ARTIGO ORIGINAL GEOPRÁTICAS: COMPARTILHANDO PRÁTICAS EDUCATIVAS GEOPRACTICES: SHARING EDUCATIONAL PRACTICES

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Transcrição:

GEOPRÁTICAS: COMPARTILHANDO PRÁTICAS EDUCATIVAS GEOPRACTICES: SHARING EDUCATIONAL PRACTICES Valéria Rodrigues Pereira Profa. Me. do Curso de Licenciatura em Geografia, UFMS, Três Lagoas. valeriaufms@gmail.com Leandro Otávio da Silva 1 Prof. Me. da Secretaria de Educação de São Paulo, Pereira Barreto. le_otavio91@hotmail.com Patrícia Felix de Araújo 1 Acadêmica do Curso de Geografia, UFMS, Três Lagoas. patri.fela@gmail.com Jéssica de Oliveira Ferreira Acadêmica do Curso de Geografia, UFMS, Três Lagoas. jessica.oliveiraufms@gmail.com Isabela Maria Bolognin da Silva Acadêmica do Curso de Geografia, UFMS, Três Lagoas. bellabolognin@gmail.com RESUMO: : O presente trabalho apresenta os resultados do projeto de extensão intitulado Geopráticas: compartilhando práticas educativas para ensino de Geografia tendo por objetivos promover discussões entre professores e acadêmicos sobre a geografia escolar, identificar experiências significativas e organizar um caderno com sugestões de práticas para o ensino de geografia. Considerando o saber proveniente da experiência dos professores e a importância do desenvolvimento da educação geográfica, a proposta realizou-se no segundo semestre de 2016 em duas escolas públicas, uma pertencente a Três Lagoas, cidade situada na porção leste de Mato Grosso do Sul e outra, localizada em município próximo, Andradina, a noroeste do estado de São Paulo. O projeto confirmou a relevância da Geografia para a formação dos alunos e da experiência dos professores, bem como o valor de práticas de ensino que promovam a interação e participação dos estudantes nas discussões geográficas. PALAVRAS- CHAVE :Ensino. Prática. Geografia. Geoprática ABSTRACT:. The present work presents the results of the extension project titled "Geopractices: sharing educational practices for geography teaching" with the objective of promoting discussions between teachers and academics about school geography, identifying significant experiences and organizing a digital notebook with suggestions for teaching practices of geography. Considering the knowledge of teachers' experience and the importance of the development of geographic education, the proposal was carried out in the second half of 2016 in two public schools, one belonging to Três Lagoas, a city located in the eastern portion of Mato Grosso do Sul and another school located in a nearby municipality, in Andradina, in the northwest of the state of São Paulo. The project confirmed the relevance of Geography in the students training and teachers experience, as well as the value of teaching practices that promote students interaction and participation in the geographical discussions. KEY WORDS: Teaching; Practice; Geography; Geopractices 30

1. INTRODUÇÃO Na atualidade, as discussões sobre o ensinar e o aprender ocupam cada vez mais espaço em todas as áreas de conhecimento. No campo da geografia, temos observado avanços significativos nas últimas décadas, com debates em eventos científicos, revisão de livros didáticos, incorporação de novos conteúdos ao currículo escolar mais relevantes para a formação do cidadão e o aumento da produção científica relacionada ao tema. Entretanto, apesar dos avanços alcançados, é importante ressaltar a atual e lamentável iniciativa de o governo federal reformar o ensino médio, por meio de uma Base Nacional Curricular (BNCC) que coloca em segundo plano as ciências humanas e até com a possibilidade de excluir a geografia da formação básica dos estudantes. Infelizmente, também já é fato a disciplina figurar entre os componentes com as menores cargas horárias e algumas vezes ser vista, por uma parcela de alunos, como desmotivadora e de menor importância para sua formação. Nesse contexto, ao desenvolver projetos em escolas de Três Lagoas (MS) e região, constatamos que as extensas cargas horárias de trabalho do professor acabam, não raro, distanciando-o das discussões e atividades promovidas pela universidade e, de outro ângulo, identificamos no curso de licenciatura em Geografia graduandos que conhecem pouco da realidade que envolve o ofício docente nas escolas de educação básica. Tal situação suscita a necessidade de aproximar esses espaços para colaborar com os processos de formação inicial e formação continuada. Cotidianamente, ao planejar, organizar e reger a aula, os professores mobilizam um conjunto de saberes para atingir os objetivos de ensino. Tardif (2002) e Pimenta (1999), entre outros autores, reconhecem a importância desse conhecimento, construído por meio da formação inicial, da prática educativa e ao longo da trajetória profissional. Dentre esses saberes, Azzi (1999, p.43) destaca o saber pedagógico fruto da experiência diária [...] de seu trabalho e que fundamenta sua ação docente, ou seja, é o saber que possibilita ao professor interagir com seus alunos, na sala de aula, no contexto da escola onde atua. Sob outro aspecto, há também o saber em construção dos licenciandos que requer, como afirma Sales (2007, p. 155), [...] colocar este professor, desde a sua formação inicial, em contato com a dinâmica da escola básica, aproximando sua formação da experiência profissional [...]. 31

Desse modo, em 2016 desenvolvemos o projeto de extensão denominado Geopráticas: compartilhando práticas educativas para ensino de Geografia, Edital EXT/2016 UFMS, com os objetivos de discutir com acadêmicos e professores o ensino da disciplina; reconhecer a importância da escola na formação dos estudantes; identificar experiências significativas e organizar um caderno virtual com algumas sugestões de ensino. A proposta realizou-se em duas escolas públicas, uma pertencente a Três Lagoas, cidade situada na porção leste de Mato Grosso do Sul e a outra, localizada em município próximo, Andradina, a noroeste do estado de São Paulo (Figura1). Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, é um município com mais de 110 mil habitantes (IBGE, 2010); possui doze escolas estaduais, onze localizadas na área urbana e somente uma na área rural. As unidades encontram-se distribuídas por toda a extensão do município e atendem alunos nas modalidades de ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos. Em Andradina (SP), a situação é outra. O município possui praticamente metade da população, 56 mil habitantes (IBGE, 2010), e seis escolas estaduais, cinco situadas na cidade e apenas uma em um bairro rural. Além dessas diferenças, os currículos e a rotina do trabalho escolar são distintos, conforme orientações das secretarias de educação às quais estão subordinadas: SED/MS Secretaria da Educação de Mato Grosso do Sul e SEE/SP Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Figura 1 Mapa de localização dos municípios de Três Lagoas e Andradina 32

Nesse cenário, também se destaca a economia das cidades. Três Lagoas apresentou nos últimos anos significativa ampliação da atividade industrial e aumento de postos de trabalho, enquanto Andradina revelou um crescimento econômico pouco expressivo e com perda de trabalhadores para o município sul-mato-grossense. Localidades tão próximas e ao mesmo tempo com contextos diferentes oferecem diversas possibilidades para discussão do espaço geográfico, mas solicitam do professor, entre outros aspectos, o trabalho de levar os alunos à compreensão dos processos socioespaciais que se 33

desenvolvem em diferentes escalas geográficas, local, regional e global. Aparentemente, essa tarefa pode parecer simples, mas constitui um dilema para a escola, enquanto responsável pela formação básica, e também para a universidade, pelo seu papel na formação docente. A geografia na escola está voltada para a leitura e compreensão do espaço geográfico em suas diferentes categorias de análise e para a compreensão da realidade espacial como uma totalidade composta pela sociedade e natureza que se materializam sobre a superfície terrestre em determinado tempo [...] formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual a história se dá (SANTOS, 1992). O ato de ensinar buscando essa compreensão é uma tarefa complexa e, para Castellar (1999), um dos desafios que envolvem o ensino é o de saber escolher e organizar o trabalho docente, de modo que os conteúdos a serem trabalhados tenham significado aos alunos e possibilitem a construção do conhecimento. A autora também assinala a abordagem significativa para o aluno com a mediação do professor por meio de [...] ações que reestruturem os conteúdos, inovem os procedimentos didáticos e estabeleçam com clareza os objetivos (CASTELLAR, 2010, p. 49). A geografia na escola deve caminhar para desenvolver uma Educação Geográfica, diversificando as maneiras de ensinar e relacionando o conhecimento disciplinar com as realidades sociais em diferentes escalas [...] dando dessa forma um caráter diferenciado ao currículo escolar (CASTELLAR, 2010, p. 55). Corroborando essa reflexão, Callai (2010, p.16) afirma: A finalidade da educação geográfica é contribuir para a construção de um pensamento geográfico, quer dizer, desenvolver modos de pensar que envolvam a dimensão espacial. Assim, procurando seguir esse caminho e ao mesmo tempo valorizar os saberes docentes construídos e em construção, apresentamos a seguir parte dos resultados desse trabalho. 2- A GEOGRAFIA NA ESCOLA Conforme exposto, a proposta desenvolveu-se no segundo semestre de 2016, em duas escolas públicas. Ambas localizam-se na área central das cidades citadas e atendem alunos desde o 6º ano do ensino fundamental até os anos finais do ensino médio. Os cinco professores participantes possuem mais de dez anos de atuação na educação básica. Na parte realizada com 34

alunos, reunimos aproximadamente trezentas participações. O trabalho constituiu-se por pesquisa em fontes documentais e bibliográficas; encontros nas escolas entre equipe de execução e parceiros; reuniões de trabalho; realização de entrevistas com professores; aplicação de questionários a alunos; organização e análise dos dados; encontros com professores e alunos para socialização dos resultados. Mediante entrevistas, conhecemos as práticas educativas para ensinar geografia dentre as quais se destacaram a importância de aulas participativas com a interação aluno-professor e aluno-aluno, bem como atividades que enfatizaram a atuação e responsabilidade dos estudantes. Para os professores das escolas, a ação de ensinar é desafiadora, uma vez que se busca despertar o interesse pelo conteúdo da disciplina, e as melhores práticas acontecem quando a abordagem didática ocorre de modo envolvente, utilizando diferentes modos de ensinar. Além disso, acrescentaram que o trabalho educativo compreende a preparação de aulas visando a criar uma rotina para a organização do ambiente, o controle de situações imprevistas, e a interação com a turma, mas de maneira organizada e com a finalidade de abranger todos os alunos nas atividades. Nesse sentido, Kaercher (2003, p.138) elucida sobre os procedimentos de ensino e assinala alguns passos metodológicos que norteiam a ação do professor: [...] ouvir os alunos, sistematizar as suas falas, criar e estimular as polêmicas e as dúvidas, contextualizar as dúvidas e conclusões elaboradas procurando sempre surpreendê-los. Durante o projeto, conhecemos diversas experiências de ensino e entre elas citamos uma que tratou sobre a regionalização do Brasil e objetivou identificar e relacionar os elementos de cada região, conforme a classificação utilizada pelo IBGE. Nessa prática, a turma foi dividida em grupos, cada um deles ficou responsável por apresentar e representar as características de cada região. Afinal os alunos expuseram cartazes, utilizaram a lousa para registrar dados importantes e alguns grupos trouxeram pratos típicos, músicas e, ainda, dramatizaram cenas características de cada região. Em outra experiência, o conteúdo de coordenadas geográficas foi introduzido por meio de atividade lúdica. Para realizar a atividade, foram distribuídas, para a turma, folhas de sulfite A4 quadriculado e os alunos montaram um plano cartesiano para jogar batalha naval. Os alunos desenharam seus barcos de combate e também fizeram chapéus de soldado com jornais. A professora entregou impressos os símbolos utilizados no jogo e os alunos disputaram as partidas 35

em duplas, em que cada jogador, em seu campo, escolhia as posições dos barquinhos e apresentava dicas da localização espacial para o adversário. Além desses relatos, podemos elencar, de forma sucinta, outras práticas realizadas pelos professores ao longo de sua trajetória de trabalho no ensino da disciplina: atividades com música para debater questões socioespaciais; trabalhos com maquetes para compreender as formas de relevo, o uso, a ocupação e a apropriação dos espaços; pesquisas em ferramentas digitais para conhecer e comparar os espaços geográficos do mundo contemporâneo; uso de multimídia para exibir mapas, figuras e slides que elucidam o conteúdo estudado nos livros; pesquisas em grupo para observação e descrição do campo e da cidade e suas relações; seminários para discutir a segregação social e espacial; saídas a campo no entorno ou na área interna da própria escola para exercitar as noções de localização e orientação, entre outras práticas didático-pedagógicas. Os professores também acrescentaram que a realização de estratégias diferenciadas com uso de recursos didáticos distintos modifica a rotina e facilita a dinâmica das aulas, despertando maior interesse pelo assunto da disciplina. Além disso, ao iniciar novos conteúdos, é imprescindível saber o que o aluno já conhece sobre o tema e suas impressões, para conduzir a abordagem didática. Sobre a avaliação, os professores procuram avaliar os alunos por meio de atividades individuais e em grupo, observando também o envolvimento e realização das tarefas propostas em sala. Quanto às dificuldades da função docente, são apontados o volume de temas dos currículos e as inúmeras exigências de planejamento que dificultam a realização de trabalhos de campo fora do espaço da escola. Para saber com quais práticas educativas e recursos os alunos da educação básica se identificam, conversamos e questionamos 292 estudantes e os resultados apontaram (Gráfico 1) que o uso de audiovisual e as aulas dialogadas com discussões que articulam conteúdo e cotidiano são as mais interessantes, totalizando em conjunto 228 indicações. 36

Gráfico 1 Aulas mais interessantes apontadas pelos alunos Fonte: Dados da pesquisa (2016). Um resultado é interessante, por ser considerado à primeira vista como uma prática tradicional: cópia de textos da lousa e utilização do livro didático ou caderno do aluno para responder questões foram indicações significativas feitas por um total de 98 alunos. No Gráfico 1, a abreviatura C.A significa caderno do aluno e representa dois materiais distintos; para alunos da rede pública de São Paulo, é o Caderno do Aluno, material constituído por um conjunto de atividades e distribuído pela Secretaria de Estado da Educação, enquanto para os alunos da rede pública de Mato Grosso do Sul, o C.A refere-se ao caderno comum que é adquirido pelos estudantes. Assim, as experiências docentes e as perspectivas de professores e de alunos reiteram a importância da geografia na escola e que aprender na disciplina requer aulas com discussões e atividades que revelem a presença da geografia no cotidiano. 37

3- AS GEOPRÁTICAS: PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA ENSINO DE GEOGRAFIA Finalizando, elaboramos um CD-ROM contendo os dados do projeto de extensão e algumas sugestões de ensino buscando, por meio deste material, destacar o saber dos professores e fomentar discussões no âmbito da geografia escolar. As geopráticas resultantes desse trabalho são: Geoprática I Indicadores sociais; Geoprática II Música para placas tectônicas; Geoprática III Bacias hidrográficas; Geoprática IV O jogo de batalha naval; Geoprática V Localização espacial e Globalização. Os anexos de cada proposta trazem seus materiais correspondentes, tais como: letra de música, vídeo, croquis em branco, tabuleiros para jogo e tutorial para pesquisa nos sites. Uma cópia do material foi entregue para as escolas participantes do projeto e outros exemplares serão distribuídos para escolas locais e da região durante o ano de 2017. A figura 2 apresenta parte da Geoprática I: Figura 2 Amostra da Geoprática I 38

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização deste trabalho possibilitou conhecer um pouco mais da escola e como os professores abordam os conteúdos geográficos. Observamos a preocupação em proporcionar aulas significativas aos estudantes, que promovam a participação e suscitem discussões entre os conteúdos da disciplina e o cotidiano. Para alcançar esse propósito, os professores utilizam diferentes recursos tais como músicas, filmes, apresentações em multimídia, além do livro didático que continua com um papel essencial. Quanto aos trabalhos de campo em locais externos aos domínios da escola, tão importante para o ensino de geografia, infelizmente, não ocorrem com frequência, devido à dificuldade de obter recursos financeiros e materiais, além da exigência de cumprir vários procedimentos para conduzir a turma fora da escola. Entretanto, os professores mobilizam seus saberes para contornarem as dificuldades e a cada dia criam, elaboram, planejam e executam diferentes situações de ensino e a isso reconhecemos como trabalho voltado para educação geográfica, pela diversidade nos modos de ensinar, de relacionar o conhecimento da disciplina com as realidades sociais. A conclusão deste projeto de extensão reafirma o valor da experiência dos professores e a relevância de práticas de ensino que promovem a interação e participação dos estudantes nas discussões geográficas. 5- REFERÊNCIAS AZZI, Sandra. Trabalho docente: autonomia didática e construção do saber pedagógico. In: PIMENTA, Selma G. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 1999. p. 35-60. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Geografia. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CALLAI, Helena Copetti. A Geografia ensinada: os desafios de uma educação geográfica. In MORAIS, Eliana Marta Barbosa de; MORAES, Loçandra Borges de. Formação de professores: conteúdos e metodologias no ensino de Geografia. Goiânia: NEPEG, 2010. p.15-38. 39

CASTELLAR, Sonia M. V. A Formação de Professores e o Ensino de Geografia. Terra Livre - As Transformações do Mundo da Educação - Geografia, Ensino e Responsabilidade Social. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, (14): p. 48-55, jan./jul., 1999. CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella. Educação geográfica: formação e didática. In: MORAIS, Eliana Marta Barbosa de; MORAES, Loçandra Borges de. Formação de professores: conteúdos e metodologias no ensino de Geografia. Goiânia: NEPEG, 2010. p. 39-57. IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico de 2010. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br. Acesso em: 21 dez. 2015. KAERCHER, Nestor André. Geografizando o jornal e outros cotidianos: práticas em Geografia para além do livro didático. In: CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos (Org.). Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2003. p. 135-169. MATO GROSSO DO SUL (ESTADO). Referencial Curricular do Mato Grosso do Sul. SED, 2012. PIMENTA, Selma Garrido (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 1999. SALES, M. A. Estudos em Geografia: um desafio para licenciando em Pedagogia. Terra Livre, Presidente Prudente, SP, v. 1, n. 28, p. 157-170, jan./jun., 2007 SANTOS, Milton. Espaço e Método. 3a.ed. São Paulo: Nobel, 1992. SÃO PAULO (ESTADO). Currículo de Ciências Humanas/Geografia. São Paulo: SEE, 2007. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002. 40