A CRIANÇA SURDA: CAUSAS, PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO ESCOLAR



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Transcrição:

A CRIANÇA SURDA: CAUSAS, PREVENÇÃO E EDUCAÇÃO ESCOLAR Sheila Rodrigues Vieira 1 Andreia Nakamura Bondezan 2 A proposta deste trabalho é a de apresentar algumas causas da surdez e abordar o histórico da criança surda, pontuando as formas de tratamento que elas receberam no atendimento escolar, durante a trajetória da educação do surdo no Brasil, tendo como destaque o oralismo, a comunicação total e o bilingüismo. A educação de todas as crianças, com deficiência ou não, deve ser garantida na escola. No entanto, sabemos que a criança surda tem necessidades diferentes das demais crianças, pois ela não consegue se comunicar, oralmente, com as pessoas que estão em seu ambiente. A quantidade de pessoas surdas no Brasil, de acordo com o censo realizado em 2000, é de cerca de 5.750.805, dessas 519.460 estavam com idade entre 0 e 17 anos, e 256.884 entre 18 e 24 anos, perfazendo um total de 766.344. Porém, destas, apenas 58.409 se encontravam matriculadas no sistema educacional 3. Este quadro nos faz refletir acerca de algumas questões: quais são as possíveis causas e as formas de prevenção em relação à surdez? Quais foram as formas de ensino da criança surda? Com o intuito de alcançar algumas respostas a estes questionamentos este trabalho aborda primeiramente algumas causas e prevenções da surdez, em seguida, se pauta na educação escolar da pessoa surda. 1 Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste/Foz, pós graduando em Educação Especial pelo Instituto de pós-graduação Inova. 2 Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Bolsista PTI C&T/FPTI-BR, docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. 3 Ver site http://www.ibge.gov.br

Causas e prevenção em relação à surdez As causas das deficiências auditivas/surdez são muitas. Entre as principais segundo Kirk e Gallagher (1996) estão, nascimento prematuro, anomalias hereditárias, rubéola materna, meningite, incompatibilidade de sangue entre a mãe e a criança e otite média, adquiridas no pré-natal, e adquirida pós-natal. Faz-se ainda uma distinção em termos do tempo em que a condição ocorreu, sendo elas: - Surdez pré-lingual: que se refere aos que nasceram surdos ou que perderam sua audição antes do desenvolvimento da fala e da linguagem. - Surdez pós-lingual: que se refere aos que perderam a sua audição após o desenvolvimento espontâneo da fala e da linguagem. A identificação e o diagnóstico da deficiência auditiva entre as crianças incluem; triagem preliminar das crianças, exames fotológicos e outros, avaliação da audição, avaliação psicológica e educacional. No entanto, o ouvido pode apresentar alterações, e de acordo com tais alterações tem se diferentes tipos de perda auditiva, as quais podem ser: - Perda Auditiva Condutiva- quando a alteração se localiza na orelha externa ou média, ocasionando uma alteração sonora quantitativa. - Perda Auditiva Neurossensorial- quando há uma lesão do Órgão de Corti ou neural, provocando dificuldade na discriminação auditiva, isto é, uma alteração quantitativa e qualitativa. - Perda auditiva Central - quando o problema está entre o tronco cerebral até regiões subcorticais, provocando uma alteração quantitativa e qualitativa. - Perda Auditiva Mista - quando o problema envolve alterações com componentes condutivos e neurossensoriais simultaneamente. A audição é geralmente medida e descrita em decibéis (db), uma medida relativa da intensidade do som. Encontramos na literatura diferentes classificações com algumas mudanças na faixa de variação de intensidade sonora e no grau de audição. De acordo com Davis e Silverman (apud COSTA, 1994), a relação entre a intensidade do som e o grau da perda auditiva classifica-se: Variação da intensidade sonora Classificação do grau de audição

10 a 26 db Limites normais 27 a 40 db Perda leve 41 a 55 db Perda moderada 56 a 70 db Perda moderadamente severa 71 a 90 db Perda severa Acima de 90 db Perda profunda Fonte: COSTA, 1994. Segundo Peña (1992), a tabela de classificação do BIAP (Bureau International d Audiophologie) caracteriza-se da seguinte forma: Variação da intensidade sonora Classificação do grau de audição 20 a 40 db Perda Leve 40 a 70 db Perda Média 70 a 90 db Perda Severa Mais de 90 db Perda Profunda Relação entre a intensidade do som e o grau de perda auditiva Fonte: PEÑA, 1992. As crianças surdas com a audição reduzida são, geralmente, identificadas antes de entrarem na escola. As crianças com deficiências auditivas leves ou moderadas tendem mais a serem negligenciadas. A identificação correta das crianças com perda auditiva é freqüentemente complicada, pois, na sala de aula, os sintomas da condição assemelhamse a outros distúrbios, como deficiência mental ou problemas comportamentais. As crianças que olham o professor inexpressivamente podem ter deficiências auditivas, podem simplesmente não estar compreendendo o que está sendo dito, ou podem estar tão envolvidas com suas próprias ansiedades que bloqueiam a comunicação. Assim, é importante que o professor observe seus alunos, porque pode acontecer de alguma criança ter dificuldade auditiva e precisar passar por exames. Esta atitude pode propiciar um diagnóstico que auxilie a criança em seu processo de aprendizagem. O caminho que a educação da criança surda tem percorrido tem sido um assunto bastante polêmico, que tem levantado várias vertentes com diferentes consequências na educação dessas crianças. Assim é necessário fazer um breve histórico da educação da criança surda, destacando as principais contribuições dos educadores e estudiosos no atendimento dessas crianças, apresentando um pouco da história da educação da criança

surda no Brasil, focalizando principalmente o oralismo, a comunicação total e o bilingüismo como proposta educacionais. Educação da criança surda: breve histórico Até o final do século XV, as idéias em relação à educação dos surdos eram bastante negativas. Os primeiros educadores de surdos surgiram no século XVI, criando diferentes metodologias de ensino, nessas metodologias de ensino utilizavam a linguagem oral e a língua de sinais ou outros códigos visuais (GUARINELLO, 2007). Em meados do século XVI, o médico italiano Girolano Cardano propôs que os surdos fossem ensinados. Nesse mesmo século o monge beneditino espanhol Pedro Ponce de León, foi considerado o primeiro professor de surdos na história. O objetivo de Pedro Ponce de León era ensinar seus alunos a falar. Sabe-se, que além de ensinar seus alunos por meio da leitura e escrita, ele utilizava uma forma de alfabeto manual no qual cada letra correspondia a uma configuração de mão. No século XVII, explica Guarinello (2007), na Espanha os sucessores de Pedro Ponce de León passaram a se interessar pelas diferentes formas de comunicação usadas pelos surdos. Em 1620, o espanhol Juan Pablo Bonet publicou o livro Redução das Letras e a Arte de Ensinar a Falar os Mudos (Reducción de lãs letras artes para enseñar a hablar a los mudos), nesse livro ele tratava sobre a invenção do alfabeto digital, que foi utilizado anteriormente por Ponce de León. Para Bonet primeiramente os surdos deveriam dominar a leitura, a escrita e o alfabeto digital e, depois disso, estariam prontos para falar. Por este motivo ele foi considerado um dos precursores do oralismo. De acordo com Quadros (1997) nos séculos seguintes, em diversos lugares do mundo, os educadores que ensinavam os surdos, começaram a ter divergência em relação ao método de ensinar, enquanto uns defendia que no ensino das crianças surdas deveria priorizar o Método Oral Puro (língua falada), outros defendiam o Gestualismo (língua de sinais). Na Inglaterra, por volta de 1650, as teorias sobre a aprendizagem da fala e da linguagem, fizeram com que os reverendos William Holder e John Wallis se interessassem por estudos e trabalhos com surdos. William Holder concentrou seu trabalho no ensino da fala e John Wallis fazia o uso do alfabeto manual para pronunciar

as palavras em inglês e ensinar a escrita e a fala aos surdos. Wallis ensinou dois surdos a escrever, é considerado o principal representante do método escrito de educação de surdos (GUARINELLO, 2007). Na segunda metade do século XVII, alguns professores dedicaram-se à educação dos surdos. Nessa época o escocês George Dalgarno (1626-1687) declarou que os surdos tinham o mesmo potencial que os ouvintes para aprender, mas para isso acontecer precisavam receber uma educação adequada. No século XVIII, o interesse pela educação dos surdos teve um aumento, e diferentes métodos de ensino foram divulgados. Por volta de 1704, o alemão Wilhelm Keger defendeu a educação obrigatória para os surdos. Enquanto o espanhol Jacob Rodrigues Pereire, seguindo as idéias de Bonet, defendia o uso da fala e proibia o uso de gestos, deixando claro que seu objetivo era que os surdos se comunicassem oralmente e pela escrita, Wilhelm Keger defendia e usava em suas aulas, a escrita, a fala e os gestos para que seus alunos aprendessem. Este fato demonstra a presença de diferentes compreensões acerca da metodologia que deveria ser utilizada para a educação da criança surda (GUARINELLO, 2007). Em 1750, na França, o abade Charles Michel de L Epée foi o primeiro a estudar uma língua de sinais usada por surdos, começou a ensinar duas irmãs surdas a falar e escrever. Partindo dessa linguagem gestual criou os Sinais Metódicos para desenvolver um método educacional, no qual pela primeira vez, os surdos foram capazes de ler e escrever, adquirindo uma instrução. Para ele a linguagem de sinais é concebida como língua natural dos surdos. Assim, L Epée foi o primeiro a considerar que os surdos tinham uma língua. Em 1760, o abade fundou a primeira escola onde os professores usavam os chamados sinais metódicos, sendo chamado Instituto Nacional para Surdos- Mudos de Paris. Nessa mesma época, na Alemanha, Samuel Heinicke propôs uma filosofia de ensino para surdos que ficou conhecida como o método oral. Essa metodologia utilizavase somente da linguagem oral na educação dos surdos e ficou conhecida como método alemão. Heinicke acreditava que o uso de sinais atrofiava a mente para o posterior desenvolvimento da fala por meio do pensamento. Por este motivo era contra os sinais (GUARINELLO, 2007).

Nos Estados Unidos, o trabalho com surdez se iniciou com Hopkins Gallaudet, ele implantou a primeira escola para surdos. E a partir de 1821, todas escolas americanas passaram a utilizar American Sign Language ASL-(Língua de Sinais Americanas). Nessa época, os educadores se dividiram em duas correntes, os Oralistas e os Gestualistas (GUARINELLO, 2007). Em 1880, foi realizado em Milão, o Congresso Internacional sobre Instrução de Surdos, esse congresso foi considerado um marco histórico na educação do surdo, pois trouxe uma completa mudança nos rumos da educação desses alunos. No congresso ficou decidido que todos os surdos deveriam ser ensinados pelo Método Oral Puro, que proibia o uso da língua de sinais e obrigava o ensino da oralização para surdos. Após o evento, a metodologia oral passou a ser utilizada em todas as escolas para surdos, e até os fins de 1970, o oralismo tomou conta de toda a Europa. Apesar da proibição dos oralistas no uso de gestos e sinais, muitas escolas desenvolviam seu próprio modo de comunicação com o uso dos sinais (GUARINELLO, 2007). Nos anos 1970, devido o descontentamento com o oralismo que não conseguiu realizar de forma satisfatória o objetivo principal que era a comunicação, e com as pesquisas sobre línguas de sinais, iniciou-se um grande movimento, que passou a adotar uma nova filosofia educacional, definida como comunicação total, que se baseava na fala sinalizada (GUARINELLO, 2007). A comunicação total se fortaleceu durante esse período de 1970, e se espalhou rapidamente por todas as escolas. Nesta perspectiva usava-se a língua de sinais adicionando aspectos da língua falada, vindo favorecer de uma maneira efetiva o contato com os sinais, que era proibido pelo oralismo. Mas surgiram algumas controvérsias em relação ao uso dessa filosofia, pois ela passou a ser utilizada como um método na qual a fala e os sinais são usados simultaneamente, ou seja, surge uma proposta que permite o uso da língua de sinais com objetivo de desenvolver a linguagem na criança surda. E é no final da década de 1970, que se inicia um movimento por parte da comunidade surda com reivindicação pela língua e cultura própria dos surdos. A partir daí, eles passaram a reivindicar pelo direito de usar a língua de sinais como língua oficial, resultando na proposta da filosofia bilíngüe. (GUARINELLO, 2007).

Em 1980 e 1990, a proposta bilíngüe passou a ganhar mais força, foi considerada uma abordagem educacional que se propõe a tornar acessível à criança surda duas línguas no contexto escolar. Educação da criança surda no Brasil Em relação ao Brasil, há informações de que o professor Hernest Huert em 1857, inaugurou no rio de Janeiro o primeiro Instituto Nacional de Surdos-Mudos que atualmente é conhecido como Instituto Nacional de Surdos (Inês). Em 1911 o Instituto estabeleceu o método oral puro em todas as disciplinas da escola (MAZZOTA, 1999). No final da década de 1970 chega ao Brasil a filosofia da comunicação total, e na década de 1980, com base nas pesquisas da Lingüista Lucinda Ferreira Brito, começaram os estudos sobre a Língua de Sinais (Libras), que ganha força no país a filosofia do bilingüismo. Atualmente, o oralismo, a comunicação total e o bilingüismo são utilizados na educação das crianças surdas (QUADROS, 1997). As experiências com educação bilíngüe ainda são recentes; poucos países têm esse sistema implantado há pelo menos dez anos. No Brasil, essa proposta bilíngüe ainda é bastante recente, ou seja, já existem alguns projetos em fase de implantação, porém seus resultados ainda não são conhecidos. Quadros (1997), afirma que algumas conquistas já foram feitas para que a proposta bilíngüe seja colocada em prática, como: [...] o reconhecimento da pessoa surda enquanto cidadã integrante da comunidade surda com o direito de ter assegurada a aquisição da língua de sinais como primeira língua; o uso da língua de sinais na escola para garantir o desenvolvimento cognitivo e o ensino de conhecimento gerais; o ensino da língua oral- auditiva com estratégias de ensino de segunda língua e a inclusão de pessoas surdas nos quadros funcionais das escolas. Segundo Quadros (1997), o bilingüismo em termos de educação de surdos se divide em duas formas. Quadro (1997), coloca que uma forma é o ensino da segunda língua de forma concomitante à aquisição da primeira língua, em momentos distintos e a outra é o ensino da segunda língua somente após a aquisição da primeira língua (língua de sinais). Esta segunda forma de bilingüismo apresenta duas alternativas: o ensino da

língua oral-auditiva que é feito somente através de leitura e escrita ou, como segunda possibilidade, incluindo, além da leitura e da escrita, a oralização. Segundo Quadros (1997), em relação ao bilingüismo, os estudos tem apontado que a proposta bilíngüe vem sendo mais adequada para o ensino de crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais como língua natural e parte desse pressuposto para o ensino da língua escrita. Se a língua de sinais é uma língua natural adquirida de forma espontânea pela pessoa surda em contato com pessoas que usam essa língua e se a língua oral é adquirida de forma sistematizada, então as pessoas surdas têm o direito de ser ensinadas na língua de sinais 4. A proposta bilíngüe busca captar esse direito, é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõe a tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. Somado a isso, Quadros (1997a, p. 28) cita a declaração dos direitos humanos lingüísticos, segundo a qual: [...] todos os seres humanos têm o direito de identificarem-se com uma língua materna e de serem aceitos e respeitados por isso; todos têm o direito de aprender a língua materna(s) completamente, nas suas formas oral (quando fisiologicamente possível) e escrita; todos têm o direito de usar sua língua materna em todas as situações oficiais (inclusive na escola); Por meio dessa concepção histórica, percebe-se que as concepções de surdez e de pessoa surda passaram por algumas mudanças, constatamos que já foram utilizadas várias metodologias em diferentes concepções teóricas e diferentes abordagens educacionais para surdos, entre elas Oralismo, Comunicação Total e Bilingüismo. A respeito da educação bilíngüe, Lacerda (1988, p.9) pondera que: O objetivo da educação bilíngüe é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a língua de sinais e a língua majoritária. 4 Em 24 de abril de 2002, foi sancionada a Lei nº 10.436, pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Essa lei reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão utilizado pelas pessoas surdas do Brasil.

Atualmente a concepção Bilíngüe é um tema que ocupa uma posição central em relação as discussões sobre a modalidade de ensino mais adequada para a aprendizagem da criança surda. A premissa básica da proposta bilíngüe é o acesso à língua de sinais, a qual deve ser trabalhada com a criança por educadores bilíngües. Segundo Quadros (1997), quanto mais cedo a criança surda aprender a língua de sinais, maiores serão as possibilidades de desenvolvimento de suas capacidades lingüísticas. É fundamental que os professores e intérpretes que trabalham com essas crianças compreendam a importância das formas de mediação necessárias para que a aprendizagem dos conteúdos ocorra. A presença de profissionais habilitados é fundamental para a inclusão desses alunos no ensino regular. E a condição básica para assegurar as condições do desenvolvimento do aluno surdo na escola regular é a concretização da lei (10.436/2002) que oficializa a libras, garantindo que: O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Essa lei contribui para a inclusão de alunos surdos, com a organização da educação bilíngüe nos sistemas de ensino. Atualmente considerando a história dos surdos, é possível perceber que os avanços nas sobre a surdez propiciaram melhora na qualidade na educação dos surdos, pois estas possibilitaram a compreensão do que é surdez, e contribuíram para o desenvolvimento de formas de comunicação dos surdos, as quais são praticadas atualmente como oralismo, gestualismo e bilingüismo. Por muito tempo discutiu-se qual forma de ensinar a criança surda, por gestos ou ensinando o surdo a falar. O que podemos constatar é que ainda hoje, embora vivamos em um momento em que se defende o bilingüismo, algumas escolas especiais para surdos priorizam o desenvolvimento da fala e da audição. Para que a proposta bilíngüe seja

ofertada à criança com surdez, precisamos que na escola, sejam oferecidas medidas para que todos tenham acesso à essa proposta educacional. A finalidade da educação escolar da criança surda deve ser a de criar condições para que ela se desenvolva em todas áreas, cognitiva, afetiva, física e social, criando [...] situações de educação capazes de transformar ou de lhe permitir transformar-se (MAZZOTTA, 1987, p. 33). É preciso que a população, em geral, receba instruções acerca das causas da surdez e que o governo proporcione campanhas de prevenção, pois, em muitos casos, a criança nasce surda pela falta de informação da mãe que não fez um pré-natal; teve contato com pessoas com doenças contagiosas; fez uso de álcool e fumo, etc. Esse fato pode em muito contribuir para a redução de nascimentos de crianças com surdez. E por fim, o ambiente escolar, deve estar preparado para o atendimento ao aluno surdo. O professor necessita de um conhecimento que ampare seu planejamento e que o permita um ensino de qualidade atendendo as diferenças na sala de aula e a realizar um trabalho com intérprete de libras que possibilite ao aluno uma aprendizagem como todo o grupo escolar. REFERENCIAS BRASIL, Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre Lei Nacional de Libras. Brasília, DF, 2002. COSTA, M. da P.R. da. O Deficiente Auditivo. São Carlos: EDUFSCar. 1994. GUARINELLO, Ana Cristina. O papel do outro na escrita de sujeitos surdos. São Paulo: Plexus, 2007. KIRK, Samuel A., GALLAGHER, J. J. Educação da criança excepcional. São Paulo: Martins Fontes, 1996. LACERDA, C. B. F. Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos surdos. Campinas: Cadernos Cedes, v. 19, n. 46, p.68-80, 1998.

MAZZOTTA, Marcos J. S. Educação Especial no Brasil História e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1999. PEÑA, C. J. Manual de Fonoaudiologia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. QUADROS, Ronice Muller de. Educação de surdos: A aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.