Foraminíferos. Rua Caetano Moura, 123, , Salvador, Bahia.

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Transcrição:

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DE FORAMINÍFEROS E GRANULOMETRIA NA SUBSUPERFICIE DA PLATAFORMA CONTINENTAL DO COMPLEXO RECIFAL DE ABROLHOS, SUL DO ESTADO DA BAHIA Adelino da Silva Ribeiro Neto 1 Tânia Maria Fonseca Araújo 2 ; Helisângela Acris Borges de Araújo 3 Bruno Ribeiro Pianna 4 ; 1 adelinosrn@yahoo.com.br 2 tfaraujo@ufba.br; 3 hacris@gmail.com 4 pianna.oceano@gmail.com; 1, 2, 3, 4 Universidade Federal da Bahia, Instituto de Geociências, Grupo de Estudo de Foraminíferos. Rua Caetano Moura, 123, 40210-340, Salvador, Bahia. RESUMO Os recifes de coral apresentam uma grande biodiversidades. O Complexo Recifal de Abrolhos forma os maiores, mais ricos recifes de corais e a maior diversidade marinha do Atlântico Sul. Esse ambiente tem sofrido grandes transformações, desde o Quartenário, devido a fatores naturais e, atualmente, antropogênicos, que atingem o desenvolvimento de corais e dos organismos associados a eles, como por exemplo, os foraminíferos. A comunidade de foraminífero é estudada visando à classificação granulométrica e sistemática, correlação da distribuição vertical das espécies através do tratamento de amostras de testemunho, além da determinação de dados estatísticos como frequência relativa e absoluta, riqueza, diversidade e equitatividade. Através da identificação de assembléias de foraminíferos ao longo do testemunho, é possível identificar as condições paleoambientais relacionadas às mudanças climáticas e padrões de sedimentação. Esses dados representam uma perspectiva de entendimento da história evolutiva da plataforma continental do estado da Bahia. Palavras-chave: Recifes de Coral, Foraminíferos, Quaternário. ABSTRACT The Coral reefs have a great biodiversity. The Abrolhos reef complex forms the largest, richest coral reefs and the biggest marine diversity of the South Atlantic. This environment has changed enourmously since the Quaternary, caused by natural factors and now anthropogenic ones, that affect the reefs development and the organisms associated with them, such as the foraminifera. The researches on the foraminifera community aims the particle size classification and its systematic ones and it aims also the vertical distribution correlation of the species through the testimony samples treatment, and the determination of statistical datas, such as, absolute and relative frequency, richness, diversity and equitability. By the identification of foraminifera assemblages throughout the testimony, it is possible to identify paleoenvironmental conditions related to climate changes and sedimentation patterns. These datas represent an understanding perspective of the evolutionary history of the continental shelf of Bahia. Key-Words: Coral reefs; Foraminifera, Quaternary.

INTRODUÇÃO Os foraminíferos são organismos unicelulares dotados de uma testa predominantemente calcária (Boltovskoy et al. 1991). A testa é a estrutura principal, o que confere proteção e auxiliam na reprodução e flutuabilidades, das espécies planctônicas. (Sen Gupta, 1999). Embora o grupo apresente ampla distribuição geográfica, suas espécies constituintes possuem alta sensibilidade a alterações nos fatores bióticos e abióticos, que irão influenciar na distribuição e na morfologia desses organismos. Geologicamente, são importantes porque suas testas são adicionadas ao sedimento quando o organismo morre ou se reproduz e irão constituir os sedimentos do fundo marinho (Ufkes et al. 2000). Assim, esses organismos desempenham um papel importante para a formação dos recifes e depósitos de plataformas, além de apresentarem uma posição biológica no ecossistema e na cadeia alimentar nas comunidades de recifes de coral ( Nascimento, 2003). No presente estudo, a identificação das assembléias de foraminíferos distribuídas ao longo do testemunho PR 124 permitiu reconhecer as condições paleoambientais relacionadas às mudanças climáticas e padrões de sedimentação da região do complexo Recifal de Abrolhos. O Arquipélago de Abrolhos é composto por cinco ilhas e localiza-se no sul do estado da Bahia, entre as coordenadas 17 20 18 10 S e 38 35 39 20 W (Fig. 1). Figura 1: Localização da área de estudo e de coleta do testemunho MATERIAL E MÉTODOS O testemunho estudado foi coletado de forma aleatória, através de mergulho autônomo, durante a campanha realizada no ano de 2003, próximo ao Recife Paredes, no

Arquipélago de Abrolhos (Fig. 1). Durante a coleta tubos de PVC foram introduzidos no sedimento, permitindo recuperar uma coluna de sedimento com 60 cm de comprimento. As amostras foram acondicionadas em baixas temperaturas, a fim de assegurar a preservação da posição das camadas de sedimento. Ainda congelado, o testemunho foi cortado verticalmente, sem atingir o sedimento. Após a abertura e exposição da coluna sedimentar, foram realizados cortes transversais, em intervalos de 1 cm para retirada das amostras. Para o estudo da granulometria e da microfauna de foraminíferos foram selecionadas as amostras correspondentes a intervalos de 5 cm, obtendo-se o total de 11 amostras. Em seguida, as amostras foram lavadas com água corrente, em peneira com espaçamento de 0,062 mm, a fim de eliminar os sais e postas para secar novamente, a uma temperatura de 45ºC. Dessa maneira foi possível determinar as frações argila e areia. As amostras secas passaram por quarteamento, de acordo com o seu peso, e foram submetidas a triagem das 300 primeiras testas de foraminiferos inteiras. As testas selecionadas foram colocadas em lâminas de fundo preto para serem classificadas. A identificação das testas teve como base a utilização dos trabalhos especializados no estudo desses organismos, sobretudo aqueles realizados na costa da Bahia. Para análise dos dados foram determinadas, a frequência de ocorrência, a abundância relativa das espécies, riqueza, equitatividade e diversidades das amostras. RESULTADOS E DISCUSSÕES A análise das 11 amostras, considerando o padrão de distribuição vertical da microfauna de foraminíferos e os dados granulométricos, revelou um total de 3300 indivíduos, distribuídos em 173 espécies, 54 gêneros, sendo 49 bentônicos e 2 planctônicos, 20 superfamílias e 5 ordens. Dentre as espécies analisadas, a ordem Miliolina apresenta o maior número de espécies, com 77 formas, seguida por Rotaliina com 69 espécies, Lagenina com 15 espéices, Textulariina com 8 espécies e Globigerina com 4 espécies. Através do cálculo de frequência de ocorrência das espécies foi evidenciada a existência de 51 espécies constantes (29,49 %), 38 acessórias (21,96) e 84 acidentais (48,55%). Das espécies constantes, 15 apresentaram 100% de frequência de ocorrência, sendo estas: Amphistegina lessonii, Elphidium discoidale, Quinqueloculina lamarckiana, Triloculina lutea, Triloculina oblonga, dentre outras. A grande quantidade de espécies acidentais está associada com à elevada energia do ambiente, o que ocasiona o atrito e, consequentemente, a quebra das testas. O cálculo de abundância relativa revelou 21 espécies com percentuais superiores a 1%, sendo as espécies Quiqueloculina lamarckiana (10,50%), Amphistegina lessonii (7,92%), Triloculina oblonga (7,83%), as mais representativas. As demais espécies com abundacia relativa inferior a 1% foram agrupadas na categoria, denominada de outras (Fig. 2).

Figura 2: Espécies de foraminíferos de maior abundância no testemunho estudado. (Amples = Amphistegina lessonii; Corpla = Cornuspira planorbis; Disflo = Discorbis floridana; Elpdis = Elphidium discoidale; Elppoe = Elphidium poeyanum; Milsubr = Miliolinella subrotunda; Porlat = Poroeponides lateralis; Pyrelo = Pyrgo elongata; Pyrsubsp = Pyrgo subsphaerica; Quianu = Quinqueloculina angulata; Quibit = Quinqueloculina bicostata; Quifun = Quinqueloculina funafitiensis; Quilam = Quinqueloculina lamarckiana; Quimic = Quinqueloculina microcostata; Quimpat = Quinqueloculina patagonica; Quipol = Quinqueloculina polygona; Quivul = Quinqueloculina vulgaris; Sipech = Siphoninoides echinatus; Trilut = Triloculina lutea; Trioblo = Triloculina oblonga; Tritri = Triloculina trigonula) Os resultados obtidos a partir dos cálculos de Riqueza (R), de Margalef (1958), Diversidade (H ), de Shannon (1948), e Equitatividde (J ), de Pielou (1984) revelaram elevada heterogeneidade entre as amostras do testemunho, principalmente com relação ao número de espécies por amostra. A amostra T 35 possui o menor número de espécies (com 58 taxa). A amostra T 01 é a que possui o maior número de espécies com 76 taxa. Para o estudo da granulometria do testemunho PR-124 foi realizada uma análise do tamanho dos grãos e a fração predominante foi areia, com percentuais acima de 70% em todas as amostras, sendo mais abundante na amostra T 30 (85,65 %) e menos abundante nas amostras T 20 e T 50 ( 75,03 % e 77,85 %, respectivamente). Apesar da proximidade com o recife Paredes e a presença de canais inter-recifais, a alta energia do ambiente, ocasionada por processos mecânicos, permitiu a maior concentração da fração areia. Esses dados são comprovados pela presença das espécies Quinqueloculina lamarckiana, Quinqueloculina candeiana, Poroeponides lateralis e os gêneros Amphistegina e Triloculina, que são organismos característicos de substrato arenoso. A análise das amostras evidenciou uma variação cíclica no teor de argila ao longo do testemunho, o que pode ser explicado pela provável variação de energia que o ambiente sofreu, onde em 20 cm registrou-se a maior quantidade de argila (30%), o que representa o ponto de menor energia que o ambiente foi submetido. Essa variação é comprovada pela

distribuição inversa das espécies Quinqueloculina lamarckiana (espécie arenosa) e Elphidium discoidale (espécie argilosa), o que caracteriza o sedimento como areno-argiloso, com uma deposição cíclica. CONCLUSÕES Através do estudo do testemunho PR - 124, localizado próximo ao Recife Paredes, no Complexo Recifal de Abrolhos foi possível identificar 173 espécies, distribuídas em 54 gêneros, ao longo do testemunho mostrando elevados índices de diversidade específica e de riqueza. As espécies estão distribuídas em cinco subordens (Miliolina, Rotaliina, Lagenina, Textulariina e Globigerinina), onde a subordem Miliolina possui mais representantes (77 espécies), seguida pela subordem Rotaliina (68 espécies). Assim, há predominância de foraminíferos bentônicos, representados, principalmente, pelas espécies Amphistegina lessonni e Quinqueloculina lamarckiana Também foi possível confirmar a forte relação entre o padrão de distribuição vertical das espécies e os parâmetro sedimentológico. Observou-se, ainda, uma variação de energia na deposição dos sedimentos, devido a relação areia/argila, caracterizando um sedimento areno-argiloso com deposição cíclica. Essa variação pode ser constatada com estudos de novos testemunhos, assim como a sua ciclicidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA Boltovskoy, E.; Scott, D.B.; Medioli, 1991. Morfological variations of benthic. foraminiferal tests in response to changes in ecological parameters: a review. Journal of Paleontology, 65: 175-185. Chum,L.; Brian,J.; Kalbfleisch, W.B.C. 1998. Carbonate sediment transport pathways based on foraminífera: case study from Frank Sound, Grand Caynin, British West Indies. Sedimentology v. 45: p109-120. Nascimento, H.A. 2003. Análise da fauna de foraminíferos associada aos recifes do extremo sul do estado da Bahia (Corumbau à Nova Viçosa). Salvador. 2003. Dissertação (Mestrado), Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia. 60-68p. Sen Gupta, B.K., 1999. Systematics of Modern Foraminifera. In: B.K. Sen Gupta (ed.). 1999. Modern Foraminifera. Kluwer Academic Publishers, p. 7-36. Ufkes, E.; Jansem, S.H.F.; Schneider, R.R. 2000. Anomalous occurences of Neoglobloquadrina pachyderma (left) in a 420-KY upwelling Record from Waheis Ridge (SE Atlantic). Marine Micropalentology, v.40, p23-42.