turmas de 45 alunos. Destaco ainda que no Acordo Interinstitucional de Cooperação entre as Universidades Paulistas, esta é uma das disciplinas mais procuradas pelos estudantes externos à Unicamp. No presente artigo, não irei descrever o trabalho realizado em sala de aula, nem retomar as discussões já tecidas, afinal, estas já foram publicadas e estão acessíveis ao público (vide as referências na bibliografia). Irei aqui problematizar a questão do corpo presente na dança, tema que abordo na parte que me cabe neste latifúndio, tendo em vista que a disciplina tem sido oferecida de forma compartilhada ao menos, entre dois docentes (no início, por quatro, mas dada a necessidade de se criar vínculos para que a educação aconteça, dividimos apenas por dois docentes, com linguagens

complementares), cada qual com sua especialidade (Ana Angélica Albano artes visuais; Eliana Ayoub corpo/ginástica geral; Rogério Moura teatro e eu, Marcia Strazzacappa dança/educação somática). Dentro da temática da dança apresento, em primeiro lugar, o que intitulo dança que difere, em alguns aspectos, das definições comumente encontradas nos léxicos aos quais as pessoas têm acesso. Parto do princípio de que a dança é composta por movimentos humanamente organizados segundo uma intenção estética (STRAZZACAPPA, 2007) A necessidade de definir a dança para os estudantes dos cursos de formação de professores está pautada na incompreensão que esta linguagem artística é vítima, sobretudo quando o assunto é a dança contemporânea. Sobre isso, John Martin, norte americano reconhecido como um dos primeiros críticos genuinamente de dança, afirmou: A dança passou a ser reconhecida como forma de arte apenas recentemente, e ainda resta uma confusão considerável a esse respeito, tanto no mente do público, como na classe dos bailarinos. (...) Quando Isadora Duncan e o movimento romântico surgiram, dando ênfase maior á música que ao drama, a dança como acompanhamento coreográfico tornou-se assunto dos críticos de música. Com o desenvolvimento da dança moderna, em que a dança é o principal, e música e enredo são, por vezes, secundários, a confusão impera. (Martin, 2007, p.230). Outro ponto que me leva a definir dança é ter verificado os conceitos com os quais os estudantes chegam em sala de aula. Seria a dancinha de final de ano da escola? A dança dos famosos da televisão? A dança de salão? São tantos desafios, não apenas para se conceitualizar a dança. O trabalho com o corpo é outro tabu. Duarte Júnior em sua comunicação na 30ª reunião da ANPEd ocorrida em Caxambu/MG, levantou algumas indagações quanto à carência de experiências sensíveis, de sabor e de corpo nas salas de aula. Sua comunicação pode ser vista/lida na obra A montanha e o videogame (2011). Ele chamava a atenção para a ausência do corpo no cotidiano das pessoas, destacando principalmente essa ausência nos jovens.

Se de um lado, a tecnologia aproxima as pessoas, colocando-as em rede, plugadas, linkadas, facebookadas, twiitadas, conectadas, atualizadas; de outro, afasta os indivíduos de contato corpo a corpo. É comum vermos em sala de aula estudantes que possuem mais de mil amigos virtuais, mas que são incapazes de se trocar ideias com o colega sentado na cadeira ao lado. Será que a facilidade de contato virtual estaria levando as pessoas a um esvaziamento do contato real? Na disciplina, a tecnologia está presente para o registro e posterior observação de ações corporais. Trabalhamos com bonecos manipulados por 3 estudantes que, necessariamente devem estar em sintonia para conseguirem articular os gestos do personagem; realizamos dança circulares; imitamos os gestos dos colegas; respondemos aos estímulos sonoros com diferentes partes do corpo; exploramos o espaço; utilizamos objetos como bastões, bexigas, colchonetes, cadeiras, tecidos gigantes, bolinhas de borracha, barbantes, elásticos, bolas de Pilates entre outros, tudo como estímulo para se colocar o corpo em movimento e para processos de criação. Após dez anos trabalhando com a disciplina, encabecei uma pesquisa intitulada Educação, Corpo e Arte: Permanências e Transformações cujo objetivo era identificar quais as opções estéticas presentes nas criações cênicas dos estudantes, realizadas ao longo do curso e, sobretudo, ao final, no momento da avaliação da disciplina. Esta avaliação era composta por uma apresentação pública nas diferentes linguagens, isto é, teatro, dança, música, declamação, instalação, entre outros, realizada coletivamente, isto é, com um grupo de, no mínimo, 8 integrantes. O desafio era compor uma cena em que um número grande de estudantes deveriam estar presentes, com texto, música, dança, figurino, iluminação (para as turmas do noturno), entre outros quesitos cênicos. Embora a disciplina fosse trabalhada de forma distinta com cada turma de estudantes, por meio de diferentes ênfases e linguagens, ao assistirmos alguns vídeos das aulas, verificamos algumas estruturas similares nas composições artísticas. Nosso intuito é identificar quais são estas estruturas e analisar porque isso ocorre. Estariam as opções

dos estudantes relacionadas ao vivido/experimentado nas aulas? Ou relacionadas às memórias e vivências escolares? (projeto, p.01) A pesquisa foi realizada por uma estudante do curso de pedagogia, com bolsa de Iniciação Científica PIBIC, Debora Castro Cabral, por meio da análise dos registros imagéticos que acompanharam as aulas, fotos e vídeos gravados em diferenes mídias, por diferentes pessoas (celular, IPode, I Phone, filmadora e maquina fotográfica digital). O recorte da bolsista foi assistir a todas as avaliações/apresentações (2006 a 2010), classifica-las e categoriza-las. Ao todo foram 18 apresentações referentes à 5 turmas. Identificamos que os estudantes, mesmo depois de terem passado um semestre inteiro vivenciando a dança, o teatro e as artes visuais, ouvindo músicas das mais variadas fontes, apreciando filmes ou trechos de filmes não hollywoodianos, indo a exposições em galerias (apenas com as turmas do diurno), acabavam por definir suas escolhas estéticas pautadas naquilo que traziam de sua formação de base, isto é, nas experiências que foram marcantes na escola. Mas afinal, o que os nossos alunos de Pedagogia trazem de suas práticas escolares para seus trabalhos na EP158? O que eles entendem como educação do sensível? Quais suas referências? Existem ideias recorrentes? Em toda obra existe expressões, gestos, referências literárias, referências musicais que são usados com frequência pelo artista e essa ideia de estilo não repousa em uma obra, mas também em um conjunto de obras. É claro que não existe uma classificação pura, reduzida somente a estilos, existe uma série de detalhes, mas dentro desse material imagético de memória podemos observar e analisar qual a bagagem cultural que mais recorre durante as aulas, portanto, o que os alunos trazem das suas antigas escolas e da sua vida social sobre educação estética. (CABRAL, 2012, p. 6) Como exemplos, destacamos o uso de TNT como material para a elaboração de figurinos, adereços e cenário; a presença de contos infantis populares (chapeuzinho vermelho, os três porquinhos, branca de neve) como mote para as criações; o uso de músicas instrumentais retiradas de trilhas sonoras de filmes (quando não músicas da Enia), ou ainda o uso de formações espaciais da quadrilha junina. Analisando estas opções vemos que usar o conhecido, o lugar comum, colocase como um porto seguro e reafirma a crença de que ao apresentar algo já

conhecido pelo público, poder-se-ia garantir o sucesso da apresentação. Promover o riso, optando por apresentações mais cômicas que poéticas também é recorrente e se apoia nas crenças de que o riso é mais palatável e de que é sempre o esperado pelo público. As apresentações são filmadas e depois assistidas pela turma em uma aula posterior para a análise dos trabalhos realizados. Neste momento, é aberta a palavra para que os próprios protagonistas das cenas possam emitir suas opiniões sobre o processo e sobre o produto. Neste momento, críticas são tecidas, evidenciando-se que conceitualmente, algumas informações foram retidas, porém mostrando que há ainda um longo caminho entre compreender o conceito e expressa-lo em ações. Concluímos que não é o trabalho intensivo de um único semestre que irá apagar ou, pelo menos, diminuir as marcas deixadas ao longo de toda uma formação. Isso só reforça a necessidade da realização de mais trabalhos como este, para um número maior de estudantes, não apenas para o curso de formação de professores da educação básica, isto é, para a formação de pedagogos como para a formação de professores de outras disciplina, abrindo a oportunidade para estudantes de outros cursos de licenciatura. Referências bibliográficas: AYOUB, E. STRAZZACAPPA, M. Corpo e Arte: outras leituras na formação em pedagogia. In: COLE - congresso de leitura do Brasil, 2009, Campinas. Anais do 17 COLE, 2009. AYOUB, E. ; STRAZZACAPPAM. Vivenciando o corpo e a arte - inovando na formação em pedagogia. In: I Seminário Inovações em Atividades Curriculares: experiências na Unicamp, 2007, Campinas. Inovações Curriculares. Campinas: unicamp, 2007. pp. 62-62. AYOUB, E STRAZZACAPPA. M. Arte e Educação Física na formação em Pedagogia. In: III ENAEF - Encontro Nacional de Arte e de Educação Física, 2006, Natal. Anais do III ENAEF, 2006. CABRAL, Debora. Relatório final de Iniciação Artística do projeto Educação, corpo e arte: permanências e transformações, não publicado, Unicamp, 2012. DUARTE Jr A montanha e o videogame, Campinas: Papirus, 2011.

MARTIN, John. A dança moderna In Proposições revista quadrimestral da Faculdade de Educação da UNICAMP, v. 18 n.1 [52] jan-abril/2007. STRAZZACAPPA, Marcia STRAZZACAPPA M. Dança outro aspecto da/na formação estética dos indivíduos. In: 30 ANPED, 2007, Caxambu. Anped: 30 anos de pesquisa e compromisso social, 2007. STRAZZACAPPA, M. e AYOUB, E. Educação, corpo e arte - sensibilização à flor da pele. In: XIII ENDIPE - Encontro nacional de didática e prática de ensino, 2006, Recife - PE. XIII ENDIPE. Recife - PE: Lapa software, 2006. Pp. 25-29. STRAZZACAPPA. M. Quando o corpo ganha voz na sala de aula. In: XII ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 2004, Curitiba. Anais do XII ENDIPE. Curitiba: PUC PR, 2004.